SEDE DE EMOÇÕES
À medida que vamos nos
adaptando a essas circunstâncias, somos forçados a conviver com nossas paixões frustradas e com mágoas sufocadas dentro de nós, sem sabermos o que fazer ou com quem falar
a respeito. Não podemos revelar nossos
sentimentos, não os entendemos e estamos ainda menos familiarizados com os
sentimentos das outras pessoas. Quando
estamos em dúvida, ocultamos nossas
emoções, mentimos sobre elas ou
fingimos não senti-las. Crescemos
acostumados a agir sem dar atenção ao nosso universo emocional, ou até mesmo agindo contra ele.
Inclusive em nossa vida afetiva, onde supostamente as
emoções podem reinar soberanas, muitos
de nós somos magoados com tamanha freqüência que nos mantemos sutilmente distanciados, mesmo quando nas garras do amor apaixonado. Dores afetivas há muito esquecidas impedem nossa completa abertura e entrega
ao outro, sem mantermos uma certa
distância defensiva e solitária.
Raramente nós nos permitimos a mais bela das experiências emocionais - a vulnerabilidade de estar profundamente
apaixonado por alguém, sem
reservas.
Quase todos nós sentimos que a vida pode ser muito mais
intensa. Ansiamos pelo aconchego do
sentimento profundo, pela conexão com o
outro, pelo entendimento mútuo. Mas
como chegar lá ? Sabemos, do fundo de
nossos corações, que ser uma
pessoa emotiva, ter paixões fortes,
chorar, vibrar, até mesmo sofrer, constituem experiências preciosas e
fundamentais. Na verdade, estamos
sempre buscando maneiras indiretas,
artificiais ou dissimuladas de experimentar emoções. Tomamos drogas, nos apaixonamos ou por uma pessoa
inatingível, ou vamos ver filmes românticos, de terror, ou de ação; assistimos a comédias de situação, melodramas e novelas na televisão, em busca de um estímulo emocional. Essas atividades nos proporcionam um
gostinho daquilo que desejamos ardentemente, sem os riscos da participação real.
Todos temos sede de estímulo emocional, tanto assim que fazemos praticamente tudo
que é possível para obtê-lo. Jogamos a
dinheiro, saltamos de pontes amarrados
pelos tornozelos ou de pára-quedas. Um exemplo particularmente chocante e
dramático desse anseio por experiências emocionais é apresentado no livro
de James Gilligan, Violence. Gilligan
trabalhou por muitos anos com presidiários condenados por assassinatos
cruéis. O autor descobriu que esses homens vivem
invariavelmente em estado de profunda insensibilidade emocional. Eles contam que são praticamente
desprovidos de sensações emocionais ou físicas, a ponto de se considerarem
mortos vivos.
Explicam que cometem violências indescritíveis na esperança
de que tais excessos rompam com a insensibilidade e os façam sentir algo. Aquele que comete um assassinato brutal pode
sentir, por um curto espaço de
tempo, que despertou de sua anestesia
semelhante à morte. Mas, invariavelmente, as emoções resolvidas pelo crime assentam e o entorpecimento
retorna.
A insensibilidade desses homens não surgiu do nada. A
pesquisa de Gilligan mostra que, em
praticamente todos os casos, esses homens foram eles mesmos vítimas de
agressão, bombardeados por repetidos traumas emocionais e físicos. Eis um
exemplo concreto de como o trauma conduz à insensibilidade e à patologia
emocional grave. Se não for
debelada, essa patologia poderá ser
transmitida de geração em geração.
Obviamente, há uma necessidade premente
de romper com o ciclo da violência e do entorpecimento emocional. Uma maneira de fazer isso consiste no
aprendizado da consciência emocional,
desenvolvendo a empatia - a capacidade
de sentir o que os outros estão sentindo. Ao decidirmos desenvolver nossa sensibilidade para as emoções
alheias, estamos fazendo uma escolha
moral definitiva, que nos dará a
capacidade de ser compassivos e generosos.
Empatas e Psicopatas
Parece haver dois tipos de pessoas destinadas a ter poder na
sociedade: os psicopatas, que nada sentem, ou os empatas, que estão em profunda sintonia com os
sentimentos daqueles que os cercam.
Não leve esses dois tipos demasiado à sério; são
caricaturas, extremamente raros na realidade. Vou usá-los apenas para expor meu ponto de vista.
Os psicopatas podem agir com facilidade sem as coerções que
limitam outros mortais. Têm a
capacidade de mentir, furtar, extorquir, mutilar e matar sem
culpa. Quando exercem influências sobre outras pessoas, podem tornar-se tremendamente poderosos.
Vejam Calígula, o imperador romano. Ou, Adolf Hitler. Estes exemplos são óbvios, mas outros podem ser encontrados em toda
parte: na política, nos negócios, nas gangues e até mesmo em determinadas
famílias.
Os empatas, por
outro lado, ganham ascendência graças a suas aptidões emocionais. Aqueles que nascem empatas têm um dom inato
para a empatia, o qual é estimulado
pela família e pelos professores ao longo da infância e da adolescência. Seu
talento para a cooperação afetuosa, para obter o melhor das pessoas, confere-lhes um poder que
contrabalança os danos causados pelos psicopatas.
Repito: esses são
dois extremos; muitas pessoas poderosas
não são psicopatas nem empatas completos. Mas, se observá-las com atenção, provavelmente detectará uma preferência
por um ou outro estilo.
Eu, é claro, estou encorajando-o a buscar o ideal da empatia.
Págs 30, 31 e 33
Empatia
À medida que
vamos descobrindo as diferentes emoções que sentimos, as variações na intensidade com que as
sentimos e as suas razões, e à medida
que a consciência de nossas emoções vai-se tornando refinada e sutil,
começamos a perceber e intuir a complexidade
e sutileza das emoções daqueles que nos cercam.
A empatia é uma forma de intuição das emoções. O
funcionamento da empatia é inteiramente surpreendente para o principiante, pois parece depender de uma aptidão
que, às vezes, afigura-se perigosamente semelhante à
clarividência.
Quando somos empáticos, não pensamos no fato de que entendemos, vemos ou ouvimos as emoções de outra pessoa. Acredita-se que, na verdade, a empatia é um sexto sentido
por meio do qual percebemos as energias emocionais assim como o olho percebe a
luz. Sendo assim, a empatia acontece em um canal
intuitivo - independente dos outros cinco
sentidos - que penetra diretamente em
nossa consciência. A ignorância
emocional sobrevém quando, nos anos de
formação da nossa juventude, deixamos
de desenvolver esse sexto sentido. Em geral aprendemos a reprimi-lo com as constantes
mentiras e a rejeição dos sentimentos comuns nas experiências infantis. Alguns nascem “empatas“, dotados de profunda sensibilidade para as
emoções, e outros são emocionalmente
insensíveis. Quase todos nós estamos em algum ponto médio, e todos podemos aprender ou reaprender a
consciência empática.
A empatia, como
toda intuição, é imprecisa e pouco
valiosa até desenvolvermos meios de confirmar objetivamente a exatidão de
nossas percepções.
Págs 49 e 50
Fonte: "Educação Emocional - Um Programa Personalizado Para Desenvolver Sua Inteligência Emocional" - Claude Steiner, PhD com Paul Perry