segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Máquina de moer reputações será ativada

 



EDITORIAL

Que  a  política  é um  terreno  pantanoso ,repleto das  diversas  armadilhas , em  que neófitos  e  raposas experientes são  envolvidos em  toda  sorte de  situações , isso  já   é  de  conhecimento  público. E com a  ligeira  proximidade das eleições municipais , as pequenas, médias e  grandes  cidades já  se  deparam com  atores  políticos disputando  narrativas para o  convencimento da  população de cada  município .É natural ,e faz  absolutamente parte do  processo democrático e          da  disputa de poder . No  entanto , o que se  torna  nocivo  neste  contexto , é o  desvirtuamento        dos reais interesses e  necessidades  da população ,colocando a  disputa de narrativas  pelo poder , acima do  que  os  cidadãos  estão  esperando . 

As  eleições  no  Brasil , com destaque  para os  pleitos municipais , são  oportunidades     que  ao menos  deveriam  ser  consideradas  como  um  divisor  de  águas  no tange a  equacionar os  pro-blemas  do  país , afinal , cada  brasileiro  vive  em  um  município . E  a  partir  de  cada  um , com      a  exposição  das  principais  demandas  e  anseios ,  se  vislumbra  um  futuro  melhor . Contudo ,    não  é  bem  assim  que  acontece . Grupos  políticos , de diferentes  correntes  ideológicas , se  per-dem  no  meio do  caminho ( se  é que  um  dia  já  tenham  se  encontrado  no  prumo ) , e  inferio-rizam  o debate  da  solução  de  problemas  locais   para  ataques  pessoais  desnecessários ,  apa-rentando  não  disputar  um  pleito  eleitoral  , mas  dando  claras  sinalizações ,  de aniquilamento      do  adversário , ativando  sem  dó  ou  piedade   a  "  máquina  de  moer  reputações  " , que somente  os  que  respiram o  ambiente político conhecem bem seus  efeitos . Alguns , até  irreversíveis . Ou - tros ,nem tanto , pois  contam com  a  memória fraca  de  uma  parcela  do  eleitorado .

Em  paralelo ,  nem  sempre  a  máquina  de  moer é  ativada  por  adversários . O  histórico  de  de-terminadas  figuras  políticas  se  tornaram  unicamente  o  obstáculo para   o  sucesso  eleitoral  , e  seus  algozes  dão  apenas  um  "  empurrãozinho "   rumo  ao  precipício . Mas qual  o  limite  desta  máquina ,se  é  que  ela  tem ? Ainda  mais  com  muitas  fake  news  ,com  o  avanço da  IA  e tantos  mecanismos  tecnológicos  ...  A  que  visando  salvaguardar  a  nossa  democracia .    

Fonte  -  Jornal   Correio  da  Manhã  -  pág  2   -   OPINIÃO                                                              Data  -  Sexta -feira , 12 a  domingo  , 14  de  Julho  de  2024


domingo, 29 de setembro de 2024

OS TÉCNICOS " SABE - TUDO " ...

 




Faz  muito tempo que a  questão me  preocupa ,como furúnculo inchado ,não  espremido , latejante . Mas nunca  tive  coragem  para dizer o  que eu  estava pensando . Até  que  uma   colisão  acidental   -com um  técnico fez estourar o  furúnculo ,o  pus escorreu  e saiu o  berro  de  exorcismo que  estava  entalado .

Um técnico de  boca  aberta é mais  perigoso para  a  democracia que uma  urna  de  boca fechada .

Sei que seu  impulso imediato , frente a  afirmação tão  estapafúrdia , será de  interromper a  leitura . Qualquer  coisa tem de  ser mais  séria que  tamanho  disparate .

Claro que é disparate . Todo  mundo sabe que  nosso mundo foi  gerado nas  entranhas  dos técnicos . Filhos deles ...  Eles falam  e acontecem  usinas hidrelétricas ,barbeadores descartáveis ,viagens inter planetárias , coadores de papel , anticoncepcionais , computadores , brinquedos  eletrônicos , marca-passos  para  corações  trôpegos , salsichas , canetas esferográficas , armas mais inteligentes , inteli-gências  mais  armadas ...

Mas antes de  interromper sua leitura , por  favor , ouça  as  minhas razões . Ela  têm  uma história . 

Tudo aconteceu por  causa de um incidente com a administração da Cidade de Campinas .Havia um pequeno balão ajardinado , no  meio da avenida  Brasil . Lá no  centro , uma velha Tipuana  , antiga conhecida todos . Era  uma ilha  em meio  à  selvageria do  tráfego . De  lá as pessoas podiam esticar  suas  línguas para  os  automóveis ,impunes. A Prefeitura resolveu alargar a tal avenida .Mais espaço para os  automóveis .Era necessário correr mais . E assim se decretou a morte  do balão e o corte de  Tipuana . A  população  berrou . O  balão  não sai . É  parte do  nosso corpo . Fica a  Tipuana e  sua sombra . Os carros que  trafeguem  pedindo licença , devagar como  convém  às  máquinas . Afinal,      o desejo de  quem mora deve  ter  prioridade sobre  tudo o mais . Houve até um  moço  que se  aco-rrentou  à Tipuana , já   transformada em  símbolo de  um desejo . A  Prefeitura recuou e todos  can-taram  vitória . Tolice . Poucos  dias depois  a  administração  investiu  como um  tangue de guerra . Açao de comando . O  técnico  convocou a força das armas . A polícia obedeceu . O  lugar foi ocu -  pado A  Tipuana foi  cortada . A  praça  foi  arrasada. O  técnico  responsável justificou  sua ação alegando que  " o  povo é  ignorante  em  questões  de  tráfego " .

Acham absurda  a  prepotência do  técnico ?  Mas ele  é  absolutamente lógica . Ele simplesmente repetiu aquilo que já instalou como realidade , em meio à  nossa vida cotidiana . 

Assim ,o povo deve se  calar sobre questões militares , porque os especialistas estão cuidando de tudo . Em  assuntos  econômicos será  bom que  ele  se  dedique a  produzir e  a  consumir , já  que todos os  outros problemas foram entregues a  quem sabe . Na  saúde a  mesma coisa . O  doente  abre  mão do  seu próprio corpo e o entrega  às manipulações das  pessoas e  instituições que  detêm o monopólio do  saber sobre a  vida  e a morte . E se o  povo  chora  o desaparecimento de  Sete Quedas , vem  o vere-dito  tranquilo e  irrevogável .

Era  necessário . Os  técnicos  assim o disseram .

É o mesmo acontece na  educação , na  política agrícola , no  planejamento urbano ...


É por isso que eu disse que um  técnico de  boca aberta é  mais perigoso para a democracia que uma  urna de  boca fechada . Quando as  urnas estão de  boca fechada tudo  fica  claro . Não há  lugar para  equívocos . O arbítrio e a violência se apresentam sem  qualquer pudor , no horror de  sua nudez , obs-cenos ... E todos  ficam sabendo que  mundo é este em  que  estão  vivendo .Mas a coisa é  muito dife-rente quando  os  técnicos  abrem  as  suas bocas . É  aí  que começam  equívocos . Tudo  se recobre com  uma tranquilizadora aura de saber e  isenção , o que faz com que  todos digam  aliviados .

Puxa , como é  bom saber que as decisões estão  sendo  tomadas por quem tem  competência .A gente até pode  dormir melhor .

As  urnas de boca  fechada são  honestas .Não há  formas  de não se entender o que elas dizem .Mas a  voz dos técnicos embaralha tudo e as  pessoas se confundem .Chegam mesmo a  imaginar que  o ideal  platônico do  rei - filósofo está  finalmente se realizando . Platão sonhava com um dia em  que o  poder se  reconciliaria  com o  saber e pensava que, quando  isto ocorresse , o mundo ficaria  justo e  as  pes-soas  encontrariam  a  felicidade . Um  poder sábio  tem que  ser  um  poder  bom  ...  Esta  é  a  razão  por que  todos se  descontraem quando são  informados que o  mundo  está nas  mãos de  especialistas . Quem sabe não    erram .

Mas o problema real começa nas coisas que não são  ditas .Vejam o que ocorrer quando nos informam dedicadamente que  a  questão é de ordem  puramente técnica . Sorrimos ,  fulminados pelo  caráter ir-revogável e final do que nos foi dito , enfiamos a  viola  no  saco ,damos -meia - volta  ,calamos a boca e nos esquecemos do  assunto . Quando os técnicos  têm  a  última palavra , aqueles  que  não são téc-nicos não tem  palavra alguma . Daí  minha  convicção : técnico de  boca  aberta  faz  mais  mal  à  de-mocracia que  urna  de  boca  fechada .Mas quando nos dizem que o  assunto deve  ser decidido tecni-camente aceitamos ,  sem maiores esperneios , a  necessidade do  nosso  silêncio .Voluntariamente mu-damos de assunto . Afinal de  contas , falta - nos a  competência dos  especialistas . Acreditamos que  a eles pertence o  monopólio do  saber . E , claro , tratamos de  fechar a porta . Ficamos  quietinhos , as-sistindo ritmicamente com  cabeças  pinoquiais .

Por  outro  lado , ninguém negará  que aqueles que  detêm o  monopólio  do saber devem  deter tam-bém  o  monopólio do  poder . Esta  conclusão  é  resultado de  uma  lógica  férrea.   Seria  absurdo admitir o  contrário  : que os que sabem  fiquem  sem o  poder enquanto os que não sabem fiquem sem o  poder enquanto os que  não sabem passam a  manipulá - lo .  Se  há  técnicos que sabem por  que  dar  o  poder  a  um  povo que  não  sabe ?  De  fato ,    uma vez  admitido que  um grupo , definido como técnico , detém  o  monopólio do saber,   define --se  naturalmente a  configuração do  jogo  político ; o  poder a  quem sabe  ... Em  outras  palavras  : existe  sempre  um  autoritarismo  disfarçado  dentro da  arrogância do  poder . 

Assim , na  medida em que se expande o  mundo dos  técnicos e se definem as  áreas  controladas por  usa  competência , encolhe o  poder  do  povo e  cresce o  seu  silêncio e sua  impotência . É  inútil  que  as  urnas se  mantenham  com  bocas  escancaradas :  o povo perdeu  o  poder por  lhe ter  sido roubado o  saber . E quem  se  entrega ao  saber  do outro acaba  por  ficar  ao  sabor  do  outro . E ficar ao  seu  sabor é  o  mesmo que  estar  dentro de  sua boca , pronto  a  ser  engolido  .

Fonte  -  Livro  ESTÓRIAS  DE  QUEM  GOSTA  DE  ENSINAR    -                                        RUBEM  ALVES  -   CORTEZ     EDITORA - 17 :  edição   -São  Paulo 


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

UM ESPAÇO PARA O HOMEM

 




Para  desmitificar  o espaço ,cumpre levar em  conta dois  lados essenciais de  um lado  a  paisagem , funcionalização da estrutura  técnico - produtiva e lugar da fetichizações de  outro , a  sociedade total , a  formação  social que  anima o  espaço .Por  conseguinte , cabe-nos também  desmitificar o  homem . 

Vemo-nos ao mesmo tempo diante de um problema de  conhecimento e diante de um problema  moral .

Desfetichizar o  homem e o espaço é arrancar a  Natureza os  símbolos que ocultam a  sua   verdade , vale dizer :  " tornar significante  a Natureza e tornar naturais os  signos " ( Gillo  Dorfles , 1972 ) é revalorizar o trabalho e  revalorizar o  próprio homem ,para que ele não seja mais  tratado  como valor  de  troca .

 Poucos geógrafos e  cientistas  sociais suspeitaram que toda  discussão  filosófica em  torno da perce- pção e da  objetividade os interessava , da mesma forma  que a  metamorfose  do    universal em parti-cular ,de essência na  existência , que  constituem a  base mesma de uma fenomenologia  da  Natureza . A  discussão teórica limitou -se , a princípio , ao  diálogo  homem - natureza , mas essa discussão apre-sentava-se  sob uma  forma  dualista .

Permaneceu -se na ideia de que  a  percepção não se referia  ao sujeito  nem tampouco ao   objeto , de que o comportamento era  estranho às determinações  sociais ,  como  se  a práxis  individual de cada uma  reunida  às  práxis individuais dos demais desse como resultado a  práxis  social em sua  totali-dade  quanto ao  espaço fetichizado  e a  Geografia tornou-se ideológica  , hostil ao  real .

Enquanto neste mundo é regido pela  lei do movimento , as ciências do homem deter o pensamento e  dissociar -se da  dinâmica  social isto é , da  realidade . Quando o  método está aquém da  descoberta , as  ciências  humanas ficam atrasadas em  relação ao  futuro e  mesmo  em  relação  ao presente , por  trabalharem  unicamente com o  já feito .

Deveríamos fazer da  autocrítica um  ato de  consciência assim como  Saul  Bellow o fez em  relação  aos escritores quando  recebeu  o  Prêmio Nobel de  Literatura  de 1976 , ao dizer :  " Nós  não  repre-sentamos a  humanidade  de  maneira adequada " . 

Certo ,nós  não  mudaremos  o  mundo , mas  podemos  mudar o  modo de  vê-lo . Isso  é   importante porque só assim  poderemos escapar  ao dogmatismo epistemológico e   marcar  um encontro com  o  futuro . Precisamos , ainda  uma vez , recorrer a  Sartre  (1963 , p. 96 )   "homem como  perspectiva do  futuro , e que  esse  futuro penetra até o  coração de  cada um como uma  motivação real ao  seu  com-portamento " .

Haveremos  então de  construir uma  outra  moral , aquela  reclamada  por  Eric  Fromm (  1976 ) para a  humanidade  rejuvenescida , moral em que o  ser ultrapassa o  ter , em que    a  generosidade ultra-passa o  egoísmo . Mas uma  moral é  também um  programa  político ,  caso  não  queira  esgotar -se na  retórica . Se , como afirma  V. Ferkiss (  1969 ,  p. 101 ) , essa filosofia " é  essencial se  quisermos sobreviver como seres  humanos numa  sociedade   humana " , devemos então  bater -nos  para que ele triunfe , fabricando os  instrumentos teóricos e  práticos da  reconstrução .

Devemos nos preparar para  estabelecer  os alicerces  de um  espaço  verdadeiramente humano , de  um espaço que  possa  unir  os  homens  para e  por seu trabalho ,mas não para em seguida  dividi -los  em  classes , em  exploradores  e  explorados ; um espaço matéria - inerte que seja trabalhada pelo  homem mas não  se  volte contra  ele ;  um espaço  Natureza  social  aberta  à  contemplação  direta dos  seres  humanos , e não  um fetiche ; um  espaço  instrumento de reprodução da  vida , e não  uma mercadoria  trabalhada por  outra  mercadoria , o  homem  fetichizado . 

 Fonte  -  Pensando  o  Espaço  do  Homem  - págs  39  a  41  Editora da  Universidade  de  São  Paulo  - 5a Edição  (  2021 )   MILTON  SANTOS  



" Quando a  divisão do  trabalho  e a  cooperação perversa por ela  ocasionada se  estendem à  escala  do  planeta, o  mundo como  espaço  se  torna  espaço  global  do  capital " .

Milton  Santos está a  nos  dizer que  o  mundo da  mercadoria se  tornou o  mundo ;  que a  universa-lidade abstrata do  dinheiro  ( capital  por  excelência) atinge o  mais  recôndito dos lugares e as  mais  finas , as  mais  tênues  relações ; que  ao  indivíduo , sujeito  histórico  gestado no longo processo de mundialização  do capital, vai  sendo  negada a  individualidade , restando -lhe a  competição  genera-lizada  ; nestes  termos , a vida se  estabelece no  irrisório , dominada pela  pobreza com  os  seus  múl-tiplos sentidos .

Mas  como  Milton  Santos  desconfiava que  isso não poderia encerrar  a  História inteira , deixou a  mensagem de  que  "  é  inútil imaginar  que  a  pobreza poderá ser  eliminada sem  a  eliminação da  atua  estrutura de  produção os  investimentos  do  consumo " .  " A produção  viabilizada pelas  reais  necessidades da  maioria da  população deve ser  solidária   com essa . Não  mais  se  tratará de uma  produção autônoma como  até agora , mas  estritamente  ligada ao  consumo da  sociedade como  um todo " .



  

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Instinto Gregário

 




A palavra  gregário vem do  cálculo latino  "  grex " , que significa  rebanho . Instinto gregário   é aquele que faz as  pessoas se  sentirem compelidas a estarem umas com as  outras , formando gru -    pos de  influências mútuas , onde  há uma  liderança à qual  todas seguem  ou obedecem .

No mundo animal ,são muitos os bichos que apresentam este instinto ,de forma bastante perceptível, algumas espécies de aves ; ovelhas e carneiros ; cavalos selvagens ; javalis e até  mesmo elefantes ; animais fracos ou fortes , capazes ou não de se defenderem sozinhos de seus  naturais predadores .É provável que o instinto gregário se desenvolveu , nos animais,  como uma decorrência do  instinto de  conservação da  espécie . Juntos , estes poderiam se  proteger melhor dos  ataques inimigos , assegu-rando - se uns  aos  outros : alertando da  presença ; dispersando e  confundindo o  inimigo .

Nos  seres humanos , também está presente  o  instinto gregário , que pode se  manifestar de  inúmeras forma : na  formação de grupos , desde os  menor e até aqueles que  reúnem na adoção de costumes e  bem - quistos , no  meio- social ;  na  submissão  hierárquica das   diversas instituições e, de  maneira especial , no  seio da  instituição família .

O  instinto gregário se manifesta , ainda , na  necessidade das  pessoas de se verem parecidas ou iden-tificadas  - umas  com as outras , em suas  formas de ser , de  pensar e de  agir .

Do lado contrário do  instinto  gregário está  o  desejo , a  necessidade , também profunda ,de liberdade e de  originalidade . As  identificações e semelhanças  proporcionam sensação  de  segurança . As  dife-renciações , por sua vez , desafiam a  busca  do novo , fomentam  o  progresso  e o  desenvolvimento , topem os  limites do  desconhecido , ampliando os horizontes  das  possibilidades  humanas , em todos os  sentidos e  direções . Gregarismo e liberdade são  tendências opostas , que incitam ao  controle de uma  através da outra . Encontramo-nos entre essas  duas  tendências . Precisamos  estabelecer uma  maneira equilibrada de  projetar  atitudes que manifestem tanto  nosso  ser pessoal  como nosso ser   pessoal  como  nosso  ser  total .

Fonte  Jornal  Gazeta  Penhense  -  pág  8   -  São  Paulo  Leste                                                          Data  -  São Paulo , 2 a 9 de julho de  2022  - Atendimento Psicológico   - José Morelli                       Ver Lucia  Morelli


domingo, 15 de setembro de 2024

Seu inimigo mais íntimo

 





Estou na  maior praça do mundo . Tiananmen , Pequim . Poderia estar  na menor , já que não enxergo    dez metros à frente do meu nariz .O ar é pesado e opaco. As cores  esmaecem , os contornos se diluem .

A  poluição chinesa , em duas semanas , vai cair  sujeirada faz amarelar o  sorriso da  Mona Lisa  lá em  Paris . A  fumaça da  Europa desaba em Manaus . As queimadas fazem chover cinzas na  Avenida  Pau-lista , cujos carros sujam o  ar da  África , A poeira dos  bombardeios  americanos no Iraque escurece o  Taj Mahal . Um  bilhão de  indianos , com seus carros  populares novinhos , sujam o céu da  China , cu- cujas  centenas de milhões de  novos consumidores  alimentam  a cadeia a  cada dia .

Corte rápido para  o  americano tomando um copão de  café  na  cadeia de lojas  da  logomarca verde ,  redondinha . Close  na  mão do gringo . Entre os dedos e o copo , um curioso anel de papel reciclado evita que o  cowboy se queime . Em letrinhas não tão  miúdas , orgulhosas , lê-se que aquele estranho  aparato ajuda  a " save  the  planet " .

" Save  the  planet  "  ( salvar  - ou  economizar - o planeta ) ? Como  a  produção de  ( mais ) um  pe-  daçao de papel pode  salvar  o  planeta ? Que  baleia ! Por que não usam xícaras de porcelana ?

De dentro da lixeira transbordante salta um especialista pintado de  verde- dólar que esclarece tudo .    " A  energia para  produzir uma  xícara e a água para lavá-la várias vezes consome ainda mais recursos  naturais que o  papel reciclado do protetor de calor e o descartável  do copo envernizado " . Não  sei    se  é  verdade ou mentira , mr  Dollargreen , mas , e se as suas  milhares de lojas simplesmente não   existissem ?  Quantos copinhos a menos por dia ?  " Não podemos fazer isso , seria uma  catástrofe , replica o  monstrinho  Bucks . " Quantas famílias perderiam  seu sustento se todos  os nossos cafés fe -  chassem  as  portas ? "



Esse é o  raciocínio dominante : deve-se fazer o  maior  marketing possível sobre poluir o  menos pos-  sível  mantendo  intacta  a  sociedade de  consumo , essa sim  intocável . Se é a  cadeia  do  consumo que faz girar o mundo , não se pode  atacá-la jamais , sob o  risco de a Terra  parar de  rodar .Tratar-se-   ia , pois , de  " racionalizar " o uso  dos  recursos , fazer de tudo para que não mudemos substancial - mente nada . 

Na virada do século passado , surgiram na  Europa  escolas de  pensamento que , em discordância da  aceleração da  vida  pós - Revolução  Industrial , pregavam utopias  de retorno , o abandono das  má -  quinas ,  o retorno à  vida simples  do  campo . Na  virada deste  século , o mesmo fenômeno  se fez  notar  nos  EUA  , onde famílias se mudaram para o mato  e  os pudo  polui . Esse é o problema . Estou escrevendo mais , no Natal , em vez  de  computadores , presentearam os  filhos  com arranjos de gra-vetos . Os  " retornistas "   não vingaram  e o    mundo  inteiro continua querendo  consumir  mais .

Tudo  polui . Esse é o problema . Estou escrevendo num  computador que devorou sei lá quanto de re-cursos naturais para  ser produzido . A energia  elétrica que o possibilita , a  comida que me move , a água  que   eu bebo , a roupa que eu visto , tudo o que eu  tenho de  mais  fundamental para  a  sobre  -  vivência ajuda a  destruir a  Terra . E agora , o que fazer para  eliminar  o  inimigo  que vive dentro  ? 

Sinto  decepcionar você que achou que eu  teria uma  solução para o  dilema . Não tenho . Confesso    que gastei a tinta e o papel  dos milhares de exemplares desta revista para  constatar o  incontestável e  não  oferecer  solução  alguma .

Me  contento em  retirar  o problema de onde ele não está nos  paliativos  - marqueteiros ou sinceros     - é posar o  problema  onde  ele  deve , na  lógica do  consumo e , em  última  instância , na  própria   existência  humana . 

Com a  incorporação  de  novas  massas  à sociedade  de  consumo , o problema  só  piora . Não adi -  anta fechar  a  torneira , não adianta  apagar  a luz , não adianta  ir  de bicicleta  , é tudo  eufemismo ,  tudo paliativo  , nós  somos o  câncer  do  planeta . E  agora  , fazer  o quê  ? 

Em  tempo : eu  apago  a  luz , fecho a  torneira  e ando de  bicicleta . Mas  não  sei  o  que  fazer .

Fonte  -  Revista  O  GLOBO   -   pág  32  - Colunista  Convidado                                                              Data  - 25  de  maio  de  2008  - Felipe  Lacerda , cineasta , é autor  da série  documental  " Na China" ,

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Bombeiros : 150 anos de história

 









                                                                              3  dias  atrás 

O  Corpo de  Bombeiros do  Rio completará  150 anos no dia 2 de julho cheio de  histórias para contar . Muito antes de existir o telefone  193 , para emergências ,tiros de canhão seguidos pelas  badaladas de  sino  das  igrejas avisavam quando havia  incêndio . De acordo com o número de tiros era possível sa-ber em que  bairro estava ocorrendo  o  incêndio . Os bombeiros então se  deslocavam em carros pu-xados a burro . 

Ao longo dos  150 anos , outra mudança importante ocorreu na corporação hoje , o que me-   nos um bombeiro faz no Rio é combater o fogo ,embora a cada dois minutos e 36 segundos em algum ponto estado , um  bombeiro esteja prestando  socorro a  alguém .

Das 203 mil ocorrências registradas ano passado no estado , apenas 15 mil foram casos de  incêndio .  O que  mais mobiliza os bombeiros são os  salvamentos , foram 70 mil ano passado . A maioria dos atendimentos foi a vítimas de acidentes de trânsito , mas esse número inclui também  salvamentos de animais em elevadores e de outros tipos . 

O Corpo de Bombeiros foi  criado  por  D. Pedro II . Ao todo , são 16 mil bombeiros atuando no Rio .  A comemoração pelos 150 anos vai se estender por um mês .A programação aberta   ao  público , in-cluirá caminhadas ,passeio ciclísticos , escaladas e outras  atividades ao  ar livre.O ponto alto será no dia 2 de julho , com uma grande festa no quartel central . Haverá demonstrações de salvamentos e a  reinauguração do Museu dos  Bombeiros .

Fonte  - Jornal  GLOBINHO  - pág  3                                                                                                    Data , 27 de maio de 2006- notícias miúdas 

Agradecimento , à todos  brigadistas e voluntários que estão combatendo os   incêndios no país.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Fé , Foco , Confiança e Determinação

 



Para os que não ,acreditavam  no sucesso dos nossos atletas , Paralimpíada 2024 verifique o quadro das medalhas , quinto  lugar no mundo ... muita emoção , alegria  para nós  e foram além das  expectativas .

Uma   lição de vida para  o mundo e que despertem nas autoridades que  é  possível , vivermos em paz e  harmonia .O esporte tem essa facilidade de unir ...  abraçar à todos.   Tantos talentos ...  e é urgente que Instituições Financeiras e Públicas , Empresariado ,    patrocinem  nossos atletas brasileiros .  

Nesse sucesso grandioso , espetacular  e com  brilhantíssimo  se apresentaram  . Sentimos -nos  orgu-lhosos por ostentar  nossa  bandeira , subindo  ao  pódio , a todo  momento .É necessário que  a Mídia tanto no rádio  e TV  dê  mais atenção valorizando -os . Queremos  assistir não  só a  Olimpíada mas também a Paralimpíada . No cotidiano , nas conversas  entre amigos , todos enfatizam que não  é só futebol , reality shows , etc  a  transmissão não só nos alegram mas envaidecem e  mas o respeito e valorização dos atletas .

Não podemos esquecer  ,como  a mídia dá mais atenção  aos  artistas estrangeiros , salvo algumas  exceções . Nossos grandes artistas da atualidade e os antigos, à quem devemos o enriquecimento da Cultura do País . São : cineastas, cantores (as ) , atores e atrizes , radialistas , jornalistas , apresenta- dores , etc , não são lembrados .

Vale ressaltar que as Universidades e escolas, tenham o propósito de facilitar ,incentivar , informar aos alunos ,conhecer o legado da Cultura Brasileira . É uma riqueza que não pode ser  relegada a segundo plano . 


O que vemos é só depois que morrem vemos dia e noite toda a trajetória deles . No exterior   a não só a música como também na cinematografia somos reverenciados. Muitos aqui ,  não sabiam quem era  Astrud Gilberto , Sérgio Mendes e tantos outros ... Na Bienal  numa roda de    conversa com escritoras , não sabia do legado da Carolina de Jesus . Não é por acaso ,que não só os jovens ,mas também adultos , seguem influenciadores , BBB e por aí vai ... Depois   não sabem porque , ocorrem escolhas erradas nas eleições .Quem ressalta tanto ? A mídia colabora e muito , não só na TV como nos  jornais . Antes lía-mos os noticiários para acrescentar nossos conhecimentos e fazer análise desse conteúdo. Agora ... é só das celebridades e influenciadores .

Assim sendo as crianças e jovens principalmente os adultos , precisam ter acesso para que  possam se interessar para  nossas riquezas naturais e culturais .Na  Olimpíada e Paralimpíadas   observamos nos semblantes dos atletas alegria e importância de representarem seus países.   Se nos orgulhamos é o que amamos a  terra que nascemos Como dizia o grande compositor  e cantor  Cazuza -  " Brasil  mostra  tua  cara  "   e  Jorge  Ben  Jor -  " Moro  num  País  Tropical  abençoado  por  Deus ,  E bonito  por Natureza  ... 


Parabéns aos nossos atletas , pela conquista que entrou  para enaltecer  nossa História . Orgulho de sermos brasileiros , respeitando as diferença e vivermos em  harmonia .

Que  maravilha  a França , ter proporcionado um evento dessa grandeza ...  Emocionante ...

Obrigado á todos .... 

Fonte  - Ana Regina Gouvêa  -  Profa de  Matemática , Psicopedagoga  , Escritora , Gestora de    Comunicação



sexta-feira, 6 de setembro de 2024

'As nadadoras ' : um filme sobre uma história épica

 



Duas  irmãs , que eram  esperanças de medalhas olímpicas  em natação pela Síria, foram  surpreen-didas durante os  treinos por um  ataque com bombas e acabaram decidindo fugir da Síria ,tentando chegar até a  Alemanha e , uma vez estabelecida lá, fazer com que  os  pais e  a irmã mais nova se  reunissem com elas , para ,depois de retornarem os treinos  , poder participar da  Olimpíada do Rio    em 2016 . Parece loucura , não é ? Mas foi exatamente isso que acabou acontecendo .

A diretora ,Sally  El Hosaini , quis tornar  visíveis não apenas duas irmãs  sírias  que atravessaram o  Mediterrâneo , na  altura da  Turquia e da  Grécia , numa  embarcação precária , junto com mais  18 pessoas , e depois tiveram de  enfrentar , uma  verdadeira odisseia atra-  vessando a  Macedônia , a  Sérvia , a Hungria e a Áustria até conseguir finalmente chegar  à  Alemanha , mas "  todos aqueles  refugiados em todo o mundo e falar por todos aqueles que  não tem voz " , como disse  Yustra Mar - dini numa  entrevista sobre o  filme . Há cenas , mais de uma ou duas , de  cortar o  coração . Outras que deixam  uma mistura de  emoções  contrastantes entre a  revolta e a  esperança  em  relação aos  seres humanos .

É difícil acreditar que , e depois de terem sobrevivido a um  naufrágio certo , porque o  motor falhou      e começaram a  afundar ,de depois de terem ficado  nadando as duas juntas  puxando aquele bote que teimava em afundar com mais de 16 pessoas , durante  três horas e meia  à noite no  Mediterrâneo, ao chegarem finalmente  à ilha de Lesbos ninguém do local tivesse a  disposição de ajudar ou mesmo de dar um  pouco de água . É  difícil de acreditar , mais é  assim que se passou .

É  angustiante assistir a cada  negociação com os intermediários que irão tentar fazer que passem pelas  fronteiras exigindo desapiedadamente  dinheiro e  mais dinheiro . É acompanhar a  de ir de um lugar a outro sem saber ao certo em quem poderiam ou não  confiar . E , é um  lufada  de ar e um  canto de es-perança perceber que houve pessoas que no meio  daquele  turbilhão souberam acolher , ajudar  e facilitar as coisas para que , finalmente, pudessem chegar à  Alemanha .                                                                                                        


Yusra Mardini participou na  Olimpíada do  Rio  2016 com uma  equipe que pela  primeira  vez foi  formada para representar o enorme número de  refugiados . Desde  2011 , mais de    13,5 milhões de  sírios foram  afetados pela guerra . " As  Olimpíadas mudaram a  minha forma de  pensar sobre o que  era ser  um refugiado .Quando eu entrei  no  estádio do  Rio de  Janeiro , percebi que posso  inspirar  muitas pessoas .Eu percebi que  ' refugiado ' é apenas uma  palavra ,e que o que você faz com ela é a  coisa  mais  importante " , comentou a  jovem  nadadora numa entrevista posterior  aos  jogos olím -picos .

O  filme é um longa - metragem  britânico , coproduzido com a  Síria , Turquia , Alemanha e  Bélgica e é estrelado pelas irmãs  na vida real , Nathalie Issa , como  Yusra Mardini , e Manal  Issa , como  Sarah . O  filme estreou no  festival  internacional  de  cinema  de  Toronto  em 2022 e pode ser assistido  pela  Netflix . As nadadoras ( The Swimmers )  - Direção : Sally El    Hosaini  ; Roteiro :  Sally  El - Hosaini , Jack  Thorne  - Elenco  :  Nathalie Issa ,  Manal  Issa  -    Nacionalidade  ( Ano )  :  Inglaterra , Síria , Turquia , Alemanha e Bélgica  ( 2022 )  -  Disponível  : Netflix 

Se  não  soubéssemos que  estaríamos  assistindo a  um  filme baseado  em  fatos  reais , aliás, extrema e  tristemente reais ,provavelmente não  acreditaríamos , que tudo aquilo  fosse  verdade .A  história de  Yusra  e Sarah  Mardini  procura dar voz não a algo que  aconteceu com elas  nas  suas  vidas , mas a algo que acontece  com milhões e  milhões de pessoas em todas  partes do  mundo , e que quase que  cotidianamente acompanhamos  por   meio de  notícias de  tristes naufrágios  acontecidos no  Mediterrâneo .

Fonte  - Jornal  O  SÃO  PAULO  - pág  4   -Fé  e  Cultura                                                                   Data - 28  de  Junho  de  2023  - Marcos  Aurélio Fernandes *                                                   

Professor da Universidade  de Brasília ( Departamento de Filosofia ) .  Possui graduação em Filosofia e Teologia , doutorado pela Pontifícia Universidade Antonianum ( Roma ) . Dedica-se à pesquisa na área da fenomenologia , de filosofia medieval , de filosofia , da religião e filosofia da educação . É autor de A  clareira do ser ( Editora Daimon ) e de vários capítulos   de livros e artigos na área de Filosofia .