quinta-feira, 23 de março de 2017

Ser feliz é ter dinheiro?





EDITORIAL

Vamos pensar, seria possível escolher, se fosse o caso  , entre uma coisa e outra? Vivemos num   mundo de dualidades, a unidade só acontece no plano divino, em nosso mundo tudo é duplo, tudo tem dois pólos; tudo tem o seu oposto, sendo assim ser feliz nos dias de hoje implicaria em ter uma real noção do que é felicidade e o que é ser rico. A busca pela riqueza material esta construída sobre uma percepção de gastos, contas para pagar, desejos para satisfazer...  O que é ser feliz para você meu querido leitor  ?
A felicidade, no seu caso, depende de você ou para ser feliz você precisa do outro ? Sua felicidade está em algo material? Bom, para muitas pessoas a felicidade está em pequeninas coisas, em ter uma família estruturada, saúde, um trabalho, contas em dia...  Enfim, o tempo todo fazemos escolhas e são através dessas escolhas que traçamos os caminhos de nossa felicidade. Problemas, crises, dificuldades são situações aparentemente negativas que na realidade nos mostram a necessidade de fazer mudanças: podemos entender tudo isso como sinais.
Podemos criar um quadro de família moderna onde pai e mãe trabalham fora o dia inteiro, ao fim do dia retornam ambos cansados e estressados   o dia inteiro os filhos, estudaram, fizeram várias atividades como cursos de inglês, informática, ao final do dia cada um faz suas refeições sozinhos, pois os pais chegam muito tarde, haja visto  que todos esses serviços extracurriculares custam muito dinheiro e nesse processo todos são envolvidos  numa rotina onde uma simples pergunta aos filhos de como foi o seu dia hoje na escola, não encontra mais espaço por falta de tempo, de paciência e principalmente por falta de energia ara olhar e saber do outro. Hoje vemos crianças que vão parar em consultórios se queixando de depressão, de problemas de aprendizado. Será que neste lar nesta família há felicidade  ? Os presentes materiais preenchem o vazio que se instala dentro da ala do ser humano? Não sei, minha infância foi muito simples e a de minhas filhas também, muitas lutas, dificuldades mas, em momento algum, faltou conversa, atenção, carinho.
Quando uma situação grave bate à porta de um lar, como um acidente, uma doença terminal, um divórcio, qual é a estrutura que uma  família formada na sociedade de consumo tem para superar toda essa provação? Normalmente o caos se instala e tudo vem abaixo, pois todos os curso e bens materiais não preparam as pessoas, nem as estruturam para as dificuldades da vida onde o amor foi o grande ausente.
Não estou anulando a necessidade de preparar nossos filhos para a vida com o  de melhor que podemos proporcionar, mas sim ressaltar que sem estar na troca direta com eles  , de convívio , de atenção, de amor, nada disto será base suficiente para os fortalecer para os desafios da vida.
E ser ricos ? Depende muito de qual riqueza estamos falando; a material quando não temo equilíbrio   nos transforma em escravo dela, onde o dinheiro em vez de nos servir, nos torna servo dele  . Acumular cada vez mais bens materiais de forma obsessiva só nos escraviza um movimento caótico, onde não percebemos que apesar de toda uma  riqueza a nossa volta, nos tornamos infelizes , vazios  , insatisfeitos  , carentes , deprimidos, não percebemos que  na realidade é nossa alma que está doente, pobre de valores , de amor.
Precisamos alimentar nossa alma com amor, pois só ele é a crença que nos liberta das aparências, que nos leva a conciliar as diferenças   que nos fortalece em nosso lado bom, transformando tudo, nos libertando das ilusões da vida de eterno prazer e glamour.
A nossa volta temos a todo instante a beleza de Deus, em um sorriso de uma criança, em um nascer do sol  , o desabrochar de uma flor. Ser gentil, amoroso, fraterno com o próximo, também nos faz feliz, alimenta nosso ser.
Vou terminar nossa conversa, com uma frase que chegou até a mim no momento que fechava esse texto:
“ Tentar ser feliz acumulando bens materiais é como tentar satisfazer a fome colocando sanduíches em volta do corpo  “ , George Carlin  .

Fonte  -          Jornal        PÔR  DO SOL      pag 03
JUL/ 2014        por           Ilka  de Araujo  Dantas


EPIDEMIA  vergonhosa
Disse  o  Papa Francisco: 

O corrupto irrita Deus e faz o povo pecar ... E para os corruptos  , existe
   uma saída  : pedir perdão para não serem amaldiçoados por Deus “ .

A partir desta afirmação do Papa  , Dom Orlando Brandes falou aos Microfones da Rede Milícia Sat as palavras que seguem:
A  CORRUPÇÃO  certamente é combatida, como diz o Papa Francisco, quando nós apresentamos o perdão e a misericórdia de Deus para quem está envolvido nela. Para que mude de vida, para que se converta, não basta, portanto, combater e punir a corrupção o que é altamente necessário  , mas , nós temos algo a acrescentar às pessoas vítimas ou promotoras da corrupção.
Os gestos de Jesus que foi misericordioso com Zaqueu que era corrupto, com Levi e com outros ricaços do Seu tempo os levou a se converter e compreender o pecado grave que cometiam. Corrupção é um pecado social que precisa da conversão pessoal para ser sanado. Nós temos muitos santos na nossa Igreja que eram também corrompidos antes da conversão. Então, temos a grande força e o grande poder da revolução da misericórdia, da conversão dos corações. Mas, outro remédio eficaz é a educação de nossas crianças desde pequenas para a honestidade.
Meu pai me ensinava que nem um alfinete eu devo reter comigo se ele não é meu. Então, eu aprendi a honestidade e a transparência com o meu pai. Por isso, a escola  , a família devem dar exemplos abertamente aos filhos a respeito deste mal que já se tornou  a gangrena de um povo   como nomeou o Papa. A corrupção se tornou  uma epidemia vergonhosa e já virou quase como que um costume. As pessoas se gabam dos lucros que têm por meio da corrupção.

E o Papa também falou claramente que “ a corrupção é suja e a sociedade corrupta é uma porcaria “. Se nós não nos despertarmos para a importância do   nosso voto, estamos também colaborando com a corrupção. Neste Ano Santo, somos chamados a viver as obras de misericórdia, e educar para a partilha e honestidade  faz parte destes gesto.

O Brasil vive daquele famoso “ jeitinho “ . Isso é um perigo muito grande, pelo sétimo mandamento de Deus que diz “ não furtar “ é pouco respeitado. Também devemos ir contra a mentira, pois ela é que mantém a corrupção e defende os outros pecados graves. Precisamos combater a mentira e tomar cuidado com o perigo do dinheiro  , pois , como afirma o Papa  , ele se tornou “ um deus que tudo governa  “ , e por isso o mundo vai mal  , com tantas desigualdades sociais.
 
Temos remédios e caminhos para combater a corrupção e é claro apoiar a operação Lava Jato, apoiar todas as instituições e as leis que são contra esse mal tão incorporado nos brasileiros  , essa vergonha nacional  , esse mal contra a caridade e contra o nosso povo  , que chamamos de corrupção  .

Fonte  - Revista    O  MÍLITE         pág  20 - ano 2016
DOM ORLANDO  BRANDES     Arcebispo de Londrina –PR


Contra  o “ querer  é  poder 
Obra de Bonder  critica “O Segredo“ e idéia de que o cosmos deve nos servir 

Um livro está na moda : “ O Segredo “ , de Rhonda Byrne. Transformado em DVD  , ele corre o mundo ainda mais rapidamente  . Qual é a sua mensagem  ?  A de que há um “segredo “ que é a própria estrutura íntima do universo  . Desvendado esse mistério  , você estará em condições de realizar todos os seus desejos.
O rabino Nilton Bonder, líder de uma das comunidades judaicas do Rio de Janeiro  , e autor de “ A alma imoral “ , estava fazendo uma viagem pela Palestina  , a convite de Harvard, quando teve acesso ao DVD de “ O Segredo . Ele ficou preocupado com o que viu, e dessa preocupação surgiu “ O Sagrado “ . Para o rabino  , “ O Segredo “ mistura aspectos bastante refinados e grosseiros num mesmo pacote  , “ o que , em geral  , abre caminho para muita confusão “ .
“ O livro reedita  , em pleno século XXI  , uma disputa milenar entre o sagrado e a visão mágica de um segredo “ , diz o rabino  . “ O sagrado é a tentativa de religar o ser humano a algo maior do que ele mesmo  , e que lhe permita resgatar-se como parte do projeto da vida, da àrvore da Vida  . O segredo  , por sua vez  , quer capacitar o ser humano como um deus, alguém que, no comando, determina a realidade através do seu desejo.

Um   conflito  velho como
o mundo  , diz  o rabino

É um conflito velho como o mundo  . Nilton Bonder ilustra esse conflito  , em “ O Sagrado “ , com a história do Balac e Balaão  , que aparece no livro dos “ Números “ , da Bíblia  . Israel está entrando pela Palestina , vindo do Sinai  , e chega às planícies de Moab  . O rei de Moab  , Balac  , chama o adivinho Balaão para que ele amaldiçoe essa raça de invasores  . Mas , em vez de fazer o que o rei pede  , Balaão acaba por abençoar os israelenses . O poder da magia tinha sido derrotado por uma força exterior aos desejos de Balac e do próprio Balaão.
A tese de “ O Segredo “ parece às vezes ( ou é ) um discurso de marketing  . Diz um dos “ mestres “ citados pelo livro  : “ Nós podemos ter qualquer coisa que escolhermos  . Não me importo com o tamanho do desafio . Em que tipo de casa você quer morar ? Quer ser milionário? Que tipo de negócio quer ter? Quer mais sucesso? O que você realmente quer?
O livro diz que tudo  é possível a quem tiver acesso à lei básica do universo. Que lei é essa? A lei da atração . “ Tudo o que entra na sua vida é você quem atrai, por meio das imagens que mantém em sua mente. Você é o que está pensando. Você atrai para si o que estiver se passando em sua mente“.
Como diz o rabino Bonder, o problema dessa abordagem é que ela mistura alhos com bugalhos. Se estamos falando da “ força do pensamento positivo  “ , isso não é nem novo nem controvertido. Funciona  - talvez não no nível que o livro promete. Mas respeitáveis tradições orientais ensinam: “ você é aquilo que você pensa  “. A contextura do seu “ mental “ condiciona a sua vida.
Onde é que as coisas se misturam  ? É no achar que  , qualquer que seja o rumo por você escolhido  , o resultado é igualmente bom  .
O pensamento mágico se presta a todas as ilusões. É uma das formas mais arcaicas de mentalidade religiosa. Você descobre, por exemplo, um talismã – algo que confere poder. Ou entra numa forma de entendimento pessoal com o seu deus, de modo que ele atenda aos seus desejos.
Em “ O Segredo “ , não há deuses: há uma espécie de força impessoal que ninguém sabe de onde vem: “ A lei começa nos primórdios do tempo. Ela sempre existiu e sempre existirá. É a lei que determina a completa ordem do Universo, cada momento de sua vida. Não importa quem você é ou onde está : a todo-poderosa lei da atração dá forma a toda a sua experiência de vida, ao ser posta em ação pelos seus pensamentos  “ .

Ingenuidade  perigosa  ,
Fruto de uma mente inculta

É o que o Rabino Bonder chama de “ uma nova mitologia em formação “ , uma alegoria do nosso próprio tempo: o cosmos como um vasto mecanismo cuja última finalidade  é atender aos nossos desejos, mesmo que eles surjam sob a forma de um consumismo desenfreado.
No fundo é uma ingenuidade muito grande, e perigosa. É produto de uma mente inculta (bem contemporânea) que ignora a literatura universal. Os velhos gregos já tinham seus mitos apontando para ambivalência dos desejos. Mestres mais modernos trataram do assunto de maneira antológica. Basta ver os avarentos de Balzac  , ou de Molière. Sim, eles transformaram suas vidas num imenso desejo; pensaram nisso o tempo todo, como recomenda  “ O Segredo “ , e conseguiram o que queriam . Tornaram-se ricos  ; mas  , dentro deles  , a alma apodreceu  .
A ideologia moderna que assusta o rabino Bonder é a do individualismo exacerbado. Um de seus subprodutos (bem americano) é a transformação das pessoas em vencedores e perdedores. Os vencedores terão cada vez mais; os perdedores cada vez menos. Mas, os vencedores estarão fechados em si mesmos , como máquinas de guerra . Terá valido a pena ?
Em oposição a essas novas mitologias  , pode-se lembrar de figuras como Martin Buber  , grande filósofo judeu do século XX . Em sua obra-prima  , “ Ich und Du “  ( “ Eu e Tu “), fala do ser humano como um ser relacional  - que nasce e cresce com a vocação do diálogo . Esse diálogo pode levar ao plano Sagrado  . Mas  , se não há diálogo , o céu tende a se transformar em inferno  .

Fonte   -    Jornal    O  GLOBO   pág  5
PROSA   &     VERSO    29/12/2007 
Luiz  Paulo  Horta   


PARÁBOLA 
DEUS   e  o  rabino

- Com a chegada sempre ansiosamente esperada do Natal, os sentimentos mais nobres dos seres humanos afloram  . Nesse clima  , onde se exaltam e se cantam  , pelos quatro cantos do mundo  , a necessidade e os benefícios da competitividade  , parece oportuno relembrar uma lenda judaica , extraída do livro “ Amar é Preciso “ de Maria Helena Matarazzo.
- “Dizem que Deus convidou um Rabino para conhecer o céu e o inferno  . Foram primeiro ao inferno  . Ao abrirem a porta  , viram uma sala em cujo centro havia um caldeirão onde se cozinhava uma suculenta sopa  . Em volta dela , estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas  . Cada uma delas segurava uma colher de cabo tão comprido que lhe permitia alcançar o caldeirão, mas não suas próprias bocas. O sofrimento era imenso    .
Em seguida , Deus levou o Rabino para conhecer o céu  . Entraram em uma sala idêntica à primeira  : havia o mesmo caldeirão  , as pessoas em volta  , as colheres de cabo comprido. a diferença é que todos estavam saciados. “Eu não compreendo“ , disse o Rabino  . “ Por que aqui as pessoas estão felizes enquanto na outra sala morrem de aflição  , se tudo é igual ? “  . Deus sorriu e respondeu  : “ Você  não percebeu  ? É porque aqui eles aprenderam a dar comida uns aos outros  ‘ .
- Como se você  , é no mínimo , bíblico , para não retroceder no tempo  , o conceito de que é a cooperação entre as pessoas  , a associação de esforços ( e não a competição ! ) que leva à preservação das espécies. A competição  , mesmo biologicamente  , foi u fenômeno apenas secundário nesse processo.
- A parábola se presta a várias conclusões  . Uma delas  , sem dúvida , diz respeito à verdadeira enxurrada de técnicas  modernosas “ para a obtenção de maiores índices de qualidade e produtividade, que invade o interior das empresas, por esse Brasil  afora, sempre enaltecendo a competitividade em contraposição à cooperação. E, honestamente, qual tem sido o resultado  ?
- Uma outra   , pode ser um balanço pessoal  , um exame de consciência de nossa atitude e comportamento com relação aos acontecimentos que enlutam a dignidade nacional.
O que você tem feito em termos pessoais ou associativos  ? Você talvez não participe por se julgar, quem sabe e até com razão, já bastante conscientizado. Mas somente a conscientização e reflexão não bastam!
É preciso ação  !   É preciso participar  , sair às ruas , ir a associação , mostrar sua posição , indignar-se , protestar , rebelar-se no sentido amoroso da palavra!  Dentro da ordem , da lei , civilizadamente , com amor e  , por isso mesmo  , com muita determinação e firmeza  !
- O povo diz que uma andorinha só não faz verão  . E o povo tem sempre razão  .

Fonte  Jornal  O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO     pág   J 11
Recursos  Humanos  07/11/1993  - Ano X  - nº  523

Visão das raízes de Sérgio Buarque de Holanda - Uma biografia do intelectual





O primeiro volume de Sérgio Buarque de Holanda  - Escritos Coligidos traz ainda uma cronologia do autor de Raízes do Brasil. Nascido em São Paulo em 11 de julho de 1902, ele se mudou em 1921 para o Rio de Janeiro  , onde estudou Direito. Em 1922 foi nomeado por Mário e Oswald de Andrade representante no Rio de Janeiro da primeira revista modernista, Klaxon. Em 1927, depois de colaborar com outros veículos de imprensa  , tornas-e colunista do Jornal do Brasil. Contratado por Assis Chateaubriand, em 1929 viaja para a Alemanha , Polônia e Rússia. Fixa residência em Berlim . Volta ao Brasil em 1930.
Em 1936 , publica Raízes do Brasil  , sua obra–prima. No ano seguinte  , assume as cadeiras de História da América e da Cultura Luso – Brasileira na então Universidade do distrito Federal  , no Rio de Janeiro.
Em 1946  , volta para São Paulo  , a fim de assumir a direção do Museu Paulista , também conhecido como Museu do Ipiranga, onde criou as seções História  , Etnologia ,  Numismática e  Lingüística. Torna-se professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1953, assume a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma, na Itália. Dois anos depois retorna a São Paulo como diretor do Museu Paulista. Assume em 1957 a cadeira de História da Civilização Brasileira na então chamada Faculdade de Filosofia  , Ciências e Letras  ( FFCL) da USP. Em 1958 recebe o grau de mestre em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia Política de São Paulo.
É eleito diretor do Instituto de Estudos Brasileiros  ( IEB ) da USP em 1962, pede aposentadoria na USP, em solidariedade aos professores aposentados pelo regime militar. Inscreve-se como membro fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980  . Morre no dia 24 de abril de 1982.

Variedade  - Além da gênese de Raízes do Brasil , há outras preciosidades em Sérgio Buarque de Holanda  - Escritos Coligidos. Os textos estão organizados cronologicamente, de acordo com as décadas em que foram publicados. Percebe-se, assim, os temas que foram objeto de atenção do historiador ao longo do século 20. O texto que abre a coletânea, por exemplo, é  Viva o imperador    , publicado na revista A Cigarra  e São Paulo  , em junho de 1920  . Nele, o jovem Sérgio Buarque de Holanda faz uma análise do governo de Dom Pedro II e de suas contribuições para o Brasil, argumentando a favor da revogação do decreto de banimento da família real  . O artigo defende que  , passados mais de 30 anos da publicação do decreto  , tanto sua revogação como a translação para o Brasil dos restos mortais do imperador, que morrera em Paris em 1891, seriam uma forma de homenagem pelos serviços prestados ao País.
Ainda em 1920 , também em A Cigarra , Sérgio Buarque publicou o artigo “ A bandeira nacional , em que critica a bandeira brasileira. Segundo ele o pavilhão nacional desrespeita a tradição histórica do Brasil, expõe erros grosseiros de astronomia e constitui uma agressão a estética. O artigo afirma, por exemplo  , que a divisa “ Ordem e Progresso “ pertence a uma seita  - o positivismo – cujos membros são “ minoria , exígua  , minutíssima minoria entre nós   .” na época  , quem leu esses textos que transitam entre tantos autores clássicos  não poderia imaginar que o autor daquelas consistentes reflexões, de sagacidade  crítica, seria um franzino jovem de 18 anos“, escreve o organizador  Marcos Costa, referindo-se  aos textos dos anos 20.
Nos anos 40  , a publicação do artigo “ Capelas antigas de São Paulo  “ revela , segundo Marcos Costa, que Sérgio Buarque já estava empenhado ao estudo dos meandros obscuros da história do Brasil  , especialmente de São Paulo. Dessa mesma época são os artigos sobre “ A língua geral em São Paulo  “ , “ Mentalidade capitalista e personalismo “ e “ Redes e redeiras em São Paulo “ .
A variedade de temas marca também os textos dos anos 50, que abrem o segundo volume de Sérgio Buarque de Holanda  - Escritos Coligidos. Alguns deles são “ Raça , cultura e clima “ , “ Algumas técnicas rurais no Brasil colonial “ , “ Piratininga “ e “ Uma povoação setecentista . Entre os textos da década de 70, que fecham o volume, estão “ Uma república não proclamada   , em que Sérgio Buarque  - em plena ditadura militar – faz um perfil dos militares e analisa suas estreitas relações com o poder. Essa variedade e a originalidade da obra do historiador parecem justificar a conclusão de Marcos Costa: Se a obra do intelectual brasileiro tivesse sido produzida na França, na Inglaterra ou na Alemanha, certamente seria uma referência mundial no campo da história das mentalidades ou da história cultural “ .

Fonte   -     JORNAL  DA  USP              pág  10         ESPECIAL 
De  13 a19 de junho  de 2011   
Sérgio  Buarque  de  Holanda  - Escritos Coligidos  , Livro de Márcio Costa
( organizador ) Editoras Perseu Abramo e UNESP  484 páginas

A mulher brasileira de hoje




A mulher desde a antiguidade foi despojada de seus direitos. Tanto a legislação como as religiões e também os costumes sempre buscaram torná-la submissa. Muitas aceitaram essas restrições enquanto outras, mesmo a custa de muito sacrifício, às vezes, pagando com a vida, se rebelaram.
O Brasil, colonizado por europeus  , herdou essa visão. A História do Brasil estudada nas escolas só registra os feitos dos homens. O que fizeram nossas mulheres nos quinhentos anos de nossa História   ?
Uma análise mais acurada nos mostra que a atuação delas foi muito mais significativas do que se pensa  . Precisaram lutar para ter direito à educação, escolher seu companheiro de vida  , desfrutar e participar  , com igualdade  , das decisões domésticas  , para poder exercer  , livremente  , uma profissão  , opinar sobre questões políticas  , votar e ser votada.
Galhardamente conseguiram navegar contra a correnteza. Com inteligência, coragem, perseverança, capacidade de aceitar desafios hoje demonstram o quanto podem fazer  .
Estudos feitos pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sociais  (DIEESE )   mostram que na região metropolitana de São Paulo cresceu, na última década, a participação das mulheres, com grau de instrução superior ao dos homens. Dos profissionais com ensino superior  completo  17,1 % são mulheres enquanto, entre os homens, apenas 13 %. O estudo diz ainda: “Se em 2000 a maior parte da População Economicamente Ativa (IPEA), com nível superior, era composta por homens ( 51,3 % ) , hoje essa posição é ocupada pelas mulheres  (53,6 % ) “  .
              
Que  as  mulheres  conseguiram  muito, não resta a menor dúvida
                                             Entretanto, ainda  não  podem  festejar  

Isto significa que a escolaridade superior cresceu num ritmo maior do que entre os homens. Se essa situação continuar  , para DIEESE / SEADE  , “ é de se esperar que  , em poucos anos  , as mulheres passem a ser a maioria no conjunto dos ocupados". Que as mulheres conseguiram muito  não resta a menor dúvida. Entretanto, ainda não podem festejar . Os mesmos estudos revelam também que elas ganham apenas 76 % do salário pago aos  homens ! Também há bastante resistência para que elas ocupem altos postos.  Parece uma espécie de  teto de vidro “ que as impede de galgar altos postos.
Há outro fator que tem dificultado que as mulheres exerçam todos os direitos. Esse, talvez, seja o pior de todos  ! É a violência existente nos lares. A titular Vanessa R. Mateus,  do Primeiro Juizado dedicado à violência contra a mulher, em São Paulo, declarou  : “ Uma mulher apanha dentro de casa  , no Brasil , a cada 15 segundos “. É estarrecedor!
Pululam leis sobre o tema, são criados órgãos visando proteger as vítimas mas, nada acontece! Como erradicar essa constrangedora situação  ?
Afinal  , é dentro de casa que a criança tem o primeiro contato com esse abuso. Como não banalizá-lo. Não é estranho que o tenha como normal ! Assim, novos agressores vão surgindo para desespero dos mais fracos. E a impunidade persiste!
Creio que a melhor arama seria a educação  . E mais  : que as leis vigentes sejam realmente cumpridas e aprimoradas ! Só assim dias melhores virão  !
Portanto  , a luta continua e , certamente  , novas mudanças correrão !
 
Fonte   -    Folha  do  SERVIDOR            pág 22   Março   -  2015
ACADEMIA  DE  LETRAS  , CIÊNCIAS  E  ARTES      -    A  mulher  brasileira  hoje 
Hebe  Canuto  da  Boa –Viagem  Andrade  Costa  , Cadeira  9 de Letras


A  revolução  das  mulheres 

Reunião  de  ensaios  analisa  a evolução  da Condição  feminina  no  Brasil 

Muito pouco se sabe sobre as mulheres.  As sociedades patriarcais, como a nossa, tornaram as mulheres invisíveis, e o tempo passou como se elas não tivessem existido. Durante séculos, tentou-se dar a impressão de que aquilo que as mulheres diziam, escrevia, sofriam era irrelevante, não tinha influência na ordem das cosas . O resultado foi uma história sempre parcial e incompleta dos fatos.
É claro que o mundo mudou e caminhamos para a igualdade de gênero, mas o resgate histórico das mulheres é tarefa demorada, que exige muita pesquisa e pioneirismo   .
Em um trabalho sem precedentes no país  , as editoras  Contexto e UNESP acabam de lançar um livro denso e profundo e  , ao mesmo tempo  , gostoso de ler , sobre a “ História das Mulheres no Brasil  “ , organizado por Mary Del Priore  , professora de História da USP e coordenado por Carla Bassanezi mestre em História Social, também pela USP. São 20 textos  , assinados por historiadores , sociólogos  e educadores do mais alto gabarito, cada um deles abordando aspecto da vida das mulheres em diferente períodos da História do Brasil. 
Trata-se de um livro de extremo interesse, pois não se limita a uma coletânea de artigos. É uma obra de referência, resultante de muita pesquisa e capaz de suprir lacunas nas informações que nos chegaram da sociedade brasileira ao longo do livro.
Para que serve a história das mulheres? Como diz Priore, na apresentação do livro , “ para fazê-las existir  , viver e ser  “. Mas há, ainda, muitas razões para conhecer a história das mulheres  , dentre as quais a necessidade de entender melhor a humanidade  , a sociedade, a família; as estruturas de poder e suas conseqüências, os rumos que iremos seguir daqui para frente.
A partir do relato de viajantes e missionários, Ronald Raminelli traçou o cotidiano feminino entre as comunidades indígenas litorâneas nos séculos 16 e 17, principalmente com relação aos Tupinambás. Para os europeus  , os “ costumes heterodoxos  “ das terras do além-mar eram vistos como indícios do barbarismo e da presença do diabo. A cultura indígena foi descrita com base no paradigma teológico, carregado de misoginia. As mulheres eram seres pecaminosos por definição.
A nudez mal compreendida das índias brasileiras era um símbolo da perversão do Novo Mundo  , já que não se concebia a hipótese dos costumes indígenas serem diferentes do universo cristão. Para os missionários, esta hipótese feria a idéia da monogenia dos seres humanos e de que todas as pessoas são descendentes de Adão e Eva.
As índias velhas  , designadas como “ as selvagens dos seios caídos “ foram usadas para simbolizar a degeneração, a decrepitude e o canibalismo das sociedades tribais. Os homens foram poupados pelos missionários e viajantes de tão nefasta representação, mas as mulheres  receberam uma dupla carga estigmatizante: primeiro por serem mulheres e segundo por serem velhas. Assim serviram aos interesses dos colonizadores , que pretendiam evitar a integração das comunidades indígenas da nova sociedade que se criava no Brasil. As índias, principalmente as idosas, representavam a resistência selvagem contra os empreendimentos coloniais europeus.
As mulheres brancas no Brasil Colônia, cuja condição é descrita por Emanuel Araújo, não lograram maior tolerância social, pois os costumes misóginos, trazidos pela Igreja Católica e consolidados nas leis do Estado, visavam a exercer controle absoluto sobre a existência feminina e sua sexualidade. Com a Inquisição, estabeleceu-se uma relação direta entre a mulher, a bruxaria e o sexo.
No “ Malleus Maleficarum “ , célebre tratado de demonologia escrito por dois dominicanos alemães, Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, publicado em 1486, afirmava –se  que  houve uma falha na formação da primeira mulher  , por ter sido ela criada a partir de uma costela recurva  , ou seja  , uma costela do peito  , cuja curvatura  é  , por assim dizer  , contrária à retidão do homem  . Em virtude  dessa falha  , a mulher é animal imperfeito  , sempre decepciona a mente “ .
Em outro trecho do tratado, conclui-se:  Toda a bruxaria tem origem na cobiça carnal  , insaciável nas mulheres".
Com relação ao adultério, há no texto de Emanuel Araújo a notícia de um homem preso em 1809 por ter matado a mulher que surpreendera deitada em uma rede com um estranho. Pedia ele  ao “ Desembarque do Paço “ sua liberdade  , pois “ levado de honra e brio cometeu aquela morte em desafronta sua, julgando–se ofendido  “ . O parecer dos desembargadores foi que o assassinato era “ desculpável pela paixão e arrebatamento com que foi cometido “ . Desde aquela época, portanto  , construía-se a tese da legítima defesa da honra, até há pouco tempo usada no Brasil, perante os tribunais do júri  , para absolver assassinos de mulheres  .
Percebe-se  , ao longo da história que a condição feminina no Brasil evoluiu lentamente nos últimos cinco séculos  . Muitos dos costumes de outrora remanescem nos dias de hoje   com algumas variações, apesar do advento da Constituição Federal de 1988 , que assegura a igualdade de gênero.
Um exemplo claro são os trajes femininos. As roupas adequadas à mulheres  “ de família “ foram e são motivo de muita preocupação da moral patriarcal. Atualmente críticas podem ser consideradas veladas, às vezes travestida de escárnio, como no caso de chamar a mulher de “ perua mas o fundo moralista está ainda presente.
O que as mulheres podem ou não usar, desde as vestimentas até os adornos, é ditado pelos homens: antigamente, porque eles detinham o poder absoluto  , hoje  , porque ( ainda) comandam o mundo da moda  . O moralista Nuno Marques Pereira  , no século 17  , exortava as mulheres para que fossem “ muito honestas no vestir  , porque  as galas desonestas estão indicando corpo lascivo “ .
Evidencia-se, em todos os textos constantes de “ Histórias das Mulheres “ , de forma cabal e documentada, que o gênero feminino jamais foi considerado digno de respeito e sujeito de direitos humanos. A necessidade de reafirmar a inferioridade da mulher é recorrente, a fim de justificar sua absoluta submissão.
Norma Telles, ao falar sobre as escritoras no Brasil  , cita o número 425 da “ Revista Ilustrada “  , de 1886  , destacando artigo intitulado “ O Eterno Feminino   , sobre as reivindicações das mulheres. Dizia-se que “ é dos rostos imberbes  , como os do sexo gentil  , que até hoje têm vindo  , as maiores desgraças ao mundo e os mais atrozes sofrimentos à humanidade “.
Os documentos comprovam que as mulheres nunca se submeteram ao jugo patriarcal sem reagir de alguma forma, mas, por razões que não nos cabe analisar neste espaço, foram sempre vencidas. A história das mulheres é, infelizmente  , uma história de derrotas, de sofrimento e de opressão  . Mas é  , também , uma história de perseverança  , coragem e amor  . O futuro  , que começa agora , será compensador.
O texto de Paola Cappelin Giulani  , sobre a sociedade de hoje  , demonstra que a “modernização “ tem atingido de maneira diferente os diversos grupos sociais e produtos várias formas de conflito. No processo de conquista da cidadania, as mulheres enfrentam situações peculiares, pois, além das questões públicas e econômicas  , têm que combater as discriminações de gênero. A luta por melhores condições de vida por parte das mulheres trouxe uma nova força aos movimentos  sindicais  , ao mesmo tempo em que abriu uma crise na divisão sexual do trabalho  , na própria representação sindical e na família.
Giulani afirma que a partir  do fim dos anos 70, os movimentos das trabalhadoras estão interpelando a sociedade, colaborando decisivamente para o processo de amadurecimento das relações raciais e o aperfeiçoamento da democracia.
O livro termina com um narração da escritora Lygia Fagundes Telles na qual ela começa citando Norberto Bobbio para dizer que a revolução da mulher foi a mais importante revolução do século 20. Com muita sensibilidade, Lygia encerra as 672 páginas com chave de ouro. Poeticamente, ela sintetiza a condição feminina: “A mulher escondida  . Guardada . Principalmente invisível  , a se esgueirar na sombra. Reprimida e ainda assim sob suspeita. Penso hoje que foi devido a esse clima de reclusão que a mulher foi desenvolvendo e de forma extraordinária esse seu sentido da percepção, da intuição, a mulher é mais perceptiva do que o homem “ .
De fato, foi a revolução das mulheres que possibilitou este livro  , uma obra clássica a enriquecer a cultura brasileira.

Fonte  -   Jornal  FOLHA  DE  SÃO  PAULO      pág  14       MAIS
Domingo  , 15 /06/1997           LUIZA  NAGIB  ELUB 
Promotora de Justiça de São Paulo  , ex-secretária nacional de Direitos da Cidadania  do Ministério da Justiça  ( governo FHC ) e relatora do documento que o Brasil apresentou na Conferência Mundial da Mulher em Pequim , 1995 .


Lugar  de  mulher  é no supermercado

ECONOMIA  NA  SUA  LÍNGUA

Pelas palavras do presidente no Dia Internacional da Mulher, o lugar delas seria no lar e no supermercado, comparando preços! Nada contra essas tarefas. Mas elas não são específicas das mulheres. Só o machismo justifica essa idéia.
A vantagem comparativa associada a gênero  está desaparecendo. Sim, o homem tem vantagem comparativa na força física. Quando esse fator é muito relevante, a especialização por gênero faz certo sentido. Mas no mundo moderno, em geral, importa pouco.
As mulheres estão em todos os lugares  , lutando por espaço no mercado de trabalho. Muitas, especialmente em países como o Brasil  , sofrem discriminação  , violência e assédio  . Isso precisa mudar mais rápido  , estamos falando de metade da população de qualquer país ! Cotas bem desenhadas e leis mais firmes podem ajudar a quebrar o círculo vicioso do preconceito.
Já reclamar que jogadora de futebol recebe menos que jogador é um equívoco.
Enquanto o público curtir mais assistir jogos de futebol masculino  , vai ser assim mesmo. É uma questão de maior demanda de produto. Verdade, isso pode ter raízes culturais machistas, mas não podemos forçar as pessoas a irem a estádios ou a assistirem ao campeonato brasileiro feminino. Só assim as jogadoras receberiam salários de mercado maiores.
Modelos mulheres ganham mais que homens modelos, por exemplo. Nesse caso,  parece aceitável existir maior demanda por mulheres nessa área. Por parte das próprias mulheres, muito provavelmente.
Enfim, precisamos por lenha na fogueira feminista – ainda resta muito por fazer. Com ternura e convicção, mas sem perder a racionalidade.

Fonte    -      Jornal   DESTAK           pág  11
Terça –feira , 14/03/2017    EQUIPE  DO  PQ ?