Neto de Mahatma Gandhi compartilha histórias de sua infância com avô em seu
mais recente livro, 'A Virtude da Raiva'. Ao Metro Jornal, o autor comenta mudanças pessoais afetam o mundo.
'PRECISAMOS MUDAR'
Mahatma Gandhi ( 1869 - 1948 ) teve grande influência sobre seu neto que, aos 84 anos, conta no livro 'A Virtude da Raiva' as lições aprendidas com o avô ao vê-lo lidar com injustiça e racismo.
Arun Gandhi conta a transição emocional que viveu na juventude, da raiva para a não violência. O autor aborda também reflexões atuais de seu cotidiano como ativista humanitário.
Jornalista e presidente do Ghandi Worldwide Education Institute, Arun, que é sul-africano, dedica sua vida a continuar o legado de seu mestre.
Redes sociais
"Precisamos decidir se queremos gerar mais conflitos na sociedade ou se queremos informá-la da forma correta. Se escrevermos artigos e posts com a intenção de informar e educar as pessoas, vamos ter um cenário diferente. Mas, se a intenção for de prejudicar, então conseguiremos apenas mais estragos".
Gerenciamento da raiva
"As pessoas precisam entender o que é a não-violência. Não é uma solução política, mas de transformação pessoal. Se esperarmos que as mudanças venham de cima para baixo, nada vai mudar. A mudança tem que vir da base. Comece a mudança você mesmo e, através de si, mude o resto. Assim a revolução acontece. Em vez de responder ao ódio com ódio, responda com amor".
Passar à frente a sabedoria
"Quando meu avô foi assassinado, fiquei muito perturbado e com raiva. Disse a meus pais que queria ter matado a pessoa que fez isso, mas eles me lembraram que meu avô não aprovaria esse tipo de atitude. Lembrei das lições que Ghandi me ensinou e decidi que a partir dali iria dedicar a minha vida a fazer com que esse tipo de violência não acontecesse mais. Desde então dedico o meu tempo a ensinar as pessoas mudarem e a entenderem que devem se dedicar a algo bom".
Atuais líderes mundiais
"Precisamos ficar atentos a um ponto: a questão não é apenas sobre os políticos, mas sobre todos nós. Se não começarmos a redefinir nossos valores, não poderemos esperar que os políticos mudem. Eles não são alienígenas, o que eles fazem reflete os valores da sociedade. Nós precisamos começar e mudar."
Fonte - Jornal - METRO pág 11 - CULTURA
Rio de Janeiro , 20/02/2018 - terça-feira
DA PAZ
NETO DE GHANDI ENSINA A REPENSAR A RAIVA
Ativista conta em livro como usou as lições do avô, assassinado há 70 anos, para aplacar a própria ira
Setenta anos depois, o indiano Arun Gandhi ainda se lembra com muita nitidez daquele 30 de janeiro de 1948. Ele voltava a pé do colégio, que ficava a mais de um quilometro de sua casa, em um vilarejo na África do Sul. Um conhecido apareceu e pediu que ele apressasse o passo. Quando chegou e viu a sua mãe chorando, percebeu que algo sério havia acontecido. Seu avô, Mahatma Ghandi, fora assassinado a tiros na Índia.
Arun foi tomado pela raiva. Ao longo dos anos, porém, usou as lições pacifistas ensinadas pelo avô para canalizar o sofrimento em algo positivo. Estes ensinamentos estão em "A virtude da raiva " ( Sextante ), que acaba de sair no Brasil. Hoje com 83 anos, o ativista político foi a Campinas ( SP ) participar do "Fórum Campinas Pela Paz", que aconteceu nos dias 23 e 24 de fevereiro.
- Quando soube do assassinato, fiquei em choque, não entendia como podiam ter matado alguém tão gentil e amável - lembra Arun, em entrevista por telefone. - Disse à minha família que iria me vingar de quem fez isso. Na hora, meus pais me lembraram que o meu avô não aprovaria esse tipo de comportamento, e que ele gostaria que eu dedicasse minha vida a mostrar que não há mais lugar para esse tipo de violência. Foi o início da minha trajetória no ensino da não violência.
UMA ESPÉCIE DE ELETRICIDADE
"A virtude da raiva " traz dez ensinamentos que Arun recebeu de Ghandi. Nascido na África do Sul, em 1934, o ativista passou os primeiros anos da vida sofrendo com os efeitos do apartheid: era atacado pelas crianças brancas por não ser branco o suficiente e pelas crianças negras por não ser negro o suficiente. Ressentido, só compreendeu melhor o mundo depois que sua família se mudou para a Índia, e ele conheceu o seu avô. Arun tinha 12 anos e teve contato direto com Ghandi até os 14, quando voltou para o país natal.
Presidente da Ghandi Worldwide Education, e jornalista com textos publicados no "Whashington Post " , o quinto neto de Mahatma dedica sua vida a divulgar o sentido da justiça do avô. Um dos caminhos para isso, defende no livro, é compreender o poder estimulante da raiva, que pode ser uma ferramenta poderosa para lutar contra as injustiças, desde que se deixe de lado os seus aspectos tóxicos. - Eu tinha muita raiva pela discriminação que sofri no apartheid e mostrava isso no meu dia a dia - conta o ativista, - Mas, ao chegar à Índia, meu avô me explicou o que era essa raiva e como ela poderia ser usada.
O velho Ghandi usava uma metáfora para ilustrar a questão. A raiva, dizia ele, é como a eletricidade: dependendo de como a usamos, pode resultar tanto numa centelha de energia quanto num curto-circuito. Espelhando-se no jeito calmo e controlado do avô, Arun percebeu que não adiantava, por exemplo, revidar as agressões que recebia.
- A raiva que pode ser positiva resolve problemas - explica Arun. - Mas ela é ruim para a Humanidade quando abusamos dela, nos tomamos violentos e agredimos uns aos outros tentando achar uma solução. É preciso usá-la de forma inteligente, sem exagerar na dose.
As redes sociais não escapam da análise de Arun. Segundo ele, as novas mídias podem ter contribuído para expandir raiva e violência.
- Na maior parte das vezes as redes sociais são usadas de forma errada, para coisas sem sentido - avalia -. - Também criam um déficit de atenção. Sinto que, quando faço post longos, ninguém os lê. Apenas dão like e seguem em frente.
E Gandhi teria hoje, uma conta no Twitter ou no Facebook ?
- Acho que ele usaria porque a sua ideia era espalhar a sua mensagem para o maior número de pessoas - palpita o ativista . - Em seu tempo, ele usou rádio, telefone, tudo que podia lhe facilitar a espalhar a sua mensagem .
Fonte - Jornal - O ESTADO DE SÃO PAULO pág 6 - Segundo Caderno
30/01/2018 - BOLÍVAR TORRES
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