quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Semana de Arte Moderna - 1922 . 1922 . 1922 . 1922 .1922 . 1922...


Oitenta anos depois , escritores , antropólogos e críticos literários analisam a importância do evento que mudou o rumo das artes no país

A memória literária superficial , na verdade uma espécie de memória curta , esponjosa, e por isso mesmo acadêmica , registra como ocorrência mais ou menos polêmica , em 1922 , a Semana de Moderna . Para alguns , o episódio agora celebrado em jubileu , neste ano palindrômico de 2001,foi o ovo de onde saiu a serpente de toda a escritura contemporânea deste país . Para outros , como o saudoso Franklin de Oliveira , testemunha insuspeita da nossa vida cultural , a Semana de Arte Moderna simplesmente não existiu .

A final, a Semana de 22 existiu ou não ? Contaminado talvez por sua assídua convivência com Franklin de Oliveira , o erudito Otto Maria Carpeaux disse que sabia “ apenas por ouvir dizer “ “ , da festa – ou da batalha desencadeada em São Paulo no ano do centenário da independência do Brasil , que teria sido o grito de uma outra independência – a das letras e das artes da pobre colônia cultural .

A octogenária vedete continua a ser questionada , o que é bom para ela . Melhor do que as peregrinas louvações de acadêmicos e professores que exibem a cultura miúda , de Segundo Caderno dos suplementos literários , com a crônica fútil , já mil vezes repetida , da promoção de 22 e de seus protagonistas . Parece , assim , que já não cabe indagar se aconteceu ou não a chamada Semana de Arte Moderna . Entre a decisão dialética e aristotélica pelo sim ou pelo não , parece mais correto contemplar o caso à luz da mágica ambiguidade platônica e concluir que , feitas as contas , a Semana de Arte Moderna aconteceu e não aconteceu .

Ela não foi a causa causaram da renovação das letras e das artes . Essa renovação teve momentos espermáticos antes e depois da corajosa reunião no Teatro Municipal de São Paulo , com apuros e aplausos – não tão ruidosos , é certo , como os da famosa apresentação do Hernani , de Victor Hugo , em Paris , mas com propósitos semelhantes : irar uma página já ensebada da literatura e das artes e parir para a aventura de uma reinauguração da beleza .

A Semana paulista vinha de mais longe : suas raízes brotam do chão do simbolismo de Cruz e Souza e mesmo do romantismo de Álvares de Azevedo , coisas assim . Seu grande crédito foi promover a mobilização corporativa dos escritores e artistas inquietos e inconformados diante do esgotamento a que a mediocridade acadêmica levara o espírito criador . É certo que essa mobilização pagou atributos ao oportunismo , misturando alho com bugalhos , até a pomposa entronização do acadêmico Graça Aranha como condottiere de uma guerrilha com milicianos de gênio , como Oswald de Andrade . Mas isso não importa muito : todos sabem que a história começou com a volta de Oswald de Paris , em 1912 , trazendo debaixo do braço o manifesto futurista de Marinetti , pai e avô de todo o modernismo do século 20 .

Genealogia é um negócio difícil , mesmo na linhagem das famílias mais conservadoras . Na linhagem da ópera literária é ainda mais complicado . Mas , de modo geral , pode-se dizer que os escritores têm seus ascendentes e seus descendentes . A poesia moderna da França data de Baudelaire , de suas Fleurs du Mal e de seu brado de guerra : “ il faut être absolument moderne “ ( é preciso ser absolutamente moderno ) . Baudelaire , quem os catalogadores acadêmicos e os professores de literatura dizem que foi um paranasiano , assim como dizem que Mallamé foi um simbolista , é certamente o fundador da linhagem moderna na Itália , como Kavafis na Grécia – o que não quer dizer que sejam ancestrais dos futuristas , dos dadaístas e de outros , matriculados em escolas literárias . Estes são , de modo geral , mais modernistas do que modernos .

A semana de 22 foi uma abertura válida para o moderno . Não criou uma escola , apesar de algumas terem se gerado em seus quadros , com Oswald , Plínio Salgado , a Antropofagia , o Verdeamarelismo , a Anta e o Curupira . Mas também , é bom nesta conversa´- que é apenas uma conversa mesmo , e não um ensaio - que a Semana pode ter parido muitos escritores , mas não gerou as obras fundamentais da literatura brasileira . Talvez seu inventário não registre mais do que duas ou três obras significativas , notadamente alguns dos vários textos de Oswald e um romance de Plínio Salgado . O Estrangeiro , Os romances subsequentes de Plínio , a serviço de um ideário político , não têm o vigor e a consistência de O Estrangeiro . Fora isso , a Semana , em vez de produzir obras modernas , passou a gerar modernistas - o que é outra coisa .

É certo que houve a figura do ativista prodigioso que foi Mário de Andrade . mas como algumas figuras de nossa obra literária . Mário é o maior do que sua própria obra . Deixou a Pauliceia Desvairada , título que é uma trouvaille feliz para um projeto de poema , no qual não se encontra nenhuma Pauliceia , nenhuma desvairada e nenhuma poesia moderna . Bem , há o Macunaíma que , sem chegar a ser um romance , é , sem dúvida , um belo recital para usar a dislexia de André Gide . Isso não diminui a importância de Mário , o mais polivalente promotor de letras e artes deste país . Sua obra maior talvez seja a chuva de cartas derramadas com uma fúria epistolar sem precedentes . Um escritor paulista chegou a dizer que Mário construía deliberadamente sua própria fama , redigindo cartas incessantes a todo tipo do destinatário , desde o impúbere poeta municipal que lhe escrevia do Arraial de Macuco , pedindo uma palavra sobre seus duvidosos versos , até os escritores e outros que , sem ser escritores , eram todos da mídia publicitária , como o jornalista Prudente de Moraes Neto . Seja como for , não se pode falar da Semana sem lembrar o nome de Mário , apesar de sua irritante auto-suficiência e de suas deficiências culturais , que geraram conflitos com Oswald e o levaram a julgamentos injuriosos e incompetentes contra a música de Villa-Lobos , que até emprestara seu prestígio à Semana de 22. Mas tudo isso sai na urina diante da grandeza do apóstolo maior do nosso modernismo , que não chega a ser um grane escritor moderno , mas apenas um modernista . A linguagem de seus textos está hoje mais envelhecida que os versos da Prosopopeia . Mas essa é outra história .

É certo que a Semana de Arte Moderna não produziu um Graciliano Ramos , nem um José Lins do Rego , nem um Jorge de Lima , nem um Guimarães Rosa , nem um Gilberto Freyre - presença seminal ao Norte - , nem Manuel Bandeira , nem um Carlos Drummond , em que pese o tardio aliciamento destes dois últimos por Mário de Andrade . Mas isso também não quer dizer grande coisa , pois as letras e as artes são como seu inventor , o sagrado Orfeu . Não guardamos nenhuma obra de Orfeu , guardamos o seu mito , que é mais importante do que a obra . Com obras ou sem obras , A Semana de Arte Moderna é um dos mitos da nossa aventura na selva das letras e artes .

Fábio Lucas - é professor , escritor , crítico literário e ex- presidente da União Brasileira de Escritores

Maria Eugênia Boaventura , ao organizar , com a sua costumeira competência , 22 por 22 - A Semana de Arte Moderna Vista pelo seus Contemporâneos ( São Paulo , Edusp, 2000 \0 , de certa forma fechou o ciclo de estudos sobre o Movimento Modernista desencadeado simbolicamente a partir da Semana de Arte Moderna . Só que a palavra que a domina a obra e os seus colaboradores é futurismo .

Foi o futuro da Semana que fixou a data - 1922 - e o nome , Movimento Modernista . O que se tinha na ocasião eram audácia e insegurança misturadas . A Semana de Arte Moderna , que nem sequer chegou a durar uma semana , não guarda relação de causa e efeito com o modernismo. Um e outro são frutos de uma insatisfação de época e , por isso mesmo , reúnem insatisfeitos de variada da procedência .Foi uma "barafunda de estardalhaço " no dizer de Mário de Andrade , pois " ninguém se entendia " .

Sabe-se que , ao longo da história , sempre há arte de adoração e acatamento assim como arte de repulsa . A arte " moderna " de 1922 se caracterizou por ser uma arte de repulsa . Tínhamos um ambiente saturado de produção literária acadêmica , de baixo teor informativo . Do mesmo modo , chegava-se a uma exaustão dos métodos políticos da classe dominante .

A supremacia da personalidade de Mário de Andrade naquele ambiente tumultuado vem de seu esforço de dar rumo ao caos de manifestações novidadeiras e definir pontos básicos da luta renovadora , acima das divergências estéticas e ideológicas . Tratava-se de dessacralizar o passado , num movimento de valorização do cotidiano . A radicalização do espírito de época levou muitos à visão utópica do futuro . Daí ao futurismo foi um passo . Na década de 1920 , entre nós , viva-se uma " boemia da vanguarda , o pior dos romantismos , no dizer de Blaise Cendrars , um dos participantes e estimuladores da renovação literária .

Tínhamos um olho no passado , para garantir a fidelidade às raízes ; outro na cena internacional , para não perder o espetáculo do progresso . Uma consciência profunda da entidade nacional ? Longe disso . Às vezes essa consciência esteve nas mãos de adversários do modernismo : Monteiro Lobato , por exemplo .

Como quer que seja , 1922 simboliza , ainda hoje , entre nós , a aspiração de mudança . Ganhou-se uma liberdade de linguagem mais ágil e coloquial . A imprensa , o rádio , o telégrafo , a velocidade dos novos meios de comunicação contribuíram para degelar o absurdo formalismo em que tínhamos caído , expressão da burocracia plurocrática da época . O verso se liberta de imposições formais , a prosa se torna telegráfica , dá-se a fragmentação do discurso , a montagem e o imaginismo cinematográfico penetram nas letras , impõe-se a hegemonia do coloquial e via-se a ruptura do distanciamento entre a linguagem oral e escrita .

De qualquer forma , 1922 ritualiza a passagem da inteligência brasileira para a modernidade , fica um marco histórico .

Celso Favaretto - é doutor em Filosofia e professor da Faculdade de Educação da USP



A Semana de Arte Moderna de 1922 permanece um acontecimento marcante, rememorado a cada década, não só porque constitui ruptura com a arte do passado mas por ter sido a primeira estratégia cultural moderna brasileira . Das comemorações , emblemáticas foram as de 1942 e 1972 . Voltar a elas é um modo de tentar estabelecer algum parâmetro para pensar o sentido das comemorações deste ano . A de 1942 ficou marcada pela famosa conferência com que Mário de Andrade fixou a imagem mais consistente do modernismo : " o que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é , a meu ver , a fusão de três princípios fundamentais : o direito permanente à pesquisa estética , atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional " .

A operação modernista articulou o imperativo moderno de renovação artística e o interesse de conhecimento do Brasil , ou seja , vanguarda e o nacionalismo . Configurou uma espécie de projeto moderno brasileiro , cujo efeito foi imediato e cuja potência inovadora irradiou-se , seguramente , pelo menos até o final dos anos de 1960 e início dos de 1970 , quando esses princípios se realizaram na criação e na crítica .Entretanto , considerando que os modernistas não manifestaram empenho político-social . Mário disse que eles não deveriam " servir de exemplo a ninguém " ,  mas que poderiam viva por muito tempo , embora seja questionável que ela ainda destile seus efeitos em 1972 , a comemoração dos cinquenta anos de modernismo foi muito especial . Com a inviabilização , ou o fracasso , dos projetos culturais e políticos radicalizantes dos anos 1960 - do rico experimentação artística e nacionalismo , com o alinhamento institucional do país às diretrizes do capitalismo avançado e , portanto , à cultura de mercado , cuja contrapartida foi o surgimento das inúmeras experiências alternativas e marginais - , o modernismo foi reinterpretado sob o signo da necessidade de luta pela independência cultural . A estratégia crítica do momento foi justificar a importância da Semana de 22 como um exemplo de atuação a ser adequado , à situação histórica do país , às limitações institucionais e às aberturas produzidas pela atividade artístico-cultural dos anos anteriores . A vertente oswaldiana , na criação e na crítica , já tinha mostrado sua propriedade para repassar o projeto modernista . Em 1972 , ainda havia um campo aberto de possibilidades , explicando com brilho e vigor pela atividade tropicalista , que repropôs e ultrapassou as proposições modernistas com a reatualização da simbólica antropofágica .

Trinta anos depois , apesar de as comemorações não terem sido esquecidas nas décadas intermediárias , ensaia-se uma comemoração com outros horizontes , longe da positividade atribuída anteriormente às promessas e apostas modernas , especialmente ao imperativo de atualização , supostos realizados na atividade artística e na reflexão estética , aí se incluindo a questão espinhosa da significação social dessas práticas . O modernismo não mais ressurge como lições : ele é um passado , ruína de uma história ainda ativa . Se a revista Visão , de fevereiro de 1972 , em ampla e significativa matéria sobre o modernismo podia reunir artigos e depoimentos de intelectuais de renome sob a rubrica " luta pela independência " , hoje tal enfoque é simplesmente descabido .]

De lá para cá o país ficou crítica e criativamente atualizado , embora seja necessário fazer-se a devida avaliação desse processo de modernização . De qualquer modo , o moderno e o novo são operantes , não necessitando de qualquer vanguarda para ativá-los . Tudo ficou mais rápido em todo lugar , tudo é contemporâneo . Sem ilusões sobre o moderno , trabalha-se crítica e criatividade efetivando não os ideais da modernidade mas as questões iminentes colocadas pelas obras , pelos trabalhos , pelos problemas pragmaticamente colocados pela realidade . Mas sente-se que alguma coisa muito importante se perdeu , algo como aquela força primitiva de resistência à colonização e a capacidade de devorar , propugnadas pela antrofagia oswaldiana , reatualizadas pelo tropicalismo . Falta-nos um princípio que force a explicitação e a exploração do mal-estar na cultura , evidenciando os conflitos e as tensões provocadas pela incorporação da alteridade sob a forma de simples justaposição de influências e valores das outras culturais à experiência brasileira . Neste sentido , o que nos serve de lição são as propostas e as ações de ruptura dos projetos artísticos-culturais da segunda metade da década de 1960 , e não tanto as dos anos de 1920 .

Elizabeth Travassos

é antropóloga e professora do Instituto Villa-Boas da Universidade do Rio de Janeiro - Uni - Rio



Em fevereiro de 1922 , o Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna , que entraria para a história da cultura como o ano zero do modernismo brasileiro . Concertos antecedidos por conferências e leituras de poesia , pinturas e esculturas expostas no saguão foram saudados com aplausos , vaias e risos .

As conferências do escritor Graça Aranha e do jornalista Menotti del Picchia falavam de "poesia liberta " , " música extravagante " e " bolchevistas da estética " . escrevendo para revistas e jornais , os participantes da Semana colocaram em circulação a oposição sistemática entre velho ( o século 19 , o sentimentalismo romântico , a poesia parnasiana , a Europa decadente ) e novo ( o século 20 , a sensibilidade moderna , a poesia moderna , o Novo Mundo ) . Também ajudaram a popularizar as palavras futurismo e vanguarda . Suas carreiras foram marcadas pelo evento , mesmo que algumas tenham tomado um rumo imprevisível naquele momento .

Villa-Lobos , quinze anos depois , iria reger uma ambiciosa política nacional de educação artística . Graça Aranha , que chegara de Paris pouco antes da Semana disposto a arregimentar artistas em torno de uma estética moderna , viu-se sobrepujado pelos acontecimentos . A inclinação primitivista dos modernistas nos anos de 1920 não poupou seu discurso filosófico grave , que soa a fin-de-siè-cle para os mais jovens , nem sua ambição de liderança do movimento .

Em fevereiro deste ano , o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro abriu o Panorama de Arte Brasileira , que promove um reconhecimento de terreno , um mapa da situação atual da produção plástica - não tem a pretensão de sacudir o meio intelectual . No Jornal do Brasil de 6 de fevereiro , uma matéria extensa acolhe a exposição com certo enfado e ceticismo , dando voz , provavelmente , aos sentimentos de parte dos visitantes da mostra ( refiro-me ao artigo " Perdidos no espaço " , de Joaquim Ferreira dos Santos ) . Vídeo , performance e instalações , cosas tão distantes das tradicionais telas , esculturas , desenhos e maquetes exibidos há oitenta anos na Semana de Arte Moderna , não causam mais assombro . Podem não chocar , mas os espectadores não têm as certezas daquela época , no aplauso ou na condenação.

Nada do que ocorre na mostra do MAM teria sido possível sem o modernismo , a começar pela existência de um museu dedicado à arte moderna . No balanço dos oitenta anos decorridos desde a Semana contabilizam-se a institucionalização do cinema e do vídeo como artes , a explosão do objeto artístico , os novos usos do corpo em atuações e as interações na sensibilidade rotineira do espectador.

Fonte - Revista ÈPOCA - págs 37,38 ,39 e 40 - EM PAUTA



RUMO AOS MODERNISTAS


Modernismo é um movimento central para entender a arte no Brasil , já ficou conhecido por ser uma manifestação genuinamente brasileira , que se negava a copiar o que vinha da Europa . O próprio conceito de antropofagia propunha uma superação do que era estrangeiro , uma devoração cultural das técnicas importadas para reelaborá-las com autonomia , convertendo-as em produto de exportação . Mas o Modernismo não foi o " marco zero" da inovação artística e cultural brasileira . Os autores Modernistas liam muito outros autores inovadores e inconscientemente se imbuíram dessa influência " , detecta Marcia Camargos , jornalista com pós-doutorado em História pela Universidade de São Paulo (USP ) . Esses autores anteriores ao Modernismo , que não podem ser rotulados como participantes de uma escola literária ou artística - até porque não são cronologicamente contemporâneos - Marcia passou a estudar mais profundamente depois de ter lançado , em coautoria com Carmem Lucia de Azevedo e Vladimir Sacchetta o volume Monteiro Lobato : Furacão na Bottocúndia ( Editora Senac , 1998).

" Não é um universo povoado de parnasianos e simbolistas , com muitas vezes se faz supor . Eles fugiam desses estereótipos , ao escolher temas , ritmos , formas e conteúdos inusitados e incomuns para suas épocas . Eles não fazem parte de uma escola ou movimento , porque são um conjunto de autores que aparecem desde o século XIX até o século XX e o que os une é a característica da inovação " , afirma a pesquisadora . Ela diz que , ao se debruçar sobre a obra desses autores , surpreendeu-se com a qualidade , modernidade e ousadia dos textos , antes do advento do Modernismo brasileiro. Esses autores são aqueles que , como afirmou o próprio Sousândrade , escrevem cinquenta anos antes de serem lidos . São homens póstumos , reconhecidos apenas depois de seu tempo e sem possibilidade de serem rotulados dentro de escolas ou movimentos .

Fonte - Revista Metafora - pág 33

TRILHA - Por RENATA DE ALBUQUERQUE


BIOGRAFIA

Vida do escritor foi uma ' vulcão de complicações '

Mário de Andrade não é unicamente o poeta que , com talento e vigor , ocupou um lugar central na Semana de Arte Moderna de 1922 e participou ativamente da renovação da arte brasileira deflagrada pelo movimento modernista - condição que já seria suficiente para seu centenário , que se completa no dia 9 de outubro , merecer lembrança e comemoração . Poeta , romancista , musicólogo , crítico de arte , cronista , etnógrafo , fotógrafo . Mário de Andrade estendeu sua influência a todos os domínios da cultura brasileira .

Tornou-se um paradigma , um modelo de artista intelectual , cuja herança continua viva e em permanente reelaboração . Basta citar " Macunaíma " , sua obra mais conhecida , transformada em filme por Joaquim Pedro de Andrade , nos anos 60 , recriada nos palcos por Antunes Filho , nos anos 70 , para perceber que sem Mário o Brasil perderia a própria definição de seu " caráter ' .

Numa carta fictícia a seu amigo modernista , datada do ano passado , a ser lançada brevemente em livro , o professor e crítico Antonio Cândido , nome crucial na formação do pensamento contemporâneo brasileiro , escreve : Você talvez não acredite , mas estão começando a preparar as comemorações de seu centenário " . E prossegue : " Creio que você vai gostar de ver o movimento aqui em baixo " . O movimento em torno do centenário será responsável , nas próximas semanas , por uma série de lançamentos editoriais , debates e homenagens . Este caderno espera contribuir para que ele se torne ainda mais intenso .



A INFLUÊNCIA DO CARNAVAL NO CONTEXTO CULTURAL “LITERATURA DE CARNAVAL: Um capítulo à margem da história do samba“.

 

A história do Carnaval

Carnaval tem uma longa história atrás do que vemos hoje nos desfiles e nas ruas . Num breve retrospecto, o antropólogo Ari Araújo apontou ao MOVIMENTAÇÃO os principais acontecimentos da principal festa da cultura nacional.

O entrudo foi o início do carnaval , no século XIX . As famílias ficavam em casa , comendo e bebendo à vontade e viam os escravos fazendo a festa na rua , jogando água nos outros. Mais tarde foram criados os limões de cheiro,que eram bolas de cera contendo águas de cheiro e que também eram atiradas nas pessoas.Segundo Ari,uma brincadeira bastante bruta e muito apreciada por Pedro I .O entrudo era proibido e a polícia sempre coibia a comemoração. Mais tarde começaram a se formar os cordões que deram origem aos ranchos, grupos de pessoas que juntas cantavam e dançavam no meio da rua. Com a vinda dos baianos para o Rio de Janeiro e com eles o Terno de Reis,o rancho passou a se chamar Rancho de Reis. Logo em seguida começaram a ser formadas as Sociedades Carnavalescas, que agregavam intelectuais que saíam às ruas fazendo críticas ao governo.

Em 1998 , Ameno Rezedá introduziu no rancho a novidade dos carros alegóricos , que despertou admiração da classe média . Com a queda do rancho na década de 20, foram criadas as escolas de samba . Mais precisamente em 1929 os “ bambas “ do Estácio formaram o bloco “ Deixa Falar “ .

No ano seguinte , segundo Ari, surgiram mais cinco escolas de samba , num processo natural de criação das escolas que se copiam e promovem transformações e partir daí.

Nessa época as inovações se sucederam rapidamente . Em 1939oi criado o samba-enredo , que somente tornou vulto na década de 70 quando o Império Serrano , com tradição de rancho, inseriu no desfile fantasias e apresentou a escola dividida em alas.

Poucas coisas não atenção ao Samba no Brasil e uma delas é literatura sobre o carnaval. Restrito à projetos de monografias promovidos por órgãos públicos como a antiga FUNARTE ou à aventuras literárias de expoentes de nossa cultura , o carnaval é relegado a segundo plano quando o enredo é livro. A explicação para o isolamento do carnaval nas prateleiras é simples segundo o antropólogo Ari Araújo.

O povão está preocupado em ver e fazer e não em ler sobre o carnaval , define Ari . Profundo conhecedor do tema e diretamente ligado ao mundo do samba .Ari resolveu escrever o livro “ As Escolas de Samba - um episódio antropofágico “ na faculdade . Tendo que fazer uma monografia para se formar,ele escolheu falar sobre o que mais conhecia e conhece:as escolas de samba.Mais tarde editou seu trabalho pela editora Vozes , lançado em 1978 e reeditado em 1980 . Envolvido desde os 14 anos com o samba – época em que começou a frequentar as rodas . Ari, conta : que o patrocínio que o motivou a abordar o tema foi a mudança sofrida pelas escolas que começaram a ser administradas pelos banqueiros de bicho , os sambas-enredos sofreram transformações e a classe média passou a desfilar na avenida . Além disso ,o antropólogo procurou resgatar toda a história do samba , retratando detalhes do tipo como uma escola desfilava no início do século e antes ainda , como elas se formaram . “Isso não havia escrito em lugar nenhum “ , garante .

Samba e futebol andam lado a lado quando se trata da publicação de livros, segundo ele.“ O cidadão comum se acha suficientemente capaz de realizar o samba e o futebol sem precisar de nenhuma orientação“ , explica. E isso é verdade , levando-se em conta que várias monografias foram publicadas pela antiga pela antiga FUNARTE o outros tantos livros por Sérgio Cabral , Roberto Moura, Nei Lopes e Irã Araújo e ficaram engavetados .“ Só quem procura por esses livros são pessoas ligadas à área",

acredita . Assessor da presidência da Associação da Velha Guarda das escolas de Samba , Ari Araújo é também um dos fundadores do Instituto de Pesquisas das Culturas Negra e hoje trabalha na editora Palias , que publica trabalhos ligados ao tema.

Fonte - Jornal MOVIMENTAÇÃO ESPECIAL - DOCUMENTO E HISTÓRIA

Reportagem de MÔNICA RIANI CALIXTO

 

 
 

Eles só pensam em brilhar na avenida

Eles são cabeleireiros, decoradores , donas de casa , dentistas e até comerciários . Não se importam de passarem meses bordando suas ricas fantasias ou de gastarem pequenas fortunas que nunca serão recuperadas .O que vale mesmo é a emoção de ser o centro das atenções nas escolas de samba ou ganhar um concurso de fantasias.

Para alguns ,desfilar no carnaval é uma tradição familiar que começa na infância.

Maurício Pina , cabeleireiro de 27 anos , por exemplo , lembra com saudades das fantasias que sua mãe lhe fazia para abrilhantar os desfiles das escolas de samba da distante Getulina, cidade próxima a Marília , interior de São Paulo .

Quando veio para a capital , aos 18 anos , em busca de trabalho, manteve a tradição, integrando-se a Unidos de Peruche ,onde figura como desta que até hoje. " A emoção é indescritível . Uma vez na avenida, você não consegue mais parar . É um vício que se renova a cada ano " , diz.

Inspirando-se no tema da escola: " Mercado, Mercador , Mercadoria " , Maurício criou a fantasia de um rico mercador de uvas , utilizando 15 metros de veludo, 5 mil paetês, 2200 penas de pavão , 2 mil penas de ema e 200 de avestruz. Por ter aproveitado o material de fantasias passadas , o custo final do traje ficou em torno de CR$ 6 milhões .Um montante que ele sabe que não vai reaver. " E isso importa ? A emoção não tem preço " , assegura.

Seu colega de profissão , o cabeleireiro Marcos Tenório , de 31 anos , compartilha da mesma euforia . " Passo o ano inteiro esperando este momento , quando me realizo como transformista, diz . Para a sua fantasia " A Deusa do Fogo " , que será destaque das Rosas de Ouro " e da Unidos de Peruche, Marcos vem bordando desde novembro, uma a uma , quase 10 mil lantejoulas, 50 broches de strass, além de montagem gigantesca de 400 plumas,400 rabos de galo entre outros materiais.Quanto a despesa de CR$ 54 milhões, somada ao longo dos meses, ele não quer nem pensar. " Cada um se diverte de uma forma . Alguns gastam isso em viagens ou comparas . E u prefiro satisfazer meu ego " .

Já o vitrinista e artista plástico João Pasqua Filho,de 40 anos , confecciona as fantasias como forma de expressar sua arte dia a dia .

Desde abril do ano passado ele vem trabalhando no Mago Merlim, que será destaque na Rosas de Ouro de São Paulo, e na Mangueira no Rio, além de percorrer as passarelas de vários clubes do interior paulista e do Rio. Ele acredita que o dinheiro gasto , quase CR$ 80 milhões e todo o trabalho de bordar 200 milhões de paetês , quilos e quilos de miçangas e a montagem de mais de 2 mil plumas , será compensado pelo " frisson"que causará na avenida e nas passarelas. " Principalmente em Ribeirão Preto, onde ganhei quatro vezes consecutivas ", assegura.

Escola - Veterano há 15 anos nos canaviais do Rio e São Paulo , o dentista Francisco Nemer diz ter aprendido com um dos mais famosos carnavalescos,o saudoso Evandro de Castro Lima, a arte de criar fantasias. " Todas as minhas indumentárias eram feitas no ateliê de Evandro , mas eu sempre queria mudar alguma coisa e o mestre não admitia. De tanto observar, comecei a soltar a imaginação e de alguns anos para cá, passei a criá-las sozinho ", conta Francisco. A ideia deu tão certo que hoje, além de ser o diretor de destaques da Unidos de Peruche , ele é também o primeiro destaque do Salgueiro do Rio.

Entre os intervalos de seus clientes no consultório, Francisco encontrou tempo para confeccionar o Almirante do Ita do Norte , um luxuoso oficial da Marinha, que defenderá as cores do Salgueiro , e o Rei Fenício , que será o primeiro destaque da Peruche de São Paulo. " Ter gasto quase CR$ 110 milhões nas duas fantasias e seis meses de trabalho compensam, porque o carnaval é a minha terapia ", diz.

Paixão pela Vai - Vai - Última escola paulistana a desfilar no domingo de manhã , a Vai-Vai do Bixiga , tem fiéis seguidores. A comerciária Fátima Acre , de 36 anos , divide seu tempo trabalhando numa loja de fantasias e num ateliê onde confecciona roupas para a escola e para ela própria brilhar na avenida . Com o tema " Nem tudo que reluza é ouro", Fátima garante que sua escola será a campeã deste ano. Desde agosto prepara seu Adorador dos Bezerros de Ouro . Para tanto gastou perto de CR$ 16 milhões para adquirir 20 metros de veludo negro , que contrasta com 3 mil plumas douradas , 50 mil lantejoulas e 30 metros de strass entre outros materiais .

Outra apaixonada pela Vai-Vai é Beni Zarpellon, uma dona de casa de 47 anos , que começou a desfilar na escola do Bixiga há 14 anos. " No início integrava as alas com fantasias mais simples , depois comecei a sair como destaque , mas ficava muito caro mandar confeccionar as fantasias, então resolvi eu mesma fazê-las " , conta . Seu traje este ano, de Madame Butterfly, custou-lhe perto de 8 meses de trabalho e Cr$ milhões . " Vale tudo pelo prazer de brilhar na minha escola preferida " , assegura.

O comerciário José Maria dos Santos de 42 anos , dividirá este ano sua paixão pela Vai-Vai , onde desfilo desde 78 , com a Caprichoso de Pilares do Rio de Janeiro . nas duas estará exibindo seu Marajá Oriental que lhe custou CR$ 15 milhões e 9 meses de trabalho.

Fonte - Shopping News - City News -Jornal da Semana Correio da Manhã São Paulo 14 de fevereiro de 1993 - pág 5 - COMPORTAMENTO

CARNAVALESCOS - ( Denise Berto de Martino )

O POETA (verde ) da Vila



Noel Rosa morreu no auge da juventude,em quatro de maio de 1937, aos 26 anos . Carioca de vida breve , mas intensa , nasceu no Rio de Janeiro e foi criado de Vila Isabel , a quem mais tarde expressaria seu amor nos sambas que iria compor . Filho de pai comerciante e mãe professora , ainda cedo tomou gosto pela música . Aprendeu a tocar bandolim , vilão e , no fim da década de 20 , começou a compor suas próprias canções .

Mais ligado na música que nos estudos , participou de um grupo amador de jovens músicos , chamado " Bando de Taruás " , cujos integrantes incluiam ninguém menos que Almirante e Braguinha . Em 1930 , lançou o compacto " Com que roupa " , que se tornaria um dos grandes sucessos do ano e introduziria Noel de vez no mundo da música , com seu jeito novo e singular de fazer samba.

Noel, que não gostava de ser chamado de malandro , título que era dado aos boêmios da época e que foi eternizado no samba , amava o Rio de janeiro como ninguém . O bairro de Vila Isabel , principalmente , onde passou boa parte de sua vida , foi várias vezes temas de suas composições . Em homenagem aos 70 anos de sua morte , a JB Ecológico preparou uma seleção de frases , versos e pensamentos ecológicos deste grande compositor , também conhecido como o " Poeta da Vila " . Confira.

Malandro

" Malandro " é palavra derrotista , que só deve pra tirar todo o valor do sambista . Proponho ao povo civilizado não te chamar de malandro.E sim de rapaz folgado. " Nunca mais esta mlher me vê trabalhando ! Quem vive sambando leva a vida para o lado que quer . De fome não se morre , neste Rio de Janeiro . Ser malandro é um capricho de rapaz solteiro " .

Mulher

" antes a palavra samba tinha um único sinônimo : mulher . Agora já não é assim . Há também o dinheiro , a crise . O nosso pensamento se desvia também para esses bravíssimos temas . Agora o malandro se preocupa no seu samba , quase tanto com o dinheiro como a mulher . A mulher e o dinheiro , afinal são as únicas coisas sérias desse mundo " .

Vila Isabel

" São Paulo dá café , Minas dá leite . E a Vila dá samba " .

Samba

" O samba está na cidade . Já esteve , é verdade , no morro , isso no tempo em que não havia aqui em baixo samba . Quando a bossa nasceu a cidade derrotou o morro . O samba lá de cima perdeu o espírito, o seu sabor inédito . Em primeiro luar , o malandro sofreu uam transformação espantosa . Antes era diferente , agora está mais ou menos banalizado . A civilização começa a subir o morro , levando as suas coisas boas e suas coisas péssimas. " .

Coração

" Coração .Grande órgão propulsor , distribuidor do sanua venoso e arterial. Coração, não és sentimental. Mas, entretanto , dizem que és o cofre da paixão . Não estás do lado esquerdo nem tampouco do direito . Ficas no centro do peito - eis a verdade ! Tu és , pro bem-estar do nosso sangue , o que a casa de correção é para o bem da humanidade " .

Harmonia

" Com violência enfrentei a batucada . A harmonia do meu simples instrumento fez toda a turma ficar muito admirada . Porque sou bom elemento " .

Roupa

" Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou ? E u hoje estou pulando como sapo , pra ver se escapo desta praga de urubu " . Já estou coberto de farrapo , eu vou acabar ficando nu " .

Sentimento

" Em vão te procurei , notícias tuas não encontrei . Eu hoje sinto saudades , daqueles dez mil réis que eu te emprestei . Bejinhos no cachorrinho , muitos abraços no passarinho " .

Luar

" E quando a lua descampa , um pandeiro a batucar , saio da roda do samba pra ninguém me ver chorar . " A minha sopa não tem osso e nem tem sal . Se um dia passo bem , dois e três passo mal , isso é muito natural ! " .

Bicho

" O leão ia ' casa ' com sua noiva leoa . E São Pedro , pra 'agradá' , preparou uma festa boa . Mandou logo um telegrama , convidando o bicho macho , que levasse todas " dama " que existisse cá por baixo " .

Natureza

" A minha terra dá banana e aipim . Meu trabalho é achar quem descasque por mim " .

" O orvalho vem caindo , vai molhar o meu chapéu . E também vão sumindo , as estrelas lá do céu ' .

Brasil

" Neste Brasil tão rande , não se deve ser mesquinho . Quem ganha na avareza , sempre perde no carinho . Comparo o meu Brasil a uma criança perdulária , que anda sem vintém mas tem a mãe que é milionária ' .

Fonte - Revista JB ECOLÓGICO - Julho de 2007 - pá 54 e 55


Os grandes prêmios da ABL


Um pouco de História

A Academia Brasileira de Letras remonta ao final do século XIX, quando escritores e intelectuais brasileiros desejaram criar uma academia nacional nos moldes da Academia Francesa .

Fundada em 20 de julho de 1897 , na cidade do Rio de Janeiro , por escritores como Machado de Assis ,Lúcio de Mendonça ,Inglês de Sousa,Olavo Bilac , Afonso Celso, Graça Aranha Medeirose Albuquerque , Joaquim Nabuco, Teixeira de Melo , Visconde de Taunay e Ruy Barbosa.

A Academia tem por fim , segundo os seus estatutos , “ a cultura da língua nacional”, sendo composta por quarenta membros efetivos e perpétuos , conhecidos como “ imortais”, escolhidos entre os cidadãos brasileiros que tenham publicados obras de reconhecimento mérito e/ou livros de valor literário , e vinte sócios correspondentes estrangeiros.

A semelhança da Academia francesa , o cargo de “imortal “é vitalício, o que é expresso pelo lema “ Adimmortalitatem” , e a sucessão dá-se apenas pela morte do ocupante da cadeira . Instituição tradicionalmente masculina , a partir de 4 de novembro de 1977 , aceitou como membro Rachel de Queiroz , para quem foi desenhada uma versão feminina do tradicional fardão .

É reconhecido o mérito da ABL por esforços históricos em prol da unificação do idioma, do português brasileiro e do português europeu .Nomeadamente, teve um papel importante no Acordo Ortográfico de 1945 , conseguido em conjunto com a Academia das Ciências de Lisboa ,assim como foi de novo interlocutora quanto ao ainda “polêmico” Acordo Ortográfico de 1990 .

Inicialmente , sem possuir sede própria nem recursos financeiros , as reuniões da Academia ,eram realizadas nas dependências do antigo Ginásio Nacional , no Salão Nobre do Ministério do Interior , no salão Real Gabinete Português de Leitura, sobretudo para as sessões solenes. As sessões comuns sucediam-se no escritório de advocacia do Primeiro Secretário, Rodrigo Octávio, à rua Quitanda , 47.

A partir de 1904, a Academia ,obteve a ala esquerda do Silogeu Brasileiro,um prédio governamental que abrigava outras instituições culturais , onde se manteve até a conquista da sua sede própria.

Em 1923 , graças à iniciativa à época Afrânio Peixoto , e do então embaixador da França , Raymond Conty ,o governo francês doou à Academia o prédio do Pavilhão Francês ,edificado para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil , uma réplica do Petit Trianon de Versalhes , erguido pelo arquiteto Ange-Jacques Gabriel , entre 1762 e 1768.

Essas instalações são tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) , da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro , desde 9 de novembro de 1987. Os salões abrigam as reuniões regulares, as sessões solenes comemorativas, as sessões de posse dos novos acadêmicos,assim como o tradicional chá das quintas-feiras . Podem ser conhecidas pelo público em visitas guiadas ou em programas culturais,tais como concertos de música de câmara , lançamento de livros dos acadêmicos , ciclos de conferências e peças de teatro.

No primeiro pavimento do edifício, no saguão do Petit Trianon, destaca-se o piso de mármore decorado, um lustre de cristal francês , um grande vaso branco de porcelana de Sévres e quatro baixos-relevos em pedra de coade ingleses. Entre as demais dependências, ressaltam-se : o Salão Francês, onde o novo ,membro,tradicionalmente , permanece sozinho , em reflexão ; a Sala Francisco Alves , onde se destaca uma pintura a óleo sobre tela, de Rodolfo Amoedo, retratando intelectuais do século XIX; a Sala dos Fundadores ,decorada com mobiliário de época e pinturas de Cândido Portinari ; a Sala Machado de Assis , com a escrivaninha , livros e objetos pessoais do escritor com destaque para um retrato dele , de autoria de Henrique Bernadelli ; a Sala dos Poetas Românticos , tendo como destaque os bustos em bronze de Castro Alves, Fagundes Varela Gonçalves Dias , Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo,de autoria de Rodolfo Bernadelli.

No segundo pavimento, encontra-se a Sala de Chá, onde os acadêmicos se encontram , às quintas-feiras , antes da Sessão Plenária , a Sala de Sessões e a Biblioteca . Esta úl-tima atende aos acadêmicos e a pesquisadores , com destaque para a coleção de Manuel Bandeira.

A Academia Brasileira de Letras iniciou a concessão de Prêmios Literários em 1909, quando nomeou uma comissão para julgar , anualmente , o concurso de peças brasileiras destinadas à representação no Teatro Municipal, atendendo a convite do prefeito do Distrito Federal . Nos anos seguintes , outros Prêmios foram criados . Até 1994 , a ABL distribuiu os seguintes Prêmios : Olavo Bilac (poesia) ; José Veríssimo ( ensaio e erudição) ; Monteiro Lobato ( literatura infantil) ; Francisco Alves ( mono-grafia o ensino fundamental no Brasil e sobre a língua portuguesa ) ; Assis Chauteaubriand ( artigos literários ) ; Afonso Arinos ( contos ) ; Artur Azevedo ( teatro) ; Sílvio Romero ( crítica e história literária ) ; Coelho Neto ( romance ) ; Joaquim Nabuco ( história social) ; João Ribeiro ( filologia , etnografia e folclore) ; é de Alencar ( novelas ) ; Odorico Mendes ( tradução ) ; Aníbal Freire ( oratória ) ; Carlos de Laet ( crônicas e viagem ) ; Roquete- Pinto ( etnografia ) ; Alfred Jurzykowski( economia e política ).

Pela reforma regimental , aprovada em 10 de outubro de 1998 , passaram a ser concedidos , todos os anos , o Prêmio Machado de Assis ,para conjunto de obras , o Prêmio ABL de Poesia, o Prêmio ABL de Ficção , o Prêmio ABL de Ensaio e o Prêmio ABL de Literatura Infantojuvenil. Depois , foram criados os Prêmios ABL de Tradução e ABL de História e Ciências Sociais.

A mudança na estruturação dos prêmios deu-se no ano passado . O novo formato homenageia grandes nomes da literatura brasileira e de outras áreas das ciências humanas, alternadamente. A unificação dos prêmios ,obra de um escritor brasileiro vivo. A ideia foi acrescentar representatividade à premiação . Segundo o presidente da Academia sempre foi de reconhecimento ,nunca de estímulo a novos escritores. Antes não era pelo conjunto , era para uma obra em cada estilo literário , mas incidia sobre o autor de uma obra já reconhecida ", ressaltou.

Para a acadêmica Nélida Piñon , secretária geral da ABL ,com o modelo de prêmios segmentados ou com colocações , dificilmente os escritores contemplados recebem o devido reconhecimento da sociedade .Mas,com a concentração em um grande prêmio, o autor vai receber todos os " holofotes "quie merece: " Retomamos a consagração do conjunto da obra . Um autor é um patrimônio nacional e , no Brasil , nós estamos muito abandonados " , disse Nélida . O grande prêmio chama mais atenção para o ganhador , explica : " Prêmios com primeiro , segundo e terceiro ( lugares ) ninguém guardava todos os nomes , e os segmentados também não . Agora é um grande ven - cedor , que vai ganhar todos os holofotes ", enfatiza.

Os vencedores recebem um valor em dinheiro , um diploma e, desde 1998 , um troféu criado pelo escultor Mário Agostinelli ( um pequeno busto de Machado de Assis ) .

VENCEDORES DO PRÊMIO MACHADO DE ASSIS , DESDE 1941:

1941 - Tetra Teffé                   1967 - Adelino Magalhães         1993 - Antonio Candido

1942 - Afonso Schimidt        1968 - Oscar Mendes                 1994 - Antônio Olinto

1943 - Sousa da Silveira         1969 - Edison Carneiro                1995 - Leodegário A . de Azevedo Filho

1944 - não houve premiação     1970 - Octávio de Faria              1996 - Carlos Heitor Cony

1945 - Osório Dutra                    1971 - Murilo Araújo                   1997 - José J. Veiga

1946 - Tobias Monteiro                1972 - Dalcídio Jurandir              1998 - Joel Silveira

1947 -não houve premiação        1973 - Andrade Muricy               1999 - Fernando Sabino

1948 - Augusto Meyer                 1974 - Waldemar Cavalcanti       2000 - Antônio Torres

1949 - não houve premiação      1975 - Hermes Lima                     2001 - Ana Maria Machado

1950 - Eugênio Gomes               1976 - Mario da Silva Bueno         2002 - Wilson Martins

1951 - Padre Augusto Magne      1977 - Raul Bopp                      2003 - Antonio Carlos  Villaça

1952 - Antônio da Silva Melo       1978 - Carolina Nabuco             2004 - Francisco de Assis Brasil

1953 - Érico Veríssimo                 1979 - Gilka Machado               2005 - Ferreira Gullar

1954 - Dinah Silveira de Queiroz 1980 - Mário Quintana               2006 - César Leal

1955 - Onestaldo de Pennafort     1981 - Ayres da M. Machado   2007 - Roberto C.Filho de Albuquerque

1956 - Luís da Câmara Cascudo   1982 - Franklin de Oliveira       2008 - Autran Dourado

1957 - Tasso da Silveira                 1983 - Paulo Rónai                 2009 - Salim Miguel

1958 - Rachel Queiroz                   1984 - Henriqueta Lisboa         2010 - Benedito Nunes

1959 - José Maria Belo                  1985 - Thales de Azevedo         2011 -Carlos Guilherme Mota

1960 - não houve premiação       1986 - Péricles E. da Silva Ramos  2012 - Dalton Trevisan

1961 - João Guimarães Rosa      1987 - Nilo Pereira                     2013 - Silvano Santiago

1962 - Antenor Nascentes             1988 - Dante Milano                 2014 - Vamireh Chacon

1963 - Gilberto Freire                     1989 - Gilberto Mendonça        2015 Rubem Fonseca

1964 - Joracy Camargo                 1990 - Sábato Magaldi             2016 Ignácio de Loyola Brandão

1965 - Cecília Meirelles                 1991 - Maria Clara Machado             

1966 - Lúcio Cardoso                    1992 - Fausto Cunha

Fonte - Jornal de Letras - pág 10 Por Manoela Ferrari