Sociedade
POVOAMENTO DO NOVO
MUNDO
Tribos
amazônicas e nativos
da Oceania compartilham genes
de população “ fantasma “
O caminho paras as Américas
- ESTUDOS GENÉTICOS
TRAÇAM AS ORIGENS
E AS ROTAS DE MIGRAÇÃO DAS
POPULAÇÕES QUE OCUPARAM
O CONTINENTE
Há cerca de 20 mil anos, as Américas eram a última fronteira para a ocupação do planeta pelos
humanos modernos, ( Homo sapiens ). Então, uma ponte de gelo e terra uniu o
Nordeste da Ásia ao Alasca, na região
do atual Estreito de Bering, criando
caminho que permitiu aos primeiros colonizadores chegarem ao nosso
continente. A cronologia desta migração
e a identidade destas populações
pioneiras, no entanto, ainda são objeto de muitos debates e
dúvidas entre os cientistas. Nos
últimos anos, diversos estudos
morfológicos, genéticos, arqueológicos e lingüísticos reforçam a
tese de que este processo se deu em três grandes ondas, encontrando ligações entre os índios
nativos americanos com grupos que habitavam e ainda habitam áreas que hoje
compreendem a Sibéria, a Mongólia e o Leste
da Ásia, no que ficou conhecido entre
os especialistas como o “ modelo paleo americano “.
Mas duas novas pesquisas divulgadas em adiantamento ontem
pelas prestigiadas revistas científicas “ Nature “ e Science “ vêm complicar ainda mais este cenário do
povoamento das Américas. Embora o
estudo na “ Science “ corrobore em grande
parte o chamado “modelo paleo americano“, ele fornece uma cronologia mais
precisa e indica uma importância maior da corrente migratória inicial dos
siberianos na formação dos povos indígenas das Américas. Já o estudo na “ Nature “, que contou com a participação de cientistas
brasileiros, porém, identificou pela primeira vez uma
contribuição genética significativa de uma população “fantasma“, desconhecida, mas relacionada aos atuais aborígenes
australianos e nativos da Nova Guiné e das Ilhas de Andamã, ou seja, entre o sudeste Asiático e a Oceania, na formação de pelo menos três tribos brasileiras: suruí, e karitiana, da Amazônia
e de língua tupi ; e xavante , do Cerrado e de língua jê. Para piorar ainda mais a situação, esta
contribuição parece estar misteriosa e praticamente ausente nos demais grupos
nativos americanos analisados até agora tanto no Norte quanto no Centro e no
Sul do continente.
- Realmente não esperávamos ver estes resultados – conta
Tábita Hünemeier, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
da USP e uma das coautoras do estudo publicado da “ Nature “. – Esta
contribuição dos melanésios (nome dado a um grande conjunto de povos da atual
Oceania) nunca tinha sido aceita nos modelos sobre o povoamento das Américas e
chegamos a duvidar do que estávamos vendo, mas, conforme fomos refinando
nossas análises genéticas, os sinais
ficaram cada vez mais fortes. Uma
população não pode simplesmente desaparecer sem deixar uma marca genética nas
subseqüentes, e nosso estudo é o
primeiro a mostrar isso.
CONTRIBUIÇÃO DE UMA
POPULAÇÃO DESCONHECIDA
Segundo os pesquisadores, suruís , karitianas e xavantes apresentam ao menos 2% de seu genoma
vindos desta misteriosa e já extinta população de origem melanésia, provisoriamente batizada de “ ypykuéra
“ , palavra tupi para “ ancestral ‘.
Esta proporção indica que a contribuição é muito antiga e que estes migrantes
provavelmente chegaram as Américas, se
não juntos, pouco antes ou depois dos “
primeiros americanos “ vindos da Sibéria. Eles teriam se mesclado durante o longo isolamento na chamada
Beríngia, as terras em torno do atual
Estreito de Bering, até que o
derretimento das geleiras que tomavam o Norte do Canadá permitiu que se
deslocassem cada vez mais para o sul,
chegando então à América do Sul e ao Brasil. Além disso, o fato de a sua
contribuição genética estar presente tanto em povos de idioma tupi quanto
jê, troncos lingüísticos que se separam
há mais de seis mil anos, sugere que os
ypykuéras ou seus descendentes miscigenados já estavam aqui antes disso.
- Montamos este cenário em cima de um resultado que outros
pesquisadores não conseguiam explicar dentro do que era conhecido sobre o povoamento das Américas - explica Maria Cátira Bortolini, professora da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul ( UFRS ) e também co
autora do estudo divulgado na “ Nature “ . – Sabíamos que os nativos americanos
tinham esta herança siberiana clássica,
mas mostramos que houve um estoque genético diferente, que também teria contribuído para a
formação destes povos, de origem da
Melanésia, que veio do Sul da Ásia e
chegou à Beríngia talvez junto com ao
siberianos. Não estamos dizendo que
houve uma conexão direta Austrália – América do Sul, mas que as populações que aqui chegaram
eram muito mais diversas tanto morfologicamente quanto geneticamente do que se
pensava. Minha é que expectativa é que estes povos eram uma mistura dos
siberianos / beringianos clássicos com os ypykuéras, numa contribuição de que pode ter sido
pequena, mas importante nas populações
de hoje da Amazônia e do Cerrado.
Agora, o grande
desafio dos cientistas é descobrir mais detalhes sobre quem seriam os
misteriosos ypykuéras, já que, levando
em conta o cenário de miscigenação com os “primeiros americanos “ siberianos
na Beríngia, a contribuição genética
total desta mistura na formação dos povos indígenas brasileiros pode chegar à
85%. E já existem forte suspeitos: os parentes de Luzia, um dos mais antigos fósseis de humanos
modernos já encontrados nas Américas.
Datados em cerca 11 mil anos, os restos de Luzia foram achados na região
de Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1975. Desde então, diversos outros
fósseis de antigos habitantes da área foram desencavados, muitos dos quais com
traços morfológicos considerados por alguns cientistas similares aos hoje vistos nos aborígenes australianos e em outras populações
melanésias. A esperança é que futuras
análises genéticas destes restos, assim
como de outros povos indígenas brasileiros
e da América do Sul atuais e antigos, reforcem a tese de que o povoamento de nosso continente recebeu uma
contribuição significativa dos ypykuéras.
- Se eu fosse indicar um ancestral comum para os povos
indígenas brasileiros , seria na
população de Luzia que eu pensaria em primeiro lugar – aposta Tábita. – Ela é melhor candidata para esclarecer
quem foi essa misteriosa população ypykuéras.
Homem chegou ao
continente em uma
só onda migratória, dia estudo
Travessia entre a
Sibéria e o
Alasca ocorreu há no
máximo 23 mil
anos
Uma pesquisa publicada esta semana pela revista “ Science
“ apresenta uma nova descrição da chegada do homem às Américas. Usando dados de genomas antigos e
modernos, uma equipe internacional de
cientistas concluiu que os ancestrais dos americanos nativos, incluindo ameríndios , chegaram ao Novo Mundo a partir da Sibéria em apenas uma onda migratória, no máximo 23 mil anos atrás.
A divisão ancestral em dois ramos principais ocorreu há 13
mil anos, coincidindo com o
derretimento das geleiras e a abertura das rotas para o interior da América do Norte. Daí surgiram dois grupos: os dos ameríndios e outro nativo do Alasca. Pesquisas anteriores afirmavam que a
travessia de ambos os povos ocorreu separadamente.
- Nosso estudo apresenta o quadro mais abrangente da
pré-História genética das Américas – conta Maanasa Raghavan, bióloga molecular
da Universidade de Copenhague,
integrante de 101 pesquisadores envolvidos no estudo. – Mostramos que todos os nativos
americanos, incluindo os subgrupos dos
ameríndios e os ancestrais da população moderna do Alasca, vieram em uma mesma
onda migratória para as Américas.
ISOLAMENTO NA BERÍNGIA
Segundo Maanasa,
este movimento foi distinto das ondas seguintes, que deram origem aos paleoesquimós e às populações inuits, que se espalharam pelo Ártico.
Considerando que as primeiras evidências da presença de
seres humanos nas Américas datam de cerca de 15 mil anos atrás , os primeiros antepassados podem ter
permanecido na Beríngia, a ponte
terrestre que ligava o Alasca e a Sibéria, por cerca de oito mil anos,
antes finalmente de chegarem ao Novo Mundo. Trata-se de um período mito menor do que as dezenas de milhares de anos
de isolamento descritas em pesquisas anteriores
.
A diversificação das populações modernas ocorreu apenas
depois que chegaram às Américas.
Os pesquisadores fizeram o seqüenciamento do genoma de 31
pessoas vivas - nativos americanos , siberianos e pessoas que vivem próximas ao
Oceano Pacífico – e de 23 indivíduos que viveram no Sul e no Norte do
continente entre 200 e seis mil anos atrás.
Professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, Yun
Song destaca que novas amostras de material genético podem determinar o momento
exato da divisão entre as populações no continente.
- Há alguma incerteza sobre as datas da migração e a
diferenciação entre os povos ameríndios do Norte e do Sul das Américas. No entanto, à medida que outros genomas
antigos são seqüenciados, seremos mais
capazes de obter datas precisas sobre os momentos da migração – explica.
MISTURA DE GENES
Os pesquisadores se surpreenderam com as amostras estudadas
dos nativos americanos. Nelas havia uma pequena mistura de genes
encontrados em povos da Ásia Oriental,
de caçadores–coletores do Sudeste Asiático e de populações da região da
Melanésia, no Oceano Pacífico, em localidades dos atuais Papua-Nova Guiné
e Ilhas Salomão.
- As populações do Novo Mundo não estavam completamente
isoladas do Velho Mundo após sua migração inicial – destaca Eske Willerslev,
pesquisador da Universidade de Copenhague. – Não podemos dizer exatamente como e quando esse fluxo genético
aconteceu , mas uma possibilidade que
consideramos é a de que veio por povos que vivam na costa do Alasca.
Fonte - Jornal
O GLOBO pág 25
22/07/2015
SOCIEDADE
AMÉRICA
Índios perderam a
guerra bacteriológica
Vinda da Europa, a
varíola abriu caminho para a conquista do México e do Peru e acabou se tornando a doença que causou mias mortes entre os
ameríndios.
Mas na guerra bacteriológica travada durante a conquista os
europeus receberam o “troco“: a sífilis venérea foi a maior vingança que os
americanos injetaram nos conquistadores.
Transmitidos sexualmente, seus surtos geraram na Europa um pânico semelhante ao que a Aids
suscita hoje em dia.
Especial para
a Folha
Descobrimento da América, no quadro da expansão marítima européia, deu lugar à unificação microbiana do
mundo. Na troca troca de vírus,
bactérias e bacilos com a Europa,
África e Ásia, os nativos da América
levaram a pior.
Dentre as doenças que maior mortandade causaram nos
ameríndios estão as “ bexigas “, isto é, a varíola, a varicela e a
rubéola ( vindas da Europa ) , a febre amarela ( da África ) e os tipos
mais letais de malária ( da Europa mediterrânica e da África ). O cólera, o sarampo, a difteria, o tracoma, o tifo, a peste bubônica, a escarlatina, a desinteria amebiana, gripes, entre
outros males, também foram aqui
introduzidos pelos europeus. Já a
América estava infectada pela hepatite, certos tipos de tuberculose não
associados à doença pulmonar,
encefalite e pólio. Mas o melhor “
troco” patogênico que os ameríndios deram nos europeus foi sífilis venérea, verdadeira vingança que os vencidos da
América injetaram no sangue dos conquistadores. Nos portos europeus onde desembarcavam os conquistadores, a sífilis, sexualmente transmitida, se propagava gerando um pânico semelhante
ao que a Aids suscita hoje entre nós .
Assim no século 16,
a representação da morte passou a ser associada ao erotismo nas pinturas dos
retábulos das igrejas: o tradicional esqueleto
com uma foice foi substituído por uma jovem mulher, bela, diáfana encarregada de levar os homens para o mundo.
Porém, as
mortandades causadas na América pelos micróbios introduzidos pelos
descobridores foram maiores que os estragos causados na Europa pela
sífilis. Eclodindo a partir de 1519 nas
Antilhas, a varíola começava na América
a carreira que lhe daria o título de maior assassina da humanidade. No continente, a varíola abriu caminho para os espanhóis
conquistarem Tenochtiplan ( novembro de 1519 ), atual cidade do México, e em
seguida alastrou-se no Peru ( 1521 ),
derrubando dezenas de milhares de indígenas que poderiam ter enfrentado os
espanhóis. Neste sentido, as vitórias de Cortez sobre os Astecas e de Pizarro sobre os Incas devem ser reconsideradas: não se trata de batalhas onde a cavalaria e
a pólvora européia venceram as flechas e as lanças indígenas, mas de uma guerra bacteriológica que os
ameríndios não tinham chance de ganhar.
No Brasil , a varíola atinge a Bahia em 1563, tirando a vida
de três quartos dos índios. Em 1565 o
mal incendeia aldeias de Pernambuco até São Paulo. Mais tarde ricocheteiam no Brasil surtos
anuais de varíola que eclodem em Portugal entre 1597 e 1616. Traços do trauma provocado por essas
doenças parecem ter-se cristalizado na mitologia indígena. Quatro entidades maléficas se destacavam na
religião tupi no final do Quinhentos:
Taguaigba ( “Fantasma Ruim “ ), Macachera
ou Mocácher ( “ O que faz a gente
se perder “ ), Anhanga ( “ O que
encesta a gente “ ) e Curupira ( “ O coberto de pústulas “ ). É razoável supor que o curupira tenha
surgido no imaginário tupi após o choque microbiano das primeiras décadas da
descoberta, como representação
simbólica das mortandades provocadas pelas “bexigas“ e outras doenças
pustulentas até então desconhecidas pelos índios.
Fonte - Jornal Folha de São Paulo - Caderno Especial - 7
12/10/1991 - América
CULTURA
NO TEMPO DAS
DILIGÊNCIAS
A realidade do Velho
Oeste foi feita de trabalho árduo e
banhos de sangue, mas a lenda fala de
pradarias, atos de bravura e
heroísmo, um mito que até hoje molda o caráter dos Estados
Unidos
O Velho Oeste é um dos mitos criados neste mundo. Nele, a elite governante dá à classe trabalhadora, suja
e pobre, uma oportunidade
econômica sem precedentes na história -
a oferta de território ilimitado, com
todo seu potencial agrícola e comercial, livre para qualquer um disposto a lutar por um pedaço de terra.
A história dessa luta é a história de como uma nação
recém-nascida decidiu voltar as costas para os costumes e hierarquias da Europa
e criar identidade própria na fronteira, uma árida terra-de-ninguém muito além da civilização. É fácil ter uma visão romântica - e ampliada por Hollywood - do Oeste -, mas é difícil acreditar na alegre selvageria que moveu os pioneiros
genocidas ao Pacífico.
De Jefferson em diante a política americana foi simples: conquistar território e povoá-lo com
americanos, Tecumseh – A Life ( Henry
Holt & Company , 448 páginas gs. US$
15,95 ), um livro soberbo e sóbrio de
John Sugden, conta a história da
primeira baixa notável nesse processo,
a do chefe shawnee que tentou resistir à expansão americana criando confederação
de peles vermelhas por volta de 1800.
Promessas e injustiças
Passados 50 anos, o
presidente Rutherford Hayes admitiria : “ Muitas, se não a maioria de nossas guerras contra
os índios, tiveram origem em promessas
não - cumpridas e atos de injustiça de nossa parte. Ainda assim, o massacre prosseguiu. É
provavelmente por isso que o Oeste da
mitologia popular parece feito de pouco mais que força atávica. Um período pouco maior que um ano é
testemunha do assassinato de Billy the Kid, o tiroteio de Ok Corral e a morte de Jesse James.
Banhado em sangue, o
pai foi recuperando os sentidos lentamente. Por volta de 1890, ferrovias,
telégrafos e a lei tinham se estabelecido do Atlântico ao Pacífico. O búfalo e as tribos indígenas cuja
sobrevivência dependia dele tinham sido exterminados. estranhamente, esses breves dias sem lei, mas repletos de ousadia, não terminaram espiritualmente com um
trauma histórico como o massacre de Wounded Knee , em 1890
, mas com a evolução dos shows do Buffalo Bill s Wild Wst. Aqui se faz a transição da história para o
mito, ou melhor, para o show business.
Como observa Thomas Berger, em seu romance A Volta do
Grande Homem, as exigências do mito eram tentadoras
demais para que os oportunistas amantes da violência que construíram o Oeste
pudessem resistir a elas. Destes, o mais bem-sucedido foi um ex – batedor da
União chamado Buffalo Bill Cody, um
romanceador compulsivo, cujas aventuras
na planície logo foram transformadas em romances baratos. Mais tarde, foram encenadas nos palcos de Nova York e num show que correu o
mundo. Seus espetáculos deram aos americanos
do Leste um cheirinho de pólvora e bravura. Cody inventou o western.
O western sobrevive como uma visão de um passado que nunca
existiu, mas que devia ter sido
assim. Os filmes não conseguem como prosa pode e faz, descrever o trabalho
braçal incessante, a monotonia da vida
em isolamento e pobreza, sob o céu da
fronteira. A pureza e o puritanismo
sempre foram parte do Oeste: lá os corpos se tornam mais rijos e as mente, mais simples.
Trabalho braçal
Os romances continuam a ser assombrados por essa
realidade. The Cowboy Way, do jornalista David Mc Cumber, descreve o ano terrível que passou como
trabalhador braçal num rancho em
Montana. “ Enquanto trabalhávamos, pensei em quantas vezes essa cena se
desenrolou no Oeste ao longo dos últimos 150 anos, homens tentando avaliar o país, moldá-lo, adaptá-lo a seus propósitos“, escreve.
Por conta do mito do Velho Oeste, o homem ideal americano não é o tipo
brilhante e muito menos poeta, mas é
decente, apesar de pouco articulado e
pouco sofisticado. Isso reforça a visão
de que a ficção americana nunca deve ser ficcional demais, nem internalisada demais, daí a forma quase jornalística de centenas
de romances. O pai da prosa americana
não é Henry James , mas Mark Twain. Todos os livros sobre o Oeste retornam ao
passado, à memória de uma ordem já
desaparecida que ainda tem o poder de criticar o presente.
Quando Teddy Roosevelt
, aos 42 anos , chegou à Casa
Branca , em 1901, o Oeste já era peça de museu . A história de como Roosevelt , uma criança franzina, se transformou , com
determinação e exercícios, no musculoso
bigodudo de pontaria - o ideal do
Oeste - foi contada milhares de vezes.
Nenhum presidente desde Andrew Jackson tinha levado o espírito do Oeste de
forma tão forte para a Casa Branca e nenhum fez tanto para canonizar os valores
da fronteira: Roosevelt era visto
ensinando seus filhos a cavalgar caçando todo tipo de animal.
O Oeste que ele idolatrava, porém era apenas uma lembrança. a sensação de arrependimento que paira sobre a sua boa parte da
moderna história americana e o reconhecimento do que se perdeu em termos de
caráter nacional quando a fronteira foi alcançada e os feitos heróicos e
extraordinários caíram no lugar–comum da luta do dia-a-dia. A tragédia americana é o fato ideal de
Thoreau - o distanciamento da Europa e a
criação de uma identidade própria - ter
sido alcançado. Há uma tristeza nessas
paragens onde não há mais floresta nem animais selvagens,
onde a história não pode se repetir e as oportunidades infinitas não
existam mais.
Na cena final de “ A Conquista do Oeste “ a imagem de uma
diligência que percorre Monument Valey
se dissolve numa transição para uma montagem de paisagem urbanas , aço e concreto. O lirismo do Velho Oeste desaparece sob o
asfalto e a nova América vibra de tecnologia. Como diria Calvin Coolidge, “ o negócio da América são os negócios
“ . Na verdade, sempre foi assim.
Fonte - Jornal
- O ESTADO DE
SÃO PAULO
CULTURA - Caderno
2 Tradução - de
Ruth Helena Bellinghini
Domingo ,
12/09/1999 - n°
985 ANO 19
Para refletir
A fala de
um indígena
Para conhecer melhor este assunto, vamos ler um documento que mostra o modo de
pensar de um indígena da segunda metade do século XIX. O trecho que você vai ler foi extraído de
uma carta deixada pelo chefe indígena Seattle, endereçada ao presidente dos Estado Unidos como resposta à proposta do
governo americano de comprar as terras indígenas:
O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o
ar que respira. Como um cadáver em
decomposição, ele é insensível ao mau
cheiro. Mas se vos vendermos nossa
terra, deveis vos lembrar que o ar é
precioso para nós, que o ar insufla seu
espírito em todas as coisas que dele vivem... ( ... ) Sou indígena e não compreendo outro modo. Tenho visto milhares de búfalos apodrecerem
nas pradarias, deixados pelo homem
branco que neles atira de um trem em movimento. Sou indígena e não compreendo como o trem possa ser mais importante
que o búfalo, que nós caçamos apenas
para nos mantermos vivos. Que será do
homem sem os animais? Se todos os
animais desaparecessem, o homem
morreria de solidão espiritual. Porque
tudo que aconteça aos animais pode afetar os homens. Tudo está relacionado. (
... ) O homem não tece a teia da
vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz
a si próprio.
Fonte - NÓS
E OS OUTROS Livro
- Capítulo 3 pág
49
( PINSKY História das
Américas através dos textos p .39-40 . )
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