terça-feira, 17 de outubro de 2017

O Brincar e a Educação Auto–reguladora





É  NA  INFÂNCIA que nos programamos a para a vida adulta. Carregamos conosco medos, críticas, inseguranças, desconfianças, etc, que determinam nossa maneira de ser e de agir como adultos. Essas sensações se impregnaram em nossas mentes, corações e também em nossos corpos. Com isso nos encouraçamos e esquecemos de nossa essência. Esses mecanismos defesa nos dão uma falsa ideia de segurança, nos afastando do mundo real, e às vezes até de nós mesmos. Assim não damos espaço para a espontaneidade e para o bem-estar em nossas vidas. E se não estivemos atentos, a tendência natural e que introjetemos em nossas crianças as mesmas programações que herdamos de nossos pais, transformando-as desde cedo em seres rígidos, tensos e manipulados,  não restando espaço para o prazer de ser verdadeiramente criança. É aí que reside a necessidade de revermos nossos conceitos em relação ao que é realmente educar.
Por não podermos ou não querermos dar atenção aos nossos filhos, muitas vezes os sobrecarregamos de atividades, compromissos cursos, etc, não sobrando tempo para o brincar espontâneo e verdadeiro, que inclui a obtenção de prazer, de bem-estar e de alegria.
A criança gosta e quer conhecer o mundo com e através de seu corpo e de seus sentidos, mas cada vez mais impedimos que isso aconteça por acharmos que não é um comportamento aceito pela sociedade.
O brinquedo é a forma de auto-expressão da criança, onde projeta suas fantasias  e onde pode re-vivenciar situações que para ela foram traumáticas, traduzindo-as para si mesma  e elaborando essas situações. É com o brincar que essa criança organiza seu universo interior, seus problemas, dúvidas e conflitos, coisas que muitas vezes não consegue expressar de outra forma. Também nas brincadeiras ela imita a vida adulta, "ensaiando " através de jogos e encenações a vida que terá no futuro. Restringir seu brincar impede, na maioria das vezes  esse trabalho interior e consequentemente trará problemas ao seu desenvolvimento, tornando-a um adulto neurótico e encouraçado.
Também a auto-valorização e auto-regulação permitem o desenvolvimento saudável da criança. Isto não significa negligenciá-la e não impor nenhum limite, mas aprender a respeitar os limites que muitas vezes a criança sabe impor a si mesma sem que os pais precisem interferir, fazendo-o somente quando realmente for preciso. Devemos deixar simplesmente a criança experimentar "ser" no mundo da forma e do jeito dela.
A autoridade é necessária e os limites também. Mas sempre com amor, diálogo e respeito. Não podemos ter medo de dizer não, desde que seja verdadeiramente necessário. Firmeza sim, imposição e autoritarismo não! Para isso o diálogo entre pais e filhos é fundamental. É importante que a criança perceba que estamos ao seu lado quando ela precisar, mas nunca impondo nossa vontade sem nem sequer deixá-la questionar o porque dessa ou daquela atitude que tomamos em relação à sua vida. Lembre-se de que os problemas dela por menor que possam nos parecer, tem a mesma dimensão emocional que os "grandes" problemas que enfrentamos  em nosso dia-a-dia.
O respeito também deve ser a base do relacionamento com nossas crianças. Ela precisa saber que é aceita como realmente é: como uma criança. Valorizando-a estamos promovendo também sua auto-valorização. Se acreditarmos em seu potencial ela também acreditará em si mesma, crescendo como um ser saudável, desencouraçado, auto-regulado e pronto para a vida! 

Fonte  -       Jornal     UNIVERSO  HOLÍSTICO           pág   7
JANEIRO  / 2016      por   Lilian  Lúcia  de  Oliveira 


BRINCADEIRAS  DE  ANTIGAMENTE 

As  meninas  brincam  na  rua  de  amarelinha  e  bambolê. Os  meninos  se  divertem  com  bolinhas  de  gude, esfolam-se  numa  pelada, vão bater  figurinhas  ou improvisam  um  trenzinho  com  latas  velhas.  Imagens do  passado...  A maioria  das crianças  de hoje  nunca  ouviu   falar  destas  brincadeiras. Desconhecem  o  que  seja  barra-manteiga, nem sequer  têm  ideia  das velhas   e  gostosas  cantigas  de  roda, não  imaginam  como  se  joga  um  pião.  À  beira  do século  XXI,  as  crianças  da  era  do  video-game  têm  ou  não  necessidade  de  brincadeiras  como  aquelas  para  o  seu  perfeito  desenvolvimento  psico-emocional?
Brincar, para as crianças, é  essencial. É algo muito importante para sua saúde física e psicológica, afirmam os psicólogos. É uma necessidade. Através da brincadeira a criança se expressa, se relaciona com o meio, o explora, trabalha seus conflitos. Vive sentimentos de amor e ódio. "É pela brincadeira que ela torna-se ' ativa '  ,diante do mundo e das pessoas"  fala a psicóloga Carmem Cerqueira Cesar. "Tanto que a criança que não brinca deve ser motivo de preocupação  ".
Num trabalho publicado pela revista da UNESCO, o psicólogo russo Chalva Amonachvili diz que "a tendência de brincar é um estado natural da criança, indispensável à plenitude de seu desenvolvimento " .
Mas nem tudo deve ser cor-de-rosa na vida dos pequenos. Mais adiante, o especialista adverte: "Quanto mais for poupada de ocupações sérias, mais dificuldade a criança terá depois para se adaptar a elas. As atividades  lúdicas não asseguram, por si só, seu pleno desenvolvimento. Proporcionam-lhe liberdade, mas isso não significa que ela precise apenas de divertimentos e que devamos satisfazer-lhe os mínimos caprichos".

Rua  X  eletrônica 

Hoje, a grande curtição são os jogos eletrônicos. O consumo incita os pais e crianças a sempre querer mais, a ter o mais novo, o mais moderno - e acaba levando a constante insatisfação. O pequeno mal acaba de ganhar um brinquedo, nem tem tempo para curti-lo e já surge outro, que "todo mundo tem" e ele também quer.
"Não se trata de abominar os jogos eletrônicos", ressalta a psicóloga Carmem, "pois eles estimulam o raciocínio e preparam a criança mais cedo para entrar no mundo informatizado em que vivemos". Embora em sua maioria os jogos sejam competitivos e envolvam mais de um jogador, muitas vezes a criança acaba jogando contra a própria máquina, isolada dentro de um apartamento. Há crianças que esquecem até os amigos, a lição de casa, fascinados  que, estão com TV -  o que se estende até os adultos.
No entanto, os educadores em geral explicam que nestes tipos de jogos a trama já vem pronta, as histórias vêm montadas. E a criança, praticamente, não precisa criar nada.
                          
De   volta  ao  passado 
Existem, contudo, muitas outras brincadeiras que podem ser praticadas em grupo e que contribuem para a socialização da criança - amarelinha; pelada; pião; pula-pula; esconde-esconde; barra-manteiga; roda;  casinha;  piques;  duro  ou  mole; jogo da cadeira; cabra-cega; bolinha de gude; queimada; mímica;  bater figurinhas; passar -anel;  beijo;  abraço ou aperto de mão; telefone sem fio; brincar de mês.  Brincadeiras que envolvem  a criatividade, nas quais ela tem de montar o brinquedo, criar o enredo, personagens,  a  história,  enfim.
Isso porque especialmente as brincadeiras tradicionais de rua não morreram e não morrerão nunca, sustenta a antropóloga Regina Márcia Moura Tavares, diretora do Museu Universitário da Universidade Católica de Campinas ( PUC Camp ). Numa pesquisa realizada em bairros operários e de classe média e alta de Campinas ( SP ), ela reuniu quase 200 atividades lúdicas no projeto "Brinquedos e Brincadeiras Tradicionais :  Um Caminho  para  a  Presevação  do  Patrimônio".
Diz Regina Márcia que "as brincadeiras de rua desenvolvem aptidões biológicas, motoras, e psicossociais que darão ao adulto as condições mínimas de sobrevivência" . Para a professora, será a chance de a criança entender que brincando "como antigamente " ela própria estará preservando um patrimônio cultural. O projeto de Regina Márcia foi reconhecido pelo  Comitê  Intersetorial  para  a  Década  Mundial  do  Desenvolvimento  Cultural  ( da UNESCO ) como "Atividade da Década". Foi apresentado, em março, durante o I Encontro  Latino Americano  de  Brincadeiras  Tradicionais.
Para Carmem Cerqueira  César  , na amarelinha, por exemplo, a criança tinha de desenhar os quadrados e os números no chão,  pular por cima deles, o que favorecia o desenvolvimento da coordenação motora, da organização espacial além, é claro, da sociabilidade. Ou então passava horas rodando em cima de um potente carrinho de rolemãs, empinando pipas coloridas  ou brincando de Tarzã na casinha improvisada em cima de uma árvore. Tudo era construído, inventado pela própria criança.
Com retalhos,  as meninas costuravam as roupinhas para as bonecas, montavam casinhas com trapos e pedaços de madeira, faziam comidinha com um pouco de terra. "Era uma coisa espetacular para o desenvolvimento da criatividade, da habilidade manual", comenta Carmem Cerqueira César, "e envolvia um processo de não-alienação na fabricação dos próprios objetos".
Lembrando da própria infância, a psicóloga comenta que jamais se esqueceu da "expressão de alegria de um menino da periferia que viu certa vez rolando um pneu, que equilibrava com um pedaço de pau. "Ou dos carrinhos que fazíamos antigamente com caixas velhas de sapatos". Ela é da opinião que os jogos eletrônicos não são prejudiciais desde que não se tornem um vício e façam a criança abandonar outras atividades e ficar só com eles.
Os pequenos têm de ter oportunidade de criar, usar a fantasia. Mexer com terra, argila, plantar, lidar com animais, ter à sua disposição sucata para poder criar tudo o que sua imaginação quiser... Algumas escolas têm este tipo de preocupação; há também lojas com uma infinidade de brinquedos pedagógicos, feitos em geral de madeira, fáceis de montar e desmontar.
Ana Paula tem cinco anos e estuda perto de sua casa. Como mora em apartamento, seus pais preocuparam-se em escolher uma escolinha com razoável área verde. E brincadeiras  "do nosso tempo" não foram esquecidas. Sem modéstia, Ana considera-se uma especialista na arte de pular corda, tem tido uma performance regular no bambolê  (herança da mãe, preocupada que era em manter a cintura de pilão), dificilmente é apanhada no esconde-esconde e só precisa melhorar mesmo é na queimada. "Os meninos são mais espertos que as meninas", resigna-se.
Enfim, nas brincadeiras onde o brinquedo já vem pronto, sobra pouco espaço para o importante " faz de conta ". A fantasia é necessária, contudo. É preciso que exista a falta para que a imaginação possa funcionar, possa criar. Os psicólogos acreditam que a criança mais feliz é aquela que consegue dosar muito bem  os brinquedos e  brincadeiras, dentro e fora de casa

Fonte    -      Jornal  O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO   -  SUPLEMENTO  FEMININO
21/02/93     -  VIVA  BEM   -   LAZER            MARIA  TEREZA   PAGLIARO

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