terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Homeopatia no combate ao ZIKA VÍRUS


NA VISÃO DA HOMEOPATIA  devemos sempre estar fortalecidos para nos tornarmos imunes a qualquer tipo de agressão do ambiente, principalmente vírus, bactérias , parasitas, etc. Quando estamos fortes  , nosso sistema de auto cura consegue repelir qualquer invasor porque não acontecerá o fenômeno da ressonância, onde a freqüência vibratória do agressor entra em sintonia com a freqüência energética do hospedeiro.

Estar fortalecido significa estar apto a suportar o ataque de qualquer tipo de vírus, para tanto, nosso mental deve estar harmonizado com pensamentos construtivos, positivos e de confiança de que qualquer evento ruim será superado em nossa vida  . Também nossas emoções são a maior porta de entrada de invasores, mas como ficarmos bem em meio ao caos que muitos estão vivenciando no dia a dia de suas vida atribuladas? 

Através da higiene mental emocional , da manutenção da alta auto estima, apesar das adversidades, da confiança de que todos somos merecedores de dias melhores, porque fazemos por onde merecer.

A ação do Zika Vírus é semelhante a ação dos vírus da dengue e da febre amarela, pois é transmitido pelo mesmo  mosquito Aedes aegypti. Dependendo da predisposição de algumas pessoas, a infecção pelo Zika Vírus pode levar ao desenvolvimento da Síndrome Guillain-Barré, uma doença que pode deixar a pessoa sem andar, respirar e ser fatal, quando não tratada. Procure o hospital mais próximo, ao constatar mais de 3 sintomas listados abaixo e se também apresentar fraqueza progressiva nas pernas e braços.

Os sintomas duram 7 dias e podem ser confundidos com os da dengue. Surgem 10 dias após a picada de um mosquito e inclui febre acima de 38° C e manchas vermelhas na pele do rosto e que, após algumas horas, podem ser acompanhados de:

- Dor de cabeça constante;
- Manchas vermelhas além do rosto, nos braços, pernas e abdômen; 
- Fadiga exagerada;
- Hipersensibilidade ocular com vermelhidão;  
- Dor nos músculos, nas articulações, mais nas mãos e pés;
- Diarreia ou prisão de ventre com forte dor de barriga.

Fonte – JORNAL  PRANA  -   pág 10 – JANEIRO/2016
Homeopatia   Profª Eliete M M Fagundes 

Me livrei dos mosquitos em casa


Todo cuidado é pouco com a epidemia da Dengue e Zika Vírus. 

É necessário não só a conscientização, mas também a colaboração no sentido de: 

- Evite deixar água parada em sua residência, nos vasos, pneus, bacias, baldes, tanques, barris, quintais, etc...

- Não deixe acumular lixo na sua casa e ao redor. Jogue o lixo no lixo e não nas calçadas, nos morros, em terrenos baldios, nos córregos. Doe o que resolver jogar fora.

-Crie o hábito e não jogue lixo nas praias, pitucas de cigarro, tampinhas garrafas pet, latinhas, restos de alimentos para que os pombos fiquem longe das praias, pois transmitem doenças graves. Comente com familiares, amigos a importância de preservarem o meio ambiente.

- O acúmulo de lixo nas areias, que irão para o mar, tais como: sacos plásticos , garrafas pet, roupas, chinelos, estão acabando com os peixes e outros animais. Daqui alguns anos não teremos  mais peixes. É um assunto repetitivo porque o adulto não dá exemplo à seus filhos, às crianças e jovens e joga tudo pela frente.

- Esse desastre ambiental e conseqüências é resultado do descaso das autoridades competentes e da população do mundo inteiro, que em vez de cuidar, destrói. O desperdício de água nas casas, nas ruas, nos prédios é absurdamente inaceitável

- Pensávamos que daqui uns 30, 40 anos viria esse abalo, mas a destruição e desleixo foi tão grande, que a resposta veio mais cedo.

- Algumas doenças não surgem por acaso, portanto a necessidade de mudarmos nossas atitudes é de máxima urgência. Quantos anos fomos avisados para os cuidados com a dengue. O saneamento básico  em muitas regiões do Brasil, ficou na promessa. Até nas grandes capitais. Muitos continuaram se descuidando deixando água parada e lixo. 

- Em casa, pra não dar chance aos mosquitos de ficarem rondando dia e noite, me livrei deles com algumas atitudes pois todo cuidado é pouco. No ano retrasado em São Paulo, não conseguia dormir com o zumbido dos pernilongos. Como deixo na cabeceira uma latinha de Vick Vapo Rub, surgiu a Ideia de destampar a latinha, deixando as partes em pontos estratégicos e deu certo. Sumiram. Aqui no Rio de Janeiro, como tem  mais mosquitos, pernilongos, rondando...  de duas latas abertas, coloco uma na cabeceira e outra em cima do móvel e também na beira das janelas, do quarto. Assim durmo  com as janelas abertas, no edifício onde moro. Durante o dia elas continuam no mesmo lugar. Me desculpe  o fabricante, mas encontrei essa solução, pois as mordidas freqüentes, doloridas, são irritantes. E pensando nessa epidemia pior ainda.

- Atenção: Cuidado com as crianças e animais, para não pegarem as latinhas. Também, recomendo  não deixar vestígios nos móveis, na cozinha, pisos com  restos de comida, doces, refrigerantes. Tampe as latas de lixo da cozinha, banheiro e vaso.

Foi assim, que me livrei desses insetos, que podem nos causar doenças e perturbarem nosso sono. 

Fonte -  Ana Regina Gouvêa - professora de Matemática – Gestora de Comunicação 

A CONSOLIDAÇÃO DAS ESCOLAS DE SAMBA

Acadêmicos do Salgueiro: Pamplona conquistou quatro campeonatos no Grupo 1 pela escola

As transformações sociais e culturais das décadas de 40 a 70

A crescente industrialização que se desencadeou na década de 40 determinou, nas grandes metrópoles brasileiras, um crescimento demográfico desenfreado: no Rio de Janeiro, expandem-se as favelas e subúrbios, berço das escolas de samba. Era o panorama ideal para entrar em cena outra força social: o banqueiro do “jogo do bicho “. O jogo é bastante simples e popular e não necessita qualquer nível de escolarização dos participantes: basta escolher um animal e apostar nele. No Rio de Janeiro foi durante décadas , associado ao tráfico de drogas , mas com a prisão de alguns líderes “ do bicho “ , este elo foi afrouxado.
Proibido em 1946, os “ bicheiros” passaram à clandestinidade e necessitavam encontrar apoio social  ao “ bicho “ e as escolas de samba que haviam criado fornecia a organização que aglutinava força suficiente para que os “ bicheiros “ pudessem negociar com a polícia, com “ autoridades “ e com o próprio governo. E m contra partida, a escola de samba receberia apoio financeiro que necessitasse. O apoio dos bicheiros às agremiações carnavalescas é um fenômeno bastante específico da cidade do Rio de Janeiro, em cuja análise não nos deteremos aqui. Importa compreender que contribuiu para criar os modelo de “super escola “. Este modelo apóia-se , fundamentalmente, na grandiosidade estética do espetáculo, maximização dos aspectos plástico e numérico na composição dos desfilantes, contratação  de profissionais externos à intimidade organizativa da escola e mercantilização do processo do carnaval – desde seus primeiros momentos de elaboração ao desfile na Avenida  - e das inúmeras ramificações dele decorrentes  .
A estrutura das “ super escolascariocas irá influenciar esteticamente as escolas de samba em todo  país.  Mas em cidades onde não existe a variante do “ bicheiro “, continua havendo ou a pressão sobre o Estado para que assuma as responsabilidades sobre o carnaval naqueles moldes, ou a busca de consolidação das relações com grandes comerciantes e industriais, ou ainda alguma empresa que queira assumir a organização de uma escola de samba. Este processo de negociação e captação de recursos é sempre difícil e trabalhoso, demanda tempo e pesados esforços das direções e entidades carnavalescas, como vermos adiante.
Por volta de 1940 , no Rio de Janeiro, as escolas obtêm seu direito de desfilar nas avenidas centrais. Ainda havia exibições das sociedades carnavalescas e ranchos, mas em franca decadência. No princípio desta década, o país sofre os reflexos do clima mundial ante guerra.  Com a suspeita de que o Brasil viria integrar o conflito, esta época representou um período de baixa no ânimo carnavalesco em geral. Mas as escola de samba não ficaram fora do processo de participação social naquele importante momento histórico: lançaram sambas alusivos à guerra e integraram as campanhas lançadas pela União Nacional dos Estudantes e pela Liga de Defesa Nacional. Em 1943, estas entidades ajudaram na promoção do “ carnaval popular “ das escolas de samba, assumindo a coordenação dos desfilantes naquele ano.
As décadas de 40 e 50 são consideradas o coroamento do “ ciclo de formaçãodas escolas de samba quando estas constituem seu esqueleto básico: enredo, samba-enredo, alegorias e fantasias. Na década de 50 , passado  período de maior apreensão gerado pelo clima de guerra, as escolas de samba entram num processo vertiginoso de ascensão, resultado da efervescência política e cultural do país e do apoio do “bicho“. Com o crescimento, e como conseqüência a penetração maior na opinião pública, atraem a atenção d outros setores, ampliando seu leque social e diversificando os interesses que até então tinham estado em gênese. Os sambistas “do morro“ já haviam  “descido para o asfalto “ para espetáculos comerciais e começam a penetrar nos ambientes de rádio e disco. Por outro lado, a competição colocava sempre mais e mais necessidades: mais patrocínio, mais originalidade , mais riqueza. A sociedade brasileira já não é a mesma das primeiras décadas: levas de imigrantes europeus haviam modificado a feição cultural do país. Com a ação disseminadora de informações promovidas pela televisão, são criadas novas exigências estéticas e culturais. Novos anseios, novas culturas alteram o caleidoscópio cultural, oferecendo panoramas diferenciados de aspirações.
Em 1959 , a Escola de Samba do Salgueiro detona um processo que se tornaria irreversível nos períodos subsequentes traz para seu quadro artistas e intelectuais universitários, que chegam portando valores estéticos diferenciados e que em meio a oposições e conflitos, vão sendo incorporados aos tradicionais. A influência é imediata: mesmo as escolas conservadoras começam a rever seus valores estéticos, reelaborados pelo contato com as novas informações. Além dos valores estéticos, as bases territoriais também principiam a ampliar-se: das sedes dos morros, as escolas de samba começam a instalar-se em áreas mais centrais visando atingir um segmento que até a década de 40 havia assistido ao espetáculo somente das arquibancadas: a classe média. A capital do país muda para o interior, mas as escolas de samba crescem cada vez mais. Este é um processo que gerará inúmeras polêmicas entre os estudiosos e entre os próprios sambistas, configurando-se mesmo como um divisor de águas denominados por setores como o “branqueamento das escolas de samba“. Ao lado da entrada de novos setores sociais, a escola de samba cresce em importância política. É notório o caso do impasse diplomático Brasil-Paraguai , quando em meio à Operação Pan-americana lançada pelo governo Juscelino Kubitschek, a Império Serrano em seu samba-enredo chamou o presidente paraguaio Solano Lopez de ditador. O Itamarati interveio e as escolas de samba prestam solidariedade à Império Serrano, mas a pressão foi tão grande que esta teve que ceder e a “ Confraternização Brasil-Paraguai“ do enredo tornou-se  “Confraternização Latino-Americana“.
A propósito deste período, Octavio Ianni assinala que o populismo no Brasil assumiu diversas facetas: o getulismo , o trabalhismo , o populismo de esquerda etc.
Esta migração de outros setores sociais para as escolas de samba, principalmente de alguns quadros profissionais relacionados às artes plásticas, e a freqüência da classe média nos ensaios é o resultado do momento histórico que se vivia na década de 50 e início da década de 60: participação de trabalhadores urbanos  e industriais em campanhas eleitorais, em movimentos nacionalistas, em lutas anti imperialistas, pelas reformas de base, pelo fortalecimento da denominada “ cultura nacional e popular“ etc., ou seja , um momento forte de efervescência cultural e politica. Como afirma Octavio Ianni "o populismo sempre foi, malgrado as distorções político-ideológicas que lhes são inerentes, um mecanismo de politização das massas". Natural, portanto, que, resultado dessa efervescência, alguns grupos de classe média se interessassem pelo que consideravam um “autêntico reduto de cultura popular“ – a escola de samba. Havia também um grupo que, abertos os canais de participação, havia “aderido ao mundo do samba“ com entusiasmo e convicção buscando um ambiente social onde pudesse reconhecer-se como integrante de uma comunidade. Ao lado deste grupo que frequentava principalmente as quadras de ensaio, havia outros grupos que, oriundos das camadas médias e altas, desejavam poder usufruir as glórias de participar de um evento em evidência na mídia e na opinião pública, como é o desfile das escolas de samba; outro grupo ainda, também oriundos das camadas  médias, que via nos luxuosos desfiles uma oportunidade de aplicar seus conhecimentos artísticos com remuneração adequada, que serão consubstanciados nos “carnavalescos“ surgidos em finais da década de 50  nas escolas cariocas, e motivo de grandes polêmicas. Rodrigues aponta que  , a partir deste momento , operou-se uma transformação radical na estrutura das escolas de samba : a coreografia passa a ser mais marcada, os figurinos mais leves e modernos e as evoluções resultam de num verdadeiro show ambulante. Estas mudanças são fruto de um trabalho de artistas de cultura erudita  que aí encontram campo fértil para o desenvolvimento de suas concepções de arte. A autora relata detalhadamente os choques ocorridos com a admissão do artista plástico Pamplona na condução artística do Salgueiro. O carnavalesco propunha uma ala de “guerreiros africanos“, desgostando alguns participantes que acreditavam que o tema não cabia para o carnaval. 
Pamplona teria também interferido nas fantasias das baianas, na bateria, na formação total do desfile e até na maneira de dançar o samba. Este exemplo parece indicar a distância de representações do mundo do sambista em relação ao universo daqueles que vieram de outras origens sociais,  o que traz complicadores à organização do carnaval. Neste caso, ou gesta-se um processo democrático de negociação de opiniões, ou impõem-se o autoritarismo dos "profissionais" carnavalescos, o que dependerá do grau de exercício democrático e participativo em cada escola.

Fonte: O Samba Conquista Passagem - págs 64 à 69 
Ed. Vozes, 2001 - Rio de Janeiro
Cristiana Tramonte

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

CARNAVAL




Das  lavouras  de café

Ao  Sambódromo 


O documentário Samba  à Paulista, feito por alunos de cursos da USP, narra a história do Ritmo trazido pelos negros que hoje inspira milhões na comemoração do Carnaval de São Paulo


Na periferia marginalizada de uma São Paulo em construção, o som retumbante dos batuques anunciava uma cultura imigrante que mais tarde influenciaria a cultura brasileira de forma definitiva. Os negros, últimas gerações de escravos do século 19, resgatavam sua identidade perdida nos navios negreiros com o som dos seus instrumentos peculiares em um samba rural e popular, improvisado em meio às lavouras cafeeiras. Não eram poetas ou compositores, mas cantavam sua vida em ritmo dançante e contagiante.

Esta história e suas consequências são ricamente e contadas no documentário Samba à Paulista – fragmentos de uma história esquecida. O documentário realizado por alunos da Escola de Comunicações e Artes e da Faculdade de Filosofia,  Letras e Ciências Humanas da USP resgata, através de depoimentos e vídeos antigos, a história daquele que é o mais característico ritmo musical brasileiro e que na próxima semana embala a todos no festejo do Carnaval. O documentário está sendo exibido pela TV Cultura em três partes. O último episódio vai ao ar nesta quinta-feira, 15 de fevereiro, às 23 h 40.

Com poucos registros históricos  existentes, o documentário trabalha sempre com um diálogo entre o histórico e o atual, costurado pelo depoimento de estudiosos e daqueles que viveram momentos áureos deste movimento popular. Personagens como Toniquinho Batuqueiro, Mestre Feijoada, Geraldo Filme, Germano Mathias e Nelson Primo contam as histórias que São Paulo não registrou e trazem à tona um movimento que por pouco não se perde no tempo. E é neste resgate de depoimentos e da história que está a grandiosidade do documentário.

Quando os negros chegam das lavouras de café à capital após a instauração da Lei Áurea de 1888, trazem consigo toda a cultura musical do interior. A cidade não os aceita e eles partem para a periferia em um movimento urbanístico de marginalização. Nas fronteiras da cidade, eles constroem centros de resistência e terreiros onde podem desenvolver sua cultura. “Entender a participação do negro neste movimento é a parte mais ensaística do documentário. Trabalhamos com depoimentos como gancho para contar esta história e usamos os raros textos que a retratam para ajudar a compor o cenário“, explica Gustavo Mello, diretor do documentário.

Esses negros trouxeram para São Paulo o mesmo ritmo que levaram para a Bahia ou para o Rio de Janeiro, mas aqui isso se perdeu“, aponta Eduardo Piagge, assistente de direção e pesquisador. Em São Paulo, o negro não conseguiu se integrar à sociedade e assim como seu samba de batuque tornou-se elemento marginal até meados do século 20.

Já no Rio de Janeiro a, cidade que mais tarde seria modelo de Carnaval para São Paulo, os poetas e compositores abraçaram esse ritmo popular e improvisado. Com a ajuda da Rádio Nacional, a urbanização do samba rural foi difundida e popularizada. “O que mais difere no Rio foi a receptividade do espaço urbano a este movimento rural. Lá, eles estão mais próximos dos morros onde se desenvolveu o ritmo e mais para frente você vê as autoridades visitando os galpões das escolas de samba. Em São Paulo há este movimento de urbanização, mas não há a difusão como houve no Rio“, conta Mello.


Dionísio Barbosa e os cordões  - A história do samba em São Paulo é feita de alguns grande nomes. Um deles e talvez o primeiro é Dionísio Barbosa, negro da primeira geração de escravos livres que veio para a capital em busca de oportunidades como liberto. Aqui, foi para a Barra Funda, reduto negro da cidade.

Nascido em 1891, Dionísio uniu a expressão do interior paulista com a influência do samba Rio de Janeiro, onde conheceu a Festa da Penha e todas as tradições carnavalescas cariocas. Em 1914, reuniu sua família e foi para as ruas festejar, cantar e tocar o samba que iniciou a tradição dos cordões. “Ele é emblemático porque cria essa manifestação genuína que é bem típica de São Paulo. Já havia na cidade eventos carnavalescos, mas eram manifestações da classe rica e branca. O Cordão da Barra Funda era o primeiro movimento cultural organizado dos negros, o primeiro cordão da cidade, algo pequeno, composto por 15 a 20 pessoas“, explica Mello.

No Cordão da Barra Funda , os homens ensaiavam e desfilavam pelas ruas vestidos com camisas verdes e calças brancas. Este movimento foi o embrião do hoje Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco.

Mais do que um grupo que desfilava no carnaval, o cordão era um espaço de identidade reativa dos negros onde eles cultivavam todos os elementos de sua cultura. “O cordão era o espaço deles, onde realizavam bailes, cortejos e até piqueniques com elementos típicos de sua culinária em Santos ou no interior. O samba era uma parte dessa manifestação cultural“, conta Piagge.

Logo os cordões vão surgindo pelos bairros e terreiros ocupados pelos negros, como a Baixada do Glicério e Bexiga. Na Época do Carnaval, os negros  se fantasiavam de corte européia, com direito a rei, rainha , conde , duquesa e toda linhagem real. Nas imagens recuperadas de um documentário de 1937, os negros dançam com suas perucas brancas e roupas elegantes levando os estandartes com o nome do grupo. À frente, vinha a baliza, alguém habilidoso que fazia diversas piruetas com o bastão. Atrás, a bateria formada por instrumentos de sopro, violões e muitos surdos, liderados por um apitador.

Saindo de seus territórios de periferia, os negros invadiam os espaços tipicamente brancos causando reações agressivas por parte de uma sociedade ainda acostumada com a escravidão. “Muitas vezes as camadas com mais dinheiro jogavam bexigas com urina ou mesmo agrediam fisicamente os participantes dos cordões. A maioria deles preferia usar a força policial  para reprimir a manifestação popular negra na cidade, assim os policiais levavam instrumentos ou mesmo prendiam membros“, conta Mello.


Dos cordões às escolas 


Em meados do século 20, as escolas de samba começaram a sufocar os cordões. Inspirada pelo sucesso do Carnaval carioca, a população branca começa a se envolver no movimento e até a fundar suas próprias escolas. “Começaram a surgir mais escolas de samba do que cordões pela cidade. Mudou a manifestação. Não que tenha sido ruim, mas essa influência do Rio de Janeiro acabou sublimando um movimento típico de São Paulo“, afirma Mello, diretor do documentário.

No início, era uma manifestação amadora. As escolas ainda eram majoritariamente negras e pobres e não tinham verbas para sustentar um desfile luxuoso de fantasias e carros alegóricos. Para pagar os custos, eles passavam a taça do ano anterior para que os membros contribuíssem.

Já em 1967, com a ditadura militar recém-instaurada no País, o governo decide oficializar o Carnaval paulistano como forma de distrair o povo da repressão política. “O que era mais fácil para iludir o povo ? Futebol e Carnaval“, relata Evaristo de Carvalho, radialista que participou deste movimento.

No entanto, o então prefeito Faria Lima, um carioca de Vila Isabel, não confiava nos dirigentes das escolas para cuidar da verba. Assim, decidiu repassá-la para a rádio Record. Os papas do samba ficaram indignados e decidiram unir-se para garantir que no ano seguinte eles recebessem o dinheiro diretamente. Elegeram um como porta-voz Moraes Sarmento, que ficou encarregado de falar com o prefeito.

Aceita a proposta de Sarmento, Faria Lima exigiu que o Carnaval paulistano tivesse a mesma estrutura e organização de o evento carioca. Com a conivência dos sambistas foi imposto às escolas daqui o mesmo regulamento das do Rio de Janeiro, que determinava todos os detalhes da apresentação e do julgamento dos desfiles. “Segundo os pesquisadores, importar o  modelo do Rio foi a forma encontrada pelos sambistas de São Paulo para legitimar seu movimento, de fazê-lo aceito e valorizado pela parcela da sociedade que agredia os negros do cordão. E muitos desses sambistas viam o modelo carioca o verdadeiro modelo de Carnaval“, relata o diretor.

Com a adoção do modelo carioca, os cordões que antes se espalhavam pelas ruas de toda a cidade foram concentrados em duas avenidas da capital: São João e Tiradentes.

Já no início dos anos 90, durante o governo da prefeita Luisa Erundina foi criado o Sambódromo do Anhembi, local onde se concentra o Carnaval paulistano até hoje. “Hoje não tem mais Carnaval, tem desfie. Estamos confinados no Sambódromo", critica Carlão, “embaixador“ da Unidos do Peruche que foi acompanhado pela equipe do documentário durante todo o dia de desfile de sua escola no Carnaval de 2006. “Hoje o ônibus vai à quadra, apanha as alas, leva para o Sambódromo, descarrega na concentração, vai para a dispersão, para o desfile, sobe no ônibus e vai para a quadra. Lá, põe a roupa e vai embora“, resume o radialista Evaristo de Carvalho.

Com o confinamento no Sambódromo, o Carnaval perdeu não só o espaço como participação popular, sua característica mais marcante. “Não pertence mais ao povo, ao pobre. Pertence a quem pode pagar, a quem tem dinheiro“, critica o sambista Osvaldinho da Cuíca.

Para o pesquisador Eduardo Piagge, a única Escola de samba que mantém um pouco tradição dos cordões é a Vai-Vai. Segundo ele, ela apresenta um samba de som mais forte e mais similar às margens de tradição rural, graças à sua bateria mais pesada, com destaque para os surdos espalhados entre os diversos membros.


Terra das oportunidades


Mas não era só no Carnaval que se fazia samba. O ritmo contagiante inspirou sambistas do Rio e de São Paulo  , que , cada qual a seu jeito  , começaram a desenvolver o novo ritmo para as rádios nacionais. Manteve-se o batuque pesado do samba rural como fundo para as letras agora com estrofes e refrões. Era o samba rural urbanizado que ganhou o País em músicas como Está chegando a hora, de Henricão, compositor do primeiro samba da Vai-Vai, em 1928.

Se no Rio de Janeiro o Carnaval virava modelo para o País, era em São Paulo que os sambistas viam o dinheiro e as oportunidades em casas como o Jogral e Oba Oba. Assim, os nomes mais talentosos migraram para cá em busca de trabalho e de espaço para cantar. “Martinho da Vila conta que todo o início de sua carreira foi aqui em São Paulo. Aqui tina espaço e público. Mesmo nos anos 60, os sambistas de São Paulo ainda não tinham se consolidado como grandes cantores. A única exceção é o Adoniram Barbosa e mais tarde Germano Matias. Quem fazia sucesso era mesmo os cariocas“, aponta Piagge.

O Carnaval é hoje um dos eventos mais aguardados por brasileiros e até estrangeiros, mas há mais heranças deste samba rural dos negros espalhados pelo Estado.

A essência do samba familiar permanece viva em grupos do interior paulista como o Samba de Bumbo em Vinhedo e Tambu de Piracicaba. “São as manifestações mais fortes deste samba do século 19 que encontramos, movimentos que se mantêm por uma tradição familiar ao longo das décadas “, cita Piagge.

Mas como toda manifestação cultural, a história do samba rural é viva e constantemente reconstruída sob as influências dos novos tempos. O samba de hoje mantém o batuque, mas conta outra história. Uma história miscigenada de brancos e negros, de outras dificuldades, alegrias e tristezas e quês está se perdendo a cada nova geração.

Os depoimentos de sambistas do interior ilustram bem a mudança na interação do batuque com a comunidade. “Ao mesmo tempo em que esses grupos mantém o samba de batuque por uma tradição familiar, é cada vez mais evidente seu enfraquecimento nas cidades. Quando fomos para Tietê filmar a festa lá  , ninguém sabia dizer onde ou mesmo quando ela acontecia“, revela o diretor Gustavo Mello.

No outro lado estão aqueles que na ânsia de preservar uma história por tanto tempo marginalizada vêem o samba rural como um folclore. “É muito complexo aceitar esta herança e deixá-la em aberto para que ela sofra as transformações naturais da cultura. As pessoas entram  num radicalismo que se fecha em si mesmo e que não aceita a pluralidade do movimento“, critica Piagge.

Samba à Paulista não se propõe a dar um final para a narrativa. Ele deixa ao espectador a oportunidade de pensar naquele que é sua principal questão: o que fazer com esta história? Para tal, oferece os depoimentos de defensores da tradição e aqueles que tocam o samba urbano, influenciado pelo movimento do Rio de Janeiro. “Nós não queremos fazer o documentário definitivo do Samba de São Paulo. Nós sabemos que se esse documentário for feito daqui a dez anos, vai ser diferente. É  um processo em constante mudança e nosso documentário está dentro disso“, resume Mello.



A avó das escolas de samba


Fundada na Baixada do Glicério em 1937, a Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva Lavapés foi a primeira Escola de Samba de São Paulo. Sob a presidência de Madrinha Eunice, a escola encantou a cidade com seus desfiles e tornou-se a mais importante manifestação do Carnaval paulista nas décadas de 40 e 50. “Ela foi 19 vezes campeã na sua época de ouro. Ganhava de todos“, conta Mello, diretor do documentário. Apesar do título de escola impresso em seu estandarte, a Lavapés tinha todos os elementos de um cordão: a corte, os instrumentos de sopro e os violões. Seus membros desfilavam entoando as marchas de sucesso na rádio como as de Carmem Miranda, fator que contribuiu para seu enorme sucesso.

De suas alas e bateria saíram alguns dos fundadores das grandes escolas do Carnaval paulistano. “Vila Maria, Unidos do Peruche. Muitos passaram por aqui , aprenderam por aqui e depois fundaram a (escola ) deles. Por isso considero a Lavapés a avó das escolas“, gaba-se Madrinha Eunice em uma entrevista de arquivo recuperada pela equipe do documentário.

Hoje , confinada à casa de Rose, neta de Madrinha Eunice e atual presidente da sociedade, a Lavapés sobrevive no ostracismo do segundo grupo. Espalhadas pelos cômodos da casa, as fantasias são preparadas pelos membros da comunidade. Nas ruas em que ela desfilava, hoje se vê apenas carros e pedestres que por ali passam sem saber os dias e glória na Rua do Glicério. “O Carnaval começou a evoluir muito e ela não acompanhou, ficou nos mil e novecentos e nada“, avalia Rose sobre a decadência da escola. “Um dia ela foi campeã hegemônica, hoje ninguém ouve mias falar dela. E o caso mais expressivo de de como esta memória está se perdendo e para mostrar que não é uma história só de flores , mas também de perdas“, analisa Piagge, pesquisador do documentário.


Fonte – JORNAL  DA  USP - ESPECIAL   PÁG 8 e 9 
MÁRCIA  SOMAN  MORAES
de 12 a 18/02/2007

Donga

João da Baiana, Caninha e Donga: da batucada ao samba. A partir dos últimos anos do século passado, as principais cidades brasileiras assistiram ao despertar da consciência das camadas mais humildes da sociedade. Inferiorizados até 1888 pela existência da escravidão, os trabalhadores livres da era republicana começaram a disputar um lugar na sociedade, o que, no campo do lazer, se evidenciou por uma crescente participação na festa do carnaval, transformada pela classe média numa imitação da brincadeira européia, a base de desfiles de carros alegóricos, corsos e batalhas de flores. Os integrantes dessas populações predominantemente negras e mestiças mais integradas na estrutura econômica das cidades, como os empregados de fábricas e pequenos burocratas organizaram-se principalmente no Rio de Janeiro em sociedades recreativas denominadas ranchos, e passaram a sair no carnaval produzindo um tipo de música orquestral que acabaria fazendo nascer as marchas de rancho - e, em decorrência delas, as marchas–ranchos.
Os mais pobres, porém, onde a cor negra predominava (era o mestiço que invariavelmente galgava os primeiros degraus da escala social), continuaram a exercitar-se nos seus batuques e rodas de pernadas ou de capoeira (nome preferido na Bahia). Essa parte da população não saía no carnaval de forma organizada, mas em cordões desordenados, cujos desfiles terminavam quase sempre uma esfuziante coreografia de rabos-de-arraia e em coloridas cenas de sangue.
No entanto, ia ser da música à base de percussão produzida por esses negros com o nome de “batucada“ que ia nascer o gênero popular mais nacionalmente representativo da música brasileira: o samba. Três dos mais velhos representantes dessa fase seriam Caninha, João da Baiana e Donga, dos quais os dois últimos ainda chegaram à década de 70 do século XX, não apenas como sobreviventes de uma era extinta, mas continuando a demonstrar a validade de sua arte em espetáculos evocativamente denominados  “velha guarda".
O mais antigo, José Luís de Morais, O caninha ( 1883 -1961 ), chamado em criança de Caninha Doce ( porque vendia roletes de cana na zona da estação da Estrada de Ferro, Central do Brasil, no Rio de Janeiro ), aprendeu a música dos negros durante as batucadas realizadas na Festa da Penha. E em 1932 - quando essa população de descendentes de escravos foi obrigada a morar em casebres no alto dos morros do Rio de Janeiro – compôs o samba que valia por uma de história da música popular: “Samba  do morro / Não é samba, é batucada / É batucada / É batucada ... /Cá na cidade / A escola é diferente / Só tira samba / Malandro que tem patente“.
De fato, quando Donga, o mais novo desses pioneiros, realiza em 1917, sob o nome de samba, o arranjo de motivos populares que intitulou Pelo telefone, sua primeira providência é registrar música e letra na Biblioteca Nacional - o que equivalia mesmo a tirar patente. A atitude de Donga  ( Ernesto dos Santos, Rio, 1891-1974 ) significa que, coincidindo com o aparecimento do samba, a música popular, como criação destinada ao entretenimento da massa, tinha atingido o estágio de produto comercial capaz de ser vendido e de gerar lucros. O crescimento da indústria do disco, e logo o aparecimento do rádio, seguidos mais tarde do cinema e da televisão, provaram que Donga tinha sido um pioneiro esperto ao correr à repartição oficial para “tirar patente“.
Mas o exemplo da vida do mais velho sobrevivente da geração que criou o samba a partir da batucada, João Machado Guedes (chamado João da Baiana porque era filho da baiana Perciliana de Santo Amaro), veio mostrar que essa esperteza ia valer para todos, menos para os que criaram o samba.
Donga viveu seus últimos anos como funcionário aposentado da Justiça, doente e quase cego, num subúrbio do Rio de Janeiro. João da Baiana, com 85, acabou por ser recolhido à Casa dos Artistas de Jacarepaguá, na zona rural carioca, passando o fim de seus dias de uma forma não muito diferente daquela que desenvolveu com bom humor no seu samba de maior sucesso, o Cabide de Molambo, de 1932: Mas hoje  eu ando / Com o sapato furado..."

Fonte – Revista  - NOVA  HISTÓRIA  DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
DONGA  E  OS PRIMITIVOS  -  Abril  Cultural pág  8 - 1ª Edição  1970  2ª Edição 1978