terça-feira, 2 de maio de 2017

O mistério dos índios






Sociedade
POVOAMENTO   DO  NOVO  MUNDO

Tribos  amazônicas  e  nativos  da Oceania  compartilham  genes  de  população  “ fantasma “
O caminho paras  as  Américas  -    ESTUDOS  GENÉTICOS  TRAÇAM  AS  ORIGENS  E  AS ROTAS DE  MIGRAÇÃO  DAS  POPULAÇÕES  QUE  OCUPARAM  O  CONTINENTE 

Há cerca de 20 mil anos, as Américas eram a última fronteira para a ocupação do planeta pelos humanos modernos, ( Homo sapiens ). Então, uma ponte de gelo e terra uniu o Nordeste da Ásia ao Alasca, na região do atual Estreito de Bering, criando caminho que permitiu aos primeiros colonizadores chegarem ao nosso continente. A cronologia desta migração e  a identidade destas populações pioneiras, no entanto, ainda são objeto de muitos debates e dúvidas entre os cientistas. Nos últimos anos, diversos estudos morfológicos, genéticos, arqueológicos e lingüísticos reforçam a tese de que este processo se deu em três grandes ondas, encontrando ligações entre os índios nativos americanos com grupos que habitavam e ainda habitam áreas que hoje compreendem a Sibéria, a Mongólia e o Leste da Ásia, no que ficou conhecido entre os especialistas como o “ modelo paleo americano “.
Mas duas novas pesquisas divulgadas em adiantamento ontem pelas prestigiadas revistas científicas “ Nature “ e Science   vêm complicar ainda mais este cenário do povoamento das Américas. Embora o estudo na “ Science “ corrobore em grande parte o chamado “modelo paleo americano“, ele fornece uma cronologia mais precisa e indica uma importância maior da corrente migratória inicial dos siberianos na formação dos povos indígenas das Américas. Já o estudo na “ Nature , que contou com a participação de cientistas brasileiros, porém, identificou pela primeira vez uma contribuição genética significativa de uma população “fantasma“, desconhecida, mas relacionada aos atuais aborígenes australianos e nativos da Nova Guiné e das Ilhas de Andamã, ou seja, entre o sudeste Asiático e a Oceania, na formação de pelo menos três tribos brasileiras: suruí, e karitiana, da Amazônia  e de língua tupi  ; e xavante  , do Cerrado e de língua jê. Para piorar ainda mais a situação, esta contribuição parece estar misteriosa e praticamente ausente nos demais grupos nativos americanos analisados até agora tanto no Norte quanto no Centro e no Sul do continente.
- Realmente não esperávamos ver estes resultados – conta Tábita Hünemeier, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP e uma das coautoras do estudo publicado da Nature “. – Esta contribuição dos melanésios (nome dado a um grande conjunto de povos da atual Oceania) nunca tinha sido aceita nos modelos sobre o povoamento das Américas e chegamos a duvidar do que estávamos vendo, mas, conforme fomos refinando nossas análises genéticas, os sinais ficaram cada vez mais fortes. Uma população não pode simplesmente desaparecer sem deixar uma marca genética nas subseqüentes, e nosso estudo é o primeiro a mostrar isso.

CONTRIBUIÇÃO  DE  UMA  POPULAÇÃO  DESCONHECIDA 

Segundo os pesquisadores, suruís , karitianas e xavantes apresentam ao menos 2% de seu genoma vindos desta misteriosa e já extinta população de origem melanésia, provisoriamente batizada de “ ypykuéra “  , palavra tupi para “ ancestral ‘. Esta proporção indica que a contribuição é muito antiga e que estes migrantes provavelmente chegaram as Américas, se não juntos, pouco antes ou depois dos “ primeiros americanos “ vindos da Sibéria. Eles teriam se mesclado durante o longo isolamento na chamada Beríngia, as terras em torno do atual Estreito de Bering, até que o derretimento das geleiras que tomavam o Norte do Canadá permitiu que se deslocassem cada vez mais para o sul, chegando então à América do Sul e ao Brasil. Além disso, o fato de a sua contribuição genética estar presente tanto em povos de idioma tupi quanto jê, troncos lingüísticos que se separam há mais de seis mil anos, sugere que os ypykuéras ou seus descendentes miscigenados já estavam aqui antes disso.
- Montamos este cenário em cima de um resultado que outros pesquisadores não conseguiam explicar dentro do que era conhecido sobre o povoamento das Américas  - explica Maria Cátira Bortolini, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul  ( UFRS ) e também co autora do estudo divulgado na “ Nature “ . – Sabíamos que os nativos americanos tinham esta herança siberiana clássica, mas mostramos que houve um estoque genético diferente, que também teria contribuído para a formação destes povos, de origem da Melanésia, que veio do Sul da Ásia e chegou à Beríngia talvez  junto com ao siberianos. Não estamos dizendo que houve uma conexão direta Austrália – América do Sul, mas que as populações que aqui chegaram eram muito mais diversas tanto morfologicamente quanto geneticamente do que se pensava. Minha é que expectativa é  que estes povos eram uma mistura dos siberianos / beringianos clássicos com os ypykuéras, numa contribuição de que pode ter sido pequena, mas importante nas populações de hoje da Amazônia e do Cerrado.
Agora, o grande desafio dos cientistas é descobrir mais detalhes sobre quem seriam os misteriosos ypykuéras, já que, levando em conta o cenário de miscigenação com os “primeiros americanos siberianos na Beríngia, a contribuição genética total desta mistura na formação dos povos indígenas brasileiros pode chegar à 85%. E já existem forte suspeitos: os parentes de Luzia, um dos mais antigos fósseis de humanos modernos já encontrados nas Américas. Datados em cerca   11 mil anos, os restos de Luzia foram achados na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1975. Desde então, diversos outros fósseis de antigos habitantes da área foram desencavados, muitos dos quais com traços morfológicos considerados por alguns cientistas similares aos hoje vistos nos aborígenes australianos e em outras populações melanésias. A esperança é que futuras análises genéticas destes restos, assim como de outros povos indígenas brasileiros  e da América do Sul atuais e antigos, reforcem a tese de que o povoamento de nosso continente recebeu uma contribuição significativa dos ypykuéras.
- Se eu fosse indicar um ancestral comum para os povos indígenas brasileiros  , seria na população de Luzia que eu pensaria em primeiro lugar – aposta Tábita. – Ela é melhor candidata para esclarecer quem foi essa misteriosa população ypykuéras.

Homem  chegou  ao  continente  em  uma    onda  migratória,  dia  estudo
Travessia  entre  a  Sibéria  e  o  Alasca ocorreu   no  máximo  23  mil  anos 

Uma  pesquisa  publicada esta semana pela revista “ Science apresenta uma nova descrição da chegada do homem às Américas. Usando dados de genomas antigos e modernos, uma equipe internacional de cientistas concluiu que os ancestrais dos americanos nativos, incluindo ameríndios  , chegaram ao Novo Mundo  a partir da Sibéria  em apenas uma onda migratória, no máximo 23 mil anos atrás.
A divisão ancestral em dois ramos principais ocorreu há 13 mil anos, coincidindo com o derretimento das geleiras e a abertura das rotas para o interior da América do Norte. Daí surgiram dois grupos: os dos ameríndios e outro nativo do Alasca. Pesquisas anteriores afirmavam que a travessia de ambos os povos ocorreu separadamente.
- Nosso estudo apresenta o quadro mais abrangente da pré-História genética das Américas – conta Maanasa Raghavan, bióloga molecular da Universidade de Copenhague, integrante de 101 pesquisadores envolvidos no estudo. – Mostramos que todos os nativos americanos, incluindo os subgrupos dos ameríndios e os ancestrais da população moderna do Alasca, vieram em uma mesma onda migratória para as Américas.

ISOLAMENTO  NA  BERÍNGIA

Segundo Maanasa, este movimento foi distinto das ondas seguintes, que deram origem aos paleoesquimós e às populações inuits, que se espalharam pelo Ártico.
Considerando que as primeiras evidências da presença de seres humanos nas Américas datam de cerca de 15 mil anos atrás  , os primeiros antepassados podem ter permanecido na Beríngia, a ponte terrestre que ligava o Alasca e a Sibéria, por cerca de oito mil anos, antes finalmente de chegarem ao Novo Mundo. Trata-se de um período mito menor do que as dezenas de milhares de anos de isolamento descritas em pesquisas anteriores  .
A diversificação das populações modernas ocorreu apenas depois que chegaram às Américas.
Os pesquisadores fizeram o seqüenciamento do genoma de 31 pessoas vivas  - nativos americanos  , siberianos e pessoas que vivem próximas ao Oceano Pacífico e de 23 indivíduos que viveram no Sul e no Norte do continente entre 200 e seis mil anos atrás.
Professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, Yun Song destaca que novas amostras de material genético podem determinar o momento exato da divisão entre as populações no continente.
- Há alguma incerteza sobre as datas da migração e a diferenciação entre os povos ameríndios do Norte e do Sul das Américas. No entanto, à medida que outros genomas antigos são seqüenciados, seremos mais capazes de obter datas precisas sobre os momentos da migração – explica.

MISTURA  DE  GENES

Os pesquisadores se surpreenderam com as amostras estudadas dos nativos americanos.  Nelas havia uma pequena mistura de genes encontrados em povos da Ásia Oriental, de caçadores–coletores do Sudeste Asiático e de populações da região da Melanésia, no Oceano Pacífico, em localidades dos atuais Papua-Nova Guiné e Ilhas Salomão.
- As populações do Novo Mundo não estavam completamente isoladas do Velho Mundo após sua migração inicial – destaca Eske Willerslev, pesquisador da Universidade de Copenhague. Não podemos dizer exatamente como e quando esse fluxo genético aconteceu  , mas uma possibilidade que consideramos é a de que veio por povos que vivam na costa do Alasca.

Fonte       -  Jornal     O   GLOBO      pág 25
22/07/2015        SOCIEDADE


AMÉRICA
Índios  perderam  a   guerra  bacteriológica 

Vinda  da Europa, a  varíola abriu caminho para a conquista do México e do Peru e acabou se tornando a doença que causou mias mortes entre os ameríndios
Mas na guerra bacteriológica travada durante a conquista os europeus receberam o “troco“: a sífilis venérea foi a maior vingança que os americanos injetaram nos conquistadores.
Transmitidos sexualmente, seus surtos geraram na Europa um pânico semelhante ao que a Aids suscita hoje em dia.
  
Especial  para  a  Folha 
Descobrimento da América, no quadro da expansão marítima européia, deu lugar à unificação microbiana do mundo. Na troca troca de vírus, bactérias e bacilos com a Europa, África e Ásia, os nativos da América levaram a pior.
Dentre as doenças que maior mortandade causaram nos ameríndios estão as “ bexigas “, isto é, a varíola, a varicela e a rubéola  ( vindas da Europa )  , a febre amarela ( da África ) e os tipos mais letais de malária  ( da Europa  mediterrânica e da África ). O cólera, o sarampo, a difteria, o tracoma, o tifo, a peste bubônica, a escarlatina, a desinteria amebiana, gripes, entre outros males, também foram aqui introduzidos pelos europeus. Já a América estava infectada pela hepatite, certos tipos de tuberculose não associados à doença pulmonar, encefalite e pólio. Mas o melhor “ troco” patogênico que os ameríndios deram nos europeus foi sífilis venérea, verdadeira vingança que os vencidos da América injetaram no sangue dos conquistadores. Nos portos europeus onde desembarcavam os conquistadores, a sífilis, sexualmente transmitida, se propagava gerando um pânico semelhante ao que a Aids suscita hoje entre nós  .
Assim no século 16, a representação da morte passou a ser associada ao erotismo nas pinturas dos retábulos das igrejas: o tradicional esqueleto com uma foice foi substituído por uma jovem mulher, bela, diáfana encarregada de levar os homens para o mundo.
Porém, as mortandades causadas na América pelos micróbios introduzidos pelos descobridores foram maiores que os estragos causados na Europa pela sífilis. Eclodindo a partir de 1519 nas Antilhas, a varíola começava na América a carreira que lhe daria o título de maior assassina da humanidade. No continente, a varíola abriu caminho para os espanhóis conquistarem Tenochtiplan ( novembro de 1519 ), atual cidade do México, e em seguida alastrou-se no Peru ( 1521 ), derrubando dezenas de milhares de indígenas que poderiam ter enfrentado os espanhóis.  Neste sentido, as vitórias de Cortez sobre os Astecas e de Pizarro sobre os Incas devem ser reconsideradas: não se trata de batalhas onde a cavalaria e a pólvora européia venceram as flechas e as lanças indígenas, mas de uma guerra bacteriológica que os ameríndios não tinham chance de ganhar.
No Brasil , a varíola atinge a Bahia em 1563, tirando a vida de três quartos dos índios. Em 1565 o mal incendeia aldeias de Pernambuco até São Paulo. Mais tarde ricocheteiam no Brasil surtos anuais de varíola que eclodem em Portugal entre 1597 e 1616. Traços do trauma provocado por essas doenças parecem ter-se cristalizado na mitologia indígena. Quatro entidades maléficas se destacavam na religião tupi no final do Quinhentos: Taguaigba ( “Fantasma Ruim “ ), Macachera  ou Mocácher  ( “ O que faz a gente se perder “ ), Anhanga ( “ O que encesta a gente “ ) e Curupira ( “ O coberto de pústulas “ ). É razoável supor que o curupira tenha surgido no imaginário tupi após o choque microbiano das primeiras décadas da descoberta, como representação simbólica das mortandades provocadas pelas “bexigas“ e outras doenças pustulentas até então desconhecidas pelos índios.

Fonte     -   Jornal     Folha de São Paulo - Caderno Especial  - 7
12/10/1991 - América



CULTURA                   
NO  TEMPO  DAS  DILIGÊNCIAS

A  realidade do Velho Oeste foi feita  de trabalho árduo e banhos  de  sangue,  mas a lenda fala de pradarias, atos de bravura e heroísmo, um mito que até hoje molda o caráter dos Estados Unidos 
 
O Velho Oeste é um dos mitos criados neste mundo. Nele, a elite governante dá à classe trabalhadora, suja  e pobre, uma oportunidade econômica sem precedentes na história  - a oferta de território ilimitado, com todo seu potencial agrícola e comercial, livre para qualquer um disposto a lutar por um pedaço de terra.
A história dessa luta é a história de como uma nação recém-nascida decidiu voltar as costas para os costumes e hierarquias da Europa e criar identidade própria na fronteira, uma árida terra-de-ninguém muito além da civilização. É fácil ter uma visão romântica  - e ampliada por Hollywood  - do Oeste -, mas é difícil acreditar na alegre selvageria que moveu os pioneiros genocidas ao Pacífico.
De Jefferson em diante a política americana foi simples: conquistar território e povoá-lo com americanos, Tecumseh – A Life ( Henry Holt & Company  , 448 páginas gs. US$ 15,95 ), um livro soberbo e sóbrio de John Sugden, conta a história da primeira baixa notável nesse processo, a do chefe shawnee que tentou resistir à expansão americana criando confederação de peles vermelhas por volta de 1800.

Promessas e injustiças 
 
Passados 50 anos, o presidente Rutherford Hayes admitiria : “ Muitas, se não a maioria de nossas guerras contra os índios, tiveram origem em promessas não - cumpridas e atos de injustiça de nossa parte. Ainda assim, o massacre prosseguiu. É provavelmente  por isso que o Oeste da mitologia popular parece feito de pouco mais que força atávica. Um período pouco maior que um ano é testemunha do assassinato de Billy the Kid, o tiroteio de Ok Corral e a morte de Jesse James

Banhado em sangue, o pai foi recuperando os sentidos lentamente. Por volta de 1890, ferrovias, telégrafos e a lei tinham se estabelecido do Atlântico ao Pacífico. O búfalo e as tribos indígenas cuja sobrevivência dependia dele tinham sido exterminados. estranhamente, esses breves dias sem lei, mas repletos de ousadia, não terminaram espiritualmente com um trauma histórico como o massacre de Wounded Knee  , em 1890  , mas com a evolução dos shows do Buffalo Bill s Wild Wst. Aqui se faz a transição da história para o mito, ou melhor, para o show business.

Como observa Thomas Berger, em seu romance A Volta do Grande  Homem, as exigências do mito eram tentadoras demais para que os oportunistas amantes da violência que construíram o Oeste pudessem resistir a elas. Destes, o mais bem-sucedido foi um ex – batedor da União chamado Buffalo Bill Cody, um romanceador compulsivo, cujas aventuras na planície logo foram transformadas em romances baratos. Mais tarde, foram encenadas nos palcos de Nova York e num show que correu o mundo. Seus espetáculos deram aos americanos do Leste um cheirinho de pólvora e bravura. Cody inventou o western.

O western sobrevive como uma visão de um passado que nunca existiu, mas que devia ter sido assim. Os filmes não conseguem  como prosa pode e faz, descrever o trabalho braçal incessante, a monotonia da vida em isolamento e pobreza, sob o céu da fronteira. A pureza e o puritanismo sempre foram parte do Oeste: lá os corpos se tornam mais rijos e as mente, mais simples.

Trabalho  braçal

Os romances continuam a ser assombrados por essa realidade. The Cowboy Way, do jornalista David Mc Cumber, descreve o ano terrível que passou como trabalhador braçal  num rancho em Montana. “ Enquanto trabalhávamos, pensei em quantas vezes essa cena se desenrolou no Oeste ao longo dos últimos 150 anos, homens tentando avaliar o país, moldá-lo, adaptá-lo a seus propósitos“, escreve.

Por conta do mito do Velho Oeste, o homem ideal americano não é o tipo brilhante e muito menos poeta, mas é decente, apesar de pouco articulado e pouco sofisticado. Isso reforça a visão de que a ficção americana nunca deve ser ficcional demais, nem internalisada demais, daí a forma quase jornalística de centenas de romances. O pai da prosa americana não é Henry James  , mas Mark Twain. Todos os livros sobre o Oeste retornam ao passado, à memória de uma ordem já desaparecida que ainda tem o poder de criticar o presente.

Quando Teddy Roosevelt  , aos 42 anos  , chegou à Casa Branca  , em 1901, o Oeste já era peça de museu  . A história de como Roosevelt  , uma criança franzina, se transformou , com determinação e exercícios, no musculoso bigodudo de pontaria  - o ideal do Oeste  - foi contada milhares de vezes. Nenhum presidente desde Andrew Jackson tinha levado o espírito do Oeste de forma tão forte para a Casa Branca e nenhum fez tanto para canonizar os valores da fronteira: Roosevelt era visto ensinando seus filhos a cavalgar caçando todo tipo de animal.

O Oeste que ele idolatrava, porém era apenas uma lembrança. a sensação de arrependimento que paira sobre a sua boa parte da moderna história americana e o reconhecimento do que se perdeu em termos de caráter nacional quando a fronteira foi alcançada e os feitos heróicos e extraordinários caíram no lugar–comum da luta do dia-a-dia. A tragédia americana é o fato ideal de Thoreau  - o distanciamento da Europa e a criação de uma identidade própria  - ter sido alcançado. Há uma tristeza nessas paragens onde não há mais floresta nem animais selvagens,  onde a história não pode se repetir e as oportunidades infinitas não existam mais.

Na cena final de “ A Conquista do Oeste a imagem de uma diligência que percorre Monument  Valey se dissolve numa transição para uma montagem de paisagem urbanas  , aço e concreto. O lirismo do Velho Oeste desaparece sob o asfalto e a nova América vibra de tecnologia.  Como diria Calvin Coolidge, “ o negócio da América são os negócios “  . Na verdade, sempre foi assim.

Fonte     -   Jornal    - O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO    
CULTURA    -     Caderno  2        Tradução  - de  Ruth  Helena   Bellinghini
Domingo  , 12/09/1999    - n°  985          ANO  19   





Para  refletir 
A  fala  de  um  indígena

Para conhecer melhor este assunto, vamos ler um documento que mostra o modo de pensar de um indígena da segunda metade do século XIX. O trecho que você vai ler foi extraído de uma carta deixada pelo chefe indígena Seattle, endereçada ao presidente dos Estado Unidos como resposta à proposta do governo americano de comprar as terras indígenas:

O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem... ( ... ) Sou indígena e não compreendo outro modo. Tenho visto milhares de búfalos apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou indígena e não compreendo como o trem possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos. Que será do homem sem os animais? Se todos os animais desaparecessem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo que aconteça aos animais pode afetar os homens. Tudo está relacionado.  ( ... ) O  homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia,  faz a si próprio.

Fonte     -   NÓS  E  OS OUTROS        Livro  -     Capítulo 3      pág  49
(  PINSKY História das Américas através dos textos  p .39-40 . )

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