O ÚLTIMO BEIJO DO GORDO
Após quase três décadas como apresentador de talk shows, Jô Soares recebeu Ziraldo na derradeira entrevista.
Foram 5.600 programas e 14.500 entrevistas nos últimos 28 anos em que Jô Soares esteve no ar. E é o recorde de participações ( 23 vezes ) , o cartunista , escritor , jornalista e humorista Ziraldo , o último convidado do Programa do JÔ “ que vai ao ar hoje, a partir das 00:30 h. A conversa entre os amigos há mais de 60 anos, gravada nesta tarde.
Jô já fez tantas entrevistas nada, eu ser o último é uma honra, fiquei arrepiado quando recebi o convite da produtora Anne Porlan. Não temos combinado, não sabemos o que vai acontecer, mas com certeza vamos chorar. Ele é emotivo e vem chorando durante os últimos programas – comenta Ziraldo . – Toda a despedida é traumatizante , inclusive o Jô está fazendo uma coisa quase masoquista. Mas estamos aí, produzindo. Somos a primeira geração que chega aos 80 anos atuando.
A entrevista coloca o ponto final numa despedida anunciada pelo próprio apresentador no início do ano, em 22 de fevereiro. Segundo Jô, a intenção era evitar o desgaste do formato talk show, consagrado por ele e popularizado no país com representantes como Pedro Bial, Danilo Gentili e Fábio Porchat.
- O Jô inaugurou um formato no Brasil e não só o estabeleceu , como foi ele que o abrasileirou e deu a cara do que é. O Jô tem humor e velocidade, sabe quando entrar com a piada. E eu sei como isso é difícil, sentindo na pele como é apresentar uma atração diária - elogia o apresentador do “Programa do Porchat“, contando que pediu conselhos ao Jô antes de estrear: - Ele disse: “ Seja você mesmo “. A última temporada do “ Programa do Jô “ estreou no dia 28 de março. A primeira convidada foi Marina Silva, porta-voz nacional da Rede – Sustentabilidade. Jô recebeu ainda personalidades como Fausto Silva, Cauã Reymond, Roberto Carlos, Maurício de Sousa, Marisa Monte, Galvão Bueno, Regina Duarte, Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet e Hortência.
Aos 78 anos - ele completa 79 em janeiro - , Jô não quer saber aposentadoria. O humorista, que não quis dar entrevista nesta semana, já afirmou que vem debruçando seus projetos teatrais e literários. As peças mais recentes, “Histeria “, do inglês Terry Johnson, estreou em maio em São Paulo, com Pedro Paulo Rangel, Cássio Scapin, Érica Montanheiro e Milton Levy . O livro , uma sátira política , ainda está em andamento , sendo modificado no rastro dos últimos acontecimentos do país .
MIL FACES
O fim do “ Programa do Jô “ encerra uma trajetória televisiva que começou na década de 1950, quando era ator de teatro e escrevia para o programa “ TV Mistério “, da TV Continental, dirigido por Adolfo Celli, com Paulo Autran e Tônia Carreiro. Depois, foi para a TV Rio , onde participou do “ Noites cariocas “ . O próximo destino seria a Tupi . “consegui trabalhar ao mesmo tempo nas três emissoras que existiam no Rio “ , disse ele , em depoimento ao site Memória Globo.
Começou a trabalhar na TV Record em 1960, escrevendo e atuando . Interpretou o mordomo da “ Família Trapo “ , que também roteirizava , ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega. A estréia na Globo foi em 1970, no “ Faça humor, não faça guerra “ , que ficou no ar até 1973 . Também participou do “ Planeta dos Homens “ , de 1976 a 1982 .
A habilidade para escrever e interpretar diversos personagens ficou evidente no “Viva o Gordo “ , exibido na Globo de 1981 a 1987 , escrito por Max Nunes, Hilton Marques, Afonso Brandão e José Mauro. Depois dele , deixou o canal e assinou contrato com o SBT , onde estrelou o “ Veja o Gordo “ e o “Jô Soares Onze e Meia“, seu primeiro talk show, encerrado em 1999 – em 2000 ele voltaria à Globo para estrear o programa que se encerra hoje.
“Não foi uma mudança radical, mas uma continuação do meu trabalho de humor e também de jornalismo“, disse o humorista sobre o inícios de sua carreira como entrevistador, que contabilizou convidados como o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff.
Fonte - Jornal O GLOBO pág 5 SEGUNDO CADERNO
Sexta - feira 16/12/ 2016 NATÁLIA CASTRO
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