quinta-feira, 17 de julho de 2025

Loft , o guardião da legalidade





Biografia  mostra a  importância  do  militar  num  período  conturbado 

Biografia política com força de reportagem , " O soldado absoluto " ,do jornalista  Wagner  William        começa a surpreender na escolha do biografado .Para um autor ainda na casa dos 30 ,nascido no ano      do AI - 5  e  das  grandes passeatas , perceber  a importância do  marechal  Henrique Loft no  período  mais tumultuado da história recente do  Brasil - entre a morte de Getúlio de Vargas e a ditadura militar    - e  resgatar do ostracismo este  baluarte da  democracia , é  um gol e tanto . 

Modernização  do exército entre as  contribuições 

A narrativa cmeça quando Lott , um positivista de fazer  inveja a  Augusto  Comte , conclui o Colégio Militar em primeiro lugar , o que se  repitiria nos inúmeros cursos ao longo  dos  50 anos  de carreira , parainveja e desfeto Humberto Castello Branco ,que sempre chegaria em seundo .Tendo o ministro da Guerra de  quatro presidentes civis como eixo , William traça o perfil  de uma geração de militares que participou da  vida brasileira por seis décadas , fez a campanha da  FEB e , mesmo dividida em facções ( nacionalistas x entreguistas  ) , contribuiu para  modernização  do  Exército . Nos cinco anos  e meio como ministro , Lott conferiu  dignidade  aos sargentos , criou  o  Instituto  Militar de Engenharia  e o    Comando Militar da Amazônia ,introduziu a  sociologia nos currículos e promoveu o primeiro coronel  negro ao generalato , além de alterar os  critérios  de  promoção  acabando  com as  " peixadas " . uma  geração de militares que,desafortunadamente ,concluiria sua trajetória no regime de exceção,acabando por manchar a imagem legalista que  Lott  sempre  buscou para a  instituição , não  só  como ministro , mascomo candidato a  presidente a  enfrentar  Jânio na problemática  eleição de 1960 , sobre a qual  o    livro esbanja  informações .

No momento em que Juscelino  Kubitchek é  redescoberto romanticamente , William revela os basti-    dores da antiga capital federal  e demonstra sem a atuação decidida de  Lott , JK não passaria de um    projeto ,abortado em sua pretensão de empossar-se na presidência pelas mesmas forças golpistas ,que    prevaleceram contra Jango , mas articuladas para tomar o poder já em 1954 , tendo à frente a UDN de    Carlos Lacerda . Na pesquisa , fica claro que não só  a  ditadura dos entreguistas , urdida na  Escola Superior de Guerra ( a  Sorbonne de Castello e Golbery ) foi adiada por dez anos , como o mesmo JK-  habilidoso ,mas atônito diante de tantas intrigas e rebeliões de militares desacostumados à democracia    - não teria o mandato de presidente sem a força moral e competência de seu ministro de Guerra . 

No episódio mais eletrizante narrado na obra , Lott organiza  uma resistência que inclui  disparos de canhões dos  fortes de  Copacabana contra o cruzador  Tamandaré  em  fuga , Carlos Lacerda  e até o  presidente Carlos Luz  ( todos  golpistas ) , enquanto , em terra , o Congresso tomava  providências      para garantir  a  vontade  das  urnas .

Na  perspectiva crítica da biografia , muitos militares famosos confirmarão  seus  lugares  no breu da    História , enquanto  caciques  políticos terão sua imagem apequenada , Goulart . desnudado em suas ambiguidades . Rigor de que não escapa o próprio  JK , acusado  de esvaziar a candidatura  de Lott quando ,um erro fatal ,preferiu como sucessor  um udenista demagoo , acreditando numa volta triun -    fante cinco depois ,mesmo alertado por um abandobnado Lott em campanha de que Jãnio não passava de um estelionatério público que levaria o  país ao caos . 

Por outro lado , Leonel Brizola , que como governdor novamente foi orientado pelo marechal , à dis-tância, no episódio da Rede da Legalidade ( atuação cívica que custou a Lott uma prisão , a mando  do    seu sucessor no ministério , Odylio Denys ) terá a sua imagem de  democracia e  patriota corroborada .

Neto  do marechal foi preso e torturado durante a ditadura 

O  epílogo é doloroso e visita porões da ditadura com um neteo  universitário de Lott capturado  e  tor-  turado pelo regime . O autor detalha a  vendetta e relembra as  injustiças históricas como a cassação de  JK pelo  presidente  Castello Branco . Aproveita para dinamitar a  lenda de que o marechal teria inva-dido uma unidade do Exécito , fardado , para matar a tiros um  oficial  de repressão . William publica depoimento de Lott afirmando que jamais interviu no episódio do neto , pois sabia o quanto compli-caria  a situação . E também  porque , como  defensor  intransigente  das  leis , achava  que  o  jovem deveria  responder  pelos  seus atos  e pela  opção de  envolver-se com a luta armada . Amargou  a dor  em silêncio no  seu  sítio em  Teresópolis . 

Documento imperdível este livro vem juntar-se a " Os  militares no poder " ,de Carlos Castello Branco,  e à  quadrilogia de  Elio Gspari , como mais uma  contribuição do  jornalismo para o  entendimento do  mais  conturbado  período  da  pol´pitica brasileira .

Fonte  - Jornal  O  GLOBO - HISTÓRIA   - O  soldado  absoluto , de  Wagner  William - Ed Record      Data  -  Sábado , 21  de  janeiro  de  2006  -       PROSA  & VERSO 

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