terça-feira, 19 de julho de 2016

O jeito carioca de ser


Povo carioca tem um jeito todo próprio de viver. Não que isto tenha de causar inveja a cidadãos brasileiros de outros estados, mas na verdade, no mínimo desperta certa curiosidade e admiração. O Porque podemos atribuir a isto fatos aos quais farei algumas referências. Na verdade, é muito comum cada vez mais pessoas desejarem conhecer a cidade do Rio de Janeiro.
O primeiro ponto, é a beleza da cidade  ( ou ao menos ) boa parte dela. A geografia dela é única, cercada pelo mar e montanhas. Possui a maior floresta tropical urbana do mundo, lagoas, lagos, parques, enfim, muitos atrativos naturais dos quais o carioca sempre procura de alguma forma desfrutar. 
O Segundo são algumas tradições: o Carioca é conhecido como “ fera “ no samba, e lógico que sendo assim no samba, ser referência na organização do carnaval, festa popular que atrai gente de toda parte querendo conhecer e participar. Bom, não se pode esquecer do futebol, pois temos o Maracanã como símbolo e clubes de grande tradição no futebol brasileiro. 
Em terceiro lugar, vem o bom humor do carioca. No Rio sempre rola uma certa irreverência, o povo faz piada com tudo, dos políticos , das celebridades  , das mazelas que acontecem no país  ( não que nada seja levado a sério ) mas apenas como forma de não ficar amargo diante da dureza da vida e de coisas que se observam difíceis de mudar.
Em último lugar vem o clima, no Rio não há inverno rigoroso, daqueles que não deixam as pessoas saírem de casa, não tem geada, nem granizo, nem nada. No Máximo o que há, é um friozinho que dura umas duas semanas, nada demais. O normal mesmo é ver o sol, dias e dias de praia, mar e montanha.
No final das contas somos todos brasileiros, todos sob a mesma bandeira. Mas não se pode negar os regionalismos  , a diferença de hábitos e costumes que no caso deste texto em questão faz uma certa reverência ao jeito carioca de ser.

Forte  abraço  a  todos.

Fonte  -            Jornal  Zona  Sul        pág  5  FALA  RICARDINHO 
Ricardo Miranda  - consultor  e trader  pós –graduado em Turismo 
E Hotelaria pela  FGV e Marketing  pelo  CEFET   - DE 15/02/ a 15/03 de 2011

O  JEITO  CARIOCA  DE   SER 

Que  o Rio de Janeiro faz jus ao título de “ Cidade Maravilhosa“ por sua arquitetura natural, todo mundo já sabe. Mas, porque será que o povo daqui é extremamente conhecido pelo famoso “ jeito carioca de ser “ ? Afinal, que jeito é este que encanta gente dos quatro cantos do mundo, inspira escritores, jornalistas, compositores e até foi motivo de pesquisas e tese de doutorado  , além de ganhar um personagem nas histórias em quadrinhos  da Disney: o eterno Zé Carioca  ? 
O sambista e compositor Nelson Sargento alega que o carioca gosta de samba, futebol, praia, das garotas  que enfeitam a cidade com sua beleza e charme, as mulheres balzaquianas com sua vivência e sabedoria e o papo no bar com os amigos. “O carioca é tranqüilo, está sempre bem humorado, protegido pelo Nosso Cristo Redentor, que divinamente emoldura a cidade, com todas as dádivas que a natureza deu ao Rio de Janeiro. Isso é que nos faz ser “ diferentes“ afirma Sargento. Na crônica de Millôr Fernandes  O Carioca É. Antes de Tudo, do livro Que País é este? O escritor pede desculpas aos paulistas e se derrete em elogios ao povo da cidade...  No texto, o carioca é descrito como “ um cara dois terços nascido no Rio e outro terço em Minas, no Ceará, Bahia  e São Paulo  , sem falar de todos os outros Estados  , um deles o estado de espírito“. E é a mais pura verdade. As diversas naturalidades e nacionalidades imperam por aqui  , não importando onde as pessoas tenham nascido. “Desde que se passe a viver no Rio é impossível não incorporar o estilo de vida do carioca, descontrair- se de alguma forma e quando damos conta somos um pouco cariocas também“, conta a professora paulista Marlene Pedrosa, que se mudou dos Jardins para Ipanema há 5 meses e pede para colocarmos na matéria que ela anda de canga, biquíni e chinelos para fazer supermercado e ir ao cinema.
A gaúcha Adriana Calcanhoto, define este estilo muito bem em sua composição Cariocas  . “Cariocas são bonitos  , cariocas são bacanas  , cariocas são sacanas  ..., cariocas não gostam de dias nublados", o que vem a calhar com todos os depoimentos colhidos em nossa reportagem. O carioca quebra barreiras, derruba formalidades, rompe protocolos  ,a ama o sol  , é animado  , original e tem jogo de cintura. Estudiosos do comportamento humano dizem que a simpatia existente aqui pode ser chamada de cordialidade a palavra que deriva de coração. Logo, ser carioca é agir de acordo com os impulsos do coração. Viver no Rio é aderir a este espírito de cordialidade e, mesmo sendo de outras partes o Brasil e do mundo, tornar-se carioca. 
A professora do Instituto de Psicologia da UFRJ, Phrygia Arruda, se baseou em suas lembranças do Rio de Janeiro, da Copacabana dos anos 50 para ter inspiração na elaboração na tese de doutorado O Jeito Carioca de Ser  : entre a Tradição e Modernidade. “Há bastante tempo venho estudando os imaginários da cidade através de relatos de vida e testemunhos e decidi pesquisar sobre o jeito de carioca de ser“, explica . Na tese  , ela faz uma análise da sociologia urbana do Rio, observando a mistura de tradições com modernidade e a irradiação presente nas novas modas e comportamentos, nos sistemas de valores, na sensibilidade e no estado de  espírito, que  , segundo ela, são traços responsáveis pelo jeito carioca de ser.  O bairro de Copacabana dos anos 50, pré-figurado no período da “ Belle Époque  “ , foi o local de explosão de novos movimentos culturais no Brasil e de um novo estilo de viver. Isso firmou uma imagem particular de uma identidade carioca que sempre fascinou à todos  “  , esclarece .  O assunto rendeu tanto  , que Phrygia continua em 2007 no projeto de pesquisa para pós-doutorado O Jeito Carioca de Ser  / Um patrimônio Intangível  ? Apesar de não estar concluído o trabalho, a professora adianta. “É possível se preservar um modo único de vida como uma fonte de identidade. Mas  , todo cuidado é pouco para não tornar uma cultura local, numa atração turística ou um espetáculo midiático “ , finaliza.

A  MAIS  CARIOCA   DAS   LISTAS  

Para o artista plástico Luiz Paulo Rocha  , escrever sobre a cidade Metroblog Rio, site da Internet que integra mais de 50 cidades do mundo, é uma forma interessante de fazer parte do processo de ser carioca.  “O Rio de Janeiro tem sofrido com o seu esvaziamento político e econômico desde a construção de Brasília. Para mim  , a cidade não precisa piorar para que o resto do país melhore. O que é bom deve ser conservado e abraço essa corrente  . Eu já morei em outras cidades do Brasil e fora dele e digo que o Rio, apesar de tudo  , é uma cidade espetacular  “ enfatiza.
No blog  , Luiz Paulo fez a lista de tudo que encontrou no mundo cibernético sobre o povo daqui e construiu  “ A mais carioca das listas “  . “O post foi no sentido de tentar apresentar essa ideia difusa  , porém bem coerente  , do que seria este “ ser carioca “ através das diversas citações encontradas na rede  “ , analisa.

O   mais  carioca  dos  sentimentos: Esperança  
O   mais  carioca   dos  compositores: Tom  Jobim
O  mais  carioca  dos  biscoitos: Biscoito  Globo
O  mais  carioca  dos  jornalistas: Stanislaw Ponte Preta  ( Sérgio  Porto  ) 
A  mais   carioca  das  festas: O  Carnaval 
O  baiano  mais  carioca do mundo: Dorival  Caymmi 
O  mais carioca  de  todos os esportes: frescobol  
A  mais  carioca  das  estações: o  verão  
O  mais  carioca  dos  bairros: Ipanema  
O  mais carioca dos malandros Pernambucanos: Bezerra  da  Silva 
O  mais  carioca  dos  jogos: o  jogo  do  bicho 
A  mais  carioca  das bandas: o Cordão  do  Bola  Preta   
A  mais  carioca  das  sandálias: Havaianas  
A  mais   carioca  das  Instituições: o  boteco  
O  mais  carioca  dos  ritmos: o  samba  
O  mais  carioca  do Rio: Sérgio  Cabral ( o  pai  )
A  cidadã  mais  carioca: Beth   Carvalho 
O  mais  carioca  dos gaúchos: Renato  Portaluppi ( o jogador  ) 
A  bebida  mais  carioca: a   cerveja   

Fonte   -    Jornal            CARIOCAS       -  COMPORTAMENTO  
Ano 2006             -                     Mirian  Barbosa  e  Núcia  Ferreira


CRISTO REDENTOR

  
De  braços  abertos 

Lá está ele, colocado sobre um pedestal de 8 metros de altura, a 710 metros do nível do mar, com uma visão privilegiadíssima da cidade maravilhosa e sempre de braços abertos para receber a todos.
O morro do Corcovado até parece ter sido feito especialmente para amparar o grande Cristo Redentor, com seus 30 metros de altura.
Inaugurado em 31 de outubro de 1931, a obra é uma mescla de arte com engenharia. Teve em 1924, tendo estrutura de concreto armado e seu exterior é todo recoberto por pedra-sabão ( esteatite ) e pesa cerca de 1.145 toneladas. Os braços e o corpo são obras de engenharia, as mãos e a cabeça ficaram a cargo do escultor francês Paulo Landowsky. Através de uma escadaria interna pode-se ter acesso a cabeça e os braços da estátua.
No dia 31 de Dezembro  de 1964, o Papa Paulo VI acionou do Vaticano, através de um impulso eletrônico os quatro refletores que passariam a iluminar o Cristo e, em apenas 4 segundos esse impulso atravessou os 10.000 quilômetros que separam Roma do Rio de Janeiro.
E finalmente no dia 2 de julho de 1980, o Cristo recebeu a visita do Papa João Paulo II que maravilhado abençoou aquele que incansavelmente de braços abertos sempre abençoa a todos nós.
Parabéns  Cristo  !   E muito  obrigado .
Permaneça sempre assim  ; de braços abertos.

Fonte      -    Revista     MUNDO  IDEAL

Povo Negro: entre o Racismo, o Preconceito e Luta por Liberdade


Mundo  Jovem 

Em 20 de novembro de 1695, foi assassinado Zumbi dos Palmares, ícone da resistência do povo negro  e da luta pela liberdade. Depois de tantos anos, ainda são muitos negros e negras que permanecem à margem da sociedade, sobretudo do acesso à universidade.
Diante de várias notícias de racismo e preconceito, este tema se coloca diante de nós como clamor. Além dos casos de homofobia, como a morte de João Antônio Donati, cujo corpo foi encontrado em um terreno baldio com um saco na boca, em Inhumas  (GO) , e do incêndio criminoso que atingiu o Centro de Tradições Gaúchas, em Santana do Livramento  ( RS ), motivado por um casamento coletivo em que participaria um casal gay, crescem no país as manifestações de racismo e preconceito, até mesmo em jogos de futebol. Sem tanta repercussão na mídia, o caso de uma estudante de engenharia ambiental, no Pará, ameaçada de morte em redes sociais por ser negra, revela que o preconceito está longe de ter um fim.

Racismo  não  declarado  

Conforme Douglas Belchior, blogueiro, professor nos cursinhos populares da Uneafro, precisamos fazer a leitura da realidade atual brasileira, considerando que tivemos três quartos da nossa história com escravidão, o que deixou marcas profundas na nossa mentalidade. Trata-se de um racismo estrutural, que se realimenta cotidianamente, pois é reforçado no apoio das elites econômicas, movidas pelos seus privilégios.
A partir do discurso de uma sociedade harmônica e pacífica, articularam-se fórmulas eficazes que geram barreiras para a ascensão social de negras e negros. É o racismo institucionalizado pela imprensa, pelo judiciário, pelo senso comum, pela escola, etc.  A legitimação simbólica e política desse discurso se dá pela reprodução de que vivemos numa sociedade multicultural e de que o cruzamento racial se deu a partir de bases integradores. Na realidade, porém, vivemos num país de tamanha iniquidade racial, ao ponto de se passar a responsabilizar os negros pela sua própria exclusão, alegando que, se todos são iguais, com as mesmas oportunidades, os que não “ progridem “ é porque são preguiçosos e incompetentes.

Rompendo barreiras  

A escravidão de africanos e afrodescendentes no Brasil foi o crime coletivo mais longo praticado nas Américas, e um dos mais hediondos da história. As conseqüências permanecem bem marcadas. Atualmente, em nossas cidades, 53 % dos homicídios têm como vítimas pessoas jovens. Desse contingente, 75 % são negros. Na USP, a maior universidade da América Latina, os alunos negros não ultrapassam 2 %. Para Douglas Belchior, “ como resultado disso, vemos penitenciárias ocupadas por mais negros, onde o sistema penal elege um grupo social  étnico para ser punido. Assim, a presença excessiva de negros nos espaços de privilégio também é vista com naturalidade“.
Nesse contexto, a discussão sobre as políticas de ações afirmativas e as cotas raciais precisam ser pensadas a partir do que representa o racismo na sociedade brasileira. Negros são os mais pobres dentre os pobres. As políticas de caráter universal que ignorem essas diferenças servem somente para realimentar as desigualdades. Além disso, as cotas para os negros são apenas uma parte do pagamento da enorme dívida que o Estado tem com os descendentes dos mais de três milhões de africanos trazidos à força para o Brasil  e transformados nos escravo que constituíram o país.
O sistema de cotas e a adoção do SISU ( Sistema de Seleção Unificada ) no lugar do vestibular são importantes vitórias no que diz respeito ao acesso à  Universidade no Brasil. Há  séculos, as elites consideram esse acesso um direito exclusivo daqueles que, por  “ seu mérito “,  conseguem ter bons resultados nas provas do vestibular. Entretanto, as provas não refletem as condições do ensino atual nem conseguem avaliar as capacidades de reflexão dos que tentam acessá-la, servindo apenas como mais um mecanismo que perpetua a exclusão de grande parte da juventude brasileira do ensino superior.
A partir da implantação do Exame Médio (Enem), esse quadro está se alterando. Só neste ano foram mais de 9,5 milhões de inscritos, disputando em torno de 800 mil vagas. Ou seja, assim que a juventude percebeu algumas brechas no muro que separa Universidade e sociedade, não perdeu tempo e está conquistando seu direito ao Ensino Superior público. O caminho ainda é longo para romper com o cerco do conservadorismo e dos privilégios, mas a juventude organizada está provando que, com sua luta, a conquista de direitos é uma realidade

Fonte  - Revista  de  Aparecida          págs 22 e 23          Novembro de 2014
 Mundo Jovem  ( Equipe de redação do jornal  Mundo Jovem  , Porto Alegre , RS)

Afro–descendente, com  muito  orgulho

Escrevemos esse texto sob o impacto, profundamente negativo, do artigo “Visita a Terra dos Negros" publicado nesta página, no último 24 de julho. E o fazemos para demonstrar, em poucas  linhas, que, se o indivíduo afro-brasileiro e o brasileiro em geral conhecessem um pouquinho de História da África e da afrodescendência no Brasil e no mundo, ninguém se surpreenderia ou se horrorizaria ao visitar a África de hoje, notadamente aquela parte do continente mais atingida pelo genocídio iniciado com a chegada dos europeus no século XV.
Quem se dispuser a conhecer um pouco dessa tragédia saberá que a mesma Humanidade que, hoje, justificadamente, se extasia diante de um Michelangelo, também há de se tocar com a beleza naturalista dos bronzes de Ifé e Benin, obras de autores africanos  cujos nomes, infelizmente, a História não registrou  - talvez como recurso para atribuir a extrema beleza dessas obras a artistas europeus, como já se tentou fazer sem sucesso. Como compreenderá também, por mero exemplo, a grandeza artística dos negros spirituals, canções que, segundo a melhor musicologia, produzem seu indescritível efeito pelo emprego de uma escala ( pentatônica ) completamente diversa das convencionais sequências de tons maiores e menores da música ocidental, e desconhecida na Europa até pelo menos o século XIX.
Da mesma forma, quem, em busca de conhecimento, for além do que hoje, no Brasil, oferecem as universidades e as listas de best-sellers, vai saber que, bem antes de Alexandre, no século XV a.C., o negro Tutmés III, príncipe núbio ( filho bastardo que Tutmés II levou para a corte faraônica ), quando no poder, estendeu seus domínios até a Ásia, a a era do imperialismo egípcio. Com ele, o Estado egípcio atingiu o maior momento de expansão territorial, subjugando povos e reinos até a Mesopotâmia, chegando, mesmo, à Europa mediterrânea. Assim, até as vésperas de sua morte, todos os reinos das margens do Eufrates à quarta catarata do Nilo, eram seus tributários. Cerca de 700 anos após esse Tutmés, uma dinastia de reis núbios, negros  portanto, tomou o Egito, governado-o  por cerca de 90 anos. Esse período se inicia com o faraó Piye–Piankhi, o qual, liderando uma revolução nas artes e na cultura  e, após unir as civilizações do vale do Nilo, restaurou templos e monumentos, transferindo a capital de Tebas para Napata, no atual Sudão. Noutra dimensão histórica e geográfica, vamos ver que, antes de Cristóvão Colombo, Abubakar II, imperador de Mali, adentrou o Atlântico com cerca de duzentas embarcações de pesca e chegou ao México atual, por volta de 1312.
Na mesma medida, é preciso mostrar que a ciência que pauta seu saber pelos ensinamentos de Platão, discípulo do egípcio Chonoupis de Sócrates, que estudou na cidade egípcia de Busíris; e de Aristóteles  ( “os que são excessivamente negros são covardes e isso se aplica aos egípicios e etíopes“, disse ele ) ou mesmo pelos ensinamentos do Eclesiastes bíblico, igualmente inspirado na filosofia kemética ( do antigo Egito ); essa ciência talvez pudesse guiar-se, acaso a conhecesse, pela visão de mundo contida no conjunto de muitos milhares de parábolas enfeixadas no corpo de ensinamentos do oráculo iorubano de Ifá. E mais:  os  que ainda acreditam que Hipócrates foi o “pai da Medicina“ certamente nunca ouviram falar no egípcio Imhotep. Como os admiradores de Napoleão seguramente nunca souberam do zulu Chaka, o comandante africano mais temido pelo imperialismo europeu no século XIX, por força de inovações, estratégias e armamentos que criou, até sua morte em 1828. Da mesma forma que até mesmo os cristãos mais esclarecidos certamente não sabem que o orixá Ogum é venerado, na África e nas Américas, por ser a divindade da tecnologia ( ensinou os homens a domarem o ferro ), dos negócios militares, do trabalho  e, conseqüentemente, da prosperidade e da saúde. 
Finalizando este texto  , sob a inspiração de W.E.B  Dubois  , André Rebouças  , Abdias do Nascimento , Milton Santos e outros não menos, perguntamos: o que seria da música popular que se consome hoje em escala planetária se não fosse a arte musical criada pelos afro-descendentes nos Estados Unidos, no Caribe  e no Brasil  ? 
É por tudo isso que não consideramos  “brasileiro negro“ nem “negro brasileiro“. Somos, sim, com muito orgulho da ancestralidade que cultuamos, um afro-descendente, integrante de uma maioria etnocultural num país em que, por razões que muita gente esclarecida ignora ou finge ignorar, uma parcela minoritária da população detém o poder político e econômico e manipula o conhecimento, desde sempre. E a essa minoria é mais conveniente ensinar aos jovens, nas escolas, que a proposta de se estudar a África, “ terra dos negros “ , é uma “ declaração de ignorância “

Fonte  - Jornal     -  O  GLOBO      
Agosto  de  2008     -   NEI  LOPES   é compositor 


A noite  brasileira  da  Ku Klux  Klan  

Deve–se  à Jácomo Mandato, paciente pesquisador da história de Itapira  ( SP ), o resgate de um fantástico episódio da crise social ocorrida durante a agonia da escravidão. Ele acaba de publicar o livro “Joaquim Firmino – O Mártir da Abolição“.
Joaquim Firmino de Araújo Cunha era delegado da cidade de Penha do Rio do Peixe, no interior de São Paulo. Protegia escravos fugidos. Na madrugada de 11 de fevereiro de 1888, sua casa foi invadida por uma turba recrutada pelos grandes fazendeiros da região. Sua mulher escondeu-se num forno, e a filha, num quarto. Firmino tentou fugir e foi linchado no quintal. Morreu com uma pancada na cabeça. Tinha 33 anos.
Graças à militância abolicionista de Angelo Agostini e sua “ Revista Ilustrada", o linchamento abalou a opinião pública do Rio e é possível que tenha sido um dos fatores que apressaram a abolição, assinada dois meses depois. Era um caso de  brancos matando brancos.
O linchamento de Firmino foi comandado por um médico americano casado numa das grandes famílias da região ( os Cintra ). Chamava-se James Warne, vulgo “Boi. Viera para o Brasil em 1865, aos 23 anos, depois da derrota do Sul na Guerra Civil americana. Enquanto arrebanhava fazendeiros e capangas, Warne dizia que os brasileiros têm “sangue de barata“, pois em qualquer lugar do mundo a fuga dos escravos provocaria uma revolução. Depois de matar Firmino, a turba depredou duas residências, cujos donos fugiram, um para a casa de uma preta liberta e outro para a do padre. Warne transplantara para o Brasil os métodos da Ku Klux Klan. Sua turba reuniu cerca de 200  pessoas. 

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO

Contra  a  discriminação Digital 
Congresso sobre a internet  na Universidade de Harvard debate meios 
de  combate a essa irmã gêmea igualmente horrenda do racismo

Esta semana, enquanto a internet discutia se #somos dos macacos ou #somos dos bananas, um pequeno grupo muito especial de pessoas, reunidas sob os auspícios da UNICEF no Berkman Center for Internet & Society, da Universidade de Harvard, aprofundava a questão: o que é que se pode fazer, efetivamente, para acabar com a discriminação, essa irmã gêmea igualmente horrenda do racismo? Como dar vez às comunidades carentes, às favelas, às tribos, às áreas mais frágeis da sociedade  ? 
Todos sabemos que é conversando que a gente se entende - mas, para que esse entendimento seja possível, é preciso, antes, que a conversa se dê em pé de igualdade, e que todos sejam ouvidos. Nisso, infelizmente, o universo digital ainda deixa tanto a desejar quanto ao mundo em que ( fisicamente ) vivemos. Basta lembrar que boa parte do planeta ainda não tem acesso à internet, e que ter este acesso é apenas um primeiro passo.
O Digitally  Connected reuniu pesquisadores, ativistas e jovens comunicadores de diversos países para pensar sobre como melhorar e democratizar o uso da internet para quem mais precisa dela.
O Brasil foi representado por Rene Silva, que criou o jornalzinho  “Voz da comunidade“ no Complexo do Alemão quando era criança, e que hoje, aos 21 anos, já tem larga experiência em comunicação, e por Paulo Rogério Nunes, do Instituto Média Étnica, uma organização modelar no combate ao racismo na mídia. Paulo Rogério é editor do “ Correio Nagô “ , blog de notícias dedicadas a diversidade e direitos humanos. Ele escreve para a revista “America s Quaterlysobre inclusão social no Brasil. Paulo está testando , com jovens quilombolas da Ilha da Maré  , na Bahia, uma tecnologia chamada VOJO, que prescinde de samartphones, computadores ou tablets para o acesso à internet. Conversei com ele, por email , sobre o Digitally Connected: valeu  a pena  ? 
Foi muito positivo“ , avaliou  . “ Saímos com muitos contato e idéias. No caso do VOJO, estamos tentando envolver pesquisadores do MIT e de Harvard, bem como fazer cooperação com outros países: já estamos em contato com grupos que trabalham na Colômbia e na Etiópia. A ideia também nacionalizar o projeto, tornando a ferramenta disponível a outras comunidades, especialmente rurais e discriminadas.
Um dos grandes problemas do mundo  digital é a assimetria nas relações entre o que hoje se denomina Norte global, a parte teoricamente mais desenvolvida do planeta, e Sul global, a sua contraparte ainda em desenvolvimento.
”O evento discutiu com criar relações mais simétricas, a partir da ideia de que há muitas tecnologias criadas no Sul global que são mais representativas  , e que podem ser usadas em países com problemas similares“, observa Paulo Rogério. “ No caso VOJO, a tecnologia não foi desenvolvida no Sul  , mas está sendo adaptada aqui, e a ideia é que o Brasil seja o país a liderar o seu desenvolvimento".
Outro problema: não basta dar às pessoas a oportunidade de falarem. É preciso lhes dar condições de serem ouvidas. Como resolver isso   ?
“ Em relação ao VOJO, a ideia é  , justamente  , fazer com que as histórias sejam ouvidas  . Estamos trabalhando para que rádios comunitárias e públicas, e a mídia de modo geral, tenham acesso a esses conteúdos e escrevam histórias a respeito".
Que ninguém espere lendas ou conto de fadas: o que a parte esquecida da Humanidade tem para contar são histórias de desastres ambientais, de remoções forçadas, de desigualdade racial e de violência de todos os tipos

Fonte    -  Jornal    -   O  GLOBO      pág 22        Digital 
                         22/05/2014  –  Sociedade CORA  RÓNAI 

FRA ANGÉLICO



Nascido numa  aldeia florentina, ele foi muito além 
Do ofício de  um pintor: pode  fazer  milagres 

O pintor que virou  santo

Seu nome foi gradativamente mudando, à medida que aumentava a habilidade de seu pincel e a espiritualidade de sua arte. Ao nascer, em 1440, em Vicchio do Magnelo, aldeia do norte de Florença, ganhou o nome de Guido da Pietro. Ao entrar como noviço para o Convento de São Domingo, em Fiésole, perto de Florença, passou a chamar Fra Giovanni da Fiesoli. E, quando se dedicou a pintura de madonas e anjos o povo começou a chamá-lo de Fra Angélico – enquanto o mesmo nome lhe era dado pelos que ouviam suas pregações, em homenagem a Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, Giorgio Vasari, pintor e amigo de Miguel Ângelo, assim escreveu livro sobres os artistas italianos, cuja primeira edição foi em 1538: (“Fra Angélico") renunciou a todas as tentações do mundo, viveu em pobreza e santidade. Este santo frade era tão humilde e modesto em sua conversação, tão dedicado à sua pintura que seus santos pareciam mais santos. Não retocava seus quadros e os fazia tal qual tinham saído de suas mãos na primeira intenção... Benzia-se e orava ante de começar uma obra... “Vasari, ao que parece, descreveu com precisão  - embora um século depois da morte do pintor-frade  , em 1455  - as razões que levaram Fra Angélico à santidade. 
A pintura desse humilde dominicano que foi prior do Convento de São Marcos em Florença significa a grande ponte que começava a existir entre realismo humanista de Giotto - o fundador da pintura renascentista – e o humanismo idealista do renascimento italiano, herdado dos clássicos gregos. Posterior a Massacio, a religiosidade de Fra Angélico é menos dramática, menos humana, mais celestial. Nas têmperas e afrescos de Fra Angélico ainda há simetria bilateral e perspectiva cavaleira  ( em lugar da perspectiva linear ) típica do gótico. Como no gótico internacional do final da Idade Média  - o gótico cortesão  - em Fra  Angélico  ( como Simoni di Martini, um sienês ) existem os dourados do fundo, as gentis madonas de graça cortesã assistindo o Filho com gestos suaves de figura nobre. A ingenuidade e o requinte se misturam na arte piedosa desse frade amante da meditação e da oração. No grande painel do Juízo Final, pintado para a capela do Convento de São Marcos, Florença  ( hoje convertido em Museu de São Marcos ), o Cristo surge ao alto, na grande oval do centro, cercado de anjos e irradiando luz em seus raios dourados. Ele é belo e impassível como um Apolo e julga ao lado de sua Mãe e de São João Batista, assistido por uma assembléia de Santos. Toda essa cena, majestosa e calma, parece tratar o Juízo Final como um tranqüilo e belo espetáculo. Os justos ( à direita de Cristo ) brincam infantilmente de roda, no ritmo de uma ciranda celeste. Outros rezam e contemplam a Glória de Deus. À esquerda de Cristo ( a sinistra, como diziam os italianos, referindo-se à mão divina que renegava os pecadores ) os maus são empurrados por demônios negros para o inferno, onde depois sofrerão seu malefícios. É um Juízo Final bem a maneira de Fra  Angélico, um julgamento divino, mas não aterrorizante. É um magnífico e multicolor show do bem e do mal. Até hoje, as obras de Fra Angélico – como a da maioria dos pintores do Quatrocento – conservam a vivacidade e o brilho de suas cores. Elas parecem ter sido feitas ontem, tal a maestria da técnica aplicada. Fra Angélico esteve em Roma  de 1445 a 1447, pintando a capela Nicolina no Vaticano a convite do papa, cidade onde morreu. Seu maior continuador foi Piero Della Francesca, que deu mais um passo à pintura religiosa ao Renascimento. Em fevereiro deu-se um caso único na história da Igreja e na da arte. Um frade domenicano leu, na Basílica de São Pedro do Vaticano, a bula do Papa João Paulo II que oficializava o nome de beato um dos maiores frades – pintores do século XV, na Itália.
Agora, esse genial pintor toscano, autor de suaves madonas, de paraísos floridos e de anjos graciosos  - que tratou com reverenciosa humildade a arte, Cristo e sua mãe  - , já merece a própria imagem honrando um altar. E os pintores ganharam um colega no céu.

Fonte   -   Revista FATOS   E  FOTOS nº   1182 
Ano XXI   - 1984 - Flavio  de  Aquino