Adhemar Ferreira da Silva
A vida de um campeão
É inesquecível a atuação de Adhemar Ferreira da Silva no atletismo brasileiro. Foram 12 anos de carreira, com dois recordes mundiais no salto triplo, em 52 e 56, dando ao Brasil duas medalhas de ouro.
Esporte e Cultura sempre estiveram presentes em sua vida. Quer na prática ou na teoria, divulgando seus conhecimentos. Foi professor de Educação Física e de Recreação, Jornalista, Locutor, Comentarista Esportivo, adido Cultural e atuou no teatro e cinema (Orfeu da Conceição e Orfeu Negro, respectivamente). Para Adhemar, o atletismo foi apenas a prática do esporte como amador e, a influência que exerceu em sua família - Dona Elza, e os filhos Adyel e Júnior - foi em relação a uma forma de convivência mais humana e social.
Fonte - Revista ÉBANO pág 15 ANO IV
JULHO / AGOSTO - 1984 Sylvia Regina Pinheiro
O PULO DE ADHEMAR
“LONDRES (1948) foi minha primeira experiência internacional. Eu havia começado no salto tripo no ano anterior. O índice olímpico para os Jogos de Londres era 14,80 m e eu saltei 15.03 m e me classifiquei para a equipe que tinha o Geraldo de Oliveira (então o melhor com 15,13 m) e Hélio Coutinho da Silva. Tinha 20 anos e ao entrar no estádio de Wembley, com 120 mil pessoas, fiquei boquiaberto. Estava tão espantado que não fiz nada do que deveria. Não aqueci direito nem me preparei antes dos saltos e com isso fiquei abaixo do meu índice.
Quatro anos depois, em Helsinque, a situação era bem diferente. Saí do Brasil com a responsabilidade que se coloca sobre o atleta que alcança alguma coisa. Eu era o recordista mundial, com 16,01 m, marca estabelecida em 1951, no Troféu Brasil. Mas, para vencer em uma olimpíada é preciso a união de uma série de detalhes. Sabia que havia mais atletas em condições de vencer, como o russo Leonid Cherbakov ( medalha de prata ).
No dia da prova, tudo contribuiu para o melhor. Eu estava muito calmo e tranqüilo. Tanto, que das seis tentativas regulamentares, em quatro eu melhorei o recorde olímpico ( 16 m ) e mundial. Eu fiz 16,05 m, 16,09 m , 16,12 m até os 16,22 m que valeram a medalha de ouro. Estava tão concentrado que nem ouvia o público. Quando anunciaram o resultado, houve uma explosão de aplausos.
Comemorei muito com os meus companheiros. Mas a coisa mais bonita foi uma cozinheira finlandesa, uma senhora gorda e rechonchuda, com quem fiz amizade com as poucas palavras que sabia. Antes de sair para o estádio, pedi que ela me preparasse uma comida especial para a volta, com bife e salada. Quanto retornei, ela me abraçou e serviu a refeição que pedira e mostrou um bolo que ela preparou em cima com a marca 16,22 m.
Soube que no Brasil estavam lançando uma subscrição popular para me dar uma casa. Mas ainda na Europa fui alertado pelo pessoal do COB que não poderia receber esse presente para não ferir a condição de atleta amador. Ainda tentamos uma solução alternativa, passando a casa para o nome de minha mãe, mas não houve jeito. No aeroporto de Congonhas, em São Paulo tinha muita gente me esperando e houve uma passeata, até o meu bairro, quando eu fui em cima de um carro do Corpo de Bombeiros.”
(Depoimento de Ademar Ferreira da Silva , medalha de ouro em salto Triplo em Helsinque 1952 e Melbourne 1956)
Fonte - Revista BANERJ pág 54 Capítulo 13
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