e televisão no comportamento cívico dos jovens
É de extrema importância a influência psicológica do meio sobre a conduta e o desenvolvimento do comportamento cívico dos jovens. Em realidade, muitos dos aspectos da conduta juvenil, como todo o equipamento de tendências, emoções, linguagem, atividades psíquicas as mais diversas, são determinados pelo externo. Watson e Adler valorizam de tal sorte essas influências que as tornam mais decisivas dos que as da herança. Não chegamos a tanto, mas compreendemos, como o psicólogo Stern, que a influência ambiental, justamente com a bagagem hereditária, operam na mesma direção, visando as maneiras particulares de conduta.
Há muitas provas que procuram evidenciar a importância do ambiente sobre a inteligência de campesino e pessoas das cidades, de pretos e brancos e asiáticos; e sobre o tamanho da família ( na Alemanha, por exemplo, verificou-se, que o número ótimo de filho, em cada família de certo nível social, é de 3 ou 4, para obtenção do maior aproveitamento escolar, enquanto que nas famílias proletárias, pelo contrário, os filhos únicos desfrutam melhores qualificações.)
Não há dúvida de que a conduta da criança e do jovem , muito mais que a do adulto, depende, em cada caso, de suas características individuais e da estrutura ambiental, de modo destacado .
Kramer comprovou que , em 100 % dos casos de crianças agressivas e brutais, elas deixaram de sê-lo ao se mudarem para ambientes apropriados que não permitiam a facilitação daquelas atitudes.
Resultados de testes mentais entre os membros de diferentes grupos ocupacionais, no interior de uma comunidade, indicam a influência ambiental, como se pode depreender por este estudo de Collins:
Ocupação Nº de famílias QI
Profissionais liberais 90 116
Escriturários 131 113
Funções diretivas 161 112
Comércio 413 110
Chefes de oficina 106 109
Operários qualificados 569 104
Operários braçais 377 95
Parece que os limites extremos dos quocientes de inteligência indicam que as diferenças se devem aos níveis sócio-econômicos ocupacionais.
Quando, também, uma criança é levada de um lar pobre para outro abastado ( caso de filhos adotivos ), nota-se a extensão do efeito do ambiente na modificação, para melhor, do comportamento total infantil.
Completo estudo da influência do ambiente é o de Margaret Mead, em sua análise da relação entre o sexo e temperamento em três sociedades da Melanésia ( Margaret Mead , “Sex and Temperament in Three Primitive Societies“, 1935 ).
Estava interessada em descobrir se as diferenças de temperamento, popularmente supostas verdadeiras para os homens e mulheres em geral, seriam também encontradas em sociedades culturalmente diferentes.
Seriam os homens, em todos os lugares, mais agressivos e as mulheres mais submissas e passíveis em suas relações usuais ?
Na tribo Arapesc ela encontrou, tanto homens como mulheres, cooperadores, não agressivos, atenciosos às necessidades e solicitações de outros. Em contraste, entre os Mudugumor, tanto os homens como as mulheres eram desapiedados e agressivos, do tipo que em nossa cultura seria encontrado em um indivíduo violento e indisciplinado. Na terceira tribo, a dos Tchambuli, a antropóloga encontrou uma completa inversão das atitudes sexuais de nossa própria cultura, com a mulher sendo o parceiro dominante, administrador impessoal, e o homem a pessoa menos responsável e mais emocionalmente dependente. Tais dados indicam que a agressividade do homem pode ser igual, superior ou inferior à da mulher e que ambos os sexos podem parecer-se ou com o tipo masculino ou com o tipo feminino, com as quais estamos acostumados em nossa própria comunidade. Aceitando os resultados da pesquisadora, parece que pouco se deixa no temperamento que possa ser seguramente atribuído à influência direta, biológica ou física do sexo.
Verifica-se que se tornaria exaustivo continuarmos os exemplos para demonstrar as significativas influências do ambiente sobre o nosso comportamento, pois desejamos afirmar que as mais fortes e decisivas são as exercidas modernamente pelo cinema, rádio e televisão – os veículos mais difundidos e mais acessíveis.
Eleanor Maccoby, professora de Psicologia da Universidade de Stanford, num artigo inserido na publicação “Mass Comunication Series“, nos diz que apesar de a televisão ter-se generalizado há pouco tempo, já uma geração de crianças foi exposta a ela durante a maior parte de suas vidas. Da mesma maneira, podemos inferir como o cinema e o rádio tem sido os influenciadores de muitas gerações.
A responsabilidade social dos diretores e organizadores de programas daqueles instrumentos de comunicação cresce de proporção à medida que tais veículos se tornam mais generalizados e difundidos. É maior ainda tendo-se em conta ser o artista, geralmente, por sua natureza, inconformado, renovador, transmissor de ideias originais e de fatos e criações artísticas que apresentam todos os valores estéticos de subjetividade. Tais valores são facilmente copiados pelos jovens, em virtude deles, também serem inovadores, irrequietos e idealistas. E por ser arguto e sensível em tal grau, dificultando a compreensão do homem comum, é que o artista se encontra no rol das pessoas socialmente mais significativas, e, por isso, capazes de exercer profundas influências em pessoas e instituições. Considerá-lo é o maior bem que se pode prestar à comunidade. Ele por sua vez, deve estar consciente de seu elevado papel educativo, como veículo espiritual dos valores do aperfeiçoamento moral.
Bach, ao compor, entre outras, a sua “Pasacaglia“, de conotações intensas à ordem estética reinante; o genial Miguel Ângelo, com sua pintura na Capela Sistina; Gio Ho, com seus céus azuis, revolucionando a estética bizantina; o amarelo de Van Gogh; as cores de Gauguin, e tantas inovações, caracterizam bem o mundo ilimitado do artista e as dificuldades de comunicação com o homem comum. E por ser inovador, cabe-lhe a responsabilidade na organização de ideias , sentimentos e atitudes dos jovens, ainda em formação, pois são copiados como modelos.
Conclusões
Estamos convictos de que o civismo é uma expressão de caráter. Ao definir o homem cívico, dizia Cícero ser aquele que não pode tolerar em sua pátria um poder que pretenda fazer-se superior às leis. Afirmo que estas leis abrangem também, e sobretudo, o campo moral , sendo , ainda , auto-aplicáveis.
O direito que promana da Constituição estabelece a justiça. E a ideia que leva ao ato, fundamentada nas leis, e a ideia de civismo que incorpora o cidadão em sua pátria, tendo esta a acepção ampla que já nos dissera o general Moacir Araujo Lopes, em trabalho de ampla divulgação:
“A PÁTRIA, cuja segurança cabe a todos os brasileiros garantir, individual e coletivamente – O BRASIL – é a terra onde nascemos, onde vivemos em comum , com as mesmas tradições, sujeitos às mesmas leis , costumes e governo.
A língua , os hábitos , as tradições , o culto e a lei são os fundamentos na nacionalidade.
A individualização da nossa Pátria é o resultado do trabalho e sacrifício das gerações que nos antecederam.
Após séculos de esforço e fé, legaram-nos, os antepassados, um Brasil livre, soberano e leal ao símbolo impresso pelo Criador no Céu da Pátria - o Cruzeiro do Sul. Realmente, a Constituição, impulsionadora da vida nacional incorporou interesses nacionais e as aspirações dos brasileiros, herdados de milênios de civilização entre os quais: o direito de glorificar a Deus; o respeito à dignidade da criatura humana; o amor à liberdade, em todas as manifestações; a segurança de que todo o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido; a livre iniciativa, apenas subordinada à realização da justiça social; a valorização do trabalho como condição da dignidade humana; o direito de educação, dada no lar e na escola e inspirada nos ideais de liberdade e solidariedade e o princípio da unidade nacional; o ideal do desenvolvimento econômico, mas em bases morais sem prejuízo aos ideais cristãos e democráticos“.
Na linha de pensamento que traçamos, vemos que o caráter é a parte divina do homem. Se o temperamento traduz o animal nas manifestações neuro-bioquímicas, o caráter é a expressão do verdadeiramente humano, que compõe os aspectos qualitativos de uma vontade. Não agimos gratuitamente. Há motivos básicos em nossa conduta, que nos levam aos objetivos por nós determinados. Um santo ou um covarde, um pusilânime ou um herói, um bom ou um mau, um cooperador ou um egoísta, são o que a vontade deseja.
Já dizia Hobbes que o caráter é o resultado de tudo o que materialmente somos e que a vida nos deu: desde a constituição física, as experiências, os hábitos dos outros, a boa ou má sorte, as reflexões, as lições, os exemplos, as circunstâncias. A mesma coisa, em termos de observação científica cuidadosa, nos diz a psicologia moderna: de um lado somos o que a herança nos legou de cromossomos e gens; de outro, somos o que todas as experiências, sob a forma de aprendizagem, nos impõem. Avultam entre estas as significativas influências da sociedade, de suas instituições e de todos os fatos sociais dela resultantes, coercitivos, também com uma vontade oculta, misteriosa, mas atuante e que, muitas vezes, absorve, violenta, esmaga e destrói a nossa vontade racional e humana. Daí, diga-se, que precisamos impor a nossa inteligência pura, contra a inteligência do mal, que existe nos mil e um meandros da sociedade, da política, da economia e das ciências físicas e naturais.
Deste modo, um falso modelo social pode levar–nos às mudanças sociais mais imprevisíveis, bem como uma nefasta fórmula política pode desviar-nos o curso da vida ou uma malévola doutrina econômica impedir-nos a felicidade e, pior do que tudo, uma fissão atômica pode destruir toda a humanidade!
Coisa curiosa: da mesma maneira como a vontade cria o bem, também cria o mal; tantas vezes, criando o bem, dela se originam o fel, a violência, a maldade e as misérias sociais. Por isso, uma das nossas meditações, ao falarmos da juventude, deve orientar-se no conhecimento da patologia social, a fim de atacar, em suas próprias raízes, as fontes perniciosas destruidoras do caráter bom. Mais do que nunca, pelas facilidades incríveis de comunicação, os jovens sentem-se envolvidos em valores que precisam ser caracterizados a priori; não podem, por não disporem de recursos para isso, decidir, pois não tem medidas de avaliação e de comparação. Há um acervo inesperado de situações impostas pela ciência, pela tecnologia, pelas coisas frias, que não expressam conteúdos de valor moral - caleidoscópio de coisas e não de almas - dentro do qual se desenvolve a personalidade juvenil! E que desenvolvimento? Mero crescimento físico e de vontades frustradas, de competições violentas e de almas vazias espirituais, a serem mantidos na única e legítima fonte de crescimento moral, que é a religião.
A conquista tem sido a do mundo externo. Não sentimos e nem vemos a conquista interior, a conquista do espírito sobre aquela outra, a da matéria! E eu ausculto os anseios juvenis, como professor, à semelhança do médico ao sentir as batidas do coração. E sinto muitas almas torturadas e sem rumo, e como são grandes as suas disponibilidades para o bem e para o belo! No entanto, pouco se pode fazer, porque há uma indústria, em ritmo de produção total, de valores do mal, do pérfido, do mentiroso, do enganador e do exclusivamente de cultura técnica, de massa, substitutiva da cultura de tradições morais e de virtudes cívicas.
Se há um Dia das Mães é porque o comércio assim o deseja; se há Finados sem flores é porque está alto o preço das rosas!
No entanto, não podemos viver sem o misterioso sorriso das mães, sem a ternura de corações que tem o mesmo calor dos nossos corações. Sorriso e ternura de todos os dia, de todas as horas e de todos os minutos! Consciência imanente e permanente que os filhos devem ter dos pais e que estes devem ter dos que lhes herdaram o sangue e trouxeram uma alma divina. E as rosas deveriam ser fáceis de plantio e de colheita, mas só podem plantar rosas e colhê-las aqueles que aprenderam a desejá-las, a apreciar-lhes as mil nuances do colorido e as belezas transcendentes da forma e aprenderam, sobretudo, a plantá-las ao sabor do mistério e do divino! Enquanto pensamos nos pais num só dia assim, vago e frio e não podemos alcançar as rosas porque elas nada nos dizem à sensibilidade, então, não temos dúvidas, os céus serão apenas o caminho dos engenhosos satélites e não mais a morada dos astros, sob as bênçãos de Deus.
Num mundo assim, pragmático e indefinido, com máquinas e paixões, sem Deus, que é a origem dos valores imutáveis e eternos, explode uma juventude, como sempre, idealista na essência , mas perdida na confusão dos desencontros humanos.
Eis a conclusão: se não amarmos, com Fé, o sorriso da criança, se não desejarmos com Amor o beijo das Mães, se não venerarmos a Pátria, que é a síntese de todos os valores externos e se não alcançarmos o Homem, em sua essência divina, onde quer que se encontre, jamais incorporaremos qualquer traço de moralidade e civismo. E, por isso, é que acredito que os jovens, em as exuberância de amor e de ideais, poderão ter no coração, eternamente, Deus, a Pátria e Humanidade !
Fonte – Revista Do SESI José Camarinha Nascimento
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