O cirurgião
Reconstruir o corpo humano é trabalho do espanhol Pedro Cavadas . Em 2009,ele fez o primeiro transplante de rosto com mandíbula e língua do mundo .Agora vai ajudar um paciente a andar novamente – com um transplante de pernas também nunca antes realizado
Por que fazer um transplante inédito como um rosto ?
O caso foi do meu paciente era muito grave . Ele havia perdido parte do lábio superior até o pomo de adão [ após um acidente de carro ] .Não tinha mandíbula nem língua ,e os lábios estavam muito deformados . Havia feito 8 cirurgias em 10 anos,com pouco sucesso . Viveu todo esse tempo com um pano no rosto para não assustar as pessoas . Não podia comer nem falar.
Como foi a preparação para a cirurgia ?
Durou 2 anos e meio . O paciente precisou fazer sessões com um psicólogo. Eu fiz testes em cadáveres e animais .
E a operação em si ?
Começou com a extração do rosto do doador para depois implantá- lo no recepto .Isso levou 15 horas e meia .Aí ,com técnicas de microcirurgia ,enxertamos quase metade do rosto :nariz,boca ,parte das bochechas e maxilar inferior.A segunda etapa foi reconstruir os nervos do rosto , artérias e veias . Também foram reconstituídas os dutos salivares e detalhes da boca e da língua , o que levou mais de 8 horas de operação .
Qual foi a parte mais difícil ?
A mobilidade das pálpebras e o mecanismo de drenagem das lágrimas , além da proteção do glóbulo ocular .Também precisamos fazer uma operação menor antes da cirurgia para reconstruir e dar sensibilidade e movimento à mandíbula e a língua .
Agora você está se preparando para realizar um transplante duplo de pernas ,algo também inédito . Quais são os desafios de uma cirurgia pioneira como essa ?
O transplante de pernas nunca foi feito porque a próteseé a mais indicada na maioria dos casos ,e geralmente funciona muito bem .Mas este é um desafio novo :o paciente não tem pernas acima dos joelhos . Como a operação nunca foi feita , há pouca informação disponível e precisamos estudar com base em situações similares .A cirurgia ainda não tem data prevista porque espero a aprovação do Ministério da Saúde espanhol , que autoriza procedimentos inéditos .
Dá para dizer que chegaremos ao ponto de reconstruir um ser humano ?
Em um futuro próximo será muito mais frequente transplantar não só as mãos ,os braços, e sim todo o aparato locomotor . Já somos capazes de transferir cirurgicamente qualquer parte do corpo.Mas ainda falta avançar nos estudos sobre medicação e sistema imunológico,e principalmente em como evitar rejeições .A farmacologia ainda está muito atrás da técnica cirúrgica .
E como é sua rotina quando está fora da sala de cirurgia ?
Atendo em meu consultório das 8h às 21 h . Também costumo viajar ao Quênia para realizar aten- dimentos cirúrgicos como voluntário . Lá faço cirurgias de reconstrução simples , na maoria em crianças com sequelas de queimaduras , tumores , fraturas , má-formação . Os adultos têm sequelas de agressão e disparos de armas . Desde que me formei – hoje tenho 45 anos – já fiz entre 12 mil e 14 mil cirurgias , o que dá mais de 4 por dia .
Fonte - Revista - SUPERNOVAS
Maio de 2011 - pág 33 - SUPER
Texto - MARINA GONÇALVES
Os 100 anos da Primeira Guerra
O início do século XX foi marcado por inovações tecnológicas
movimentos culturais e um conflito
O século XX rompeu em paz e repleto de promessas . Um mundo novo e moderno se descortinava capitaneado por inovações tecnológicas,por importantes movimentos culturais e movido a muito carvão e eletricidade .O surgimento do cinema , a consolidaçãodas comunicações via telégrafo e , logo depois , por telefone , globalizavam a informação.
Transatlânticos cruzavam os mares ,cobrindo a distância da Europa às Américas em uma semana ;o dirigível e o avião ganhavam os céus e os primeiros automóveis começaram a circular nas ruas das grandes cidades .
- A última guerra havia ocorrido em 1870 e, desde então , a Europa vivia um longo período de paz – explica o historiador Marcello Scarrone , da revista de História da Biblioteca Nacional . - A burguesia dos diferentes países se considerava euro-peia , ocidental , e viajava muito ,de um lado para o outro ,num circuíto das classes mais abastada do qual até mesmo a Rússia fazia parte .
CIÊNCIA E PSICANÁLISE
O intenso fluxo de ideias que se alastram rapidamente pela Europa burguesa e in-telectual abriu caminho para novas e revolucionárias ideias ; da psicanálise de Sigmund Freud à Teoria da Relatividade Geral , de Albert Einstein , passando pela sombra literatura de James Joyce e Franz Kafka .
Enquanto Einsten subvertia a noçãoi de espaço e tempo , e Freud propunha a existência do inconsciente ,Pablo Picasso destorcia as formas das suas " Demoiselles D' Avignon " para fundar a arte moderna. O mundo nunca fora tão moderno e promissor .
- A linguagem estética e científica acompanham o processo produtivo - sustenta o especialista em história contemporâneada Universidade Federal Fluminense (UFF),Bernardo Kocher . - É a segunda Revolução Industrial em marcha , com o uso da ciência e tecnologia como elementos básicos da competição econômica ,com a eletricidade , a química , a metalurgia , e a generalização da sociedade do consumo de massa , com a popularização de itens como o relógio de pulso , o chá , a bicicleta . Scarrone concorda com o colega .
- Aquele era o grande momento da ciência na europa , daquela sensação de quase certeza do inevitável e irrefreável progresso científico da Humanidade : todas as fronteiras do conhecimento seriam conquistadas ,as respostas gerais e globais seriam encontradas .
Anacronicamente,as estruturas de poder se mantinham arcaicas,calcadas em impérios seculares , no espansionismo colonial , na exploração de mão de obra barata nas fábricas , nas péssimas condições de vida de proletários nos grandes centros urbanos , na ausência de leis trabalhistas .
O mundo caminhava para um choque entre duas realidades distintas , entre transformação e tradição , que produziria uma das maiores carnificinas da História , der rubaria império e recriaria a ordem geopolítica mundial , entre 1914 e 1918.
Enquanto os europeus viviam sua época de ouro , forças econômicas e ideológicas se uniram para pôr fim ao idílio
- Governos constitucionais avançavam ,mesmo na Rússia ; a classe trabalhadora conquistava alguns direitos e benefícios ,os sindicatos se fortaleciam - enumera a histo-riadora britânica Margaret MacMillan , da Universidade de Oxford , autora do re-cém-lançado " The war that ended peace " ( A guerra que pos fim à paz , em tradução livre ) . - Havia muitas mudanças acontecendo, e os problemas sociais certamente contribuíram ( para a eclosão da guerra ) , certamente foram um fator , mas não a causa principal.
Margaret não considera , no entanto , que a guerra fosse inevitável :
- Conseguimos olhar para trás e ver por que ela aconteceu ,mas não acho que fosse inevitável . Acho , sim que foi um erro , que ocorreu por resultado de pressões , de tensões e de más decisões políticas .
Enquanto os europeus vivam os estertores de sua Belle Époque , da sua época de ouro , forças ideológicas e econômicas se conjuravam para por fim ao idílio burguês .O aumento do proletariado ,o incremento do movimento operário e o fortalecimento dos sindicatos a insuflar novas ideias , desafiando -os até então dominantes valores do capitalismo .
A expansão colonial gerava riquezas para impérios europeus , mas gerava também um intenso fluxo de migração e pobreza para os imigrantes e, segundo alguns historiadores ,teria sido um dos principais fatores para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
- De um lado , as inovações tecnológicas geravam desemprego ; de outro , novas linhas de produção faziam crescer a classe operária , fortalecendo os sindicatos - conta Kocker . - as instituições internacionais no entanto, não evoluíam ; o mundo se transformava ,mas o cenário internacional não tinha regulação ,não dispunha de formas atualizadas , não dispunha de formas atualizadas de negociação .
Para Hocher , o conflito que levou à eclosão da Primeira Guerra deixa isso bem claro : - Houve um colapso das relações internacionais e a consolidação rápida de blocos de poder,centrados , de um lado, na Alemanha ( que logo se uniu ao Império Austro- Húngaro ) , e de outro , na França e na Inglaterra ( às quais depois se uniu a Rússia ) .
COMUNISMO GANHA TEMPO
Para Margaret Mac Millan , as raízes pra as ideologias que depois se revelariam nefastas , como o fascismo e o comunismo , ganharam terreno na Primeira Guerra .
- As noções de socialismo e comunismo já existiam desde muito antes de Revolução francesa - sustenta a historiadora britânica . - Mas o que a guerra faz é torná-las mais atraentes para os idealistas , que queriam um mundo melhor , na medida em que prometem uma sociedade mais justa , mais igual .
A guerra acabou por escancarar as falhas da Belle Époque europeia .
- A guerra mostra uma realidade que será totalmente realizada posteriormente , comos regimes totalitaristas e a Segunda Guerra Mundial : o drama da condição humana,o drama daqueles que acreditavam no progresso sem fim da civilização e se dão conta de que devem recomeçar tudo de novo - resume Scarrone . - O século XIX é o do grande otimismo das convicções , das certezas ; o século XX tudo isso entre em crise até o fim da Segunda Guerra . Foi o fim de um mundo que parecia em paz .
Fonte - Jornal O GLOBO - pág 31
Sábado , 5.7.2014 - História - ROBERTA JANSEN
JÔ SOARES
É interessante o quanto a falta de inventividade se apossa de cenário artístico do país ,em contra ponto ,uma das culturas mais ricas do mundo ( a começar da nossa língua ,falada em mais de vinte modos diferentes ) .
Com tudo o que tem direito o programa “ Jô Soares Onze e Meia “ completou quatro anos . Que ele é bom , todo a mundo sabe , e basta os aventurar com o controle remoto afora para certificarmo-nos o quanto ele poderia ser ruim.
Tentando renascer das cinzas a TV Manchete promoveu a volta ao vídeo do figurinista Clodovil Hernandes . O pseudo -programa de variedades é rigorosamente cômico.
Há uma pequena plateia , um solista , o convidado também se senta diante de uma mesa e tudo segue aos moldes de “ Onze e meia “ . O que difere é que no programa de Clodovil há um toque de elegância ao servir um vinho do Porto , prontamente derrubado com a insistência do apresentador ao grantir sua procedência .
Jô Soares não faz café . Nem mesmo revela o que teria dentro de sua caneca , que também raramente oferece ao entrevistado . É só na TV Manchete se consegue reviver o constrangimento de que somos vítimas ,quando queremos dar atenção a nosso convidado ao mesmo tempo que lhe fazemos um café . Não há assunto nem coor-denação motora que resista . E bravamente , Clodovil vende o novo modelo de cafeteira todas as noites . Mesmo com o preço comparado às cafeteiras italianas, se-gundo vendedoras do shopping Iguatemi ,“ a cafeteira do Clodovil ” tem uma saída espantosa . Só o Brasil é capaz disso .
Noites atrás , uma psicanalista brasileira , avesso a medicina e a psicanálise oficiais , declarou a Jô Soares que uma pessoa energeticamente bem aparatada jamais contrairá o vírus da Aids . E mais : disse que a doença , assim como o câncer , não existiam . Eram invenções da medicina convencional . O que se viu a partir daí foi um verda-deiro show de ética de Jô Soares , que aflitivamente discreto , tentou fazer a psica- nalista retirar o que tinha dito porque nem o programa , nem ele , poderiam “ assumir a SERIEDADE do que estava sendo declarado “ . Foi um pasme . Esta ética , este sentido jornalístico ,este comportamento profissional é dos mais nobres .
O “ Onze e Meia “ também é repetido ainda mais cedo que às 22 horas da Manchete. Vai editado às 20h30 na TV 2 Cultura , apresentado por Marcelo Rubens Paiva . Tem uma pequena plateia , música na entrada dos convidados e incidentalmente uma perfomance . Ou seja , dirigido ao público jovem , tem seus modos modernos de se expressar . E o pseudo apresentador que é também , pseudo jornalista , pseudo es-critor e faz esforço para ser um intelectual , fala , fala e tanto de quanto seus convi-vidados não dizem absolutamente nada .
Uma editora da Folha de São Paulo esteve recemtemente naquele programa e o resultado , uma multidão . Havia dois aspectos : a necessidade de alguns artistas chamados marginais em classificar a editoria de variedades da Folha de São Paulo enquanto cultura oficial e a necessidade da jornalista em rebater evasivamente as argumentações . No meio , um Rubens Paiva enfadado , olhando para a pauta com cara de " a que horas eu posso ir para casa " ?
Uma entrevista para ser boa precisa efetivamente de um interesse jornalístico e um re-pórter que tenha sensibilidade em conduzir a conversa , de preferência , sem o rigor das pautas , para que a espontaneidade possa aparecer e contagiar o telespectador . Jô Soares é um homem que há muito sabe que perder a vaidade é ponto de partida para profissionais . Algumas vezes ele chegou a deixar que o humorista passasse a perna no jornalista , mas sempre se recompõe. Uma verdadeira integração entre o fato em si e a maneira de apresentá-lo é que leva a empatia , ao aprendizado e principalmente , ao serviço . O jornalismo é isso , um serviço prestado ao público .Não um espelho de vaidade , um meio de auto-promoção , nem de psicologias domésticas , ou um levantar bandeiras de minorias e outras infelicidades .Enquanto o jornalista não respeitar seu convidado não terá respeito ao público do programa . Porque não estará respeitando o público . Levamos quase trinta anos para descobrir a verve de Jô enquanto jornalista . Ainda bem que o encontramos . A TV brasileira precisa de riquezas . Sem câmaras de close .
Fonte - Jornal das Artes - pág 15
Ano 1994 - CAROLE CHIDIAC
Atualidades
Em 22 de abril de 1500 ,Pedro Álvares Cabral , explorador português chegou às terras do novo continente, carregando consigo a compreensão que , além de expandir o domínio da coroa por - tuguesa ,estaria igualmente ampliando a presença da Igreja Católica no mundo.Isso fica claro quando , no dia 26 de abril de 1500 , já foi rezada a primeira missa em solo brasileiro pelo Frei de Coimbra , que acompanhava a expedição de Cabral.
A partir de então ,a fé católica passou a se espalhar por nosso país , desde seu período colonial .Uma das expressões mais evidentes dessa fé enraizada na cultura é o símbolo da Cruz ,que está presente nos marcos de fundações de muitas cidades his- tóricas .Também há cruzes que são colocadas em morros , estradas , próximo de rodovias , para marcar um sinal de fé , um local de falecimento ou uma devoção às algumas .Outras características interessantes de nossa identidade católica estão nos no -mes de muitas cidades que se referem aos santos católicos , além dos brasileiros que têm seu nome inspirado nas devoções e /ou promessas familiares .A devoção aos santos ,especialmente à Virgem Maria , marca nossa fé popular expressada nas peregrinações a lugares de culto ( Santuário Nacional de Aparecida ) , nas procissões realizadas pelas ruas,nas pequenas imagens que cada família possui em suas casas igualmente na invocação de um Santo no dia a dia de nossa vida , como quando alguém se afoga , por exemplo , imediatamente dizemos “ São Brás “ . Em tudo isso , vemos a fé inserida na cultura brasileira .
Por isso , é importante que essa nossa experiência popular de fé , que recebemos des-desde o período colonial , seja sempre mais amadurecida e compreendida por todos nós . A fé cristã tem seu fundamento na pessoa de Jesus Cristo e em seu Evan - gelho . Desse modo , cabe a nós , como Maria , tornar-nos sempre mais seus discí-pulos – missionários , para que a mensagem de Amor , Salvação e Vida continue ten-do sentido entre nós , brasileiros .
Enfim entre os exemplos citados , Nossa Senhora Aparecida tem um lugar todo es-pecial .Em sua pequenina imagem ,Maria se identifica com nossa cor e assume nossa identidade brasileira , apesar de sermos um povo proveniente de muitas culturas e nacionalidades : com diversas com diversos e traços recebidos de nossos irmãos indígenas , europeus , africanos e asiáticos . Somos um povo multicultural e com diversas etnias ,porém , que compartilha , desde suas raízes , uma única e profunda fé .
Fonte - Revista de Aparecida - pág 26
Ano 2022 - Pe. Jonas Luiz de Pádua , C.S.s.R.
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