quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

CARNAVAL - Um pouco de História



Há quem acredite que o Carnaval tenha começado na Idade Média. Realmente, foi nesta época que aconteceu o primeiro baile de máscaras na Espanha. Em relação às suas origens, dependendo do pesquisador, podem remontar à Pré-História, há mais de 10 mil anos a.C. Outros fazem ligações com a festa da Deusa Íris e do boi Ápice (egípcios) e com as antigas festas gregas, romanas e judaicas. As discussões não param por aí...
Mas, esquecendo suas origens, a verdade é que o "Carnaval" encontrou solo fértil no Brasil, onde é a nossa maior festa popular. Deixa saudades, porque mudou muito. Até sua origem gera controvérsia. A palavra Carnaval é, para uns, derivada de carné e, para outros de carrus navals, carro parecido um barco, usado pelos romanos para abrir seus festejos.



No Brasil, começou com o Entrudo. Em 1600, pela primeira vez, os foliões munidos de baldes e latas, atiravam água com limão de cheiro uns nos outros. A animação era tanta que tornou-se agressiva e, quatro anos mais tarde, foi proibida pelo governo.
Anos depois, novas comemorações aconteceram no Brasil, quase todas ligadas à família real. Em 1641, grupos fantasiados e animados saíram pelas ruas do Rio de Janeiro, comemorando a coroação de D. João VI. A festa foi organizada pelo governador Salvador Correia de Sá e Benevides, durando sete dias! Não se sabe se a duração foi uma desculpa para folgar alguns dias ou foi para chamar atenção da realeza. Alguns estudiosos defendem essa data como o marco zero do Carnaval Carioca.
Um século depois - no livro Brasil Musical - o Carnaval Carioca começou em 1840.

"Mas, o Carnaval, tal como veio celebrar-se no Rio de Janeiro, só surge mesmo no século XIX, no largo do Rossio, hoje praça Tiradentes - o dono do hotel Itália (onde ficava o cinema São José) fez o primeiro baile de máscaras da cidade." 



Oito anos depois em 1848, o português José Nogueira de Azevedo Paredes, um sapateiro (ou pintor de paredes, como queriam alguns), que morava na rua São José, passeou pela cidade cantando e batendo um enorme bumbo. Estava criado o Zé Pereira.
Em 1850, dois fatos marcam o Carnaval: saiu nas ruas, o primeiro desfile com carros alegóricos, guarda de honra, da Sociedade Sumidades Carnavalescas e também, morreu no Rio, o arquiteto francês Grandjean de Montigny, vítima das águas do Entrudo. 

Fonte de pesquisa: Suplemento Feminino. O Estado de São Paulo,
06/02/1994 - p. 5



Escolas de Samba
Raça Negra e suas Influências

Após a Segunda Guerra, o Brasil passa por grandes transformações, assim como o seu povo. O negro e o miscigenado procuram sua identidade. Os cinemas brasileiros estão sobrecarregados de filmes americanos que retratam algo parecido com o que ocorre com os negros brasileiros: o massacre dos índios. Essa denúncia não era bem um massacre ao índio, e sim, o que era feito com o negro brasileiro, disfarçado num sincretismo de índio americano, sem resultado algum. Percebendo isso, aos poucos os negros foram se sentindo impotentes diante de uma sociedade tão dominadora que os aniquila por dentro e os branqueia por fora.


"Explodem pelo Brasil as mais diversas formas de busca de identidade perdida: as escolas de samba, blocos carnavalescos, movimentos políticos negros, mas tudo de acordo com as normas brancas."

Revista São Paulo em Perspectiva - Fundação SEADE - 
Gilberto A. Ferreira - (1988)

Outros movimentos surgem, oriundos das lutas de libertação da África Austral. Pelo auxílio de alguns negros. Mais uma vez, a Bahia é o embrião dos movimentos, é o local do teste. Surgem os blocos afros, mas no sentido cultural do que no discurso. Seja negro, mas com pensamento branco. Assim, se confunde essa identidade que o negro achava que hora era do Egito, do Sudão, Angola e Moçambique. Temos a desinformação gerando cultura. Hoje, o Brasil é palco das mais diversas manifestações.



"A cultura negra como todas as culturas é produto de uma história, de uma socialização, de uma educação, do encontro do homem com o ecossistema, mais do que isto, de uma visão particular do mundo e não resultado de uma formação biológica.
A preservação da memória da cultura envolve problemas políticos, econômicos, educativos, estruturais e técnicos."

Prof. Kabengele Munanga
Departamento de Antropologia da USP 

Na verdade - aponta o escritor Paulo Colina, produtor de literatura negra - só no momento não - negras começaram a subir o morro. É que o samba deixou de ser "malandro". O antropólogo João Baptista Borges Pereira aponta que a cultura brasileira não é negra como costumam afirmar, mas sim ocidental com variante latina. O padrão do Carnaval brasileiro não é africano, e sim veneziano.

Apontamentos de uma Estética

As escolas de samba são manifestações populares, cuja finalidade principal é preservar a memória de um povo oprimido ao longo da história e que até hoje de outras formas, sofre esses efeitos através da desigualdade social. A apropriação dessa memória passa a fazer parte do imaginário pessoal e expressa o sentimento de pertencer a determinada coletividade. É um grito, é uma chamar atenção a nação: Estamos vivos, embora vocês não nos observem. 
As escolas de samba precisam ser vistas não como uma banalização, mercantilização, dados os interesses comerciais caracterizando, essa festa como um espetáculo ou dias de folia, orgia.
É preciso levar em conta a beleza dos desfiles, a participação de cada escola com seus temas-enredo, que retratam fatos históricos, figuras ilustres, temas ecológicos, futuristas, educativos, entretenimento, principalmente como finalização, o apogeu de todos os componentes contagiando a multidão. Esse é o status quo.

"No princípio hegeliano, no seu destino mais alto, a arte é e permanece para nós um passado."

A forma organizacional de todas as escolas de samba seguem regras, cujo objetivo é um só - A contemplação de um povo que vai ao delírio, tamanha a vibração e força do seu enredo e samba-enredo que, desde o início de sua apresentação até a finalização, vai "aos poucos" contagiando a todos. As pessoas se levantam, acenam como forma de estar reverenciando e admirando o maior espetáculo da Terra. Tudo é surpresa, pois o potencial criativo de cada carnavalesco, que é o grande responsável por tamanha representação, através de um jogo de cores das fantasias, dos carros alegóricos, adereços. São momentos que levam a massa ao delírio. Quando ouvem o sinal para iniciar o desfile, com a queima de fogos com as cores da escola. Os componentes dão as mãos supervisionados pelos grupos de apoio, cuja finalidade é o alinhamento das alas. O segundo momento, é o grito de guerra do presidente da escola que chama todos os componentes e a massa, dizendo uma mensagem e as vezes é o intérprete que faz o grito. O terceiro momento é quando a bateria dá o toque inicial e o intérprete começa a cantar. A finalização do desfile dá-se na Apoteose.

A arte tem como função influenciar o destinatário, quando veicula normas ou quando as cria. O processo de comunicação se intensifica a partir do momento que o receptor é convidado a participar desse universo de liberdade.

"O páthos constitui o verdadeiro centro, o verdadeiro domínio da arte; é, sobretudo por ele que a obra de arte atua sobre o espectador porque faz vibrar e ressoar uma corda que todo homem tem na sua alma. O páthos comove e remove porque desempenha um poderoso papel na existência humana. Neste aspecto, tudo o que é exterior, a ambiência natural e o seu cenário só constituem meios acessórios destinados a apoiar a ação do páthos. Aquele que chora, reserva lágrimas que facilmente verte. Mas, na arte, só o páthos, o verdadeiro páthos, pode e deve comover."

Fonte de pesquisa: HEGEL. G. W. (1974; 271)
A Fenomenologia do Espírito. Cap.: O Belo Artístico ou o Ideal.
São Paulo: Abril