Biografia mostra a importância do militar num período conturbado
Biografia política com força de reportagem , " O soldado absoluto " ,do jornalista Wagner William começa a surpreender na escolha do biografado .Para um autor ainda na casa dos 30 ,nascido no ano do AI - 5 e das grandes passeatas , perceber a importância do marechal Henrique Loft no período mais tumultuado da história recente do Brasil - entre a morte de Getúlio de Vargas e a ditadura militar - e resgatar do ostracismo este baluarte da democracia , é um gol e tanto .
Modernização do exército entre as contribuições
A narrativa cmeça quando Lott , um positivista de fazer inveja a Augusto Comte , conclui o Colégio Militar em primeiro lugar , o que se repitiria nos inúmeros cursos ao longo dos 50 anos de carreira , parainveja e desfeto Humberto Castello Branco ,que sempre chegaria em seundo .Tendo o ministro da Guerra de quatro presidentes civis como eixo , William traça o perfil de uma geração de militares que participou da vida brasileira por seis décadas , fez a campanha da FEB e , mesmo dividida em facções ( nacionalistas x entreguistas ) , contribuiu para modernização do Exército . Nos cinco anos e meio como ministro , Lott conferiu dignidade aos sargentos , criou o Instituto Militar de Engenharia e o Comando Militar da Amazônia ,introduziu a sociologia nos currículos e promoveu o primeiro coronel negro ao generalato , além de alterar os critérios de promoção acabando com as " peixadas " . uma geração de militares que,desafortunadamente ,concluiria sua trajetória no regime de exceção,acabando por manchar a imagem legalista que Lott sempre buscou para a instituição , não só como ministro , mascomo candidato a presidente a enfrentar Jânio na problemática eleição de 1960 , sobre a qual o livro esbanja informações .
No momento em que Juscelino Kubitchek é redescoberto romanticamente , William revela os basti- dores da antiga capital federal e demonstra sem a atuação decidida de Lott , JK não passaria de um projeto ,abortado em sua pretensão de empossar-se na presidência pelas mesmas forças golpistas ,que prevaleceram contra Jango , mas articuladas para tomar o poder já em 1954 , tendo à frente a UDN de Carlos Lacerda . Na pesquisa , fica claro que não só a ditadura dos entreguistas , urdida na Escola Superior de Guerra ( a Sorbonne de Castello e Golbery ) foi adiada por dez anos , como o mesmo JK- habilidoso ,mas atônito diante de tantas intrigas e rebeliões de militares desacostumados à democracia - não teria o mandato de presidente sem a força moral e competência de seu ministro de Guerra .
No episódio mais eletrizante narrado na obra , Lott organiza uma resistência que inclui disparos de canhões dos fortes de Copacabana contra o cruzador Tamandaré em fuga , Carlos Lacerda e até o presidente Carlos Luz ( todos golpistas ) , enquanto , em terra , o Congresso tomava providências para garantir a vontade das urnas .
Na perspectiva crítica da biografia , muitos militares famosos confirmarão seus lugares no breu da História , enquanto caciques políticos terão sua imagem apequenada , Goulart . desnudado em suas ambiguidades . Rigor de que não escapa o próprio JK , acusado de esvaziar a candidatura de Lott quando ,um erro fatal ,preferiu como sucessor um udenista demagoo , acreditando numa volta triun - fante cinco depois ,mesmo alertado por um abandobnado Lott em campanha de que Jãnio não passava de um estelionatério público que levaria o país ao caos .
Por outro lado , Leonel Brizola , que como governdor novamente foi orientado pelo marechal , à dis-tância, no episódio da Rede da Legalidade ( atuação cívica que custou a Lott uma prisão , a mando do seu sucessor no ministério , Odylio Denys ) terá a sua imagem de democracia e patriota corroborada .
Neto do marechal foi preso e torturado durante a ditadura
O epílogo é doloroso e visita porões da ditadura com um neteo universitário de Lott capturado e tor- turado pelo regime . O autor detalha a vendetta e relembra as injustiças históricas como a cassação de JK pelo presidente Castello Branco . Aproveita para dinamitar a lenda de que o marechal teria inva-dido uma unidade do Exécito , fardado , para matar a tiros um oficial de repressão . William publica depoimento de Lott afirmando que jamais interviu no episódio do neto , pois sabia o quanto compli-caria a situação . E também porque , como defensor intransigente das leis , achava que o jovem deveria responder pelos seus atos e pela opção de envolver-se com a luta armada . Amargou a dor em silêncio no seu sítio em Teresópolis .
Documento imperdível este livro vem juntar-se a " Os militares no poder " ,de Carlos Castello Branco, e à quadrilogia de Elio Gspari , como mais uma contribuição do jornalismo para o entendimento do mais conturbado período da pol´pitica brasileira .
Fonte - Jornal O GLOBO - HISTÓRIA - O soldado absoluto , de Wagner William - Ed Record Data - Sábado , 21 de janeiro de 2006 - PROSA & VERSO
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