É NA
INFÂNCIA que nos programamos a
para a vida adulta. Carregamos conosco
medos, críticas, inseguranças, desconfianças, etc, que determinam nossa maneira de ser e de agir como adultos. Essas sensações se impregnaram em nossas
mentes, corações e também em nossos
corpos. Com isso nos encouraçamos e
esquecemos de nossa essência. Esses
mecanismos defesa nos dão uma falsa ideia de segurança, nos afastando do mundo real, e às vezes até de nós mesmos. Assim não damos espaço para a espontaneidade
e para o bem-estar em nossas vidas. E
se não estivemos atentos, a tendência
natural e que introjetemos em nossas crianças as mesmas programações que
herdamos de nossos pais,
transformando-as desde cedo em seres rígidos, tensos e manipulados, não
restando espaço para o prazer de ser verdadeiramente criança. É aí que reside a necessidade de revermos
nossos conceitos em relação ao que é realmente educar.
Por não
podermos ou não querermos dar atenção aos nossos filhos, muitas vezes os sobrecarregamos de
atividades, compromissos cursos, etc,
não sobrando tempo para o brincar espontâneo e verdadeiro, que inclui a obtenção de prazer, de
bem-estar e de alegria.
A criança
gosta e quer conhecer o mundo com e através de seu corpo e de seus
sentidos, mas cada vez mais impedimos
que isso aconteça por acharmos que não é um comportamento aceito pela
sociedade.
O brinquedo
é a forma de auto-expressão da criança,
onde projeta suas fantasias e onde pode
re-vivenciar situações que para ela foram traumáticas, traduzindo-as para si mesma e elaborando essas situações. É com o brincar que essa criança organiza
seu universo interior, seus
problemas, dúvidas e conflitos, coisas que muitas vezes não consegue
expressar de outra forma. Também nas
brincadeiras ela imita a vida adulta,
"ensaiando " através de jogos e encenações a vida que terá no
futuro. Restringir seu brincar
impede, na maioria das vezes esse trabalho interior e consequentemente
trará problemas ao seu desenvolvimento,
tornando-a um adulto neurótico e encouraçado.
Também a
auto-valorização e auto-regulação permitem o desenvolvimento saudável da
criança. Isto não significa
negligenciá-la e não impor nenhum limite, mas aprender a respeitar os limites que muitas vezes a criança sabe
impor a si mesma sem que os pais precisem interferir, fazendo-o somente quando realmente for
preciso. Devemos deixar simplesmente a
criança experimentar "ser" no mundo da forma e do jeito dela.
A
autoridade é necessária e os limites também. Mas sempre com amor, diálogo e respeito. Não podemos ter medo de dizer não, desde que seja verdadeiramente necessário. Firmeza sim, imposição e autoritarismo não! Para isso o
diálogo entre pais e filhos é fundamental. É importante que a criança perceba que
estamos ao seu lado quando ela precisar, mas nunca impondo nossa vontade sem nem sequer deixá-la questionar o
porque dessa ou daquela atitude que tomamos em relação à sua vida. Lembre-se de que os problemas dela por
menor que possam nos parecer, tem a
mesma dimensão emocional que os "grandes" problemas que
enfrentamos em nosso dia-a-dia.
O respeito
também deve ser a base do relacionamento com nossas crianças. Ela precisa saber que é aceita como realmente
é: como uma criança. Valorizando-a estamos promovendo também sua
auto-valorização. Se acreditarmos em
seu potencial ela também acreditará em si mesma, crescendo como um ser saudável, desencouraçado, auto-regulado e pronto para a vida!
Fonte -
Jornal UNIVERSO HOLÍSTICO pág
7
JANEIRO / 2016
por Lilian Lúcia
de Oliveira
BRINCADEIRAS DE
ANTIGAMENTE
As meninas
brincam na rua de amarelinha
e bambolê. Os
meninos se divertem
com bolinhas de
gude, esfolam-se numa
pelada, vão bater figurinhas
ou improvisam um trenzinho
com latas velhas. Imagens do passado... A maioria das crianças
de hoje nunca ouviu
falar destas brincadeiras. Desconhecem o que
seja barra-manteiga, nem sequer
têm ideia das velhas
e gostosas cantigas
de roda, não
imaginam como se
joga um pião. À beira
do século XXI,
as crianças da
era do video-game
têm ou não
necessidade de brincadeiras
como aquelas para
o seu perfeito
desenvolvimento psico-emocional?
Brincar, para as crianças, é
essencial. É algo muito
importante para sua saúde física e psicológica, afirmam os psicólogos. É uma
necessidade. Através da brincadeira a
criança se expressa, se relaciona com o
meio, o explora, trabalha seus conflitos. Vive sentimentos de amor e ódio. "É pela brincadeira que ela torna-se
' ativa ' ,diante do mundo e das
pessoas" fala a psicóloga Carmem Cerqueira Cesar. "Tanto que a criança que não brinca
deve ser motivo de preocupação ".
Num
trabalho publicado pela revista da UNESCO, o psicólogo russo Chalva Amonachvili diz que "a tendência de
brincar é um estado natural da criança,
indispensável à plenitude de seu desenvolvimento " .
Mas nem
tudo deve ser cor-de-rosa na vida dos pequenos. Mais adiante, o especialista
adverte: "Quanto mais for poupada
de ocupações sérias, mais dificuldade a
criança terá depois para se adaptar a elas. As atividades lúdicas não
asseguram, por si só, seu pleno desenvolvimento. Proporcionam-lhe liberdade, mas isso não significa que ela precise
apenas de divertimentos e que devamos satisfazer-lhe os mínimos caprichos".
Rua X
eletrônica
Hoje, a grande curtição são os jogos
eletrônicos. O consumo incita os pais e
crianças a sempre querer mais, a ter o
mais novo, o mais moderno - e acaba levando a constante
insatisfação. O pequeno mal acaba de
ganhar um brinquedo, nem tem tempo para
curti-lo e já surge outro, que
"todo mundo tem" e ele também quer.
"Não
se trata de abominar os jogos eletrônicos", ressalta a psicóloga
Carmem, "pois eles estimulam o
raciocínio e preparam a criança mais cedo para entrar no mundo informatizado em
que vivemos". Embora em sua maioria os jogos sejam
competitivos e envolvam mais de um jogador, muitas vezes a criança acaba jogando contra a própria máquina, isolada dentro de um apartamento. Há crianças que esquecem até os amigos, a lição de casa, fascinados
que, estão com TV - o
que se estende até os adultos.
No
entanto, os educadores em geral
explicam que nestes tipos de jogos a trama já vem pronta, as histórias vêm montadas. E a criança, praticamente, não precisa
criar nada.
De volta
ao passado
Existem, contudo, muitas outras brincadeiras que
podem ser praticadas em grupo e que contribuem para a socialização da
criança - amarelinha; pelada; pião; pula-pula; esconde-esconde; barra-manteiga; roda; casinha;
piques; duro
ou mole; jogo da cadeira; cabra-cega; bolinha de gude; queimada; mímica; bater figurinhas; passar -anel;
beijo; abraço ou aperto de mão; telefone sem fio; brincar de mês. Brincadeiras
que envolvem a criatividade, nas quais ela tem de montar o
brinquedo, criar o enredo, personagens, a história, enfim.
Isso porque
especialmente as brincadeiras tradicionais de rua não morreram e não morrerão
nunca, sustenta a antropóloga Regina
Márcia Moura Tavares, diretora do Museu
Universitário da Universidade Católica de Campinas ( PUC Camp ). Numa pesquisa realizada em bairros
operários e de classe média e alta de Campinas ( SP ), ela reuniu quase 200 atividades lúdicas no projeto
"Brinquedos e Brincadeiras Tradicionais :
Um Caminho para a
Presevação do Patrimônio".
Diz Regina
Márcia que "as brincadeiras de rua desenvolvem aptidões biológicas, motoras, e psicossociais que darão ao adulto as condições mínimas de
sobrevivência" . Para a
professora, será a chance de a criança
entender que brincando "como antigamente " ela própria estará
preservando um patrimônio cultural. O
projeto de Regina Márcia foi reconhecido pelo
Comitê Intersetorial para
a Década Mundial
do Desenvolvimento Cultural
( da UNESCO ) como "Atividade da Década". Foi
apresentado, em março, durante o I Encontro Latino Americano de
Brincadeiras Tradicionais.
Para Carmem
Cerqueira César , na amarelinha, por exemplo, a criança tinha de desenhar os quadrados e os números no chão,
pular por cima deles, o que favorecia
o desenvolvimento da coordenação motora, da organização espacial além,
é claro, da sociabilidade. Ou então
passava horas rodando em cima de um potente carrinho de rolemãs, empinando pipas coloridas ou brincando de Tarzã na casinha improvisada
em cima de uma árvore. Tudo era
construído, inventado pela própria
criança.
Com
retalhos, as meninas costuravam as roupinhas para as
bonecas, montavam casinhas com trapos e pedaços de madeira, faziam comidinha com um pouco de terra. "Era uma coisa espetacular para o
desenvolvimento da criatividade, da
habilidade manual", comenta
Carmem Cerqueira César, "e
envolvia um processo de não-alienação na fabricação dos próprios objetos".
Lembrando
da própria infância, a psicóloga
comenta que jamais se esqueceu da "expressão de alegria de um menino da
periferia que viu certa vez rolando um pneu, que equilibrava com um pedaço de pau. "Ou dos carrinhos que fazíamos antigamente com caixas velhas de
sapatos". Ela é da opinião que os
jogos eletrônicos não são prejudiciais desde que não se tornem um vício e façam
a criança abandonar outras atividades e ficar só com eles.
Os pequenos
têm de ter oportunidade de criar, usar
a fantasia. Mexer com terra, argila, plantar, lidar com animais, ter à sua disposição sucata para poder
criar tudo o que sua imaginação quiser... Algumas escolas têm este tipo de preocupação; há também lojas com uma infinidade de
brinquedos pedagógicos, feitos em geral
de madeira, fáceis de montar e
desmontar.
Ana Paula
tem cinco anos e estuda perto de sua casa. Como mora em apartamento, seus
pais preocuparam-se em escolher uma escolinha com razoável área verde. E brincadeiras "do nosso tempo" não foram
esquecidas. Sem modéstia, Ana considera-se uma especialista na arte
de pular corda, tem tido uma performance
regular no bambolê (herança da mãe, preocupada que era em manter a cintura de
pilão), dificilmente é apanhada no esconde-esconde e só precisa melhorar
mesmo é na queimada. "Os meninos
são mais espertos que as meninas", resigna-se.
Enfim, nas brincadeiras onde o brinquedo já vem
pronto, sobra pouco espaço para o
importante " faz de conta ".
A fantasia é necessária, contudo. É preciso que exista a falta para que a
imaginação possa funcionar, possa
criar. Os psicólogos acreditam que a
criança mais feliz é aquela que consegue dosar muito bem os brinquedos e brincadeiras, dentro e fora de casa.
Fonte -
Jornal O ESTADO
DE SÃO PAULO
- SUPLEMENTO FEMININO
21/02/93 -
VIVA BEM -
LAZER MARIA TEREZA
PAGLIARO
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