“O Natal costuma ser sempre uma ruidosa festa; entretanto, se faz necessário o silêncio, para que se consiga ouvir a voz do Amor".
Chega o final do ano e uma verdadeira contagem regressiva se instala na cabeça e nas ações das pessoas. Muitos dizem: - Passou muito rápido, não deu para fazer uma porção de coisas . E , nesse ritmo , as crianças e os jovens são estimulados e empurrados a correr desde cedo. Daí em diante, as crianças não andam, elas correm sem motivo. Aonde queremos chegar com tanta pressa ?
Vivemos em uma cultura movediça e em tempos frenéticos, nos quais os nossos sentidos são estimulados constantemente para nos levar ao consumo desenfreado, à avidez do ter e do possuir. São tempos em que as coisas valem mais do que as pessoas. A cultura consumista aguça o egoísmo, tornando as pessoas competitivas . Ao exaltar como valores a competição, a riqueza pessoal , o acúmulo de posses , o capitalismo interioriza em nós ambições que nos afastam , por exemplo , do esforço coletivo de conquista de direitos, dando-nos a ilusão de que, através do esforço pessoal, apenas , galgaremos o sucesso .
O TEMPO É BEM MAIS QUE DINHEIRO
Gastamos a vida correndo para comprar o tempo livre das ocupações de que geralmente não gostamos . No entanto , o tempo que adquirimos graças ao dinheiro obtido no trabalho é investido apenas para consumir , caindo num círculo vicioso do mercado e das mercadorias . Então, esta fome de tempo para o bom proveito, do descanso e do lazer , do cultivo de boas relações , jamais será saciada , gerando estresse , depressão e outras doenças. E , chegando ao final do ano, ao invés da festa, que nas culturas tradicionais era o coroamento do trabalho realizado, com tempo de preparação e celebração, temos apenas a diversão rápida ( fast ), que pode ser comprada e nem sequer exige a companhia dos outros.
Com isso, chegamos à conclusão que estamos comprando um estilo de vida que não compensa: consumir energias, a vida, as relações afetivas para garantir um consumo de coisas que , no fundo , nem sabemos se de fato queremos , através de ritmos de vida e trabalho desumanos .
A escritora Rosiska de Oliveira , no livro Reengenharia do tempo , propõe uma nova articulação entre o espaço pessoal e o espaço público, redistribuindo o tempo dedicado à vida privada, o tempo livre, e o tempo dedicado ao trabalho. A autora se diz preocupada , para " além da produção de bens , com a produção de nós mesmos , de uma nova arte de viver ". " Em outras palavras , não podemos deixar-nos escravizar pelo " tempo do relógio " (chrónos ) , o tempo quantitativo e materialista. Devemos , sim , viver o tempo como um Kairós , o tempo oportuno , um tempo qualitativo e voltado para a realização do bem-viver.
O CAMINHO DA FRATERNIDADE
Um horizonte bonito para sairmos da aceleração, do consumismo e individualismo é o que propõe o provérbio africano: " Se queres ir depressa , anda sozinho ; porém , se queres ir longe, anda acompanhado".
A base da ética é a valorização da vida, não apenas a vida individual, mas também coletiva. A própria fé cristã deve ser vivida como valorização da vida, como disse Jesus: "Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância ". Cada pessoa é responsável pela sua própria vida, mas este cuidado com a própria vida não basta para trazer a felicidade, a não ser quando cada pessoa se faz responsável também pela vida do outro. A fraternidade é fonte de felicidade e de bem-estar. Assim , a sociedade deve ser organizada de forma a favorecer o direito que todos os seres humanos têm a uma vida digna e feliz .
Se chegamos até aqui acelerados e aceleradas, é bom relaxar. Melhor é ficar com metas plausíveis, agradecer por tudo que conseguimos fazer, celebrar a vida - o dom mais precioso - com as pessoas que amamos e, com calma, traçar novos objetivos para o próximo ano. Afinal, " é Natal , um ano termina , mas nasce outra vez " .
Fonte - Revista de Aparecida - págs 22 e 23 www.A12
Dezembro 2015 - MUNDO JOVEM
PAPA FRANCISCO
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