terça-feira, 24 de novembro de 2015

APENAS UM TEXTO A PAZ



APENAS  UM  TEXTO  A  PAZ 
"O  POETA  E  A  VIDA"

Paz... Na evolução dos aviões desenhada pela fumaça limpa no espaço livre do céu, aberto entre as nuvens. Nos outdoors espalhados nas estradas, de fundo bem azul e com letras brancas maiúsculas. Nas rodas de samba sendo cantada nos refrãos. No minuto de silêncio surgindo no placar eletrônico dos estádios em dias de jogos. Nas passeatas e caminhadas virou desabafo, ato de ordem e coragem. Nas escolas tornou-se assunto obrigatório de conversas e debates. Escrita e falada, aplaudida e ovacionada, dirigida e participando das páginas dos jornais, nas bênçãos dos sacerdotes, nos salões de festa, e de dança, nas galerias de arte, nos programas de rádio e televisão, nas salas de cinema, nos registros policiais, nas vozes de amigos e desconhecidos que se chegam e se juntam.
Paz ... No volante dos meios de transporte, na condução dos automóveis particulares, nas cabeças das pessoas, nos corações dos seres humanos, nas bulas dos remédios, nos preços dos alimentos, no interior dos apartamentos e casas, nas portas dos presídios. Chega de guerras matando inocentes, de tanta morte sem sentido ou controle. Basta de ver tanta gente chorando e ficando sozinha. Precisamos de paz no mundo para se poder respirar, sem causar qualquer efeito nocivo  à saúde. Carecemos de paz na vida para se viver mais e melhor. Necessitamos de paz no chão que se pisa para que se possa caminhar, plantar sossego, colher descanso.
Paz  ... Velada e sussurrada, querida e desejada, promovida e ilustrada no brinde de taças à loucura do amor, nas prosas poéticas dos escritores, nos vôos preguiçosos das aves, na brisa tranquila do vento, nas luzes serenas da razão, nas ondas mansas e transparentes recebendo com agrado e respeito os pescadores em alto-mar, no choro lindo dos bebês que simplesmente nascem, nos olhos molhados de saudades, nas recordações eternas de repentinas paixões.
Vida amiga... Que bom te ver, te encontrar de repente pelas esquinas. Uma tarde cinzenta, o vento frio, nada como um papo ao pé do ouvido para relaxar. Triste te percebo, encolhida, acovardada, insegura, envelhecida. Desabafa, vai. A situação está complicada, o dinheiro está faltando, muita gente está morrendo, tanta gente sem emprego, passando fome, sem um lar, o amor acabando. A culpa não é tua, bem sabes. Fala, se ainda tens força e voz, alguma coisa sem censura, sem ameaças, sem ódio, sem angústias, com esperança. Cria alma nova, motivação, inventa chavões, recita, recicla o tempo em que a gente vivia em paz, brincava nas ruas, havia hora para tudo, as crianças eram mais crianças, pensava-se no dia seguinte. Vida amiga... Dizem que é sinal  dos tempos. Sinal fechado deve ser. Nossos cabelos estão mais grisalhos, nosso corpo mais cansado, nossa cabeça mais pesada, agente não acha mais graça de nada, vive com medo, são tantos os problemas, regredimos. Assim mesmo, com tantas páginas em branco, com esse pálido retrato pintado, tenta sentar comigo, faz bem conversar, é cedo, a chuva nem chegou. Observar teu jeito de ser, sempre procurei. Por todo o tempo preciso te assistir como num teatro. Em qualquer ocasião gosto de te ouvir como aluno. Chorar escondido, nunca escapei. Aprendi contigo tantas lições de cidadania. Um gole aqui, outro ali para esquentar a garganta e vem te esconder ao meu lado. Falta a vontade de mudar, a coragem de começar outra vez, lê-se no rosto das pessoas.
Vida amiga  ... Essa tua pressa está me incomodando, teus olhos não sossegam, quase não me ouves. Queres correr o mundo, colher impressões, trocar ideias, aceitar sugestões, armazenar informações, fugir desse chão sujo, arranjar um tempo bom para viver. 
Vida amiga  ...  Então, até um dia. Não consigo mais te prender. Partes em busca de um lugar ao sol, melhor e mais seguro. De uma rede na varanda para quando chegar a hora de adormecer. De um sonho que possa ser tocado, sair do papel. De muito ar puro para respirar a saúde e, se possível, morrer de muita vida.

Fonte  - Jornal Em Ação Bairros - Edição VIII - Out/Nov. 2010 
HEITOR  CARLOS ALVES   

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