quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Semana de Arte Moderna - 1922 . 1922 . 1922 . 1922 .1922 . 1922...


Oitenta anos depois , escritores , antropólogos e críticos literários analisam a importância do evento que mudou o rumo das artes no país

A memória literária superficial , na verdade uma espécie de memória curta , esponjosa, e por isso mesmo acadêmica , registra como ocorrência mais ou menos polêmica , em 1922 , a Semana de Moderna . Para alguns , o episódio agora celebrado em jubileu , neste ano palindrômico de 2001,foi o ovo de onde saiu a serpente de toda a escritura contemporânea deste país . Para outros , como o saudoso Franklin de Oliveira , testemunha insuspeita da nossa vida cultural , a Semana de Arte Moderna simplesmente não existiu .

A final, a Semana de 22 existiu ou não ? Contaminado talvez por sua assídua convivência com Franklin de Oliveira , o erudito Otto Maria Carpeaux disse que sabia “ apenas por ouvir dizer “ “ , da festa – ou da batalha desencadeada em São Paulo no ano do centenário da independência do Brasil , que teria sido o grito de uma outra independência – a das letras e das artes da pobre colônia cultural .

A octogenária vedete continua a ser questionada , o que é bom para ela . Melhor do que as peregrinas louvações de acadêmicos e professores que exibem a cultura miúda , de Segundo Caderno dos suplementos literários , com a crônica fútil , já mil vezes repetida , da promoção de 22 e de seus protagonistas . Parece , assim , que já não cabe indagar se aconteceu ou não a chamada Semana de Arte Moderna . Entre a decisão dialética e aristotélica pelo sim ou pelo não , parece mais correto contemplar o caso à luz da mágica ambiguidade platônica e concluir que , feitas as contas , a Semana de Arte Moderna aconteceu e não aconteceu .

Ela não foi a causa causaram da renovação das letras e das artes . Essa renovação teve momentos espermáticos antes e depois da corajosa reunião no Teatro Municipal de São Paulo , com apuros e aplausos – não tão ruidosos , é certo , como os da famosa apresentação do Hernani , de Victor Hugo , em Paris , mas com propósitos semelhantes : irar uma página já ensebada da literatura e das artes e parir para a aventura de uma reinauguração da beleza .

A Semana paulista vinha de mais longe : suas raízes brotam do chão do simbolismo de Cruz e Souza e mesmo do romantismo de Álvares de Azevedo , coisas assim . Seu grande crédito foi promover a mobilização corporativa dos escritores e artistas inquietos e inconformados diante do esgotamento a que a mediocridade acadêmica levara o espírito criador . É certo que essa mobilização pagou atributos ao oportunismo , misturando alho com bugalhos , até a pomposa entronização do acadêmico Graça Aranha como condottiere de uma guerrilha com milicianos de gênio , como Oswald de Andrade . Mas isso não importa muito : todos sabem que a história começou com a volta de Oswald de Paris , em 1912 , trazendo debaixo do braço o manifesto futurista de Marinetti , pai e avô de todo o modernismo do século 20 .

Genealogia é um negócio difícil , mesmo na linhagem das famílias mais conservadoras . Na linhagem da ópera literária é ainda mais complicado . Mas , de modo geral , pode-se dizer que os escritores têm seus ascendentes e seus descendentes . A poesia moderna da França data de Baudelaire , de suas Fleurs du Mal e de seu brado de guerra : “ il faut être absolument moderne “ ( é preciso ser absolutamente moderno ) . Baudelaire , quem os catalogadores acadêmicos e os professores de literatura dizem que foi um paranasiano , assim como dizem que Mallamé foi um simbolista , é certamente o fundador da linhagem moderna na Itália , como Kavafis na Grécia – o que não quer dizer que sejam ancestrais dos futuristas , dos dadaístas e de outros , matriculados em escolas literárias . Estes são , de modo geral , mais modernistas do que modernos .

A semana de 22 foi uma abertura válida para o moderno . Não criou uma escola , apesar de algumas terem se gerado em seus quadros , com Oswald , Plínio Salgado , a Antropofagia , o Verdeamarelismo , a Anta e o Curupira . Mas também , é bom nesta conversa´- que é apenas uma conversa mesmo , e não um ensaio - que a Semana pode ter parido muitos escritores , mas não gerou as obras fundamentais da literatura brasileira . Talvez seu inventário não registre mais do que duas ou três obras significativas , notadamente alguns dos vários textos de Oswald e um romance de Plínio Salgado . O Estrangeiro , Os romances subsequentes de Plínio , a serviço de um ideário político , não têm o vigor e a consistência de O Estrangeiro . Fora isso , a Semana , em vez de produzir obras modernas , passou a gerar modernistas - o que é outra coisa .

É certo que houve a figura do ativista prodigioso que foi Mário de Andrade . mas como algumas figuras de nossa obra literária . Mário é o maior do que sua própria obra . Deixou a Pauliceia Desvairada , título que é uma trouvaille feliz para um projeto de poema , no qual não se encontra nenhuma Pauliceia , nenhuma desvairada e nenhuma poesia moderna . Bem , há o Macunaíma que , sem chegar a ser um romance , é , sem dúvida , um belo recital para usar a dislexia de André Gide . Isso não diminui a importância de Mário , o mais polivalente promotor de letras e artes deste país . Sua obra maior talvez seja a chuva de cartas derramadas com uma fúria epistolar sem precedentes . Um escritor paulista chegou a dizer que Mário construía deliberadamente sua própria fama , redigindo cartas incessantes a todo tipo do destinatário , desde o impúbere poeta municipal que lhe escrevia do Arraial de Macuco , pedindo uma palavra sobre seus duvidosos versos , até os escritores e outros que , sem ser escritores , eram todos da mídia publicitária , como o jornalista Prudente de Moraes Neto . Seja como for , não se pode falar da Semana sem lembrar o nome de Mário , apesar de sua irritante auto-suficiência e de suas deficiências culturais , que geraram conflitos com Oswald e o levaram a julgamentos injuriosos e incompetentes contra a música de Villa-Lobos , que até emprestara seu prestígio à Semana de 22. Mas tudo isso sai na urina diante da grandeza do apóstolo maior do nosso modernismo , que não chega a ser um grane escritor moderno , mas apenas um modernista . A linguagem de seus textos está hoje mais envelhecida que os versos da Prosopopeia . Mas essa é outra história .

É certo que a Semana de Arte Moderna não produziu um Graciliano Ramos , nem um José Lins do Rego , nem um Jorge de Lima , nem um Guimarães Rosa , nem um Gilberto Freyre - presença seminal ao Norte - , nem Manuel Bandeira , nem um Carlos Drummond , em que pese o tardio aliciamento destes dois últimos por Mário de Andrade . Mas isso também não quer dizer grande coisa , pois as letras e as artes são como seu inventor , o sagrado Orfeu . Não guardamos nenhuma obra de Orfeu , guardamos o seu mito , que é mais importante do que a obra . Com obras ou sem obras , A Semana de Arte Moderna é um dos mitos da nossa aventura na selva das letras e artes .

Fábio Lucas - é professor , escritor , crítico literário e ex- presidente da União Brasileira de Escritores

Maria Eugênia Boaventura , ao organizar , com a sua costumeira competência , 22 por 22 - A Semana de Arte Moderna Vista pelo seus Contemporâneos ( São Paulo , Edusp, 2000 \0 , de certa forma fechou o ciclo de estudos sobre o Movimento Modernista desencadeado simbolicamente a partir da Semana de Arte Moderna . Só que a palavra que a domina a obra e os seus colaboradores é futurismo .

Foi o futuro da Semana que fixou a data - 1922 - e o nome , Movimento Modernista . O que se tinha na ocasião eram audácia e insegurança misturadas . A Semana de Arte Moderna , que nem sequer chegou a durar uma semana , não guarda relação de causa e efeito com o modernismo. Um e outro são frutos de uma insatisfação de época e , por isso mesmo , reúnem insatisfeitos de variada da procedência .Foi uma "barafunda de estardalhaço " no dizer de Mário de Andrade , pois " ninguém se entendia " .

Sabe-se que , ao longo da história , sempre há arte de adoração e acatamento assim como arte de repulsa . A arte " moderna " de 1922 se caracterizou por ser uma arte de repulsa . Tínhamos um ambiente saturado de produção literária acadêmica , de baixo teor informativo . Do mesmo modo , chegava-se a uma exaustão dos métodos políticos da classe dominante .

A supremacia da personalidade de Mário de Andrade naquele ambiente tumultuado vem de seu esforço de dar rumo ao caos de manifestações novidadeiras e definir pontos básicos da luta renovadora , acima das divergências estéticas e ideológicas . Tratava-se de dessacralizar o passado , num movimento de valorização do cotidiano . A radicalização do espírito de época levou muitos à visão utópica do futuro . Daí ao futurismo foi um passo . Na década de 1920 , entre nós , viva-se uma " boemia da vanguarda , o pior dos romantismos , no dizer de Blaise Cendrars , um dos participantes e estimuladores da renovação literária .

Tínhamos um olho no passado , para garantir a fidelidade às raízes ; outro na cena internacional , para não perder o espetáculo do progresso . Uma consciência profunda da entidade nacional ? Longe disso . Às vezes essa consciência esteve nas mãos de adversários do modernismo : Monteiro Lobato , por exemplo .

Como quer que seja , 1922 simboliza , ainda hoje , entre nós , a aspiração de mudança . Ganhou-se uma liberdade de linguagem mais ágil e coloquial . A imprensa , o rádio , o telégrafo , a velocidade dos novos meios de comunicação contribuíram para degelar o absurdo formalismo em que tínhamos caído , expressão da burocracia plurocrática da época . O verso se liberta de imposições formais , a prosa se torna telegráfica , dá-se a fragmentação do discurso , a montagem e o imaginismo cinematográfico penetram nas letras , impõe-se a hegemonia do coloquial e via-se a ruptura do distanciamento entre a linguagem oral e escrita .

De qualquer forma , 1922 ritualiza a passagem da inteligência brasileira para a modernidade , fica um marco histórico .

Celso Favaretto - é doutor em Filosofia e professor da Faculdade de Educação da USP



A Semana de Arte Moderna de 1922 permanece um acontecimento marcante, rememorado a cada década, não só porque constitui ruptura com a arte do passado mas por ter sido a primeira estratégia cultural moderna brasileira . Das comemorações , emblemáticas foram as de 1942 e 1972 . Voltar a elas é um modo de tentar estabelecer algum parâmetro para pensar o sentido das comemorações deste ano . A de 1942 ficou marcada pela famosa conferência com que Mário de Andrade fixou a imagem mais consistente do modernismo : " o que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é , a meu ver , a fusão de três princípios fundamentais : o direito permanente à pesquisa estética , atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional " .

A operação modernista articulou o imperativo moderno de renovação artística e o interesse de conhecimento do Brasil , ou seja , vanguarda e o nacionalismo . Configurou uma espécie de projeto moderno brasileiro , cujo efeito foi imediato e cuja potência inovadora irradiou-se , seguramente , pelo menos até o final dos anos de 1960 e início dos de 1970 , quando esses princípios se realizaram na criação e na crítica .Entretanto , considerando que os modernistas não manifestaram empenho político-social . Mário disse que eles não deveriam " servir de exemplo a ninguém " ,  mas que poderiam viva por muito tempo , embora seja questionável que ela ainda destile seus efeitos em 1972 , a comemoração dos cinquenta anos de modernismo foi muito especial . Com a inviabilização , ou o fracasso , dos projetos culturais e políticos radicalizantes dos anos 1960 - do rico experimentação artística e nacionalismo , com o alinhamento institucional do país às diretrizes do capitalismo avançado e , portanto , à cultura de mercado , cuja contrapartida foi o surgimento das inúmeras experiências alternativas e marginais - , o modernismo foi reinterpretado sob o signo da necessidade de luta pela independência cultural . A estratégia crítica do momento foi justificar a importância da Semana de 22 como um exemplo de atuação a ser adequado , à situação histórica do país , às limitações institucionais e às aberturas produzidas pela atividade artístico-cultural dos anos anteriores . A vertente oswaldiana , na criação e na crítica , já tinha mostrado sua propriedade para repassar o projeto modernista . Em 1972 , ainda havia um campo aberto de possibilidades , explicando com brilho e vigor pela atividade tropicalista , que repropôs e ultrapassou as proposições modernistas com a reatualização da simbólica antropofágica .

Trinta anos depois , apesar de as comemorações não terem sido esquecidas nas décadas intermediárias , ensaia-se uma comemoração com outros horizontes , longe da positividade atribuída anteriormente às promessas e apostas modernas , especialmente ao imperativo de atualização , supostos realizados na atividade artística e na reflexão estética , aí se incluindo a questão espinhosa da significação social dessas práticas . O modernismo não mais ressurge como lições : ele é um passado , ruína de uma história ainda ativa . Se a revista Visão , de fevereiro de 1972 , em ampla e significativa matéria sobre o modernismo podia reunir artigos e depoimentos de intelectuais de renome sob a rubrica " luta pela independência " , hoje tal enfoque é simplesmente descabido .]

De lá para cá o país ficou crítica e criativamente atualizado , embora seja necessário fazer-se a devida avaliação desse processo de modernização . De qualquer modo , o moderno e o novo são operantes , não necessitando de qualquer vanguarda para ativá-los . Tudo ficou mais rápido em todo lugar , tudo é contemporâneo . Sem ilusões sobre o moderno , trabalha-se crítica e criatividade efetivando não os ideais da modernidade mas as questões iminentes colocadas pelas obras , pelos trabalhos , pelos problemas pragmaticamente colocados pela realidade . Mas sente-se que alguma coisa muito importante se perdeu , algo como aquela força primitiva de resistência à colonização e a capacidade de devorar , propugnadas pela antrofagia oswaldiana , reatualizadas pelo tropicalismo . Falta-nos um princípio que force a explicitação e a exploração do mal-estar na cultura , evidenciando os conflitos e as tensões provocadas pela incorporação da alteridade sob a forma de simples justaposição de influências e valores das outras culturais à experiência brasileira . Neste sentido , o que nos serve de lição são as propostas e as ações de ruptura dos projetos artísticos-culturais da segunda metade da década de 1960 , e não tanto as dos anos de 1920 .

Elizabeth Travassos

é antropóloga e professora do Instituto Villa-Boas da Universidade do Rio de Janeiro - Uni - Rio



Em fevereiro de 1922 , o Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna , que entraria para a história da cultura como o ano zero do modernismo brasileiro . Concertos antecedidos por conferências e leituras de poesia , pinturas e esculturas expostas no saguão foram saudados com aplausos , vaias e risos .

As conferências do escritor Graça Aranha e do jornalista Menotti del Picchia falavam de "poesia liberta " , " música extravagante " e " bolchevistas da estética " . escrevendo para revistas e jornais , os participantes da Semana colocaram em circulação a oposição sistemática entre velho ( o século 19 , o sentimentalismo romântico , a poesia parnasiana , a Europa decadente ) e novo ( o século 20 , a sensibilidade moderna , a poesia moderna , o Novo Mundo ) . Também ajudaram a popularizar as palavras futurismo e vanguarda . Suas carreiras foram marcadas pelo evento , mesmo que algumas tenham tomado um rumo imprevisível naquele momento .

Villa-Lobos , quinze anos depois , iria reger uma ambiciosa política nacional de educação artística . Graça Aranha , que chegara de Paris pouco antes da Semana disposto a arregimentar artistas em torno de uma estética moderna , viu-se sobrepujado pelos acontecimentos . A inclinação primitivista dos modernistas nos anos de 1920 não poupou seu discurso filosófico grave , que soa a fin-de-siè-cle para os mais jovens , nem sua ambição de liderança do movimento .

Em fevereiro deste ano , o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro abriu o Panorama de Arte Brasileira , que promove um reconhecimento de terreno , um mapa da situação atual da produção plástica - não tem a pretensão de sacudir o meio intelectual . No Jornal do Brasil de 6 de fevereiro , uma matéria extensa acolhe a exposição com certo enfado e ceticismo , dando voz , provavelmente , aos sentimentos de parte dos visitantes da mostra ( refiro-me ao artigo " Perdidos no espaço " , de Joaquim Ferreira dos Santos ) . Vídeo , performance e instalações , cosas tão distantes das tradicionais telas , esculturas , desenhos e maquetes exibidos há oitenta anos na Semana de Arte Moderna , não causam mais assombro . Podem não chocar , mas os espectadores não têm as certezas daquela época , no aplauso ou na condenação.

Nada do que ocorre na mostra do MAM teria sido possível sem o modernismo , a começar pela existência de um museu dedicado à arte moderna . No balanço dos oitenta anos decorridos desde a Semana contabilizam-se a institucionalização do cinema e do vídeo como artes , a explosão do objeto artístico , os novos usos do corpo em atuações e as interações na sensibilidade rotineira do espectador.

Fonte - Revista ÈPOCA - págs 37,38 ,39 e 40 - EM PAUTA



RUMO AOS MODERNISTAS


Modernismo é um movimento central para entender a arte no Brasil , já ficou conhecido por ser uma manifestação genuinamente brasileira , que se negava a copiar o que vinha da Europa . O próprio conceito de antropofagia propunha uma superação do que era estrangeiro , uma devoração cultural das técnicas importadas para reelaborá-las com autonomia , convertendo-as em produto de exportação . Mas o Modernismo não foi o " marco zero" da inovação artística e cultural brasileira . Os autores Modernistas liam muito outros autores inovadores e inconscientemente se imbuíram dessa influência " , detecta Marcia Camargos , jornalista com pós-doutorado em História pela Universidade de São Paulo (USP ) . Esses autores anteriores ao Modernismo , que não podem ser rotulados como participantes de uma escola literária ou artística - até porque não são cronologicamente contemporâneos - Marcia passou a estudar mais profundamente depois de ter lançado , em coautoria com Carmem Lucia de Azevedo e Vladimir Sacchetta o volume Monteiro Lobato : Furacão na Bottocúndia ( Editora Senac , 1998).

" Não é um universo povoado de parnasianos e simbolistas , com muitas vezes se faz supor . Eles fugiam desses estereótipos , ao escolher temas , ritmos , formas e conteúdos inusitados e incomuns para suas épocas . Eles não fazem parte de uma escola ou movimento , porque são um conjunto de autores que aparecem desde o século XIX até o século XX e o que os une é a característica da inovação " , afirma a pesquisadora . Ela diz que , ao se debruçar sobre a obra desses autores , surpreendeu-se com a qualidade , modernidade e ousadia dos textos , antes do advento do Modernismo brasileiro. Esses autores são aqueles que , como afirmou o próprio Sousândrade , escrevem cinquenta anos antes de serem lidos . São homens póstumos , reconhecidos apenas depois de seu tempo e sem possibilidade de serem rotulados dentro de escolas ou movimentos .

Fonte - Revista Metafora - pág 33

TRILHA - Por RENATA DE ALBUQUERQUE


BIOGRAFIA

Vida do escritor foi uma ' vulcão de complicações '

Mário de Andrade não é unicamente o poeta que , com talento e vigor , ocupou um lugar central na Semana de Arte Moderna de 1922 e participou ativamente da renovação da arte brasileira deflagrada pelo movimento modernista - condição que já seria suficiente para seu centenário , que se completa no dia 9 de outubro , merecer lembrança e comemoração . Poeta , romancista , musicólogo , crítico de arte , cronista , etnógrafo , fotógrafo . Mário de Andrade estendeu sua influência a todos os domínios da cultura brasileira .

Tornou-se um paradigma , um modelo de artista intelectual , cuja herança continua viva e em permanente reelaboração . Basta citar " Macunaíma " , sua obra mais conhecida , transformada em filme por Joaquim Pedro de Andrade , nos anos 60 , recriada nos palcos por Antunes Filho , nos anos 70 , para perceber que sem Mário o Brasil perderia a própria definição de seu " caráter ' .

Numa carta fictícia a seu amigo modernista , datada do ano passado , a ser lançada brevemente em livro , o professor e crítico Antonio Cândido , nome crucial na formação do pensamento contemporâneo brasileiro , escreve : Você talvez não acredite , mas estão começando a preparar as comemorações de seu centenário " . E prossegue : " Creio que você vai gostar de ver o movimento aqui em baixo " . O movimento em torno do centenário será responsável , nas próximas semanas , por uma série de lançamentos editoriais , debates e homenagens . Este caderno espera contribuir para que ele se torne ainda mais intenso .



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