quinta-feira, 13 de novembro de 2014

História - ZUMBI, O HERÓI DE PALMARES




No tempo da escravidão, os donos das fazendas não queriam perder seus escravos que fugiam e iam viver nos quilombos. Então, eles começaram a atacar os quilombos. Eles também chamavam a polícia para ir lá e trazer os escravos de volta.
No Estado de Alagoas existiu um quilombo que foi o mais famoso de todos. Chamava–se quilombo dos Palmares, porque havia muitas palmeiras na região.
O quilombo dos Palmares crescia sem parar com os pretos fugidos das fazendas e das cidades. O quilombo era um verdadeiro reino, com uma capital e muitas aldeias em volta. Os pretos tinham as suas lavouras de milho, feijão, mandioca, cana e criavam muitos animais.
Cada vila tinha um chefe que era escolhido entre os homens mais sábios e corajosos. As aldeias organizavam seus guerreiros para se defenderem dos ataques dos fazendeiros.
Numa noite, em que ia haver um ataque dos fazendeiros contra o quilombo, nasceu um menino. As pessoas da aldeia rezaram para que ele crescesse corajoso e forte. Para que isso acontecesse mesmo, deram a ele o nome de Zumbi, que era o nome do deus da guerra. O menino Zumbi cresceu livre em Palmares, e logo já conhecia todo o quilombo. Ele sempre ouvia  os mais velhos contarem histórias horríveis dos navios negreiros que traziam os escravos  da África. Ele ficou sabendo de tudo o que acontecia, nas fazendas e cidades, com os pretos que ainda eram escravos.
Quando  Zumbi cresceu, ele se tornou muito valente e corajoso, e, por isso, foi escolhido para ser chefe da aldeia. Quando os donos das fazendas atacavam, Zumbi e seus guerreiros lutavam  para defender a sua liberdade. Zumbi  queria viver livre e queria livrar todos os outros pretos que ainda eram escravos.
Os fazendeiros tinham verdadeiras tropas para atacar o quilombo e muita gente morria nas lutas.  Por causa de sua valentia, Zumbi ficou sendo o chefe de todo o  quilombo dos Palmares .
A guerra dos donos das fazendas contra o quilombo dos Palmares durou mais de vinte anos. Depois disso, os brancos cercaram o quilombo e atacaram seus habitantes com canhões. Zumbi   e seus guerreiros lutaram até o fim, mas não conseguiram se defender dessas armas. Muita gente morreu nessa  última batalha. Zumbi recebeu dois tiros e mesmo assim conseguiu escapar com vida.
Os escravos das senzalas ficaram muito tristes quando souberam que tinha acabado o quilombo dos Palmares. Eles pediam aos seus deuses que conservassem a saúde de Zumbi, para que ele pudesse continuar lutando corajosamente contra a escravidão do seu povo.
Depois de um ano, Zumbi foi encontrado e foi morto. Cortaram a cabeça  dele e levaram para uma praça da cidade do Recife.  Isso foi feito para servir de exemplo, para outros pretos não fazerem como Zumbi.
Os escravos nunca mais se esqueceram do seu chefe Zumbi, que lutou tanto por eles e pela liberdade.

Fonte  - Almanaque   PROGRAMA ALFA DOIS  -  pág   48 / 1978 São Paulo

Abril  - Educação

Camélia da Liberdade



Uma justa homenagem aos que 
Lutam contra a desigualdade racial  

Milton Gonçalves  muito
Inspirado emocionando a 
Todos ao recitar o poema “ Eu me Levanto “
 
Uma noite alegre, descontraída de confraternização e muita emoção. Assim pode-se definir a edição do V Prêmio Camélia da Liberdade, realizado pelo CEAP – Centro de Articulação de Populações Marginalizadas que aconteceu no último dia 31, no VIVO RIO. O evento cujo objetivo é homenagear aos que se destacaram e realizaram obras em prol do combate às mais diversas desigualdades teve como atrações musicais Marcelinho Moreira, Teresa Cristina, Sandra de Sá e Grupo Fundo de Quintal. Na ocasião prestou-se uma bela homenagem ao marinheiro João Cândido.   
Mas, o que seria uma premiação e um encontro de confraternização, acabou por se transformar em um evento tomado por muita emoção, que obrigou os vários presentes e refletirem sobre a realidade do negro em nossa sociedade. O momento aconteceu exatamente quando foram concedidas homenagens especiais ao ator Milton Gonçalves, ao Padre Gege e ao delegado Henrique Pessoa – personalidades que se destacam nesta luta contra as desigualdades.
Milton Gonçalves, o primeiro a ser homenageado, recitou o poema  “Assim eu me Levanto“, da poetisa americana Maya Angelou, e, em seguida fez uma reflexão sobre o texto e um discurso emocionado que sensibilizou aos participantes do evento. O ator, em alguns momentos quase indo às lágrimas foi enfático:
- Se somos 50% da população deste país, por que não somos 50% nas Câmaras de Vereadores , nas Assembléias e no Senado ?  Se somos  50% desse país por que não ocupamos 50% dos melhores empregos e cargos que tragam dignidade humana? É preciso construir o presente e o futuro e deixarmos de lamentar o passado. É preciso viver dignamente e a exemplo do poema que acabo de ler, nos levantarmos, pois  só assim poderemos ser respeitados em nossas individualidades e merecermos o tratamento de um país sem preconceito e democrático como nos rotularmos.

Ainda  assim , eu me levanto
   

Maya  Angelou  
                              
Você pode me riscar da História  
Com mentiras lançadas ao ar .
Pode me jogar contra o chão de terra ,
Mas ainda assim , como a poeira ,
Eu vou me levantar  .
Minha presença o incomoda  ?
Por que o meu brilho o  intimida ?
Porque eu caminho como que possui
Riquezas dignas do grego Midas  .
Como a lua e como o sol no céu  ,
Com a certeza da onda no mar  ,
Como a esperança emergindo na desgraça  ,
Assim eu vou me levantar  .
Você não queria  me ver quebrada ?
Cabeça curvada e olhos para o chão ?
Ombros caídos como as lágrimas  ,
Minh´alma enfraquecida pela solidão ?
Meu orgulho o ofende  ?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim  .
Pode me atirar palavras afiadas  ,
Dilacerar-me com seu olhar ,
Você pode me matar em nome do ódio ,
Mas ainda assim , como o ar ,
Eu vou me levantar  .
Minha sensualidade incomoda ?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam ?
Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo–se  como a maré .  
Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto .
Em direção a um novo dia
De intensa claridade
Eu me levanto  
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a
Esperança do homem escravizado,
E assim, eu me levanto,
Eu me levanto. 
 
Fonte  - Jornal Destaque   - junho 2010  pág  10
Capital Cultural - Texto : Jurandir Junior
   

O escravo e o doutor




Elciene Azevedo realizou um movimento algo distinto. Centrou–se num  mito, numa figura  quase épica, legendária na crônica e mesmo na historiografia dedicada ao período: um negro que, antes da Abolição, havia se transformado em personalidade, em “notável cidadão“ , em unanimidade por toda admirada. Em  Orfeu de Carapinha, a historiadora procura explorar as tensões  entre o homem e o mito para entender a dinâmica da época. Elciene não se satisfaz com a exaltação costumeira da figura de Luiz Gama, o negro abolicionista  e republicano que enfrentou  “seu destino de escravo revertendo–o em luta contra a escravidão“.  Abre-se para a busca das "dimensões ambíguas e por vezes contraditórias de sua atuação“, procurando explorar ao máximo o fato mesmo de um negro ter penetrado com êxito  ( e de modo contestador  )  aquele mundo branco e senhorial.
Luiz Gama se presta como poucos a essa operação.  Filho de um fidalgo português com uma quitandeira africana, nasceu como homem livre na cidade de Salvador, em 1830. Aos dez anos, foi vendido como escravo pelo próprio pai e enviado a São Paulo, onde conseguiu simpatia e proteção de alguns poderosos. Alfabetizou–se, tornou–se  funcionário público , vinculou–se  ao republicanismo paulista, arriscou–se  como poeta satírico e, acima de tudo, adquiriu na prática todo o conhecimento jurídico necessário para advogar  “gratuitamente em favor de todas as causas de liberdade“, particularmente dos escravos.
Deixou de ser “um pobre negro esfarrapado e descalço“ para se tornar um “doutor“, infiltrando–se pelas brechas do sistema. Mostrando surpreendente habilidade para estabelecer relações  com os mais diversos setores da sociedade paulistana, irá se revelar um causídico incansável e vitorioso.
A forma  “passiva“, isto é,  sem rupturas fortes e sem maior mobilização popular, adquirida  pela crise da monarquia,  se viabilizou e deu sentido à trajetória de Luiz Gama, complicou os sonhos  “ americanistas  “ de Rebouças e as ideias reformadoras de Nabuco. Ambos tiveram de aceitar as convenções imperiais, fato que significará uma derrota para Rebouças, que não se dava com a política, mas será visto por Nabuco como a possibilidade mesma de uma vitória, ensejando sua conhecida opção pelo abolicionismo pragmático.
De um modo ou de outro, esses fascinantes intelectuais do século 19 anteciparam muitos dilemas nacionais e expuseram a céu aberto vários dos eixos com os quais construir, nas específicas condições dos trópicos  de passado colonial, um país moderno, forte na economia, socialmente  justo e democrático. São,   por isso  atualíssimos.

Fonte  - Jornal  de Resenhas  Especial - 14/08/1999 - pág 7   

Marco Aurélio Nogueira  é professor de Política da Universidade  Estadual Paulista  (UNESP)