À MESTRA, COM CARINHO
Desde adolescente, sempre quis ter um professor como Sidney Poitier. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Poitier é um artista americano que, entre outros feitos, tornou–se o primeiro negro a ganhar um Oscar de melhor ator, com o filme “Uma voz nas sombras“. Mas, para mim, ele vai ser sempre o professor Mark Thackeray, que, no filme “Ao mestre , com carinho“, conquistou uma turma de adolescentes desajustados numa escola pública na parte mais pobre de Londres. O professor Thackeray corta um dobrado para receber a atenção de seus alunos, mas era tão bom que a turma acaba homenageando-o na festa de fim de ano e sai da escola com a consciência de que suas lições foram para toda a vida.
Na falta de Sidney Poitier, servia uma professora como Sandy Dennis. Não sei se vocês se lembram dela. Sandy também ganhou um Oscar, o de atriz coadjuvante por sua interpretação em “Quem tem medo de “Vírginia Wolf“, realizado no mesmo 1966 de “Ao mestre com carinho“. Mas, para mim, Sandy vai ser sempre a professora Sylvia Barret de “Subindo por onde se desce“, um filme em que ela ensina a viver um grupo de alunos de uma escola na parte mais barra pesada de Nova York. Era o primeiro emprego de Sylvia. Serviria como estágio. No fundo, ela queria passar logo por aquela provação e ir para uma escola mais organizada. Mas ela descobre que é ali que os garotos precisam dela e resolve continuar.
“Ao mestre com carinho“ e “Subindo por onde se desce“ são filmes de um gênero que me toca de uma maneira especial. São “os filmes–nos-quais-um–professor-muda-a- vida –de–seus–alunos–e-eles-se–mostram–gratos-por-isso“. Talvez, para quem chegou aqui há menos tempo do que eu, o filme mais significativo dessa série seja “Sociedade dos Poetas Mortos“, com Robin Williams interpretando o professor John Keating. Tudo bem. Na impossibilidade de contar com Sydnei Poitier ou Sandy Dennis eu não me importo de admitir que sempre quis ter um professor como Robin Wiliams.
Esses filmes são sempre comoventes. São daqueles que te fazem sair do cinema chorando. Aquele tipo de relação entre professor e aluno, o impacto que o mestre provoca no estudante, as lições de vida que são dadas à Turma, mas que servem para o espectador também, tudo é escrito para te emocionar. São coisas de cinema. Não acontecem na vida real.
Na semana passada, já burro velho, descobri que esse encontro único entre mestre e aluno pode estar mais perto do que eu imaginava, numa escola logo ali, muito longe de Londres ou Nova York. É mais real do que o mostrado numa tela de cinema. Foi quando li aqui no GLOBO a reportagem de Gabriela Lapagesse sobre a ação dos alunos da Escola Carolina Patrício na Barra da Tijuca. Sabendo que a professora de Português e Literatura Norma Ribeiro do Carmo iria se submeter a sessões de quimioterapia para se livrar de um câncer, eles rasparam a cabeça em solidariedade à mestra. A foto de Marcelo Carnaval em que a professora, já com os cabelos curtinhos, é cercada por 18 adolescentes de cabeça raspada me fez chorar. Como eu chorava nos filmes de Sydnei Poitier, Sandy Dennis e Robin Williams. Mas o choro desta vez foi provocado por uma notícia de jornal, não por um roteiro de cinema. Como deve ser boa essa professora! E eu, depois de tanto tempo, descobri que, na verdade, eu sempre quis ter uma professora como Norma Ribeiro do Carmo.
Fonte - REVISTA O GLOBO - 14/09/2014 - Artur Xexéo
Exercício de Redação
Marcos Keetzmann
Um quadro, o giz, crianças.
Carteiras, lápis e papéis
Silêncio difícil, atenção dispersa.
Catapora, caxumba, resfriado,
o pai doente, a mãe desempregada,
e até a fome devorando estômagos pueris.
E estas crianças...
altas pretas, baixas brancas, gordas pardas,
e amarelas, marrons, pálidas, pálidas...
Deu o sinal...
E lá vem ela, a professora,
ensaiando um sorriso, no seu rosto sem idade.
( O pai doente, a mãe desempregada,
e até a fome devorando estômagos pueris ).
Mãe, avó quem sabe sem amores,
povoando sua vida com filhos às centenas,
filhos de outros, filhos que duram um ano,
e se renovam a cada ano, novas caras, novas cores,
filhos que não crescem, porque nunca são os mesmos,
mas querem carinho, força, estímulo e paciência.
Filhos exigentes, que tiram tudo da gente,
e que se ama até quando inexistentes.
Tia, tia, faz de conta que é recreio,
sai da sala, vem ao pátio, aqui no canto ou na cantina.
Volta ao tempo, esquece a idade, torne um pouco a ser menina.
E receba de nós todos, neste dia que é o seu,
o beijo de nosso afeto, respeito e veneração,
tudo isto que um dia, exprimimos simplesmente,
chamando: Tia !
Ao dia do Professor
Equipe Administrativa e Técnica - Pedagógica
EM “Otoniel Mota“ 1986 - São Paulo
EDITORIAL
Quando teremos o dia do professor ?
Não se trata, apenas do dia de festejar uma categoria profissional. Este já existe. Trata-se do dia em que a educação no Brasil for prioridade das prioridades políticas e sociais. O professor se sentiria prestigiado e não precisaria entrar em greve nem fazer passeata, como se fosse um profissional qualquer, protegido ou corrido pela polícia. A valorização do professor é a do aluno. Aliás alunos todos nós fomos um dia. Nossos professores se tornaram inesquecíveis.
O professorado faz parte da problemática da educação no Brasil. É histórica a questão. É política e econômica. É de capacitação e de estratégia. Protela as indagações de interesse nacional ou a elas responde: Que país nós queremos construir ? A pátria de todos ou somente para alguns? As perguntas procedem desde que a república herdou da colonização e do império a estrutura social iníqua da desigualdade: massa de empobrecidos e de analfabetos, latifúndio e concentração das riquezas, corrupção e clientelismo.
Embora nos diversos ciclos republicanos se tenha respondido com políticas educacionais, à impressão é de que, entrando nas camadas populares, e as estatísticas a confirmam, anda-se bastante devagar na direção de uma educação pública fundamental. Exceto para as elites que podem pagar pela escola particular. O desenvolvimento científico e tecnológico não acompanhou ainda a democratização do ensino público de base. É estranho, por ser a educação o caminho para vencer a desigualdade e fazer crescer o país. Passa pelo acesso ao ensino, a capacitação e a remuneração e o plano de carreira do professorado, a escola equipada. É investimento social.
A longa greve dos professores no Rio de Janeiro tem a ver com plano de cargos e de salários, que mexe com o bolso deles, e se insere na problemática mais ampla, que reclama pelos recursos disponíveis a serem priorizados. Estabelece–se o conflito. Por isso, apesar dos pesares, entre os quais a aflição dos pais e a privação dos alunos do direito às aulas, a sociedade e o governo obrigam–se a encarar a educação com pragmática e programática. Até pode ser benéfico.
Magistério não é
nem sacerdócio
nem voluntariado.
Por isso, a greve
é um recurso
válido, mas não
indefinidamente
pois prejudica os
alunos
O professor do Rio tem o maior piso entre as capitais, é verdade. Ainda ganha pouco, porém, daí o descontentamento. No plano de cargos e salários aprovado pela Câmara e rejeitado pelo sindicato, há omissões. Não foi considerado o tempo gasto com atividade extra-escolares, tais como planejamento de aulas, correção de trabalhos, leituras obrigatórias, atualização permanente. Requer justa remuneração e a aplicação mais equânime dos tributos.
Como se não bastasse, os colégios precisam de segurança diante de invasões e de roubos do equipamento. Professores e outros funcionários são vítimas da violência em certas localidades. Existem alunos ameaçadores e ameaçados de surra ou morte. Não há salário suficiente nem amor ao magistério que compensem tal situação de estresse e de desânimo, e de horror ao ver alunos ou ex–alunos com fuzis nas mãos, na entrada das comunidades. A desistência do professor penaliza ainda mais o pobre. Vemos como, de fato, a educação se insere na problemática da desigualdade e da aplicação prioritária dos recursos.
Magistério não é nem sacerdócio nem voluntariado. Por isso, a greve é um recurso válido, mas não indefinidamente, pois prejudica os alunos. Reclama pela conversação sensata para alcançar o acordo razoável possível, ainda que temporário. Com pé no chão: a aceitação do limite de caixa e a demanda, sem ideologização corporativa nem político–partidária.
Fonte – Jornal TESTEMUNHO DE FÉ
20 a 26 de outubro de 2013 - pág. 2
"Gargalhômetro" Mede riso infantil diante da televisão
Em entrevista, diretora de instituto alemão fala de
pesquisa que detalha reações de crianças a programas
Maya Götz , que vem a
São Paulo para dar
oficina, diz que
incongruência é o que
mais provoca risadas
Riso é uma questão de gênero, coisa da idade e tem apelo cultural. É o que aponta uma espécie de “gargalhômetro“ ( “fun–0–meter“ ) usado em pesquisas para descobrir onde está o riso infantil em programas de TV.
O “gargalhômetro “ foi um dos métodos usados por Maya Götz, diretora do Instituto Central International para a Juventude e a Televisão Educativa ( IZI ), em Munique, Alemanha, em mais de uma década de estudos sobre o senso de humor infantil e a programação na telinha.
A pesquisadora estará em São Paulo durante o Com Kids, que discute a produção áudio visual para a infância e ocorre até o dia 19. Ela ministrará a oficina “Humor: Afinal o que as Crianças Estão Dando Risada ?“ no SESC Consolação, no dia 15, às 19 h.
Em entrevista à Folha, por e-mail, ela falou que produtores de conteúdo para a infância geralmente se apoiam num humor complexo, que não provoca riso nas crianças. Leia os trechos a seguir:
Folha - Como foram feitas as pesquisa ?
Maya Götz - Fizemos mais de 15 estudos em mais de 40 países, com diferentes metodologias. Criamos, por exemplo, “um gargalhômetro” ( “fun-0-meter“ ), uma caixa com um joystick manipulado por crianças enquanto assistem TV, para indicar o que é mais ou menos engraçado. O próximo estudo deve se dar em 30 países, em 2012.
Crianças riem do quê ?
Crianças no mundo todo riem mais ou menos das mesmas coisas. A diferença maior está entre o que faz as crianças e os adultos darem risada. A razão principal para algo ser engraçado é a incongruência. Mas há variações conforme a idade, o gênero e as experiências cotidianas.
Pode dar exemplos ?
Crianças de Soweto, gueto da África do Sul, não acham graça em guerra de comida. Uma cena dessas em “Wallace e Gromit“ [ Nick Park ], com purê de batata, foi engraçada para as crianças da Alemanha e dos EUA. Mas não para as de Soweto. Elas disseram que poderia ser divertido se jogassem água ou até mesmo o purê na boca um do outro.
Como é o humor de crianças da América do Sul ?
Crianças do Brasil, da Argentina e da Colômbia sentem e expressam emoções facilmente. Se estão em grupo, a risada funciona como uma onda. São bem ativas durante a recepção, enquanto assistem a um programa na TV.
O que faz de “ Bob Esponja “ um sucesso entre crianças e adultos ?
Muito do humor de “Bob Esponja“ vem da própria estética. É engraçado quando seus olhos viram e reviram. Mas é também porque representa a criança, é otimista, está sempre burlando regras, persiste até conseguir, irritando adultos sem perceber.
Uma das discussões hoje no Brasil é sobre a publicidade na programação infantil. Qual é a sua opinião ?
Na Alemanha, em nosso canal público para crianças, é proibido anunciar e temos regras no mercado de licenciamento. E há canais como Nickelodeon, com publicidade. Digo que, se há chance de evitar a propaganda na TV infantil, evite. O perigo é a criança achar que precisa de uma marca ou brinquedo para construir sua identidade.
AS CRIANÇAS RIEM DE QUÊ?
Entenda as razões da risada infantil segundo Maya Götz, diretora da Fundação Prix Jeunesse
IGUAL, MAS DIFERENTE
O sensos de humor
infantil varia conforme
a idade, aspectos
culturais e gênero
Coisa da idade
Crianças com até seis anos de idade
acham graça em piadas sobre pum,
xixi e cocô. Já meninas com dez
anos riem se a piada é sobre beijo ou paquera.
Influência Cultural
Personagens caracterizados
com quadris grandes fazem
crianças egípcias gargalharem
muito mais do que as que
vivem na Inglaterra
Ironia infantil
Crianças só passam a entender
ironia entre seis e oito anos.
Estudos mostram que crianças
irlandesas riem mais facilmente
de piadas irônicas
Meninos e meninas
Meninos, ainda bem pequenos
dão risada de cenas violentas,
quando alguém cai e se machuca,
por exemplo. Garotas geralmente
não acham graça.
Realidade
Crianças de guetos da África
do Sul não acham graça em personagens
que jogam comida uns nos outros.
Na Alemanha ocorre o contrário.
Fonte - Jornal Folha de São Paulo
E4 Ilustrada – domingo, 12/06/2011
Gabriela Rossi Editora –Assistente – da FOLHINHA
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