O medo de o bebê nascer
com mal formações costuma perturbar
Muitas mães durante
a gravidez
Trata-se de um pesadelo que ameaça os sonhos da futura
mãe. Porém, quando o medo se transforma em
realidade, a notícia de que o bebê vai
nascer com alguma deficiência abre uma ferida no coração dos pais. Uma ferida que lança mil perguntas para as
quais não parece haver respostas.
Por
que justamente o meu filho ?
Como ele poderá enfrentar um mundo tão competitivo, onde não há lugar para os mais fracos? Angústia, dor e ressentimento se misturam. Trata-se de uma dor inimaginável. Entre mãe e filho, de
fato , há uma profunda identificação, ainda mais durante a gravidez.
Sua preocupação em não magoar o bebê que está na barriga já
diz o quanto você o ama. Esse
sentimento predomina no seu coração e é isso que o bebê vai sentir quando
nascer.
O feto ainda não é um ser humano totalmente constituído, seu aparato psíquico ainda está em forma
ainda muito primitiva. Sua preocupação
em não magoá-lo é um sentimento amoroso, que reconhece a existência desse novo ser e a respeita, e é isso que o seu bebê sente acima de tudo. Fale com ele, diga isso para ele, mesmo com as lágrimas nos olhos. É natural que junto com o sentimento de
amor também haja angústia e talvez até
raiva.
A primeira coisa a se fazer é tentar contato com esses
sentimentos, reconhecê-los,
nomeá-los. O choro costuma ser um bom
remédio nesses momentos. Trata-se de um
processo interno que leva tempo.
Contudo, uma vez dado o primeiro passo, a angústia se torna suportável e inicia-se
o processo de aceitação do seu bebê como ele é, na sua realidade de criança deficiente. Quando podem ser aceitas na sua
limitação, crianças deficientes
costumam ser uma grande benção para a família.
Fonte - Revista
de Aparecida pág
22 Agosto de
2013
Roberto Girola -
Psicanalista e terapeuta familiar
EM NOME DO
FILHO
Entrevista
EM SEU PRIMEIRO
LIVRO, CANTORA OLIVIA
BYINGTON FAZ UM
RELATO
EMOCIONANTE
SOBRE O PRIMOGÊNITO, QUE NASCEU COM SÍNDROME
RARA
Há três décadas, a
cantora Olivia Byington escuta a mesma pergunta quando está ao lado de
João, o mais velho de seus quatro
filhos : “ O que é que ele tem ? “
Pacientemente, ela explica que ele
nasceu com a rara Síndrome de Apert – é contabilizado um caso a cada 160 mil
nascimentos no país, segundo a Apert
Brasil. Ele passou por mais de 20
cirurgias (para solucionar problemas na
caixa craniana, no aparelho digestivo,
nas mãos). E hoje aos 35 anos, é um cara independente, que anda para
lá e para cá de ônibus, adora usar camisa polo azul-marinho, faz selfies para postar no Facebook, é apaixonado pela namorada e está em busca
de um emprego. As conquistas e os
perrengues são relatados pelo ponto de vista da mãe no livro “ O que é que ele tem
“ ( Objetiva ), que será lançado dia 21, na Argumento, no Leblon. As histórias começaram a ser rascunhadas em
2012 , por incentivo do seu marido, o diretor Daniel Filho.- Eu e o Daniel nos conhecemos na juventude
e nos reencontramos em 2009. Cada vez
que eu contava uma parte da minha história com o João, ele falava: “ Você precisa registrar isso ! “
O prefácio é assinado pelo segundo filho, o ator Gregório Duvivier – ela também é mãe
de Barbara e Theodora. E as ilustrações
são criações da própria, que, ao narrar o desenvolvimento do João, faz um retrospecto de sua carreira.
- Fiquei com medo de falar muito de mim e fui achando um
equilíbrio para contextualizar a vida do João dentro da minha. Acabou ficando autobiográfico – diz
a cantora de 57 anos, que sempre
rejeitou o papel de coitadinha.
É verdade que os seus amigos sumiram quando o João
nasceu ?
As pessoas tinham medo do desconhecido. Toda mulher que engravida está diante de um
precipício. É horrível dizer isso, mas a gravidez é uma coisa muito
arriscada. Se você abrir um livro de
genética, vai falar: “Muito obrigada, eu não vou querer ter filhos.” São balas de raspão.
Você teve mais três filhos. Em momento algum você teve medo de engravidar de novo?
Depois que o tempo passa só da parte boa . Mas eu tive muito medo sim . Passei por um trauma , mas que não evitou que eu desejasse ter
mais filhos . Um filho com deficiência
vai sempre ser especial, vai sempre
receber mais atenção, e os outros vão
ter que aprender a ser especiais de outra forma. Gregório, Barbara e Theodora aprenderam a ser generosos.
Não rolava ciúmes entre eles
?
Nunca vesti os meus filhos com roupas iguais ou dei os
mesmos presentes. Essa
contabilidade do afeto não existe na minha casa . fica forçado e a própria
criança começa a fazer contas . A
criança precisa aprender a ser generosa
.
E a intolerância diminuiu ?
Quando o João nasceu
, as pessoas com deficiência eram menos incluídas . Não estou dizendo
que hoje em dia elas sejam incluídas. A
luta pela inclusão é muito séria. Ano
passado, Dilma Rousseff assinou uma lei muito importante ( que criou o
Estatuto da Pessoa com Deficiência ).
Mas o que de fato mudou
?
Cada vez mais as pessoas tiram os seus filhos com
deficiência de dentro de casa . Nos anos
1950 ainda era uma vergonha. Chamavam
de retardado, debiloide,
mongoloide. Hoje a nomenclatura é
pessoa com deficiência. Acho super lindo botar a pessoa antes da
deficiência. E eu amo o politicamente
correto. É a mesma coisa da briga das
mulheres. Elas têm que ser tratadas do
jeito que elas querem.
Nesta semana, você
deixou claro o seu repúdio à cultura do estupro, num debate sobre a barbárie sofrida pela adolescente no Morro do
Barão. No livro você fala em passant
sobre o episódio de violência que sofreu, aos 18 anos, em São Conrado. Como foi isso?
Eu reagi e quase morri. Tive uma luta corporal com um homem enfurecido que queria me
matar... No livro eu botei uma versão
enxuta para não roubar a cena da história do João. Mas acho muito bacana hoje em dia eu poder
falar para todas as mulheres: contem,
falem. O silêncio é o pior inimigo.
Nunca foi uma questão para você ?
Nunca tive vergonha,
é um ingrediente que não posso separar da minha biografia. Mas eu poupei as minha filhas de saberem. Só resolvi contar para a Bárbara na
adolescência, quando ela estava
folgando de andar na rua sozinha. A
Theodora foi saber agora, pelo
livro. Mexe muito com a gente. Mas é importante as pessoas falarem como é
importante as pessoas botarem os seus filhos com deficiência desde cedinho na
roda da família, num colégio que ao
seja para crianças com necessidades especiais. Isso foi fundamental para a segurança que o João tem hoje. Ele não tem o menor grilo da aparência, faz mil selfies com a namorada.
E o namoro dos dois ,
como é ?
É tão bonito o encontro do João com a Ana Clara ( que também
tem Apert ). Mês passado, ele ficou uma semana em São Lourenço. Ela
já estava lá, com os pais, e ele foi encontrá-la sozinho, de ônibus. O João vai ainda me surpreender muito.
O João gosta de música
?
Aqui em casa fomos todos criados, ouvindo Tom Jobim , música clássica. E desde pequeno o João tem fascínio por
música sertaneja. Muito antes de a
gente saber quem eram Leandro & Leonardo, ele já vivia cantando, com
vibrato, “ Pense em mim , chore por mim
, ligara pra mim “ .
Aprendeu a gostar
ouvindo o rádio de uma cozinheira do primeiro colégio dele. A música estourou muito tempo depois. Ele também ama Zezé Di Camargo & Luciano até hoje.
Então foi uma homenagem a ele a inclusão de “ Pense em mim “
no repertório do seu show “A vida é perto “ , que virou DVD em 2008 ?
O João trabalhava comigo nesse projeto , vendendo CDs . Ele entrava no show só na
hora de ouvir a música sertaneja .
Ficamos uns dois anos nessa .
E a sua música ? Novidades à vista ?
Eu dei uma para de cantar
. Na verdade , eu dei uma
cansada . Os últimos anos de “ A vida é
perto “ foram muito sofridos, viajava
para lá e para cá com cenários nas costas para fazer SESC não sei onde, para pouca gente. O Tom Jobim dizia: “ Fazer música é uma doação ilimitada para
uma eterna gratidão “ . Eu estava me
sentindo exatamente assim. Mas eu tenho
vontade de refazer “ A dama do encantado “ ( um tributo a Aracy de
Almeida ), adoro aquele repertório, os sambas de 1930.
Quais são os seus sonhos para o João ?
Eu não vou estar aqui para sempre. Sei que ele tem irmãos incríveis, mas quanto mais ele estiver preparado para
ser independente, melhor. A Lei de Cotas torna obrigatório que
empresas preencham uma parcela de cargos com pessoas com deficiência. Então resolvemos procurar a Firjan. Em agosto passado, o João foi todo empetecado fazer uma
entrevista. Mas até agora não tivemos
resposta. Eu não desisto. Vamos ver até onde vai essa hipocrisia. Essa situação nos fez reviver dramas que
vivemos ao bater na porta de colégios que não o aceitavam. Por enquanto, ele tem feito alguns trabalhos como Daniel, participou do set do filme Kéfera (
Buch-mann , uma youtuber de sucesso
) . ele adora trabalhar .
Fonte - Revista
O GLOBO págs
27 e 28
12/06/ 2016
Entrevista - Por JOANA
DALE
Medicina
ESPERANÇA CONTRA O DOWN
Cientistas conseguiram “ desligar “ em laboratório o cromossomo extra que
causa
Distúrbio . Mas
falta muito para
surgir algum tipo
de tratamento.
Um estudo publicado na revista Nature na semana passada
trouxe uma esperança para o tratamento da síndrome de Down. Pesquisadores da Universidade de
Massachusetts, nos Estados Unidos, demonstraram que é possível silenciar o
cromossomo extra que causa a anomalia.
Ela ocorre quando há três cópias do cromossomo 21, em vez das duas normas. “Desde 1959 , quando se descobriu a causa de Down, não houve nenhum avanço que trouxesse
perspectivas tão positivas quanto a dessa experiência “ , diz Salmo Raskin , geneticista e pesquisador do Projeto Genoma
Humano. “Apesar de estar muito
distante em termos práticos, trata-se
do prenúncio de uma terapia gênica para o distúrbio.”Estima-se que 300.000 pessoas tenham Down no Brasil. No mundo, a síndrome acomete um em cada 700 bebês nascidos vivos. A seguir VEJA tira as principais
dúvidas em relação ao avanço anunciado.
As pessoas com síndrome
de Down serão
beneficiadas pela descoberta
?
Ainda não. O
trabalho dos cientistas americanos foi feito com culturas de células em
laboratório. Passará depois por
experimentos em animais. Não há
previsão de testes em seres humanos.
Trata-se, portanto, apenas de um primeiro passo para um possível
tratamento para as consequências da síndrome. Hoje , há setores da medicina
mais avançados em minimizar os problemas associados ao Down, como defeitos cardíacos e doenças
neurológicas.
Mulheres que esperam
um bebê com Down
poderão tratá-lo antes
do nascimento ?
Não. Seria necessário desenvolver uma vacina
intrauterina capaz de alterar os cromossomos 21 do embrião. Não há evidência de que seja possível de que seja possível.
Quem pensa em ter filhos ganhou uma nova ferramenta de
precaução ?
Hoje, aqueles
que desejam ter filhos em idade
avançada pode usar a fertilização In vitro para selecionar apenas embriões
saudáveis. No futuro, os cientistas poderão desenvolver uma
técnica na qual uma cópia do gene XIST,
capaz de desligar o cromossomo extra,
seja aplicada no embrião.
A técnica poderá ser aplicada no estudo de outras doenças ?
Talvez. O método
poderá ser usado para entender os mecanismos de outros distúrbios causados por
cromossomos. “ Se essa técnica puder
ser replicada em problemas causados
por genes defeituosos, será possível prevenir também doenças genéticas, como a de Hunington, que afeta o sistema nervoso “ , diz a geneticista
Mayana Zatz , da USP .
O QUE
CAUSA A SÍNDROME
Os cromossomos são longas cadeias de DNA que contém as
instruções para criar um ser vivo. Um
embrião humano é constituído por 23 pares de cromossomos , sendo que o pai e a mãe contribuem com um
cromossomo para cada par. Devido a uma
falha de formação de embrião , as
pessoas com síndrome de Down apresentam três cromossomos 21, em vez de apenas dois.
COMO FOI O
EXPERIMENTO
Os cientistas retiraram células da pele de uma menina com
Down e as transformaram em células–tronco. Por meio de uma enzima ,
introduziram no terceiro cromossomo 21 ( o extra ) um gene chamado XIST. Os
pesquisadores sabiam que esse gene é responsável por “desligar “ naturalmente
um dos dois cromossomos X que estão envolvidos na determinação do sexo do
embrião.
O resultado
O XIST conseguiu
desativar o cromossomo 21
que estava sobrando. Com isso, as
células–tronco criadas a
partir das células
da menina com
Down passaram a
funcionar normalmente.
Fonte - Revista -
VEJA pág 79
24/07/2013
MEDICINA SALMO RASKIN
- geneticista
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