Comportamento
Sobre os
direitos das crianças
Amo a infância. Divirto-me e me realizo com as
crianças: seus sonhos, suas criações, suas “viagens pela imaginação“. São
príncipes, são sapos, dinossauros, leões, super-heróis, princesas, bruxas , fadas . Choram por
pouco, riem por muito menos... São campo virgem, são massa a ser moldada, são pequenos a serem formados e transformados em pessoas
de bem, lúcidas, sensatas. Têm direito a isso.
Elas têm o direito de serem acolhidas e cuidadas por suas
famílias, vivendo uma rotina apropriada
à fase em que se encontram. Têm direito
a conviverem com adultos que se responsabilizem e cuidem delas decidindo sobre
tudo aquilo que elas ainda não têm critérios e condições para decidir: o que e em que horário devem comer, que horário vão dormir, tomar banho, acordar, assistir TV, brincar
com eletrônicos... que as
protejam , especialmente de seus
próprios desejos ainda insensatos ,
exatamente porque são sujeitos em formação
, não conhecem as consequências.
As crianças têm direito a brincar com pessoas e não somente
com telas. Aliás, não somente de brincar, mas também de brigar, se desentender, disputar, conviver com outras pessoas - com todas as alegrias, dores e
afetos que isso possibilita. Têm
direito de ter suporte para enfrentar as frustrações, as dificuldades, as novidades sem serem poupadas delas. Têm direito de descobrir se conseguem
superá-las, porque são potencialmente
capazes, criativas, têm apoio, são fortes
- mais fortes do que os pequenos obstáculos do cotidiano. Têm direito de se sujar na terra, de pintar com as mãos, brincar de massinha, de ter um canto onde possam sujar, limpar, organizar , desorganizar e
experimentar. Têm direito de aprender a
respeitar os limites, porque são
colocados com autoridade, despertando o
respeito. Direito de errar muitas vezes
e serem corrigidas com carinho e firmeza; direito de serem conhecidas em suas características, potencialidades , limitações e defeitos. E
isso só é possível com o convívio rico em tempo e qualidade.
Têm direito de sentirem-se pertencentes a uma família que os
forje a partir de seus valores e princípios
. Têm direito de ser formadas por pessoas que as amem e que, por isso mesmo, ajudem-nas a adquirir as virtudes que não
têm, a lutar contra os defeitos que têm e a aceitar as próprias limitações,
tirando o melhor proveito delas.
Assim, construirão uma auto estima
positiva, que potencializa o
crescimento equilibrado. Assim também
aprenderão, com o tempo, a “ enxergar “ os outros, a saber que todos têm vontades, necessidades e direitos. Saberão abrir mão daquilo que puderem em
benefício do coletivo. Aprenderão
critérios para serem capazes de escolhas acertadas, sensatas, lúcidas – que preservem a vida delas e dos
demais. Escolhas responsáveis, que visem não somente ao benefício
próprio, mas o da comunidade com a qual
convivem. Aprenderão a lutar pelo que
vale a pena, uma vez que, desde pequenos, foram ensinados a buscar com garra o que é
bom e importante. Aprenderão
valores , o que , com certeza, é mais importante do que inglês, mandarim, etc.
Não nos esqueçamos:
algumas coisas são boas, outras são
fundamentais. Aprender outras línguas,
praticar diferentes esportes, aprender
a tocar instrumentos, é muito bom , porém
, formar pessoas com valores e virtude é fundamental. As crianças têm esse direito e nós, pais, temos o dever de nos envolvermos nisso de corpo e alma afinal, somos responsáveis por elas.
Fonte - Jornal
O SÃO PAULO
pág 6
VIVER BEM -
5 a 11 de outubro de 2016
Simone Ribeiro Cabral
Fuzaro é fonoaudióloga e educadora
PAZ PARA
AS CRIANÇAS
Não é exagero afirmar que a maior batalha da sociedade
brasileira hoje é contra a violência.
Diariamente, somos surpreendidos por
chocantes notícias de agressões,
linchamentos e assassinatos, muitas
vezes em decorrência de motivos insignificantes.
Essa cruzada por um país mais pacífico para as próximas
gerações está intimamente relacionada aos dados recém-apresentados do
Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, organizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Entre
os dados alarmantes da pesquisa, consta
que 21,7% dos brasileiros afirmam ter sofrido abusos quando criança. Este número salta 45,7% entre
alcoólatras, 47,5% entre os usuários de
maconha e 52 % entre os dependentes de cocaína. Resumindo: segundo a pesquisa, vítimas de violência na infância ou na
adolescência têm o dobro de chances de se tornaram dependentes de drogas ou
álcool.
A pesquisa da Unifesp aponta que entre as agressões mais
frequentes sofridas pelas crianças estão empurrões, beliscões ou arranhões ( 12,4% ), seguidas
de perto por tapas ou socos que deixa marcas (11,9%). Ameaças com facas ou
armas (1,7%) e queimaduras (0,7%)
também foram registradas. Pasmem: os praticantes de tais abusos são os
próprios cuidadores dos menores.
A situação não é muito diferente nos demais centros infantis
de tratamento psicológico e psiquiátrico. Estudo feito pela Academia Americana de Psiquiatria, em 2000, mostrou que 88% das crianças
entre 3 e 5 anos que apresentavam quadro de depressão ou ansiedade tinham
sofrido maus-tratos físicos ou morais.
O estudo foi refeito recentemente e seu resultado não pé animador: este percentual cresceu para assustadores
90 %.
O cérebro infanto-juvenil é como uma esponja, que absorve e retém as mais diferentes
experiências, boas e más. O aviltante
vídeo do linchamento de Guarujá, que
revoltou todo o país, deixa claro que
entre os espectadores daquelas cenas de horror estavam crianças e jovens. As frequentes guerras de torcidas nos
estádios brasileiros de futebol têm por testemunha centenas de crianças e
adolescentes que lá estão em busca apenas de uma boa partida. Que recado estamos dando a estes menores
que assistem tanta violência?
Diversos segmentos da sociedade têm sua responsabilidade na
preservação da integridade psíquica dos menores brasileiros. Professores e profissionais de saúde devem
estar alerta e em condições de detectar abusos que aconteçam na casa do
menor. Ao Judiciário, cabe a celeridade no julgamento dos
responsáveis pelas crianças que estão em perigo, além de facilitar o burocrático processo de adoção por parte de novas
famílias impostas a recebê-las.
Segundo Albert Bandura , psicólogo canadense autor da teoria
–social –cognitiva, “a criança que vê
com frequência os pais sendo voluntários para alimentar indigentes pode ser no
futuro próximo saber a importância de ajudar e respeitar os outros , mesmo sem orientação direta deles . O
exemplo é o que fica.” É chegada a hora de o Brasil decidir que país deseja
ser a partir das próximas gerações.
Fonte – Jornal O
GLOBO pág 17
Fabio Barbirato é
chefe do Departamento de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio
EDITORIAL
Dia das Crianças:
Será que temos motivos para
comemorar esta data ?
Dia das crianças ,
data em que festejam não apenas as crianças festejam e comemoram , mas também os adultos . Afinal de contas, a data é feriado nacional e como todo
feriado é sempre bem vinda aquela pausa
nas nossas tarefas e afazeres.
Lembramo-nos desse dia como um dia especial voltado às
crianças, em que todos os tipos de pais
se fazem presente ; os mais
precavidos , com os presentes já
definidos e comprados.
Porém, nem tudo se
resume a compra de presentes, festa e
confraternização de todos os familiares e amigos nessa data tão esperada por
inúmeras crianças de todos os quatro cantos deste país.
Não há como esquecer as mães aflitas empunhando em suas mãos
trêmulas , cartazes com a foto de seus
filhos desaparecidos , sem saber do seu
verdadeiro paradeiro , quando não tem
apoio da mídia , não contam sequer com o
auxílio do governo nem dos órgãos
competentes na busca de informações para o encerramento do caso , ou então
, a prostituição infantil , que
degrada cada vez mais nossa sociedade ,
cenas que se repetem não apenas em um determinado Estado ou região do país - se engana aquela que pensa isso - que infelizmente, em todo o Brasil, por onde quer que vá, é repetida diariamente em beira de
estradas, bordéis, e ainda, pais que vendem seus filhos a qualquer preço, alimentando ainda mais o tráfico
infantil.
Escolas completamente sucateadas, paredes corroídas prestes a cair, carteiras em estado lastimável, quadros–negros improvisados, professores mal remunerados, ensino deturpado, verbas desviadas de merenda escolar, informatização de escolas e compra de
materiais básicos, tudo isso feito através de um organizado sistema corrupto
presente em quase todos os municípios -
sendo otimista para não falar, todos -
faz do Brasil, um dos países com pior
qualidade de Educação do mundo.
Enfim, se olharmos
por esse lado, não temos razão alguma
para comemorar esse dia e tê-lo como referência às crianças, afinal, se tomarmos como exemplo apenas o nosso país, com tantas crianças em trabalho pesado e
ainda por cima, escravo fazendo delas
pobres indivíduos indefesos e sem ter a quem socorrê-las, uma vez que, o governo se mostra inapto em se fazer cumprir as leis, e muitas vezes, são os próprios ardilosos participantes
desse governo que são proprietários de fazendas, pedreiras, mineradoras ,
carvoarias, entre outros redutos de
trabalho servil e infantil.
O maior presente que podemos dar a essas crianças é o
respeito e a dignidade perdidos pelo abuso e pelo incessante desejo de o homem
enriquecer a qualquer custo, de
qualquer forma e sob qualquer pretexto.
Fonte - Jornal
RIO
Editorial
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