terça-feira, 30 de agosto de 2016

Jesse Owens - O homem que humilhou Hitler


Jesse Owens foi mais que um super atleta. Foi ele que, na Olimpíada de 36, em Berlim, na Alemanha, derrotou a teoria da supremacia ariana, respondendo ao desprezo de Hitler com quatro medalhas de ouro.

Owens era filho de um apanhador de algodão, do Alabama, e neto de escravos. As glórias olímpicas que conquistou, custaram a frutificar em sua vida profissional. Logo após Berlim, só encontrou trabalho como zelador de um parque infantil, conseguindo dinheiro extra com corridas contra cães, cavalos, carros, caminhões e motocicletas e excursões com o time de basquete dos Harlem Globetrotters.

Uma pessoa incapaz de guardar ressentimentos, assim se referiu às suas experiências após o triunfo de Berlim: “Quando voltei, depois de todas aquelas histórias de Hitler e seu desdém, não podia andar na frente do ônibus  de meus país natal. Não podia viver onde queria. Qual a diferença? “.

James Cleveland Owens participou de sua primeira corrida aos 13 anos. Ele já era um nome nacional em atletismo enquanto estudante do Colégio, em Cleveland, Ohio. Mas, ao contrário de esportistas menos famosos, isso não lhe garantiu uma bolsa de estudos para a faculdade. Pelo contrário, para frequentar a Universidade do Estado de Ohio, ele conseguiu um emprego como ascensorista noturno, que lhe pagava cem dólares mensais.

Em 1935, aos 23 anos, quebraria vários recordes, num feito maior que o conseguido na Olimpíada, um ano depois. A ocasião, 25 de maio  , foi o encontro anual dos “ dez mais “ em atletismo, uma competição dos melhores esportistas das Universidades americanas. Embora Jesse Owens fosse o favorito, ele estava impossibilitado de mover-se, após ter machucado as costas numa brincadeira com um amigo, quando rolaram por uma escada, pouco tempo antes. A dor era tanta que ele só conseguiu vestir seu uniforme com a ajuda de outros atletas  e, com medo de piorar sua condição, nem mesmo participou do aquecimento com sua equipe.

Mas Owens recusou-se a aceitar os conselhos de seu técnico para desistir. Entretanto, em apenas 45 minutos, ele quebrou, sucessivamente, os recordes para os 100 metros rasos, salto em distância  , 200 metros rasos e 200 metros com barreiras. Ao qual teria comentado um dirigente americano: “ Ele é uma maravilha que plana  , como se tivesse asas".

Apesar do movimento no país para que os Estados Unidos boicotassem a Olimpíada  de Berlim,   em protesto pela política racista de nazismo, os americanos enviaram seu time.  Só na equipe de atletismo havia 66 deles, sendo dez negros. Eles ganharam  seis das onze medalhas de ouro individuais conquistadas pelos americanos. Owens sozinho ganhou metade delas nos 100 metros, nos 200 metros e no salto em distância. Sua quarta medalha foi no revezamento 4 x 100 metros. Ironicamente, sob pressão alemã, substituindo um corredor judeu.

Quando morreu  Jesse Owens era muito famoso e, falando geralmente para auditórios brancos, ele percorria o país, fazendo várias conferências semanais, fumando um maço de cigarro por dia  e faturando cerca de dez mil dólares por mês. Morreu em 1980, de câncer no pulmão.

Fonte   -    Revista  ÈBANO    -   ANO  IV      N°  24 
JULHO /AGOSTO /84          pág  84 
             


UM  SUPER – HOMEM  NEGRO

Ao chegar à Alemanha  , Jesse Owens carregava o peso de enfrentar a máquina nazista de propaganda  , e viveu , na prova de salto em distância, um momento inesquecível na história do esporte. No dia 25 de maio de 1936, Owens estava na pista de se aquecendo quando notou um alemão alto, de olhos azuis, observando–o com atenção. Alguma coisa não deu certo no primeiro pulo de classificação, e Owens não conseguiu alcançar a marca. Neste instante, o alemão se aproximou, e estendeu-lhe a mão, falando em inglês. “ O que há com você? “, perguntou, “ você alcança esta marca pulando de olhos fechados... “ Era Luz Long, o representante ariano na prova . Conversaram alguns instantes, e Long propôs  que Owens fizesse uma marca na pista para memorizar bem a distância que necessitava para sua última tentativa de classificação  . Deu certo.

Na final  , à tarde  , era justamente Long seu adversário. Jesse abriu a série quebrando logo o recorde olímpico. Long devolveu pulando a mesma distância que o americano. Owens, estimulado pelo desafio  , pulou 8,04 m  , quebrando seu próprio recorde há pouco conquistado. Long, chegou bem perto, mas já mostrava que não conseguiria ir mais longe. Owens correu então para a glória , saltando incansáveis 8,06 m.

Diante do silêncio da platéia, o primeiro homem a abraçar Owens foi justamente Long, emocionado pela maravilhosa perfomance daquele negro que jogava por terra todas as teorias nazistas. Anos mais tarde, Owens declararia que “ podem derreter todas as medalhas e taças que conquistei  , e elas todas juntas não terão o brilho de 24 quilates do gesto de amizade que ganhei de Luz Long naquele momento“. Long morreu no front oriental  , durante a guerra , e Owens continuou se correspondendo com sua família durante muitos anos.

Há uma lenda que afirma ter sido Owens esnobado Hitler, que teria se recusado a cumprimentá-lo. Na verdade, o führer nem estava no estádio. O incidente em questão ocorreu no dia anterior, quando outro grande atleta negro, Cornelius Johnson, venceu o salto em altura e Hitler se retirou antes da premiação. Se houve alguém que esnobou Owens  , foi o próprio presidente americano Franklin Roosevelt, que não o convidou para ir à Casa Branca e se quer lhe mandou uma carta de agradecimentos.  Owens desfilou em carro aberto em Nova Iorque  e Cleveland, saudado por milhares de pessoas, e tornou-se em uma das maiores lendas do esporte mundial.

“  OWENS   E  LONG  SALTARAM  OS  PRECONCEITOS  EM  NOME  DA  AMIZADE  “

A   Ética  Nazista  -  O jornal nazista Der Angiff  , criado por Goebbels  , publicava todos os
Dias a relação das provas e excluía  , sem a menor preocupação  com a ética  , todas as 
Medalhas  conquistadas por atletas  negros.

A fortíssima equipe alemã conseguiu nada menos que as 33 medalhas de ouro em 10 esportes  , sendo que no hipismo ficaram com todas. Mas a supremacia ariana desejada por Goebbels  , o Ministro da Informação  , não se tornou realidade, pelo empenho decisivo dos atletas de outras nações, e pelo brilho particular do negro americano Jesse Owens. Aliás  , só os americanos fizeram frente ao poderio alemão, com 12 medalhas de ouro nas provas de atletismo, graças , principalmente aos 10 atletas negros  - “ ajudantes pretos“  , como foram classificados pela imprensa nazista -, que conquistaram seis medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze.

Owens conseguiu o ouro nos 100 m  , 200 m , salto em distância e os 4x100 m  , reinando absoluto nas pistas alemãs. Nos 100 m , venceu as provas classificatórias , cravando 10 s 3, 10s 2 , 10s 4 , e 10s 3. Repetiu a atuação nos 200 m  , com 21s1 , 21s1  , 21s3  e 20s7  . Owens foi o primeiro a correr nos 4x100 m , já deixou a equipe americana em vantagem para chegar ao ouro. E no salto em distância protagonizou um sensacional duelo  com o alemão Luz Long, disputa que se tornou mais emocionante pela amizade que se estabeleceu entre os dois atletas.

Em uma olimpíada que havia sido montada para mostrar a superioridade da raça ariana, nada melhor do que a verdade dos índices: há atletas bons, excepcionais, ou únicos, e eles se superam na busca da perfeição. Ao contrário do que apregoavam os nazistas, este talento não passa pela cor, nacionalidade  ou convicção religiosa, mas apenas pelo esforço individual de cada um. E isto já não é pouco.
  
Fonte   - Revista  BANERJ      PÁG  45  
CAPÍTULO  11         -     BERLIM   1936

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