quarta-feira, 19 de abril de 2023

120 anos de Duke Ellington

 


120  anos  de  Duke  Ellington

Todos os  músicos  da  jazz  que  vieram  depois  foram  fortemente  influenciados  por  ele que foi  capaz  de  produzir  uma  revolução  musical

O que   poucas pessoas sabem é que a maioria das estruturas  musicais do  universo erudito  tem  origem em  antigas manifestações  populares do  Velho  Continente  .Em  geral , danças,canções ou  hinos  religiosos  : sarabanda , corrente , giga , pavana , polonaise , mazurca ,  burrê ,  Lãndler  , siciliana ,bolero ,farandola , minueto , chançons , polca ,czardas, habanera , valsa, etc . Esses mo-tivos,com características próprias ,não só invadiram o mais sofisticado mundo da música clássica como continuaram a ser  praticados no  terreno da  música popular , na chamada “ música de salão “ .

Com a  colonização europeia nos Estados Unidos no fim do século  XIX  ,as práticas musicais populares seguiram junto . Nas  cidades  portuárias  às margens do  rio  Mississipi elas se  en-contravam . Sobretudo em  New Orleans  , ouviam -se pelas  ruas e nas igrejas imigrantes pra-ticando  suas  tradições .Eram ingleses com folk- songs , espanhóis e russos com  danças festivas  franceses com chançons , italianos com  calzones , alemães  e  Lãndler  e  marchas  prussianas ,e assim por diante . Nas  igrejas  ouviam-se  hinos e corais de  puritanos e católicos ,batistas e me - todistas . O  curiosos é que  essa  “ liga  das  nações “ sonora  na  cidade -  delta do   Mississipi atraía  grande quantidade de  turistas .

Com a  libertação dos  escravos a partir de  meados do  século  XIX nos  Estados Unidos , iniciou-se uma integração dessa  música feita a partir de  instrumentos , melodias , harmonias e ritmos europeus com a  musicalidade e os  resquícios de uma  cultura  popular negra da  era  da  escravidão .diferente do que ocorreu aqui  no  Brasil , onde as  tradições africanas  - sobretudo  rítmicas  - não foram  ini-  bidas , o   negro americano não tinha mais  relações com as  práticas  musicais de seu passado  lon  - longíquo . Nesse processo , os shows que praticavam , uma  espécie de  lamento  cantado que  de-pois ganhou o nome  de  blues , misturou-se com  aquele variado  acervo de  origem  europeia  . 

Dessa  curiosa miscigenação de elementos , aos poucos nasceram um  novo estilo e uma nova pro - fissão  musical  . O  negro  americano ,  tentando  subir na  vida  por  meio da  profissão do entre- tenimento ,aprendeu a tocar  instrumentos e a conhecer o  acervo musical  importados, só que  , pronunciando-o  à  própria  maneira .Essa  “ pronuncia “ se  transformou em  outra  música ,o  jazz . Assim ,The  Entertainer ,do mulato Scott Joplin , não era mais  uma  polca , e sim um  ragtime , o primeiro  estilo  jazzístico .

Na  década de  1920 , um negro , filho de  uma prostituta que perambulava  pelas ruas  de New  Orleans , arrumou uma  graninha  e adquiriu num  brechó um  trompete  amassado . Adotado  por uma  família de  judeus  russos , Louis  Armstrong obteve  formação e   misturandose com  bons músicos que formavam  combos  jazzísticos , liderou a implatação de uma  rica habilidade de im- provisação  nessa música .  

Na  década de  1930 ,  havia já  sofisticadas e tecnicamente muito   desenvolvidas big bands jazzísticas  .E até   dois  grandes líderes .Um “ rei branco “ do  swing , Benny Goodman , e um , "rei negro “ ,Count  Basie . Na década de  1940 , porém , surge  um  “  príncipe “  no jazz . Melhor dizendo , um do “ que “ , Edward Kennedy Ellington  , era chamado de duque pela  delicadeza e pela finura de seu  comportamento  , que se  refletia na  música . tal foi a   revolução cultural   que pro - moveu com su plano , suas composições e sua  big band  que  , dessa  década em diante , mais que reconhecido por colegas , amantes e  teóricos do  jazz , ele obteve as  mais altas distinções de  ins- tituições sociais e  culturais , como  Presidential Medal of  Feedom , a mais  alta distinção americana , e a  Légion  d’ honneur da  França ; e foi o  primeiro  músico  de  jaz  a  entrar  na  Academia  Real  de  Música da  Suécia , assim como  a obter o  título de  doutor  honoris  causa das  grandes  uni - versidades  do   mundo 

Duke  Ellington praticamente conferiu um  novo  status  cultural  à música  do  jazz . Ela não era mais a  música tocada numa esquina por  um moleque que improvisava num  trompete amassado , e sim o mais  criativo  exemplo  cultural de um  país no  século  XX .  Ellington soube identificar  gênios que faziam o  melhor dessa música e os trouxe para o  seu  convívio , desenvolvendo suas  potencia - lidades ,assim como a  qualidade de seus  arranjos  , tornando  sua  banda única . Introduziu  novos  instrumentos no som jazzístico . Escrevia inclusive “ concertos “  para esses  músicos excepcionais atuarem  como solistas .  Aliás , foi o primeiro a usar a  voz humana como  instrumento , ampliando os  recursos do  im - proviso vocal . Seus  arranjos tinham características muito diversificadas . Do  mood stile , que é algo  melancólico que lembra o  passado triste de sua  etnia ( ouvir  Solitude  , ao jungle stile ,mais concertante e que faz sua  orquestra explodir como uma  libertação sonora .

Foi o primeiro  a lançar  mão do  rico aparato rítmico sul-americano de  origem afro ,dando  nova e  provocante dinâmica aos arranjos e à  banda . Foi também o  primeiro a usa  recursos nas gravações da  banda , como câmara de eco. Seu plano não estava lá apenas para  tocar harmonias . As inter - venções de  seu  instrumento agiam quase como uma  regência . 

Todos os  músicos de  jazz que vieram depois de  Ellington foram fortemente influenciados por ele , mas não caberia  elencar neste artigo tudo o que ele  inovou no  som e no  universo jazzístico .Suas canções foram igualmente  importantes .Não apenas pela  beleza melódica , como pelo  conteúdo de seus  textos ligados ao  ser humano  americano e à  etnia que  ele representava . Aliás , sempre afir- mou : faço a  música do  negro americano . Não tenho nada a  ver  com a África .

Por essa  grande musical e  humana , o  maior  regente  da  primeira  metade do  século  XX em  todo mundo ,que viva nos  Estados Unidos , foi tirar  Ellington do  Cotton Club e o   convidou para  compor  uma  obra para sua  big band e a  sinfonia criada e regida   por ele , na mais importante  sala de  concertos dos  Estados Unidos . Assim , o  gênio  de  Toscanini  homenageou esse  “  duque “ ,  esse  “ príncipe  “  ,  esse  “ rei “ do  jazz  nascido  há   120 anos .

Fonte  - Revista  ATRÁS  DA  PAUTA  - pág 16   - CONCERTO 

Outubro  2019  - Por  Júlio  Medaglia  -    120  anos  de  Duke  Ellington


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