terça-feira, 27 de março de 2018

Conheça o signo dos doze apóstolos


A  ÚLTIMA  CEIA reflete os doze tipos humanos apontados  pelo  zodíaco. 
Veja  a personalidade de cada um 

Unindo a genialidade artística a um profundo conhecimento astrológico, Leonardo Da Vinci oferece-nos uma obra que merece muito mais que admiração - a "Última Ceia " é um convite à reflexão sobre os doze tipos humanos apontados pelo zodíaco, na figura dos doze apóstolos de Cristo.

Simão, expressando vontade vigorosa e combatividade, está sentado à testa da mesa, mostrando mãos impositivas que indicam a direção a tomar. Ele representa o líder que usa de coragem e iniciativa para incentivar a luta, manifestando assim traços típicos dos signos de Áries.

Em Judas Tadeu , Da Vinci eliminou o pescoço, de modo a chamar a atenção sobre a parte do corpo regida por Touro. Ele é aquele que trabalha obstinadamente, no intuito de materializar uma ideia e concretizar a missão. Por isso, sua expressão é de aceitação  paciente de sua missão.

Mateus é o autor do primeiro Evangelho e isso já é o bastante para associá-lo ao signo da informação - Gêmeos. Ele aparece em movimento, estendendo os braços em direção ao meio do quadro, é o que exerce a função geminiana de comunicar, parecendo estar em contato com todos os outros.

Felipe, reflexivo, transmite uma imagem ao mesmo tempo ingênuo e amigável. Tem os braços arqueados, apontados para o tórax, num gesto de interiorização típico do Câncer. Deste signo, Felipe expressa ainda o encantamento diante da fé e de seu grande mestre

Conhecido por seu espírito de comando, Tiago Menor representa o signo de Leão. Ele aparece de braços abertos, demonstrando confiança em seu poder de atingir tudo que está a sua volta e conseguir adeptos para seus ideais. Tiago Menor irradia para os outros a alegria da fé.

Tomé, aquele que precisa ver para crer, tem o senso crítico característico do signo de Virgem. Ele é o que levanta o dedo mostrando sua capacidade de análise, e do restante de seu corpo aparece apenas a cabeça - retrato da personalidade - intelecto -racional.

João, "o discípulo amado " , associa-se ao signo de Libra pela procura de paz e união que simboliza  . Ele é a imagem da justiça e força dos mansos. Da Vinci retrata João com as mãos entrelaçadas  e semblante calmo, de quem medita para coordenar com equilíbrio.

Judas Iscariotes, batendo na mesa e segurando um saquinho de dinheiro na mão é a imagem de quem está disposto a " fazer o que tem que ser feito " . Por isso, deve ser compreendido como agente da missão a ser cumprida por Cristo  - transformação e libertação da alma. Judas simboliza assim a força transformadora e implacável de Escorpião. Seu próprio suicídio é uma demonstração no mundo, ligado  à morte que possibilita a ressurreição.

Pedro, aquele que fez a Lei da Igreja, representa também a fera que está dentro do ser humano, pois traz uma faca na mão direita. É a representação de Sagitário , signo metade  homem-metade animal, em busca do Divino. Este signo simboliza o amor à Natureza, na figura de Pedro.

André , com a boca fechada em sinal de reflexão e seriedade  , expressa a capacidade de se concentrar na realização de uma meta , típica de Capricórnio. Seu gesto indica controle, e ele foi o primeiro a reconhecer  e seguir Cristo, com o dever capricorniano.

Tiago Maior pensava e falava sobre o futuro  - tempo relativo ao signo de Aquário. Além disso, chefiou a primeira comunidade Cristã depois da Ressurreição, expressando a necessidade aquariana de espalhar sementes integrando grupos. Ele está oposto a  Tiago Menor na obra de Da Vinci

De pálpebras abaixadas, escutando passivamente, Bartolomeu é o único apóstolo cujos pés ( parte regido por Peixes ) aparecem no quadro. Sua figura indica visão ampla do significado da reunião através de uma atitude perceptiva, comum aos piscianos.

Por tudo isso, talvez fosse hora de voltar a colocar a " Última Ceia " em nossa sala de refeição . Afinal  , as energias nele representadas são o alimento de nossas forças espirituais  , na busca da sintonia com aquele que reuniu todas elas em si mesmo - Cristo ! 

Fonte   - Suplemento  - CASA   E  FAMÍLIA     -    PRESENTE  &  FUTURO 
 19/12/1993     ANO  XI   n°  477        -      Dione  Forti 

Adolfo Lutz - Emílio Ribas


Como   ele  fez  tudo  isso? 
Mesmo  75  anos  depois  de  sua morte,  ainda  é  difícil  entender  a  vastidão  da obra  de  Adolfo  Lutz, o brasileiro  o  que  embasou  a  epidemiologia  nacional  

Entre seu nascimento, no Rio de Janeiro de 1855, e sua  morte, no mesmo Rio de Janeiro de quase um século depois, parece que o mundo inteiro passou sob os pés e os microscópios de Adolfo Lutz.  É tarefa quase impossível escolher o primeiro predicado para contar a carreira de um profissional tão especial. Talvez seja melhor recorrer a ele mesmo, ainda com 15 anos de idade, quando revelou seus sonhos em uma carta para sua mãe:

"O que sempre desejei em criança e, sem refletir devidamente, ainda o desejo agora é ser pesquisador em ciências naturais. ( ...) Também penso muitas vezes que talvez seja preciso um estudo para ganhar o pão. Ocorre-me a medicina. (...) De minha parte, contentar-me-ei em viver muito modestamente se puder ser um bom pesquisador " . 

Mesmo com tantas pretensões, todas foram cumpridas com louvor. Mas antes, para entender essa jornada por inteiro, voltemos à sua biografia  mais remota. Adolfo é o terceiro dos dez filhos do casal suíço Gustav Lutz e Mathilde Oberteufer, que, em 1850, chegou ao Rio para apostar no ramo de importação e exportação de produtos agrícolas.
O contexto do nascimento de Adolfo Lutz, no Rio de Janeiro do segundo reinado, tomado por epidemias , ainda iria influenciar sobremaneira a vida do cientista. Mas não seria no Brasil que o gênio cresceria e estudaria. Com apenas dois anos, foi levado para o país dos antepassados. Aos nove, permaneceu na Europa enquanto seus pais retornaram ao Brasil. Foi nessa época que Adolfo, morando na Basileia, no cantão alemão da Suiça, trocou cartas com sua irmã mais velha, Helena, que também retornara à América. Numa delas deixou claro que, mesmo sendo tão jovem, já estava apaixonado pelas coisas da natureza.

"Mandamos fazer uma casinhola para lagartas e vamos criá-las, mas também vamos apanhar borboletas e esperamos obter muitas para nossa coleção ( ...) Também queremos começar uma coleção de plantas secas, e precisamos de folhas e flores brasileiras secas, de preferência com os nomes".

Ainda imberbe, aos 13 anos Adolfo leu a Bíblia Naturalista Charles Darwin, publicada naquela mesma década. Se A Origem das Espécies ainda é capaz de impactar um leitor leigo mesmo um século e meio depois, dá para imaginar a potência do estudo na cabeça do nosso entusiasmado personagem.
Aos 18 anos, Lutz trocou a Basileia por Berna para iniciar os estudos universitários. Como havia antecipado à sua mãe alguns anos antes, decidiu-se pela medicina. As universidades de língua alemã tornavam-se referência em toda a Europa. Por isso, ainda antes de se formar médico, Lutz teve a oportunidade de entrar em contato com importantes inovações tecnológicas e conhecer bem de perto alguns mais consagrados cientistas da efervescente segunda metade do século XIX. 
Talvez o mais célebre desses encontros tenha sido com Robert Kloch - descobridor do bacilo da tuberculose. Nobel de Medicina e um dos pais da microbiologia. A excelência da Universidade  de Berna ainda possibilitou que Lutz peregrinasse por outros importantes centros científicos da Europa Central, como Leipzig, Estrasburgo e Praga. Já médico formado, viajou para Viena, referência em estudos dermatológicos. Em Londres, acompanhou o conceituado Joseph Lister, um inovador da assepsia em procedimentos cirúrgicos. Por fim, esteve em Paris, em contato com os estudos de Louis Pasteur, outro cientista fundamental da história da medicina moderna. Em resumo: Adolfo Lutz não poderia ter uma formação mais robusta quando, no final de 1881, retornou à sua caótica terra natal.

"Ele esteve na Europa no momento das grandes descobertas. Naquele momento, ainda não se sabia bem que existia parasita e vetor. É o momento  em que se descobre que o mosquitinho pode transmitir uma doença, que o caramujo transmite uma doença, que você tem um hospedeiro intermediário, que você tem um bichinho que vive dentro de outro, que se reproduz dentro daquele outro e que ele acaba o ciclo no corpo do homem. Isso foi fundamental para a formação dele. Foi um diferencial", conta Magali Romero Sá, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz  e autora de um amplo estudo sobre a vida de Lutz.

Nos 24 anos que Lutz ficou longe do Brasil, o país se tornara ainda mais insalubre do que quando ele partiu - especialmente, o Rio de Janeiro. A febre amarela mantinha sua mortal virulência. A tuberculose, a diarréia e a malária pressionavam as autoridades do Império a buscar novas soluções de saúde para a população.
Em 1882, Adolfo Lutz deixou o Rio em direção a Limeira, onde já estava a sua irmã Helena. No interior de São Paulo, inaugurou a primeira fase de sua carreira, que iria até 1891, trabalhando especialmente como clínico, embora também dedicado a publicar trabalhos originais de biologia das espécies que se relacionavam com os humanos e suas patologias. O dia a dia de Lutz era incessantemente registrado em diários e relatórios. A reunião desse material permite aos pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz recontar com segurança a carreira do cientista. Pedro Antonio Federson Junior trabalha no museu do instituto e garante que Lutz não folgava sob hipótese nenhuma

"Ele trabalhava aos domingos, no feriado de Natal. Existem registros que mostram que ele trabalhava mesmo no ano novo ! Em seu diário, há uma passagem que mostra que, num mesmo dia, ele realizou cinco necropsias na Santa Casa. Duas na estalagem dos imigrantes. Depois ele vai para o Hospital dos Inválidos. Ainda escreve  sobre os sabiás e sobre o burro da cocheira".

Nos primeiros anos em que atuou no interior de São Paulo, Lutz se surpreendeu com a precária situação de saúde dos escravos brasileiros. A filha de Adolfo, Bertha Lutz, escreveu sobre uma das primeiras experiências médicas de seu pai em fazendas de cafeeiras. Adolfo teria dito a um feitor: 

"Se o seu escravo é de valor, posso examiná-lo, mas o senhor terá que colocá-lo numa cama, pôr um cobertor para que eu possa auscultá-lo e ter a cabeça um pouco mais alta. Depois, já que é um escravo de valor, é preciso tratá-lo bem."

Já nesta época, ficava nítido o caráter liberal do cientista, o que viria a influenciar severamente a própria Bertha , outra Lutz de biografia notável. Em pouco tempo, o médico ganhou reputação de grande diagnosticador e passou a ser chamado para missões longínquas, muitas realizadas a cavalo. Nas horas vagas, escrevia e logo figurava em algumas das principais publicações do mundo. A essa altura, o estudo dos vermes, ou a helmintologia, já encantava Lutz, que viria a se tornar um dos maiores cientistas do ramo.
Ancilostomíase, oxiuríase, ascaridíase  e tricocefalose: se os nomes já são difíceis, é possível imaginar como era complexo descobrir suas causas e efeitos na incipiente medicina epidemiológica das últimas décadas do século XIX. Lutz conseguiu e tronou-se o pioneiro no Brasil no estudo das doenças de animais.

"Ele estudava algo, descobria, mas não parava num mesmo assunto. Logo passava para outro", diz Magali Romero Sá, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz .

Foi com essa inquietação que Lutz prosseguiu sua carreira. Primeiro em Hamburgo, na Alemanha, onde se aprofundou na dermatologia, especialmente no bacilo da lepra. Logo se transformaria na maior autoridade brasileira no assunto. Em 1889, retornou para o Brasil e foi fundamental em outra grande missão : conter a epidemia de febre amarela em Campinas (SP), que registrou duas mil mortes num único ano.
No dia em que o marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República brasileira, Lutz já desembarcava em Honolulu, no Havaí. No paradisíaco arquipélago, o cientista trabalhou no leprosário local e ainda inaugurou estudos que seriam fundamentais para tratar, anos mais tarde, a esquistossomose e a malária no Brasil. A estadia nos Estados Unidos durou quatro anos, com uma temporada na Califórnia e ainda resultou em casamento, com a enfermeira inglesa Amy Fowler.
Em 1893, Lutz voltou em definitivo a viver no Brasil e iniciou talvez a mais marcante fase da sua carreira, como diretor do Instituto Bacteriológico de São Paulo, cargo que ocupou por intensos 15 anos. De dentro de seu laboratório, o cientista liderou desafiadoras batalhas contra as mais perigosas epidemias de sua era: a cólera, a febre tifoide e a malária, por exemplo. Ainda como diretor do instituto, Lutz realizou uma de suas mais importantes descobertas, a malária silvestre, e seu mosquito transmissor, que se reproduzia em águas armazenadas em bromélias. Outro feito notável de seu período em São Paulo foi a criação de laboratórios para a fabricação de soro e vacina contra a peste bubônica. O mais famoso deles foi montado na fazenda Butantan, onde atualmente funciona, justamente, o Instituto Butantan

"Lutz teve a sorte de ter Emílio Ribas como diretor de serviço sanitário aqui em São Paulo, o que seria hoje o secretário da saúde. Ribas era outro lutador. Isso tudo é uma conjunção dos deuses. Os melhores homens no tempo mais preciso. Deu tudo certo", conta Pedro Antônio  , do museu do Instituto Adolfo Lutz.
A carreira de Lutz , no entanto, não seria só de conquistas. Avesso à política, até mesmo àquela fundamental em seu próprio ramo, o cientista colecionou desafetos e teve dificuldade de triunfar com alguns de seus estudos. Gostava mesmo de trabalhar em seu laboratório, nunca acompanhado por uma grande equipe. Teria sido pela dificuldade em transitar em alguns círculos paulistanos que Lutz deixou o Instituto Bacteriológico em 1908 e voltou ao Rio de Janeiro
Em sua cidade natal, Lutz não poderia encontrar instituição mais receptiva do que o Instituto Soroterápico de Manguinhos, onde já trabalhava o sanitarista Oswaldo Cruz. Os conhecimentos zoológicos de Lutz foram fundamentais para transformar o centro em referência em doenças tropicais. Logo, o instituto seria rebatizado com o nome de Oswaldo Cruz .
Já como um senhor acima dos 60 anos, Lutz organizou diversas expedições científicas. Percorreu o vale do rio São Francisco  , no Nordeste. Acompanhou o leito do rio Paraná para conhecer as condições sanitárias do Paraguai, Argentina e Uruguai. Em 1925, esteve também na Venezuela para organizar o departamento de parasitologia da Universidade de Caracas.
Depois dessa viagem, Lutz iniciou a última fase de sua prodigiosa carreira. Agora ao lado de um fiel auxiliar chamado Joaquim Venâncio, se resguardou em seu laboratório justamente para aprofundar estudos sobre a prática laboratorial e a microscopia. Já com problemas na visão, o cientista migrou para o estudo dos anfíbios. Muitas vezes , utilizava o próprio tato para as averiguações. 
Os estudos de Lutz no Brasil ainda identificaram o mosquito aedes aegypti como um dos vetores da febre amarela e consolidaram o processo conhecido como pasteurização como fundamental para o leite industrializado. No entanto, o entendimento da vastidão da obra de Lutz não pode ser reduzido às suas " aplicações " , como conta Magali Romero Sá .

"Ele era um cientista da ciência pura, da ciência básica. Ele contribuiu para o conhecimento em si. As aplicações, digamos assim, ele deixava para outras pessoas fazerem".

Adolfo Lutz morreu aos 84 anos, vítima de uma pneumonia. Deixou dois filhos: Gualter Adolpho e Betrtha Lutz. Bertha teve proeminência na luta feminista brasileira no século XX. Lutou pelo voto feminino e chegou a ser deputada federal por um ano. Além de prole, Lutz , incansável colecionador  , deixou vasto material de estudo. Como maior homenagem, logo após sua morte, o Instituto Bacteriológico de São Paulo passou a se chamar Instituto Adolfo Lutz. Hoje, com cerca de mil funcionários, ainda é referência em análises físicas, químicas e biológicas . 


Fonte  - Revista  - Desafio do Desenvolvimento   págs 78 a 83   n° 83 
2015  *   Ano 12     - Perfil  - Caetano Manenti




Emílio  Ribas:   benfeitor   da  humanidade

Emílio Marcondes Ribas nasceu na cidade de Pindamonhangaba no dia 11 de abril de 1862, na fazenda de seu avô materno, Manoel Ribeiro do Amaral, o Manduca Machado. Era filho de Candido Marcondes Ribas e de Andradina M. Machado Ribas. Sua família possuía condição econômico-social confortável, eis que participava da riqueza cafeeira na época. Não era, porém, " Barões do café " .
Desde cedo, Emílio Ribas mostrou-se grande interesse sobre o adoecimento e morte de animais, por ter sido criado em ambiente rural. Sua família percebeu que ele não estava vocacionado para a vida rural mas, sim, para a prática da Medicina e ao completar 20 anos de idade, Emílio Ribas mudou-se para a capital do império e adentrou a Faculdade (Imperial) de Medicina do Rio de Janeiro, em 1882 , formando-se em 1887. E em fevereiro de 1888, defendeu tese sobre "Morte Iminente dos Recém-Nascidos: Tratamento".
Ele retornou à Pindamonhangaba e iniciou sua carreira profissional como clínico geral e atuou em movimentos políticos como membro do Clube Recreativo Republicano do município  . Casou-se , em 1889  , com Maria Carolina Bulcão Ribas, conhecida como dona "Mariquinha", com quem viveu toda sua vida e teve cinco filhos ( Paulo , Marieta , Ruth , Félix e José ) .
Sua dedicação à Medicina começa a ganhar novo eixo nos anos seguintes, quando surge uma sucessão de graves epidemias, dentre elas, a febre amarela, no interior do Estado.
Emílio Ribas erradicou , no Estado de São Paulo , a febre amarela por meio de eficiente campanha contra o mosquito. Em seguida, o estado do Rio de Janeiro logrou também a eliminação dos focos do mosquito transmissor com a assunção de Oswaldo Cruz na Diretoria do Serviço Federal de Saúde, em março de 1903. A campanha contra os mosquitos foi bem sucedida e a erradicação da doença ocorreu no dia 8 de março de 1907.
Emílio Ribas está entre os grandes benfeitores da humanidade que contribuiu para a ciência médica nos fins do século XIX e início de XX. Neste período , no dizer do seu biógrafo, as epidemias, pareciam que brotavam da terra. O sanitarista vivia um verdadeiro drama na época. Ao lado de Oswaldo Cruz , Adolfo Lutz , Carlos Chagas e Vital Brasil, lutou para mudar a consciência científica e popular da época
Sua mais forte característica era o respeito humano. Não saía de casa sem desejar um bom dia e sempre tinha um tempinho para conversar sobre a vida e os costumes do interior, no dizer de sua empregada doméstica. Gostava de ser chamado de " caboclo turrão " . Caboclo porque orgulhava-se de sua origem roceira e turrão por sua persistência argumentativa . 
Emílio Ribas faleceu, após travar longa luta contra o câncer, no dia 19 de dezembro de 1925 , na cidade de São Paulo, com 63 anos de idade, deixando um grande legado à humanidade. Paula Souza o denominava como o " Pioneiro da Revolução Sanitária do Brasil " . E ao desligar-se do mundo dos vivos merece levar consigo a honra da máxima de Cícero: "Em nada aproximam-se mais os homens de Deus  , que assegurando saúde à humanidade " .
No dia 11 de abril de 2012  , data que marcou 150 anos de seu nascimento, Emílio Ribas foi declarado Patrono da Saúde do Estado de São Paulo.

Fonte  - Jornal   - Folha  do  SERVIDOR  PÚBLICO    pág  22  
Edição   -    283    -   2016     por  Luís  Paulo  Sirvinskas  , Cadeira  I  de Ciências 
ACADEMIA  DE  LETRAS  , CIÊNCIAS  E  ARTES 


ARUN GANDHI


Neto  de Mahatma  Gandhi compartilha  histórias  de  sua  infância  com avô  em  seu 
mais   recente livro, 'A  Virtude da Raiva'. Ao  Metro  Jornal, o  autor  comenta  mudanças  pessoais  afetam  o  mundo. 

'PRECISAMOS  MUDAR'

Mahatma Gandhi ( 1869 - 1948 ) teve grande influência sobre seu neto que, aos 84 anos, conta no livro 'A Virtude da Raiva' as lições aprendidas com o avô ao vê-lo lidar com injustiça e racismo
Arun Gandhi conta a transição emocional que viveu na juventude, da raiva para a não violência. O autor aborda também reflexões atuais de seu cotidiano como ativista humanitário
Jornalista e presidente do Ghandi Worldwide Education Institute, Arun, que é sul-africano, dedica sua vida a continuar o legado de seu mestre.

Redes  sociais  

"Precisamos decidir se queremos gerar mais conflitos na sociedade ou se queremos informá-la da forma correta. Se escrevermos artigos e posts com a intenção de informar e educar as pessoas, vamos ter um cenário diferente. Mas, se a intenção for de prejudicar, então conseguiremos apenas mais estragos".

Gerenciamento  da raiva 

"As pessoas precisam entender o que é a não-violência. Não é uma solução política, mas de transformação pessoal. Se esperarmos que as mudanças venham de cima para baixo, nada vai mudar. A mudança tem que vir da base. Comece a mudança você mesmo e, através de si, mude o resto. Assim a revolução acontece. Em vez de responder ao ódio com ódio, responda com amor".

Passar  à frente  a  sabedoria 

"Quando meu avô foi assassinado, fiquei muito perturbado e com raiva. Disse a meus pais que queria ter matado a pessoa que fez isso, mas eles me lembraram que meu avô não aprovaria esse tipo de atitude. Lembrei das lições que Ghandi me ensinou e decidi que a partir dali iria dedicar a minha vida a fazer com que esse tipo de violência não acontecesse mais. Desde então dedico o meu tempo a ensinar as pessoas mudarem e a entenderem que devem se dedicar a algo bom".

Atuais  líderes  mundiais 

"Precisamos   ficar  atentos  a  um ponto:  a  questão  não  é  apenas  sobre  os  políticos, mas  sobre  todos  nós. Se  não  começarmos  a  redefinir  nossos  valores, não  poderemos  esperar  que   os  políticos  mudem. Eles  não  são  alienígenas, o  que  eles  fazem  reflete  os  valores  da  sociedade.  Nós  precisamos  começar  e  mudar." 

Fonte  -     Jornal    -     METRO              pág   11     -          CULTURA 
Rio  de  Janeiro  , 20/02/2018      -      terça-feira 

DA   PAZ 
NETO  DE  GHANDI  ENSINA A  REPENSAR  A   RAIVA 

Ativista  conta  em  livro  como  usou  as  lições  do avô, assassinado  há 70  anos,  para aplacar  a  própria  ira  

Setenta anos depois,  o indiano Arun Gandhi ainda se lembra com muita nitidez daquele 30 de janeiro de 1948. Ele voltava a pé do colégio, que ficava a mais de um quilometro de sua casa, em um vilarejo na África do Sul. Um conhecido apareceu e pediu que ele apressasse o passo. Quando chegou e viu a sua mãe chorando, percebeu que algo sério havia acontecido. Seu avô, Mahatma Ghandi, fora assassinado a tiros na Índia. 
Arun foi tomado pela raiva. Ao longo dos anos, porém, usou as lições pacifistas ensinadas pelo avô para canalizar o sofrimento em algo positivo. Estes ensinamentos estão em "A virtude da raiva " ( Sextante ), que acaba de sair no Brasil. Hoje com 83 anos, o ativista político foi a Campinas ( SP ) participar do "Fórum Campinas Pela Paz", que aconteceu nos dias 23 e 24 de fevereiro.
- Quando soube do assassinato, fiquei em choque, não entendia como podiam ter matado alguém tão gentil e amável - lembra Arun, em entrevista por telefone. - Disse à minha família que iria me vingar de quem fez isso. Na hora, meus pais me lembraram que o meu avô não aprovaria esse tipo de comportamento, e que ele gostaria que eu dedicasse minha vida a mostrar que não há mais lugar para esse tipo de violência. Foi o início da minha trajetória no ensino da não violência. 

UMA  ESPÉCIE  DE  ELETRICIDADE 

"A virtude da raiva " traz dez ensinamentos que Arun recebeu de Ghandi. Nascido na África do Sul, em 1934, o ativista passou os primeiros anos da vida sofrendo com os efeitos do apartheid: era atacado pelas crianças brancas por não ser branco o suficiente e pelas crianças negras por não ser negro o suficiente. Ressentido, só compreendeu melhor o mundo depois que sua família se mudou para a Índia, e ele conheceu o seu avô. Arun tinha 12 anos e teve contato direto com Ghandi até os 14, quando voltou para o país natal.
Presidente da Ghandi Worldwide Education, e jornalista com textos publicados no "Whashington Post " , o quinto neto de Mahatma dedica sua vida a divulgar o sentido da justiça do avô. Um dos caminhos para isso, defende no livro, é compreender o poder estimulante da raiva, que pode ser uma ferramenta poderosa para lutar contra as injustiças, desde que se deixe de lado os seus aspectos tóxicos. - Eu tinha muita raiva pela discriminação que sofri no apartheid e mostrava isso no meu dia a dia  - conta o ativista, - Mas, ao chegar à Índia, meu avô me explicou o que era essa raiva e como ela poderia ser usada
O velho Ghandi usava uma metáfora para ilustrar a questão. A raiva, dizia ele, é como a eletricidade: dependendo de como a usamos, pode resultar tanto numa centelha de energia  quanto num curto-circuito. Espelhando-se no jeito calmo e controlado do avô, Arun percebeu que não adiantava, por exemplo, revidar as agressões que recebia
- A raiva que pode ser positiva resolve problemas - explica Arun. - Mas ela é ruim para a Humanidade quando abusamos dela, nos tomamos violentos e agredimos uns aos outros tentando achar uma solução. É preciso usá-la de forma inteligente, sem exagerar na dose. 
As redes sociais não escapam da análise de Arun. Segundo ele, as novas mídias podem ter contribuído para expandir raiva e violência.
- Na maior parte das vezes as redes sociais são usadas de forma errada, para coisas sem sentido - avalia -. - Também criam um déficit de atenção. Sinto que, quando faço post longos, ninguém os lê. Apenas dão like e seguem em frente.

E Gandhi teria hoje, uma conta no Twitter ou no Facebook ? 
- Acho que ele usaria porque a sua ideia era espalhar a sua mensagem para o maior número de pessoas  - palpita o ativista . - Em seu tempo, ele usou rádio, telefone, tudo que podia lhe facilitar a espalhar a sua mensagem . 

Fonte  - Jornal   - O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO     pág  6     - Segundo  Caderno
30/01/2018       -  BOLÍVAR  TORRES  

O Anti-Cabeça



Quando um intelectual rima com marginal

Uma tendência ganha fôlego em nossos dias, o antiintelectualismo. Seu porta-voz, o Anti-Cabeça, está em tudo que é lugar pronto para lutar por sua ideologia.

O Anti-Cabeça é recrutado por uma força invisível (um deus? um fenômeno natural?), que diz “Onde quer que estejas, filho, abomina todo refinamento mental, toda sutileza oratória. Destrói aqueles que elaboram o pensamento completo e abre as portas para a felicidade simplificadora”.

O Anti-Cabeça pode ser ignorante ou culto. Mas nunca será inteligente.

O inteligente inculto, por sua vez, livra-se de ser um Anti-Cabeça se estiver consciente de seus limites circunstanciais, e der-se a liberdade de decidir, sem traumas, desenvolver ou não o intelecto. Mas, se for magoado será um Anti-Cabeça furioso.

Culto ou ignorante (mas sempre ininteligente), o Anti-Cabeça odeia o raciocínio sofisticado e acredita que, para existir e imperar, precisa exterminá-lo ou isolá-lo. Não pode haver diálogo entre as duas esferas. O mundo é pequeno demais para caber Cabeça.

O intelectual na visão do Anti-Cabeça, nada tem a contribuir para a construção de uma sociedade melhor. Ele é sempre o Cabeça, pernóstico, mentiroso, delirante, confuso, um chatonildo que opõe-se à simplicidade deste mundo.

O Anti-Cabeça vomita diante uma arte que não seja figurativa ou decorativa. Cospe, mesmo sem ouvir numa música cuja harmonia (palavra proscrita) seja um tantinho mais intrincada.

Acredita que a vanguarda não existe, que é sempre um embuste, e ignora interdependência / intercâmbio / processo que envolvem um clássico e novo.

O Anti-Cabeça pronuncia a palavra “intelectual“ como se fosse um palavrão. Ou então como se tal ser (“O intelectual“) não existisse na realidade, fosse invariavelmente um picareta, sujeito deletério, um sofisma ambulante, uma praga subversiva.

O Anti-Cabeça dorme na platitude e acorda no banal. Acredita que o medíocre será vencedor. À noite, sonha com a uniformização de tudo num grande show que não pode parar para pensar, que transforme as vidas num zumbido permanente e alegre.

Nesse show não há lugar para a expressão da tristeza da melancolia, da angústia como formas válidas: estes são sentimentos para se extirpar do coração antes de chegar à garganta e à voz, que devemos guardar nos nosso peitos, não encher o saco dos bons e simples com roupa suja existencial.

A existência, por sinal, não é uma questão a ser pensada ou exposta, crê o Anti-Cabeça. A existência apenas “é“. E ponto - porque se forem reticências a coisa já fica muito complexa. Toda a filosofia está enterrada nesta afirmativa, podemos bailar e rir. É tão fácil ser feliz! Só o Cabeça, com sua carranca, é que não vê.

O objetivo final do Anti-Cabeça é exterminar o cabeça, que tem um poder de comunicação imediata menor e pode encontrar dificuldades em defender sua dignidade e sua honra.

O Anti-Cabeça segrega, procura criar uma nova classe de degenerados, de inúteis, de incompreensíveis masturbadores mentais que nada têm a ver com o senso comum e, portanto, não devem ser levados a sério. O mundo será melhor, mais direto, mais claro, mais divertido e colorido sem eles para perturbar. Que fiquem encastelados em seus átrios abafados e cheios de teia de aranha.

O cronista, que não é um Anti–Cabeça, prescinde de declarar-se, entretanto, um intelectual. Mas saúda os Cabeças e os simples com toda a humildade.



Fonte - Jornal O GLOBO pág 10 Segundo Caderno



Sábado , 14/02/2004 ARNALDO BLOCH