Pátio do Colégio. É certo que ainda não tinha esse nome. Era 25 de janeiro de 1554. Lá
estavam os padres Manuel de Paiva ,
Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.
Paiva celebrava a missa oficializando a instalação do real Colégio de São Paulo
de Piratininga . Nascia São Paulo. Naquele momento era apenas uma cabana de
madeira medindo 14 passos de comprimento por 10 de largura , construída com a ajuda dos índios. Logo estaria servindo também para
escola, enfermaria, cozinha, refeitório e dormitório.
Dizem que os padres jesuítas vieram para catequizar os
índios. Não era o caso de Anchieta, que além de ter vindo com essa missão, veio principalmente para se restabelecer de
uma tuberculose óssea, pois haviam
recomendado que o clima daqui era altamente propício para a cura.
Nóbrega era o superior dos jesuítas e decidiu que deveriam
expandir o trabalho, não se atendo
apenas ao litoral. Eles haviam começado
na Bahia e descido até São Vicente.
Os padres eram poucos, portanto a sua
estratégia era reuni-los em uma única aldeia para facilitar a catequese. Foram designados vários dos poucos
padres. Anchieta era um deles. Assim subiram a serra em direção a
Piratininga ..
Mas não era fácil subir a serra. Precisaram da ajuda de Caiubi e de seu
irmão, o cacique Tibiriçá. Este já tinha um relacionamento muito bom
com os portugueses , já que escravizava
e vendia índios de tribos inimigas. A
ajuda veio também de João Ramalho,
bandeirante casado com Bartira, filha
de Tibiriçá, apesar de já ser casado em
Portugal.
O local escolhido para a formação da vila , chamado pelos índios de Piratininga (Tupi-Guarani , peixe seco ) ,
tinha uma posição favorável do ponto de vista estratégico. Era margeado pelos rios Tamanduateí e
Anhangabaú e de lá os padres tinham uma visão total de toda a região. De cima podiam observar se os índios inimigos estavam vindo para
atacá-los além de teriam água farta com os rios próximos , que serviam igualmente como uma barreira
natural contra eventuais ataques.
Daquela época só ficaram os nomes de ruas e viadutos
homenageando seus pioneiros. A
construção atual do Pátio do Colégio tem muito pouco de original. Apenas uma parte da parede de taipa de
pilão permaneceu e está exposta na praça de alimentação do Café do Pátio . A taipa empregada nessa construção era
feita de terra úmida, barro, sangue de boi , fibras vegetais , folhas e ervas , que eram misturados e socados num
pilão, depois colocados , para que secasse.
As catacumbas ,
situadas sob a capela , também são dessa
época. Eram utilizadas para o
sepultamento dos padres e, mais
tarde, também pessoas consideradas
importantes da sociedade , como o próprio Tibiriçá. Atualmente, as catacumbas estão vazias e os restos mortais de Tibiriçá estão na
Igreja da Sé. A capela , apesar de restaurada , matem a torre original e boa parte das
peças do altar. Nela estão expostos o
fêmur e o manto de Anchieta.
Após a expulsão dos jesuítas do Brasil , o governador Morgado de Mateus requisitou o
espaço em 1765 , para ser sede dos
Capitães Generais ou Palácio dos Governadores
. O espaço passou então a se chamar Largo do Palácio , tornando –se o centro de atividades cívicas
e culturais da cidade. Abrigou a sessão
inaugural da Academia Paulista de Letras, chamada Academia dos Felizes ,
em 1770. Começaram a aparecer ao redor
a Casa de Fundição, a Casa da
Ópera, onde D.Pedro I foi aclamado rei
em 1822 , o aristocrático Solar da
Marquesa , os ruidosos feirantes da Rua
do Carmo e o comércio agitado da Ladeira
do Palácio.
O Palácio do Governo precisou passar por reformas para se
adaptar as instalações das numerosas repartições decorrentes do desenvolvimento
dos serviços públicos . Florêncio de
Abreu , quando assumiu a presidência do Estado
, em 1881, determinou uma
radical transformação do Palácio,
derrubando a ala perpendicular à fachada principal, a qual foi completamente modelada.
Já no final do século XIX , a cidade sofreu grandes
transformações urbanas e , novamente
, o Largo do Palácio foi atingido
. Um jardim e uma fonte foram construídos na praça em frente ao Palácio
do Governo . Com o advento da
República , o palácio passou para o
poder do Estado e a Igreja foi transformada em Palácio do Congresso.
Em 1897 , a cidade
começava a ganhar ritmo de metrópole . O
intendente de obras , Gomes Cardim , sugeriu a construção do Viaduto Boa Vista (
entre a Sé e o Largo São Bento , para
evitar o congestionamento triângulo central – ruas Direita , São Bento e XV de Novembro ).
Com as novas construções
, o Pátio do Colégio ,
modificou-se novamente . Em 1908 , a area do Palácio , reservada à habitação dos presidentes , foi demolida e os Palácio dos Campos
Elíseos passou a ser a residência oficial. Com a mudança da sede do governo estadual , o Palácio do Governo tornou-se sede da Secretaria Educação, perdendo assim em importância, apesar da própria importância da Secretaria
ali instalada.
Nova mudança : a
Secretaria da Educação vai para o Largo do Arouche, em 1953. Começa então o início da demolição do Palácio do Governo ( Pátio do Colégio ), encontrando-se nele a parede de taipa de pilão ( citada acima )
intacta. Depois disso, foi promulgada na Assembléia Legislativa a
lei que doava o terreno do Pátio do Colégio à antiga Companhia de Jesus , representada pela Sociedade Brasileira de
Educação.
A Cultura nos
primórdios
De São Paulo
Fundada em 1554 , São
Paulo tem uma riqueza histórica de grande importância mas que caiu no
esquecimento da população pela preservação quase nula dos patrimônios
históricos do Período Colonial.
Com o desenvolvimento e a urbanização , os traços históricos do colonialismo foram
ficando para trás , fazendo com que a
história da fundação de uma das mais importantes cidades do mundo caísse no
esquecimento. Marcos Mendonça , Secretário da Cultura do Governo do
Estado , enfatiza a necessidade do
resgate desse momento histórico . “ Os
paulistas precisam saber mais sobre a origem da cidade , sobre o momento de sua fundação e não deixar de lado esse momento histórico
tão importante e com fato s tão marcantes
“.
A São Paulo de Piratininga tem sua história contada por
intermédio de suas Atas , que são
guardadas desde o século XVI , momento
de sua criação , até os dia de hoje .
Esse fato classifica a cidade de São Paulo como a única das cidades do século
XVI que tem esse tipo de documentação até a atualidade . A relíquia está guardada no Arquivo
Histórico Municipal Washington Luiz , na região central.
A influência dos aspectos sócio-político e econômicos da
Coroa Lusitana na formação da Cidade da Garoa.
Em 1532 , D. João III criou o sistema de capitanias
hereditárias a fim de explorar os recursos econômicos do país e defender a
costa de ataques estrangeiros .
Desmembrou as capitanias em governos municipais
, para fazer a fiscalização e manutenção das vilas . Mas a Coroa novamente volta a centralizar o
poder em suas mãos , com criação dos
Governos Gerais , em virtude da
excessiva autonomia das câmaras municipais.
Apesar disso foram criadas as capitanias de São Vicente , doada a Martim Afonso de Sousa ; e de Santo Amaro , a Pero Lopes de Sousa . E elevadas à condição de vila a povoação de
Santo André da Borda do Campo ,fundada por João Ramalho.
Segundo o historiador Paulo Garcez Marins , São Paulo de Piratininga era considerada um
ponto estratégico para a Coroa Portuguesa
. “ A Vila de Piratininga era cruzada por vários caminhos indígenas e
importante ponto de acesso ao interior do país
, sendo fato de fundamental importância para a “ Coroa Portuguesa “ ,
diz Garcez .
A pobreza da Vila de Piratininga era grande e só foi
atenuada com o advento do ciclo do ouro no bandeirantismo paulista . No fim do século XVI , a população chegou a atingir cerca de 4.000
habitantes. Com esse avanço , os ataques dos índios carijós passaram a
ser frequentes , o que ocasionou a
criação da muralha de Piratininga.
Fora do núcleo urbano
, as roças , sítios e fazendas
tomavam conta da paisagem da vila. A
historiadora Eliane Bisan Alves faz uma análise do paulista seiscentista como
um “ tipo rural “ . “ O paulista do
século XVI só saía de casa para ir à vila por motivos religiosos, ou quando era intimado pela Justiça “.
Os campos de Piratininga eram repletos de plantações de
trigo nesta época . O trigo era aceito
como dinheiro pelos mercadores forasteiros. Segundo o historiador Paulo Garcez
, São Paulo de Piratininga foi um grande produtor de trigo, fato ausente na memória paulista. “São Paulo exportou trigo nos primeiros
cem anos de sua fundação , mas poucas
pessoas têm conhecimento deste fato
“.
Plantações de algodão
, cana , vinha e cereais necessários para a subsistência também faziam
parte da economia da vila . A
mão-de-obra indígena era usada para o cultivo dessas plantações e eram
considerados “ gentios da terra “ , para não serem confiscados pelo
governo.
Mas um grande ódio racial tomava conta de uma camada de
grande importância na Vila de
Piratininga : os Bandeirantes , que tinham nos índios sua inspiração para
realizar grandes caçadas e matanças em suas expedições.
O Bandeirante: “aventureiro grego“ em busca do ouro
brasileiro
"E um dia, povoada
a terra em que te deitas,
Quando, aos beijos
do sol, sobrarem as colheitas,
Quando aos beijos do amor, crescerem as famílias,
No resto da multidão,
no tumultuar das ruas,
No clamor do trabalho, e nos hinos da paz!
E subjugando o olvido, através das idades,
Violador de sertões, plantador de cidades,
Dentro do coração da pátria viverás“.
(Olavo Bilac, em homenagem a João Ramalho)
Não se pode falar sobre a história de São Paulo sem
mencionar um ícone importante dentro deste contexto : os bandeirantes. Bando inquieto e obstinado, os bandeirantes foram responsáveis pelo
desbravamento do interior do país,
atrás de pedras e metais preciosos.
Quando as “ entradas “ se transformaram
em expedições mais numerosas e organizadas receberam o nome de “ bandeiras
“, que originou a denominação “
bandeirantes “.
Afonso Sardinha ,
Fernão Dias Paes , Raposo Tavares, que chegou até o Peru partindo de São Paulo
e percorrendo a costa brasileira - Domingos
Jorge Velho - considerado um dos mais
violentos, são bandeirantes que fizeram
a história por meio de suas expedições,
desbravando terras , escravizando e
massacrando índios.
São Paulo é marcada por um clima de tensão em seus
principais momentos do Período Colonial
. E o capítulo sobre os
bandeirantes é um deles . “ Disputas com
os índios , conflitos com os jesuítas e
desentendimentos entre si são fato que tornam pesada e tensa a história dos
bandeirantes paulistas “ , acrescenta o
historiador Paulo Garcez Marins.
Partindo de São Paulo
, as “ bandeiras “ , que seguiam por clareiras já abertas nas florestas
imensas da zona costeira , ou navegavam
pelas correntes fluviais , guiaram–se
pelo instinto na região dos ouros e diamantes
. Segundo o relato do historiador Oliveira Lima , no livro “ Formação histórica da
nacionalidade brasileira “ , a geografia parecia indicar a direção do movimento
de expansão brasileira. “ Por uma
curiosa anomalia , os cursos de água da região de São Paulo ao Paraná correm do litoral para o
interior , como se houvessem sido
predestinados a conduzir para ali os aventureiros “ .
E era com os jesuítas que os bandeirantes tinham também
algumas diferenças de propósitos ,
gerando grandes conflitos no século XVI
. Os religiosos realizavam expedições para libertar os índios das mãos
dos bandeirantes . Estes últimos não recuavam diante dos jesuítas e utilizavam das piores violências contra
eles , até o ponto de se rebelarem
contra as autoridades civis , sendo
eleito , em 1640 , um representante deles como rei em São
Paulo. Conta-se que João Ramalho , um
português que , atraído pelo mistério
dos sertões fechados, embarcou em uma
das primeiras expedições enviadas para fazer o reconhecimento do litoral
brasileiro da Serra de Paranapiacaba tendo conseguido chegar até o alto da
Serra do Mar. Fascinado pelo panorama
agreste e arejado sob seus olhos, João
Ramalho resolve fugir e desbravar aquela região. Perdido entre as matas e tribos do
planalto, une-se a Bartira, filha do cacique Tibiriçá. Do casal nasceram os primeiros luso-tupis
do planalto. A vida desse primeiro
povoado de descendência luso-indígena está retratada nas atas da Câmara de
Vereadores de Santo André da Borda do Campo. De estilo simples e inquieto,
este povoado se localizava na orla do mato com os campos da Vila de
Piratininga.
Patriarca dos Bandeirantes
, João Ramalho , aceitou os
costumes e cultura tupi , constituiu uma
nova raça e criou o humanismo luso-bandeirante. Enriqueceu a língua latina com palavras celtas , gregas
, germânicas e árabes . Fundiu o
idioma lusitano à língua Tupi.
As dificuldades
e costumes
Da
sociedade da Vila de Piratininga
Nos primeiros séculos da colonização familiar e a vida doméstica
paulista não poderiam deixar de ser influenciadas por alguns dos elementos que
marcaram profundamente a formação da sociedade brasileira e o modo de vida de
seus habitantes. A distância da
Metrópole , que dividia muitas vezes os
membros de uma família entre os dois lados do Atlântico , a falta de mulheres brancas, a presença da escravidão negra e
indígena, a constante expansão do
território, assim como a precariedade
de recursos e produtos com os quais estavam acostumados os colonos no seu
dia-a-dia, são alguns fatores que
levaram a transformações de práticas e costumes construídos no Reino, tanto que se refere à constituição das
famílias como aos padrões de moradia,
alimentação e hábitos domésticos .
Justamente devido a isso a vida doméstica era um dos
principais espaços de convivência da intimidade do povo paulista no
Colonialismo. Habitadas sempre por
indivíduos de várias origens -
portugueses , índios , escravos - as
residências , em sua grande maioria
consideradas rústicas , localizavam-se
longe umas das outras , o que reforçava
ainda mais o convívio doméstico.
Marcada pela solidão e isolamento, a vida social paulista no período colonial
era limitada aos encontros em casas de pessoas amigas , festas religiosas e missas. As mulheres só saíam de casa acompanhadas e
apenas para compromissos religiosos.
Viviam sempre acompanhadas das índias,
que ensinavam as colonas a fazer trabalhos manuais , socar o milho , preparar a mandioca , trançar as fibras , fazer redes e moldar o
barro . Sua educação era voltada para o
casamento e às atividades desempenhadas enquanto a mãe e esposa. Os homens se divertiam em encontros para
jogar xadrez e baralho, sendo uma forma
de sociabilidade entre familiares e amigos. Eram realizados banquetes nas casas dos habitantes mais abastados, com direito a comes e bebes a todos os convidados. Festas como o Natal, Páscoa e Semana-Santa já eram comemoradas
desde aquela época na Vila de Piratininga.
Os paulistas tinham o costume de se alimentar com as
mãos, em grande parte das vezes , pela escassez de talheres, pratos e copos ( feito de estanho ). A nobreza desses materiais , não impedia que as refeições fossem feitas
ao redor de uma mesa muito baixa ou em uma esteira. Alimentos como a farinha de milho e a
marmelada não faltavam na mesa dos colonos de São Paulo de Piratininga. A família paulista sempre era reunida ao menos uma
vez por dia em uma das refeições ,
tradição que se preserva até os dias de hoje.
Mas mesmo com essa pobreza de infra-estrutura os paulistas
mantinham hábitos de higiene como lavar as mãos antes das refeições e banhar os
pés antes de dormir , para evitar
infecções como o “ bicho no pé “ .
Banhos quentes e remédios caseiros feitos por curandeiros eram usados no
tratamento de doentes com diarréia,
febre amarela, varíola e sífilis.
Com todas essas dificuldades , o fortalecimento da indústria caseira em São
Paulo supriu a falta de produtos que vinham das frotas portuguesas que , na maioria das vezes , chegavam deteriorados ou sem condições de
uso. E os colonos portugueses foram se
tornando cada vez mais “ americanizados “ ao incorporarem costumes e tradições
da Terra de Santa Cruz .
Fonte - REVISTA
CULTURAL págs 5 , 6
,12 , 13 e 14
Ano I -
nº 9 - Janeiro / 2000
Publicação Mensal da Secretaria da Cultura
Do Governo do Estado de São Paulo
O mais antigo
arranha-céu de São Paulo
O mais antigo arranha-céu de São Paulo, de 1924
, fica diante do arvoredo do pequeno jardim que liga a Rua Líbero
Badaró ao Vale do Anhangabaú , entre
dois edifícios modernos , expressões da
árida linha reta na paisagem do centro .
É o Prédio Sampaio Moreira , números
344-350 daquela rua . Projetado por
Cristiano Stockler das Neves , foi
construído pelo Escritório Técnico de seu pai
, o agrônomo Samuel das Neves ,
do qual era sócio desde 1911 , quando se formou em arquitetura pela
Universidade da Pensilvânia, nos
Estados Unidos.
Edifício de escritórios
, o Sampaio Moreira foi o primeiro arranha-céu da cidade , com 13 andares , mais um terraço , batido poucos anos depois pelo prédio
Martinelli, ali perto . Mas têm a delicadeza beleza que o maçudo
Martinelli não tem. Quebrou na cidade a
influência europeia, sobretudo francesa . Inaugurou aqui a verticalidade dos
edifícios nova-iorquinos, à qual o
arquiteto brasileiro agregou belas intromissões de estilo Luís XVI na fachada. É um marco do nosso nascente ecletismo
arquitetônico e do nosso hibridismo no gosto
.
Originalmente , para
quem olhasse do Vale , o Sampaio Moreira se compunha visualmente com os dois
pavilhões que Samuel das Neves projetara para o Conde Prates , grande fazendeiro de café . O Sampaio Moreira é uma jóia referencial da
belle époque paulistana que conserva as característica originais: do vermelho elevador sueco aos pisos , aos metais e à luminária .
O projeto foi feito para o negociante José de Sampaio
Moreira ( 1866-1943 ) , brasileiro de São Paulo , conforme me esclareceu seu
neto. Era filho de Francisco Sampaio
Moreira , imigrante português, vindo para São Paulo no século 19, chamado por um irmão, dono de uma loja de
ferragens na Rua da Quitanda . Prosperou
nos negócios , ficou rico , teve chácara e residência no Brás. Embora fosse , sobretudo , comerciante , foi também industrial, teve tecelagem e uma fábrica de anilinas
para tecidos, foi sócio do Leite Vigor, teve casa bancária. Foi credor de empresas e pessoas. Na crise do café, recebeu em pagamento de dívidas o palacete
de dona Sebastiana da Cunha Bueno, na
Avenida Paulista , com tudo que havia
dentro, para onde se mudou. Parte dos móveis dessa casa está hoje na
Fazenda Santa Cecília, em ,
remanescente da Fazenda Carlota de café
, que tinha cerca de 7 mil hectares de terra , em 1889.
José de Sampaio Moreira foi Irmão Protetor da Santa Casa de
Misericórdia , beneficiando-a com largas
doações . Conta seu neto que , uma vez
, um grupo de benemerência foi pedir dinheiro a Francisco, o pai. À vista da quantia dada,
reclamaram dizendo que seu filho José havia feito contribuição maior. Replicou ele, dizendo: “Ele pode : tem pai rico“. Na casa bancária, certa vez, um cliente tomou emprestada uma quantia, amarrotou o dinheiro e o enfiou no
bolso. José pediu-lhe o dinheiro de
volta e cancelou o empréstimo,
explicando: “Dinheiro tem que ser
tratado com carinho“. Apesar de muito rico, andava de bonde.
Dono de um grande número de imóveis em São Paulo , no início do século 20 foi cliente de Ramos
de Azevedo , a quem encomendou vários
projetos . Mas depois tornou-se cliente de Cristiano Stockler das Neves , que fez para ele um grande número de
projetos .
Foi quem lhe projetou o Edifício Mesão Frio, em estilo art déco, construído em
1940, na Rua Barão de Itapetininga, com galeria para a Rua Marconi. Mesão Frio é o nome do burgo de origem da
família de Sampaio Moreira, no norte de
Portugal , perto da Fronteira com a
Espanha . Vem daí a incrível vocação
comercial de pai e filho . É
historicamente lugar de comerciantes e artesãos e da feira – franca que ali se
realiza anualmente, desde a Idade
Média , a famosa feira de Santo
André. É o que parece explicar o
pré-capitalismo rentista de uma biografia singular na história do empresariado
de São Paulo. Pré-capitalismo, porém, que não o impedia de encomendar obras oníricas e avançadas aos
primeiros arquitetos paulistanos.
Fonte -
Tesouro
Paulistano - Artigo
José de Souza Martins
, professor titular de Sociologia
Da Faculdade de
Filosofia da Universidade de São
Paulo
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