Neste exato instante eu gostaria de encontrar com meu amigo Fred e partir para o supermercado , não qualquer um , mas o Supermercado Leão .Lá chegando ,a gente compraria pão francês , Coca-Cola ou Pepsi - dependendo do Fredão - e pasta de pão Alouette de ervas finas , tudo para fazer san-duíche quando chegássemos na casa dele e, depois , jogarmos um carteado daqueles de gastar à tarde, quando você tem 18 ou 19 anos de idade e , claro , não tem emprego nem emprego .
Eu queria também que o Gustavo nos ligasse e , de repente , aparecesse com aquela sacola cheia de discos que ele carregava , LPs maravilhosos e capas antológicas . E tome Kraftwerk , Rolling Stones , Level 42 , Yes Genesis e tudo mais que você possa imaginar. digladiassem numa batalha de Atari - Enduro , Pirfall , Space , Invaders . Nunca joguei nada , sempre fui uma pereba em di-versões eletrônicas e nem participava , mas gostava de ver . Sempre gostei . Geralmente a gente saía de lá à meia - noite , talvez uma da manhã e vinha solitariamente pela Santa Clara , até entrar na Boca do Lobo , ganhar o Bairro do Peixoto deitado em silêncio esplêndido , depois voltar para casa .
Acho que eu queria mesmo era estar por volta das seis da tarde de sábado no Bar Sniff's , depois da reunião dos escoteiros . A gente sempre se reunia por lá para bater papo , trocar ideias . Os frequentadores mais velhos sempre escutavam e nos davam atenção , agente ria com as ga-lhofas e piadas típicas dos anos 1980 e ficava ali até nove ou dez da noite , nem saía , era nossa diversão muitas vezes .
Sei lá , eu queria agora descer e caminhar tranquilamente pela Figueiredo Magalhães até chegar na , depois caminhar ao lado do Atlântico Sul até chegar na Francisco Otaviano , subindo toda e enca-rando as pedras do Arpoador . Quantos poetas fizeram isso , né ? Cazuza deixou isso registrado em " Faz parte do meu show " .
Há uns 15 anos ainda tive chance de pegar os últimos momentos do Cirandinha , lanchei lá várias vezes com colegas dos tempos de escola . A comida era impecável e o ambiente refinado . Muitas senhoras marcavam chás para se reunir e conversar , enfim , encontrar as velhas amigas . A gente se sentia bem em casa , seria bom estar lá agora .
Quer saber ? O que eu queria mesmo , mesmo , bem lá no fundo , era ser bem pequeno para passar com meu pai quando ele me dava a mão . A gente caminhava pela rua muitas vezes . Nós não tínhamos destino , a gente simplesmente saía de casa , dava uma volta por algum lugar do universo Copacabana , lanchava alguma coisa e retornava . Foi assim que eu descobri os nomes das ruas , dos prédios e dos lugares . Geralmente era aos sábados à tardinha . E quando você tem a mão do seu pai para segurar , viver é muito mais fácil .
Querer tudo isso é impossível . É voltar ao passado , ressuscitar quem já se foi e ter a verda-deira chance de voltar para casa . Eu sei que é impossível , que viver é melhor que sonhar , mas numa noite melancólica e silenciosa talvez só o sonho possa me estender os braços .
Fonte - Jornal Correio da Manhã - pág 6 - Teatro Data - Sexta- feira , 26 a domingo , 28 de abril de 2024 Paulo - Roberto Andel
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário sobre a postagem.