terça-feira, 23 de junho de 2020

Políticas de saúde na Covid-l9



Ao longo dos anos , a administração  pública no Brasil , em suas três esferas , padecem  com iniciativas questionáveis nos mais diversos setores sob sua responsabilidade. Medidas paliativas; planos , programas e projetos incipientes  ; políticas  públicas de baixa eficácia, eficiência e efetividade. Essas são algumas das inúmeras causas pelas quais o  Brasil não consegue avançar em temas  vitais para a sociedade , entre eles a Saúde. 

As evidentes agruras no atendimento à população são conhecidas, mas os  gestores  públicos  insistem em tratamentos sem resultados. Os reflexos são sentido hoje com a pandemia  da covid-l9, momento no qual o Brasil mais precisa da Saúde  de qualidade.

Contudo, as soluções propostas para enfrentar a pandemia continuam a sofrer dos mesmos problemas. Como se o problema central do enfrentamento à covid-l9 fosse a ausência de médicos, diversos agentes públicos  insistem em propor medidas vagas, mais baseadas em retórica do que em planos concretos de ação. Entre elas, citamos a antecipação da  colação  de  grau de alunos de medicina, a permissão para médicos  formados  no exterior atuarem no País sem revalidar seus diplomas, e a readmissão dos médicos  cubanos exilados  no Brasil , entre outras .

Os proponentes de tais medidas se esquecem que , se falta médico , falta também infraestrutura deatendimento, ventiladores  mecânicos, leitos da UTI, fluxos  assistenciais organizados  e  testes diagnósticos, aspecto em que o Brasil vem ocupando uma das últimas posições.

Para propor tratamento para uma doença, devemos antes ter um diagnóstico. Em políticas de saúde  esse raciocínio não é diferente, mas está sendo esquecido por muitos agentes públicos . Na covid-l9, o diagnóstico correto é: essa doença leva a uma grande demanda de leitos da UTIs. E é justamente isso que leva ao colapso qualquer sistema de saúde e faz subir a mortalidade. São os pacientes graves, nas UTIs respirando por meio de aparelhos que precisam receber atenção especial das  políticas públicas. Eles que morrerão pela falta de recursos, incluindo médicos.

Feito esse diagnóstico, antecipar a colação dos alunos seria uma solução adequada para o problema que se dá no ambiente em UTIs ? Analisando a formação  médica , sabemos que não . A atuação em UTIs é uma das atividades mais complexas da medicina. Manejar  ventiladores  mecânicos , ajustar seus parâmetros , manusear  vias aéreas , prescrever  drogas  sedativas e lidar com parâmetros  hemodinâmicos são habilidades essenciais  em UTI . Por sua complexidade , para formar um bom profissional, é necessário a investir em anos de residência  médica que tenha em seu currículo o treinamento em UTI.

Assim, é correto assumir que um aluno de medicina que nem mesmo concluiu sua formação está apto a exercer adequadamente essa atividade? A resposta também é não , pois além de não garantir assistência  qualificada ao paciente , ele será exposto a um cenário complexo , para o qual ele ainda não está preparado profissional e  psicologicamente. Da mesma forma , não podemos aceitar que médicos  formados no exterior atuem sem comprovar que possuem as habilidades  necessárias, uma vez que vemos uma proliferação  de faculdades de medicina  na fronteira, muitas das quais nem mesmo hospital a escola tem.

A realidade que ninguém quer ver é que faltam médicos especializados  em cuidados  intensivos. Dados do  Conselho  Regional de  Medicina do  Estado de São Paulo mostram que há apenas novecentos e três profissionais  registrados, em todo o Estado, especializados em  Medicina  Intensiva . A situação é pior  em outros cantos do país e se deve , entre outros motivos  , por   políticas públicas equivocadas do passado ,  que levam à  desvalorização da residência  médica no País.

O que vem sendo feito , como  medidas  desesperadas e irresponsáveis, é uma tentativa para remediar um grave  problema  sistêmico . Apenas para ilustrar , nos últimos tempos  , o SUS  perdeu cerca de  mil leitos  hospitalares e os os hospitais universitários federais e as Santas  Casas estão em  frangalhos . Com a covid-l9 , esse cenário agora salta aos olhos . Enquanto isso , governantes e legisladores desviam dos reais problemas da  Saúde  e da pandemia  e focam em medidas simplistas , jogando  uma  cortina  de  fumaça  sobre o problema real .

Como ensina a boa prática  médica , o diagnóstico preciso e o tratamento  correto nascem após a anamnese  detalhada e  cuidadosa . Se aplicarmos esses princípios  à formulação, implantação e avaliação  de planos, programas e projetos  em Saúde no país, para combate à covid-l9, talvez nos libertemos das discussões  demagógicas e consigamos, enfim enfrentar esse desafio enorme.

Fonte  - Jornal  A  TRIBUNA   -  pág A-dois 
Sábado , dezesseis de março , dois mil e vinte   -  Tribuna  Livre
IRENE  ABRAMOVICH . Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo 

Por George e nossas crianças



Os protestos pelo assassinato do segurança Georg Floyd ganharam as ruas dos Estados Unidos  e de vários países. A cena chocante em que o  homem negro é asfixiado por um policial branco na cidade de Minneapólis já entrou para a história mundial, como aquelas imagens que exigem uma tomada de posição da  humanidadeComo continuar vivendo num  lugar que produz e tolera a crueldade? “ Não  consigo respirar “ , essas foram as últimas palavras de George. Mais que  um grito  de  socorro , a frase do segurança é uma síntese de como o racismo é perverso e estruturanteQuando não mata pelo uso da força, aniquila o negro pouco a pouco, fechando  portas , minando as possibilidades até o  último suspiro. Mas se engana quem acha que esse episódio ilustra uma realidade específica , de tensões  históricas como a norte-americana. No Brasil , de acordo com a Anistia  Internacional  , um jovem negro tem em média duas e meia vezes mais chances de morrer do que um jovem branco. Discutir sobre as desvantagens de ser negro num  país violento  e  de desigualdade  secular não pode continuar sendo tabu .

A comoção  por  George rendeu uma onda de apoios  nas redes sociais  no Brasil. A hastag =BlackLivesMatter  foi endossada por muitos formadores de opinião daqui, de políticos a artistas. Infelizmente tal posicionamento soa como jogo de cena , que não reflete em ações mais efetivas no combate ao racismo . Recentemente , Agatha  e João Pedro , crianças  negras , tiveram suas vidas  ceifadas e só observamos alguns lamentos. Esta semana  o garoto Miguel, de cinco anos, morreu ao cair de nove andares de um prédio, no Recife onde sua mãe trabalhava . No momento do acidente, a empregada  doméstica tinha ido passear com o cachorro dos patrões e deixou o Miguel aos cuidados da mulher. Segundo as investigações , a patroa teria negligenciado e se omitido de cuidar do menino enquanto a mãe cumpria as suas ordens. Após pagar multa de vinte e mil reais, a investigada obteve a liberdade  provisória. A morte de Miguel escancara uma sociedade , estruturada num modelo de  dominação , que tem origem no sistema escravocrata.

Apesar de alguns avanços sociais conquistados na última década , os negros continuam sendo os mais vitimados no país com relação aos direitos à saúde , educação , trabalho , moradia , transporte e segurança. Sem estudo formal não há possibilidade de romper os ciclos de pobreza herdados do passado. Não é coincidência de que a maioria das empregadas domésticas , como a mãe de Miguel ,seja composta por mulheres negras , moradoras de periferias , que convivem com a discriminação racial e com a baixa renda. Vale lembrar que a primeira pessoa a morrer por causa da pandemia do novo coronavírus no estado do Rio de Janeiro foi uma trabalhadora doméstica negra que não foi dispensada pela empregadora com a doença confirmada. Estatuto  da Igualdade Racial , instituído em dois mil e dez , que deveria funcionar como um conjunto de regras para coibir a discriminação , estabelecendo  políticas para diminuir a desigualdade , pouco fez efetivamente para reduzir as assimetrias  históricas entre brancos e negros .

No livro “ Sobre  o Autoritarismo  Brasileiro “ , Lília  Schwarcz explica que os padrões atuais  de mortandade dos negros remetem a questões históricas mal resolvidas. A antropóloga argumenta que o sistema escravocrata se transformou num modelo tão enraizado no Brasil que acabou se convertendo numa linguagem com graves consequências para a sociedade , ou seja , ela não funciona sem a lógica de servidão da casa  grande  senzala . Lília mostra que o período pós-abolição não construiu uma nação mais igualitária no que se refere aos diferentes povos que a formaram , ao contrário levou à exclusão de boa parte da população das principais instituições do Estado.

Diante desse cenário de desigualdade o que podemos fazer além de subir hastag ? A filósofa Djamila Ribeiro na obra   “ Pequeno  Manual  Anti Racista “aponta  alguns  caminhos , como questionar a proporção de  brancos e negros no quadro de funcionários e os critérios  de contratação das empresas , refletindo se os mesmos não excluem os negros". A autora também sugere que se valorize mais  produções  intelectuais  negras, de modo a expandir  nossos pontos  de vista eurocêntricos. Sobre isso, é necessário se posicionar contra o apagamento dos saberes de populações historicamente oprimidas. A obra ainda recomenda que apoiemos  movimentos e organizações engajadas em combater práticas de discriminação racialA comoção por  George exige de todo nós – brancos e negros – assumamos  uma  mentalidade antirracista . O  tempo  da chibata  em  praça  pública  já  passou.

Fonte -  Jornal  A  TRIBUNA  -CIDADES     -  pág Adez
Sábado , seis de junho de dois mil e vinte 
Michel  Carvalho – Jornalista  , professor  e especialista  em Comunicação

Brasil EM APARTHAID


                 
Algo   que  nos  orgulha  como  brasileiros  é  nossa  capacidade  de  convivência  com  as  diferenças. Ou  nos orgulhava? Começam  aparecer   com  maior  frequência  manifestações de  racismo  e  desrespeito  com  as  diferenças.

Somos um povo  trabalhador. Vivemos num território que, provavelmente, seja o mais pródigo em riquezas naturais do mundo. Temos todos os climas e biomas. Estamos construindo uma civilização caracterizada pela mescla de culturas e povos originários da Ásia  , Europa e África, com os nativos deste território. Mas, mesmo com tantas riquezas naturais e humanas, nossa sociedade ainda sofre mazelas inaceitáveis. Nada justifica a elevada concentração da riqueza da propriedade dos bens e da renda que beneficiam  apenas os mais ricos, isso revela que ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a justa distribuição das riquezas e consequente democracia social e econômica.

No contexto político atual, de acirramento das diferenças sociais, o povo das periferias tem sofrido ataques de racismo e preconceito reforçando inclusive uma ideia de segregação da região sul em relação ao norte do país. Mas, enquanto os poderosos costumam usar da força e da violência para garantir seus privilégios e extorquir a maioria da população, o que precisamos é de uma verdadeira revolução democrática e pacífica para assegurar que o Brasil seja de todos os brasileiros.

Isto as poderosas elites não toleram, mas não podem manifestar sua contrariedade abertamente, sob pena de cair a máscara. Há séculos as elites vêm aperfeiçoando suas técnicas em manter aparências para que o povo não saiba de suas reais intenções. Não raro, criam disputas artificiais para jogar o povo contra o povo.

A demagogia  , o autoritarismo  , os sorrisos forçados não satisfazem mais a um povo que  já sofreu muito com a falta de um olhar de respeito para com os pobres. Tudo isso mostra que a democracia é um palavra imprevisível  . Precisamos aprender a conviver com ela  , sem aparthaid  "

Fonte  -   REVISTA   DE  APARECIDA    pág 21      MUNDO   JOVEM  
Julho  de  2016     -  Juventude  do  Santuário    -  Rui  Souza 

                                            
                                               SÊ   BRASILEIRO 
                                                                                       “  BRANT  HORTA “ 

Se    perguntarem ,  filho  onde 
A   terra  do  teu  amor 
Cheio  de  orgulho  responde  : 
Sou  brasileiro  , senhor  
                                                                            
                                                                       Não  digas  -  sou  sergipano  ,
                                                                       Sou  paulista  ,  sou  mineiro 
                                                                       Pois  serás  mais soberano  , 
                                                                       Dizendo  -  Sou  brasileiro 
Mais  que  paulistas  ,  mineiros 
Devemos  fazer  questão  
De  se  todos  brasileiros  
De  nascença  e  coração 

                                                                           É  justo  armar-se  o  recanto
                                                                           Que  nos  viu  nascer  ,  andar  ;
                                                                            A  Pátria  deve  no  entanto  , 
                                                                            Ter  o  primeiro  lugar 

Ela  não  é  o  Amazonas   ,
Nem  o  Paraná  ,  Nem  Bahia  ,
Nem  do  norte  as  quentes  zonas 

                                                                            Não  é  Goiás  ,  Mato  - Grosso 
                                                                            São  Paulo  ou  Minas  Gerais 
                                                                            É  o  nosso  Brasil  colosso
                                                                            Legado  do  nosso  país  .

E  enquanto  de  sul  a  norte  
Unido  for  o  Brasil 
Será  a  nação  grande  e  forte   ,
Respeitada  e  varonil  

                                                                              Pois  não   tem  entre  os  estados 
                                                                              Nem  segundos  ,  nem  primeiros  
                                                                              São  eles  férteis  legados  
                                                                              De  todos  nós  brasileiros  .


Fonte  - Unidades  de  Trabalho  na  Escola  Primária  Moderna  Nivel II  , 4ª série   ,
3ª edição   . Editora  e  Gráfica  Ilimitada  -  Idal   . Coordenação e Supervisão  de
Idalina Ladeira  Ferreira  .

Clarice Lispector



Escrever  simplesmente 

Clarice Lispector começou a escrever muito cedo. Com nove anos, foi ver uma peça de teatro e ficou tão entusiasmada que escreveu uma outra, em três atos! Pena que hoje ninguém possa ler – o texto se perdeu. Aos 11 anos, ela mandava histórias para o jornal da sua cidade, Recife. O diário tinha uma seção só para textos de crianças. Nunca aceitaram as colaborações de Clarice. O que mostra que a gente não pode desistir dos sonhos quando recebe um não . Clarice recebeu muitos “ não “ pela vida , mesmo quando já tinha sido premiada como escritora . Mas não desistiu de escrever. Ela dizia que escrever era sua maneira de entender o mundo.

Clarice escrevia muitas vezes à máquina, mas também gostava de rabiscar em papéis soltos  e cadernetas. Como dizia Clarice : “ Escrevo  para  mim  ,  para  que  eu  sinta  a  minha  alma  falando  e  cantando  , às vezes  chorando  … “ .

Ferreira  Gullar  e  Júlia  Peregrino  - Curadores    - Banco  do  Brasil


Declaração  de  amor 

Clarice  Lispector  

Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável . E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento alerteza. E de amor.

A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve . Sobretudo para quem escreve. Tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo .

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado . Às vezes se assusta com  o imprevisível de uma frase . Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas , às vezes lentamente , às vezes a galope . Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos . E este desejo todos os que escrevem têm . Camões e outros iguais não bastaram para nos dar sempre uma herança de língua já feita . Todos nós que escrevemos, estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida . 

Estas dificuldades , nós a temos . Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada .

O que recebi de herança não me chega .

Se eu fosse muda , e também não pudesse escrever , e me perguntassem a que língua eu queria pertencer , eu diria : inglês , que é preciso e belo . Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português . Eu até queria não ter aprendido outras só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida. 

Cronologia

1920 - Nasce em 10 de dezembro, na Ucrânia, a menina Haia Lispector, terceira filha do comerciante Pinkouss e de Mania Lispector.

1922 - Os Lispector embarcam para o Brasil. Em Maceió, a família adota novos nomes: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; e Haia, Clarice. Pedro passa a trabalhar como mascate.

1925 - Mudam-se para Recife, em busca de novas perspectivas , de trabalho.

1930 - Matricula-se no Collegio Hebreo-Idisch - Brasileiro. Em 21 de setembro, morre a mãe, Marieta, que sofria de paralisia.

1931 - Pedro solicita a cidadania brasileira. Clarice escreve contos para a seção infantil do Diário de Pernambuco , recusados por tratar de " sensações " ao invés de fatos .

1932 - A família muda-se para o Rio de Janeiro.

1936 - Termina o curso ginasial e passa a frequentar uma biblioteca perto da sua casa na Tijuca, onde conhece obras de autores clássicos nacionais e universais.

1939 - Inicia seus estudos na Faculdade Nacional de Direito. Trabalha como tradutora e secretária.

1940 - Publica seu primeiro texto na imprensa , o conto Triunfo, no seminário Pan morre o pai, em 26 de agosto. Emprega-se como redatora da Agência Nacional, onde convive com os escritores Antonio Callado e Lúcio Cardoso , entre outros .

1942 - Torna-se redatora do jornal A Noite . Escreve seu primeiro romance  , Perto do coração selvagem .

1943 - Obtém a nacionalidade brasileira. Casa-se com Maury Gurgel Valente, colega de faculdade . Os dois terminam o curso de Direito e o marido ingressa na carreira diplomática . A editora A Noite publica Perto do coração selvagem .

1944 - Muda-se para Belém do Pará (PA) com o marido . Perto do coração selvagem recebe o Prêmio Graça Aranha de melhor romance de 1943 . Muda-se para Nápoles . 

1945 - Trabalha voluntariamente em um hospital, assistindo aos soldados brasileiros. A Livraria Agir Editora publica O lustre. 

1946 - Vem ao Brasil como correio diplomático e aproveita para divulgar O lustre. Muda-se com Mary para Berna na Suíça. Publica contos em jornais brasileiros .

1948 - Nasce seu primeiro filho, Pedro , em 10 de setembro. Continua a escrever contos, que publica na imprensa brasileira.

1949 - Mauri é transferido para Secretaria do Estado do Rio de Janeiro. Lança A cidade sitiada, pela editora A Noite.

1951 - Publica seis contos na coleção Cadernos  de Cultura , do Ministério da Educação  e  Saúde.

1952 - Assina a coluna Entre mulheres, no semanário Comício, sob o pseudônimo de Tereza Quadros . Muda-se com Maury para os EUA, grávida. Inicia o romance A maça no escuro.

1953 - Em 10 de fevereiro, nasce Paulo, seu segundo filho.

1954 - Sai a edição francesa de Perto do coração selvagem , pela Editora Plon.

1956 - Termina de escrever A maça no escuro. A pedido do filho Paulo, escreve seu primeiro livro infantil. O mistério do coelho pensante .

1959 - Separa-se do marido e, em julho, regressa ao Brasil. Assume a coluna Correio feminino  - feira de utilidades, com o pseudônimo de Helen Palmer, no Correio da Manhã.

1960 - A Francisco Alves publica o livro de contos Laços de família . Assina a coluna Só para mulheres , como ghost-writter da atriz Ilka Soares , no Diário da Noite .

1961 - Deixa de escrever colunas femininas . A Francisco Alves lança  A maça  no escuro . Recebe o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro , por  Laços  de família.

1962 - Passa a assinar a coluna Children 's corner na Senhor , onde publica contos e crônicas. Recebe o Prêmio Carmem Dolores Barbosa , de melhor livro do ano ,  por A maçã no escuro .

1964 - Publica o livro de contos A legião estrangeira e o romance A paixão segundo G.H, ambos pela Editora do Autor . Desquita-se de Maury .

1966 - Um incêndio provocado por um cigano causa graves queimaduras na escritora, especialmente nas mãos. Corre o risco de morte, mas recupera-se.

1967 - Publica seu primeiro livro infantil . O mistério do coelho pensante . Inicia  uma coluna semanal no Jornal do Brasil .

1968 - O mistério do coelho é premiado pela Campanha Nacional da Criança como melhor livro de 1967. Assina na Manchete a seção Diálogos possíveis com Clarice Lispector, em que entrevista personalidades .Publica o infantil A mulher que matou os peixes  .

1969 - A Editora Sabiá lança Uma aprendizagem  ou O livro dos prazeres . O romance ganha o Prêmio Golfinho de Ouro , do  MIS/Rio de Janeiro.

1971 - Publica o livro de contos  Felicidade clandestina.

1973 - Publica àgua-viva , pela  Artenova . A mesma editora lança a seleção de contos. A imitação da rosa . Deixa o Jornal do Brasil .

1974 - Trabalha como tradutora. Publica o infantil A vida íntima de Laura. Escreve os 13 contos de A via-crúcis do corpo para a Arte-nova. Publica ainda a coletânea de escritos One as estivestes de noite .

1975 - Lança Visão do esplendor , reunião de trabalhos publicados na imprensa . Publica De corpo inteiro , com suas entrevistas .

1976 - Recebe prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal. Faz entrevistas para a revista Fatos e fotos Gente .

1977 - Faz crônicas para o jornal Última Hora. Escreve o livro Quase de verdade e a série de histórias  Como nasceram as estrelas , ambos infantis. Publica o romance  A hora da estrela , pela José Olympio . Descobre que sofre de câncer de ovário em estágio avançado. Em 9 de dezembro , Clarice morre , no Rio . 

Fonte  -  Centro  Cultural  Banco  do  Brasil  -  págs  1,2,3,4 - Caderno distrib/gratuita
Exposição  de  19  de  agosto  a  28  de  setembro  de  2008  - Rio de  Janeiro 


Saudades  

Sinto  saudades  de  tudo  que 
marcou  a  minha  vida.
Quando  vejo  retratos, quando  
sinto  cheiros, quando  escuto  uma  voz, 
quando  me  lembro  do  passado,  
eu  sinto  saudades.

Sinto  saudades  de  amigos  que  
nunca  mais  vi,  de  pessoas  com 
quem  não  mais  falei  ou  cruzei...

Sinto  saudades  da  minha  infância, 
do  meu  primeiro  amor,  do  meu  segundo, 
do terceiro,  do  penúltimo  e  daqueles  
que  ainda  vou  ter,  se  Deus  quiser...

Sinto  saudades  do  presente,  
que  não  aproveitei  de  todo, 
lembrando  do  passado 
e  apostando  no  futuro...

Sinto  saudades  do  futuro,  
que se idealizado,  
provavelmente  não  será  do  jeito
que  eu  penso  que  vai  ser...


Sinto  saudades  de  quem  me  
deixou  e  de  quem  eu  deixei !  
De  quem  disse  que  viria  e  nem
apareceu;  de  quem  apareceu  
correndo,  sem  me  conhecer  
direito,  de  quem  nunca  vou  ter  
a  oportunidade  de  conhecer.

Sinto  saudades  dos  que  se  foram  
e  de  quem  não  me  despedi  direito ! 

Daqueles  que  não  tiveram
como  me  dizer  adeus;  de  gente 
que  passou  na  calçada  contrária  
da  minha  vida  e  que  só  
enxerguei  de  vislumbre  !

Sinto  saudades  de  coisas 
que  tive  e  de  outras  que  não  tive  
mas  quis  muito  ter  ! 

Sinto  saudades  de  coisas  que
nem  sei  se  existiram.

Sinto  saudades  de  coisas  sérias,
de  coisas  hilariantes, 
de  casos,  de  experiências...

Sinto  saudades  do  cachorrinho 
que  eu  tive  um  dia  e  que  me 
amava  fielmente, como só  os
cães  são  capazes  de  fazer!  

Sinto  saudades  dos  livros  que  li
e  que  me  fizeram  viajar  !

Sinto  saudades  dos  discos  que 
ouvi  e  que  me  fizeram  sonhar.

Sinto  saudades  das  coisas  que 
vivi e  das  que  deixei  passar,  
sem  curtir  na  totalidade.

Quantas  vezes  tenho  vontade 
de  encontrar  não  sei  o  que...
não sei  onde...
para  resgatar  alguma  coisa  que
nem  sei  onde  o  que  é  e  nem  onde
perdi...

Vejo  o  mundo  girando  e  penso 
que  poderia  estar  sentindo  
saudades  
Em  japonês,  em  russo,
em  italiano,  em  inglês...
mas  que  minha  saudade,
por  eu  ter  nascido  no  Brasil,
só  fala  português,  embora, lá  no  fundo,
possa  ser  poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se 
usar  sempre  a  língua  pátria,
espontaneamente  quando 
estamos desesperados...
para contar  dinheiro... fazer  amor ...
declarar  sentimentos  fortes,
seja  lá  em  que  lugar  do  mundo 
estejamos .

Eu  acredito  que  um  simples  
"I  miss  you  " 
ou  seja  lá 
como  possamos   traduzir  
saudade  em  outra  língua  ,
nunca  terá  a  mesma  força  e 
significado  da  nossa  palavrinha  .

Talvez    não   exprima 
corretamente 
a  imensa  falta  
que  sentimos  de  coisas  
ou  pessoas  queridas  .

E  é  por  isso  que  eu  tenho  mais  
saudades  ...
Porque  encontrei  uma  palavra  
para  usar  todas  as  vezes  em  que  
sinto  este  aperto  no  peito  ,  meio
nostálgico  ,  meio  gostoso  ,  mas 
que  funciona  melhor  do  que  um  
sinal  vital  
quando  se  quer  falar  de  vida 
e  de  sentimentos .

Ela  é  a  prova  inequívoca  de  que 
somos  sensíveis  ! 
De  que  amamos  muito  o  que  
tivemos  e  lamentamos  as  coisas 
boas  que  perdemos  ao  longo  da 
nossa  existência ...

Fonte  -  Joranla  PRANA    -   pág  18   
Setembro  de  2016   -  De:   Clarice  Lispector  

Era uma Vez... Estrelas em greve



Todas as noites, as mulheres se punham diante da televisão para ver as novelas. Os homens cochilavam no sofá e a criançada brincava com os computadores. Ninguém tinha tempo de olhar para o céu.

Sem plateia, as estrelas decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. A Lua, solidária com as amigas, aderiu ao protesto e também se escondeu.

Foi um fuzuê no mundo inteiro. As galinhas, que dormiam com a estrela-d’alva, perderam o  sono e deixaram de botar ovos. As corujas pararam de piar. Os tatus não saíram mais das tocas. Os grilos silenciaram. Os anjos da guarda, que desciam à noitinha para ninar as crianças, perdiam-se  no caminho. As damas da noite não abriram mais suas pétalas. No escuro, o vento não enxergava nada e não sabia onde soprar. Os poetas caíram em desânimo e a  produção de  poesia imediatamente cessou. Os agricultores ignoravam se era ou não a época certa para semear.  As marés, desorientadas, subiam e desciam à deriva.

Então, os homens descobriram que aquilo tinha a ver com o sumiço das estrelas. Chamaram os melhores astrônomos, mas eles não souberam explicar o ocorrido. Convocaram as feiticeiras para resolver o assunto, elas fizeram lá suas mandingas, mas não adiantou nada. A coisa estava realmente preta. 

Até que, numa noite, um homem saiu de casa e se pôs a contemplar o céu na escuridão. Lembrou que a mãe lhe ensinava a posição do Cruzeiro do Sul . Outro se juntou a ele e recordou as histórias de Lua cheia , quando aparecia o lobisomem . Um velho ouviu a conversa dos dois e veio contar que , em criança , tinha visto o  Cometa  Halley. Apareceu uma mulher e comentou que só cortava os cabelos na Lua minguante .Outra mulher falou que , havia alguns anos , vira uma estrela cadente e fizera um pedido . O marido ouviu e disse que o pedido era ter o amor dele para sempre. Outro homem contou que lhe nascera uma verruga no dedo porque, quando garoto, apontara para as Três-Marias. Aos poucos , as pessoas foram saindo de casa e cada uma tinha sua história para contar sobre a Lua e as estrelas .

Quanto estavam todos na rua olhando o céu vazio , as estrelas , que os observavam do fundo da noite ,apareceram de surpresa , acendendo-se ao mesmo tempo . Foi lindo: parecia uma chuva de gotas prateadas. Em seguida , despontou a Lua , com seu brilho magnífico , como um holofote .

Aí todos entenderam o motivo daquela greve. E, imediatamente, decidiram em consenso: podiam ver televisão, dormir no sofá e brincar com o computador todas noites. Mas, de vez em quando , iriam dar uma espiadinha no céu para ver o show das estrelas .

Fonte  -Revista  - NOVA  ESCOLA  -  pág  trinta e trinta e hum
Novembro  de   hum novecentos e noventa e sete  - Conto  de  João  A. Carrascoza 




Olha  Só  

Como  as  estrelas  pintam  no  céu  ? 

Já aconteceu de você admirar as estrelas do céu e se perguntar como é que elas foram parar ali ? Ou do que são feitos aqueles astros luminosos  ?

Pois saiba que no espaço existem milhares de partículas de diversos gases que ficam vagando eternamente , sem uma direção única.

Por causa da força da gravidade (atração que qualquer corpo exerce sobre outro), essas partículas se unem, formando uma massa gasosa. 

Os  gases que formam essa massa são o  hélio e o hidrogênio  (gás abundante  no espaço), que se unem num processo chamado fusão nuclear (derretimento causado pelo calor).

E aí acontece o seguinte: quanto maior for essa massa, maior será gravidade exercida por ela e mais massa essa estrela atrairá.

Ocorre então uma combustão muuuuuito longa entre tais gases . 

Sabia que cada estrela tem uma vida determinada ? Elas nascem, se desenvolvem e morrem. Mas olha que demora, hein... Elas duram entre cem mil e 50 bilhões de anos . Se a gente pudesse comparar, cada estrela seria uma imensa fornalha espacial

O Sol , que é a estrela mais próxima do nosso planeta , tem quatro , 5 bilhões de anos e é uma estrela muito estável. Cientistas prevem que ele se extinguirá em 7,5 bilhões de anos . Ou seja , sua combustão ainda não atingiu nem a metade de seu estágio  , o 
que nos deixa em confortável situação.

Podemos ficar tranquilos em relação ao nosso astro-rei. Ainda teremos muitos e muitos dias de sol , e , claro , muitas noites estreladas .

Fonte - Jornal  O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO  -  ESTADINHO   -  pág  três
Sábado , vinte e quatro de junho de dois  mil e seis -  Paulo  Guilherme  Holland 

ILHA DA FANTASIA





O RESORT SUSTENTÁVEL NA POLINÉSIA FRANCESA QUE É FREQUENTADO POR FAMOSOS COMO BARACK OBAMA, LEONARDO DICAPRIO E LADY GAGA

Em março de 2017, menos de dois meses após deixar a Casa Branca, Barack Obama decidiu passar quatro semanas em um paraíso na Polinésia Francesa, onde ele começou a escrever seu livro de memórias. O ex-presidente americano buscava um hotel onde pudesse circular despreocupadamente e ouviu uma sugestão do ator Leonardo DiCaprio, que costuma comemorar seu aniversário por lá: o The Brando. Em outubro do ano passado, Lady Gaga curtiu férias no mesmo local, quando conheceu o príncipe Albert II, de Mônaco, acompanhado da mulher, a princesa Charlene. Estavam todos tão à vontade que a noite terminou na cozinha, com o grupo preparando crepes junto ao chef do hotel. E foi lá também que eu passei alguns dias agora em abril, descansando e filmando para o meu canal de viagens no YouTube, o “Carioca No Mundo“.

O The Brando é um resort que leva o sobrenome de seu idealizador, o ator Marlon Brando. Foi inaugurado em 2014, em Tetiaroa, uma das cento e dezoito ilhas que formam a Polinésia Francesa, no Pacífico Sul. O lugar tem apenas 35 vilas, com tamanhos que vão de 96 a 246 metros quadrados. Detalhe: cada uma tem sua própria piscina, de frente para um mar com incontáveis tons de azul, além de um pôr do sol daqueles.

No The Brando, todas as refeições e bebidas estão incluídas na diária. Da água de coco ao champagne Ruinart. O hóspede escolhe onde prefere comer: num japonês especializado em teppanyaki, no espaço gastronômico assinado pelo chef Guy Martin (duas estrelas Michelin) ou de frente para a praia, com os pés na areia, no principal restaurante do hotel. É um sistema all inclusive impressionante .

Aliás, o resort parece ter sido milimetricamente criado para receber quem já se hospedou nos melhores hotéis do mundo. Fora a beleza do lugar, o serviço é discreto e preciso . E tem delicadezas , como os macarons feitos com mel produzido na ilha. E o charme da chegada ?O acesso só é feito de avião, pela linha aérea do próprio hotel, Air Tetiaroa, que opera voos a partir do aeroporto de Papeete, no Taiti. São 20 minutos de viagem, em pequenas aeronaves .

A história de ator Marlon Brando com a Polinésia Francesa começou em 1961, quando rodou por lá o longa “O grande motim“. Ele se apaixonou não só pelo lugar, mas também pela atriz principal do filme , a polinésia Tarita Teriipaia, que viria a ser sua terceira mulher (um dos filhos do casal, Simon Teihotu, trabalha no hotel levando os hóspedes para pescar). Em 1967, Brando investiu 250 mil dólares na compra das doze ilhotas que compõem Tetiaroa . Seu sonho era construir, ali, um empreendimento que fosse o mais ecológico do mundo. Quando morreu, aos 80 anos, em 2004, boa parte do projeto do hotel já havia sido idealizada.

A arquitetura do resort é integrada à natureza . Brando não gostava da ideia de bangalôs sobre as águas, comuns nos hotéis da região . Por isso, as vilas ficam de frente para o mar, mas recuadas. O spa é um oásis de tranquilidade e de bom gosto, em que passarelas suspensas de madeira conduzem os hóspedes às suas instalações em forma de ninho de pássaro. O mesmo vale para o bar do terraço e para o Bob’s Bar, um quiosque de madeira e de palha, batizado com o nome do melhor amigo de Brando.

Porém , a sustentabilidade dali vai muito além. Foi criado um sistema que bombeia a água gelada do mar para refrigerar todo o hotel, o que reduz em 70% a demanda de energia. O lixo é quase inteiramente reciclado, e 4700 placas solares garantem 70% da energia consumida . O restante é provido por geradores movidos a óleo de coco. A água do resort vem do mar: é dessalinizada e mineralizada. Ah, garrafinhas de plástico não entram no The BrandoA natureza agradece .

O SONHO DE MARLON BRANDO ERA CONSTRUIR UM HOTEL QUE FOSSE
MAIS ECOLÓGICO DO MUNDO , ALÉM DE SOFISTICADO E EM LUGAR ESPECIAL

Fonte - REVISTA ELA - pág 55 e 56
VIAGEM - 2018 - Por JAYME DRUMMOND