120 anos de Duke Ellington
Todos os músicos da jazz que vieram depois foram fortemente influenciados por ele que foi capaz de produzir uma revolução musical
O que poucas pessoas sabem é que a maioria das estruturas musicais do universo erudito tem origem em antigas manifestações populares do Velho Continente .Em geral , danças,canções ou hinos religiosos : sarabanda , corrente , giga , pavana , polonaise , mazurca , burrê , Lãndler , siciliana ,bolero ,farandola , minueto , chançons , polca ,czardas, habanera , valsa, etc . Esses mo-tivos,com características próprias ,não só invadiram o mais sofisticado mundo da música clássica como continuaram a ser praticados no terreno da música popular , na chamada “ música de salão “ .
Com a colonização europeia nos Estados Unidos no fim do século XIX ,as práticas musicais populares seguiram junto . Nas cidades portuárias às margens do rio Mississipi elas se en-contravam . Sobretudo em New Orleans , ouviam -se pelas ruas e nas igrejas imigrantes pra-ticando suas tradições .Eram ingleses com folk- songs , espanhóis e russos com danças festivas franceses com chançons , italianos com calzones , alemães e Lãndler e marchas prussianas ,e assim por diante . Nas igrejas ouviam-se hinos e corais de puritanos e católicos ,batistas e me - todistas . O curiosos é que essa “ liga das nações “ sonora na cidade - delta do Mississipi atraía grande quantidade de turistas .
Com a libertação dos escravos a partir de meados do século XIX nos Estados Unidos , iniciou-se uma integração dessa música feita a partir de instrumentos , melodias , harmonias e ritmos europeus com a musicalidade e os resquícios de uma cultura popular negra da era da escravidão .diferente do que ocorreu aqui no Brasil , onde as tradições africanas - sobretudo rítmicas - não foram ini- bidas , o negro americano não tinha mais relações com as práticas musicais de seu passado lon - longíquo . Nesse processo , os shows que praticavam , uma espécie de lamento cantado que de-pois ganhou o nome de blues , misturou-se com aquele variado acervo de origem europeia .
Dessa curiosa miscigenação de elementos , aos poucos nasceram um novo estilo e uma nova pro - fissão musical . O negro americano , tentando subir na vida por meio da profissão do entre- tenimento ,aprendeu a tocar instrumentos e a conhecer o acervo musical importados, só que , pronunciando-o à própria maneira .Essa “ pronuncia “ se transformou em outra música ,o jazz . Assim ,The Entertainer ,do mulato Scott Joplin , não era mais uma polca , e sim um ragtime , o primeiro estilo jazzístico .
Na década de 1920 , um negro , filho de uma prostituta que perambulava pelas ruas de New Orleans , arrumou uma graninha e adquiriu num brechó um trompete amassado . Adotado por uma família de judeus russos , Louis Armstrong obteve formação e misturandose com bons músicos que formavam combos jazzísticos , liderou a implatação de uma rica habilidade de im- provisação nessa música .
Na década de 1930 , havia já sofisticadas e tecnicamente muito desenvolvidas big bands jazzísticas .E até dois grandes líderes .Um “ rei branco “ do swing , Benny Goodman , e um , "rei negro “ ,Count Basie . Na década de 1940 , porém , surge um “ príncipe “ no jazz . Melhor dizendo , um do “ que “ , Edward Kennedy Ellington , era chamado de duque pela delicadeza e pela finura de seu comportamento , que se refletia na música . tal foi a revolução cultural que pro - moveu com su plano , suas composições e sua big band que , dessa década em diante , mais que reconhecido por colegas , amantes e teóricos do jazz , ele obteve as mais altas distinções de ins- tituições sociais e culturais , como Presidential Medal of Feedom , a mais alta distinção americana , e a Légion d’ honneur da França ; e foi o primeiro músico de jaz a entrar na Academia Real de Música da Suécia , assim como a obter o título de doutor honoris causa das grandes uni - versidades do mundo
Duke Ellington praticamente conferiu um novo status cultural à música do jazz . Ela não era mais a música tocada numa esquina por um moleque que improvisava num trompete amassado , e sim o mais criativo exemplo cultural de um país no século XX . Ellington soube identificar gênios que faziam o melhor dessa música e os trouxe para o seu convívio , desenvolvendo suas potencia - lidades ,assim como a qualidade de seus arranjos , tornando sua banda única . Introduziu novos instrumentos no som jazzístico . Escrevia inclusive “ concertos “ para esses músicos excepcionais atuarem como solistas . Aliás , foi o primeiro a usar a voz humana como instrumento , ampliando os recursos do im - proviso vocal . Seus arranjos tinham características muito diversificadas . Do mood stile , que é algo melancólico que lembra o passado triste de sua etnia ( ouvir Solitude , ao jungle stile ,mais concertante e que faz sua orquestra explodir como uma libertação sonora .
Foi o primeiro a lançar mão do rico aparato rítmico sul-americano de origem afro ,dando nova e provocante dinâmica aos arranjos e à banda . Foi também o primeiro a usa recursos nas gravações da banda , como câmara de eco. Seu plano não estava lá apenas para tocar harmonias . As inter - venções de seu instrumento agiam quase como uma regência .
Todos os músicos de jazz que vieram depois de Ellington foram fortemente influenciados por ele , mas não caberia elencar neste artigo tudo o que ele inovou no som e no universo jazzístico .Suas canções foram igualmente importantes .Não apenas pela beleza melódica , como pelo conteúdo de seus textos ligados ao ser humano americano e à etnia que ele representava . Aliás , sempre afir- mou : faço a música do negro americano . Não tenho nada a ver com a África .
Por essa grande musical e humana , o maior regente da primeira metade do século XX em todo mundo ,que viva nos Estados Unidos , foi tirar Ellington do Cotton Club e o convidou para compor uma obra para sua big band e a sinfonia criada e regida por ele , na mais importante sala de concertos dos Estados Unidos . Assim , o gênio de Toscanini homenageou esse “ duque “ , esse “ príncipe “ , esse “ rei “ do jazz nascido há 120 anos .
Fonte - Revista ATRÁS DA PAUTA - pág 16 - CONCERTO
Outubro 2019 - Por Júlio Medaglia - 120 anos de Duke Ellington
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