quinta-feira, 23 de março de 2017

A mulher brasileira de hoje




A mulher desde a antiguidade foi despojada de seus direitos. Tanto a legislação como as religiões e também os costumes sempre buscaram torná-la submissa. Muitas aceitaram essas restrições enquanto outras, mesmo a custa de muito sacrifício, às vezes, pagando com a vida, se rebelaram.
O Brasil, colonizado por europeus  , herdou essa visão. A História do Brasil estudada nas escolas só registra os feitos dos homens. O que fizeram nossas mulheres nos quinhentos anos de nossa História   ?
Uma análise mais acurada nos mostra que a atuação delas foi muito mais significativas do que se pensa  . Precisaram lutar para ter direito à educação, escolher seu companheiro de vida  , desfrutar e participar  , com igualdade  , das decisões domésticas  , para poder exercer  , livremente  , uma profissão  , opinar sobre questões políticas  , votar e ser votada.
Galhardamente conseguiram navegar contra a correnteza. Com inteligência, coragem, perseverança, capacidade de aceitar desafios hoje demonstram o quanto podem fazer  .
Estudos feitos pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sociais  (DIEESE )   mostram que na região metropolitana de São Paulo cresceu, na última década, a participação das mulheres, com grau de instrução superior ao dos homens. Dos profissionais com ensino superior  completo  17,1 % são mulheres enquanto, entre os homens, apenas 13 %. O estudo diz ainda: “Se em 2000 a maior parte da População Economicamente Ativa (IPEA), com nível superior, era composta por homens ( 51,3 % ) , hoje essa posição é ocupada pelas mulheres  (53,6 % ) “  .
              
Que  as  mulheres  conseguiram  muito, não resta a menor dúvida
                                             Entretanto, ainda  não  podem  festejar  

Isto significa que a escolaridade superior cresceu num ritmo maior do que entre os homens. Se essa situação continuar  , para DIEESE / SEADE  , “ é de se esperar que  , em poucos anos  , as mulheres passem a ser a maioria no conjunto dos ocupados". Que as mulheres conseguiram muito  não resta a menor dúvida. Entretanto, ainda não podem festejar . Os mesmos estudos revelam também que elas ganham apenas 76 % do salário pago aos  homens ! Também há bastante resistência para que elas ocupem altos postos.  Parece uma espécie de  teto de vidro “ que as impede de galgar altos postos.
Há outro fator que tem dificultado que as mulheres exerçam todos os direitos. Esse, talvez, seja o pior de todos  ! É a violência existente nos lares. A titular Vanessa R. Mateus,  do Primeiro Juizado dedicado à violência contra a mulher, em São Paulo, declarou  : “ Uma mulher apanha dentro de casa  , no Brasil , a cada 15 segundos “. É estarrecedor!
Pululam leis sobre o tema, são criados órgãos visando proteger as vítimas mas, nada acontece! Como erradicar essa constrangedora situação  ?
Afinal  , é dentro de casa que a criança tem o primeiro contato com esse abuso. Como não banalizá-lo. Não é estranho que o tenha como normal ! Assim, novos agressores vão surgindo para desespero dos mais fracos. E a impunidade persiste!
Creio que a melhor arama seria a educação  . E mais  : que as leis vigentes sejam realmente cumpridas e aprimoradas ! Só assim dias melhores virão  !
Portanto  , a luta continua e , certamente  , novas mudanças correrão !
 
Fonte   -    Folha  do  SERVIDOR            pág 22   Março   -  2015
ACADEMIA  DE  LETRAS  , CIÊNCIAS  E  ARTES      -    A  mulher  brasileira  hoje 
Hebe  Canuto  da  Boa –Viagem  Andrade  Costa  , Cadeira  9 de Letras


A  revolução  das  mulheres 

Reunião  de  ensaios  analisa  a evolução  da Condição  feminina  no  Brasil 

Muito pouco se sabe sobre as mulheres.  As sociedades patriarcais, como a nossa, tornaram as mulheres invisíveis, e o tempo passou como se elas não tivessem existido. Durante séculos, tentou-se dar a impressão de que aquilo que as mulheres diziam, escrevia, sofriam era irrelevante, não tinha influência na ordem das cosas . O resultado foi uma história sempre parcial e incompleta dos fatos.
É claro que o mundo mudou e caminhamos para a igualdade de gênero, mas o resgate histórico das mulheres é tarefa demorada, que exige muita pesquisa e pioneirismo   .
Em um trabalho sem precedentes no país  , as editoras  Contexto e UNESP acabam de lançar um livro denso e profundo e  , ao mesmo tempo  , gostoso de ler , sobre a “ História das Mulheres no Brasil  “ , organizado por Mary Del Priore  , professora de História da USP e coordenado por Carla Bassanezi mestre em História Social, também pela USP. São 20 textos  , assinados por historiadores , sociólogos  e educadores do mais alto gabarito, cada um deles abordando aspecto da vida das mulheres em diferente períodos da História do Brasil. 
Trata-se de um livro de extremo interesse, pois não se limita a uma coletânea de artigos. É uma obra de referência, resultante de muita pesquisa e capaz de suprir lacunas nas informações que nos chegaram da sociedade brasileira ao longo do livro.
Para que serve a história das mulheres? Como diz Priore, na apresentação do livro , “ para fazê-las existir  , viver e ser  “. Mas há, ainda, muitas razões para conhecer a história das mulheres  , dentre as quais a necessidade de entender melhor a humanidade  , a sociedade, a família; as estruturas de poder e suas conseqüências, os rumos que iremos seguir daqui para frente.
A partir do relato de viajantes e missionários, Ronald Raminelli traçou o cotidiano feminino entre as comunidades indígenas litorâneas nos séculos 16 e 17, principalmente com relação aos Tupinambás. Para os europeus  , os “ costumes heterodoxos  “ das terras do além-mar eram vistos como indícios do barbarismo e da presença do diabo. A cultura indígena foi descrita com base no paradigma teológico, carregado de misoginia. As mulheres eram seres pecaminosos por definição.
A nudez mal compreendida das índias brasileiras era um símbolo da perversão do Novo Mundo  , já que não se concebia a hipótese dos costumes indígenas serem diferentes do universo cristão. Para os missionários, esta hipótese feria a idéia da monogenia dos seres humanos e de que todas as pessoas são descendentes de Adão e Eva.
As índias velhas  , designadas como “ as selvagens dos seios caídos “ foram usadas para simbolizar a degeneração, a decrepitude e o canibalismo das sociedades tribais. Os homens foram poupados pelos missionários e viajantes de tão nefasta representação, mas as mulheres  receberam uma dupla carga estigmatizante: primeiro por serem mulheres e segundo por serem velhas. Assim serviram aos interesses dos colonizadores , que pretendiam evitar a integração das comunidades indígenas da nova sociedade que se criava no Brasil. As índias, principalmente as idosas, representavam a resistência selvagem contra os empreendimentos coloniais europeus.
As mulheres brancas no Brasil Colônia, cuja condição é descrita por Emanuel Araújo, não lograram maior tolerância social, pois os costumes misóginos, trazidos pela Igreja Católica e consolidados nas leis do Estado, visavam a exercer controle absoluto sobre a existência feminina e sua sexualidade. Com a Inquisição, estabeleceu-se uma relação direta entre a mulher, a bruxaria e o sexo.
No “ Malleus Maleficarum “ , célebre tratado de demonologia escrito por dois dominicanos alemães, Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, publicado em 1486, afirmava –se  que  houve uma falha na formação da primeira mulher  , por ter sido ela criada a partir de uma costela recurva  , ou seja  , uma costela do peito  , cuja curvatura  é  , por assim dizer  , contrária à retidão do homem  . Em virtude  dessa falha  , a mulher é animal imperfeito  , sempre decepciona a mente “ .
Em outro trecho do tratado, conclui-se:  Toda a bruxaria tem origem na cobiça carnal  , insaciável nas mulheres".
Com relação ao adultério, há no texto de Emanuel Araújo a notícia de um homem preso em 1809 por ter matado a mulher que surpreendera deitada em uma rede com um estranho. Pedia ele  ao “ Desembarque do Paço “ sua liberdade  , pois “ levado de honra e brio cometeu aquela morte em desafronta sua, julgando–se ofendido  “ . O parecer dos desembargadores foi que o assassinato era “ desculpável pela paixão e arrebatamento com que foi cometido “ . Desde aquela época, portanto  , construía-se a tese da legítima defesa da honra, até há pouco tempo usada no Brasil, perante os tribunais do júri  , para absolver assassinos de mulheres  .
Percebe-se  , ao longo da história que a condição feminina no Brasil evoluiu lentamente nos últimos cinco séculos  . Muitos dos costumes de outrora remanescem nos dias de hoje   com algumas variações, apesar do advento da Constituição Federal de 1988 , que assegura a igualdade de gênero.
Um exemplo claro são os trajes femininos. As roupas adequadas à mulheres  “ de família “ foram e são motivo de muita preocupação da moral patriarcal. Atualmente críticas podem ser consideradas veladas, às vezes travestida de escárnio, como no caso de chamar a mulher de “ perua mas o fundo moralista está ainda presente.
O que as mulheres podem ou não usar, desde as vestimentas até os adornos, é ditado pelos homens: antigamente, porque eles detinham o poder absoluto  , hoje  , porque ( ainda) comandam o mundo da moda  . O moralista Nuno Marques Pereira  , no século 17  , exortava as mulheres para que fossem “ muito honestas no vestir  , porque  as galas desonestas estão indicando corpo lascivo “ .
Evidencia-se, em todos os textos constantes de “ Histórias das Mulheres “ , de forma cabal e documentada, que o gênero feminino jamais foi considerado digno de respeito e sujeito de direitos humanos. A necessidade de reafirmar a inferioridade da mulher é recorrente, a fim de justificar sua absoluta submissão.
Norma Telles, ao falar sobre as escritoras no Brasil  , cita o número 425 da “ Revista Ilustrada “  , de 1886  , destacando artigo intitulado “ O Eterno Feminino   , sobre as reivindicações das mulheres. Dizia-se que “ é dos rostos imberbes  , como os do sexo gentil  , que até hoje têm vindo  , as maiores desgraças ao mundo e os mais atrozes sofrimentos à humanidade “.
Os documentos comprovam que as mulheres nunca se submeteram ao jugo patriarcal sem reagir de alguma forma, mas, por razões que não nos cabe analisar neste espaço, foram sempre vencidas. A história das mulheres é, infelizmente  , uma história de derrotas, de sofrimento e de opressão  . Mas é  , também , uma história de perseverança  , coragem e amor  . O futuro  , que começa agora , será compensador.
O texto de Paola Cappelin Giulani  , sobre a sociedade de hoje  , demonstra que a “modernização “ tem atingido de maneira diferente os diversos grupos sociais e produtos várias formas de conflito. No processo de conquista da cidadania, as mulheres enfrentam situações peculiares, pois, além das questões públicas e econômicas  , têm que combater as discriminações de gênero. A luta por melhores condições de vida por parte das mulheres trouxe uma nova força aos movimentos  sindicais  , ao mesmo tempo em que abriu uma crise na divisão sexual do trabalho  , na própria representação sindical e na família.
Giulani afirma que a partir  do fim dos anos 70, os movimentos das trabalhadoras estão interpelando a sociedade, colaborando decisivamente para o processo de amadurecimento das relações raciais e o aperfeiçoamento da democracia.
O livro termina com um narração da escritora Lygia Fagundes Telles na qual ela começa citando Norberto Bobbio para dizer que a revolução da mulher foi a mais importante revolução do século 20. Com muita sensibilidade, Lygia encerra as 672 páginas com chave de ouro. Poeticamente, ela sintetiza a condição feminina: “A mulher escondida  . Guardada . Principalmente invisível  , a se esgueirar na sombra. Reprimida e ainda assim sob suspeita. Penso hoje que foi devido a esse clima de reclusão que a mulher foi desenvolvendo e de forma extraordinária esse seu sentido da percepção, da intuição, a mulher é mais perceptiva do que o homem “ .
De fato, foi a revolução das mulheres que possibilitou este livro  , uma obra clássica a enriquecer a cultura brasileira.

Fonte  -   Jornal  FOLHA  DE  SÃO  PAULO      pág  14       MAIS
Domingo  , 15 /06/1997           LUIZA  NAGIB  ELUB 
Promotora de Justiça de São Paulo  , ex-secretária nacional de Direitos da Cidadania  do Ministério da Justiça  ( governo FHC ) e relatora do documento que o Brasil apresentou na Conferência Mundial da Mulher em Pequim , 1995 .


Lugar  de  mulher  é no supermercado

ECONOMIA  NA  SUA  LÍNGUA

Pelas palavras do presidente no Dia Internacional da Mulher, o lugar delas seria no lar e no supermercado, comparando preços! Nada contra essas tarefas. Mas elas não são específicas das mulheres. Só o machismo justifica essa idéia.
A vantagem comparativa associada a gênero  está desaparecendo. Sim, o homem tem vantagem comparativa na força física. Quando esse fator é muito relevante, a especialização por gênero faz certo sentido. Mas no mundo moderno, em geral, importa pouco.
As mulheres estão em todos os lugares  , lutando por espaço no mercado de trabalho. Muitas, especialmente em países como o Brasil  , sofrem discriminação  , violência e assédio  . Isso precisa mudar mais rápido  , estamos falando de metade da população de qualquer país ! Cotas bem desenhadas e leis mais firmes podem ajudar a quebrar o círculo vicioso do preconceito.
Já reclamar que jogadora de futebol recebe menos que jogador é um equívoco.
Enquanto o público curtir mais assistir jogos de futebol masculino  , vai ser assim mesmo. É uma questão de maior demanda de produto. Verdade, isso pode ter raízes culturais machistas, mas não podemos forçar as pessoas a irem a estádios ou a assistirem ao campeonato brasileiro feminino. Só assim as jogadoras receberiam salários de mercado maiores.
Modelos mulheres ganham mais que homens modelos, por exemplo. Nesse caso,  parece aceitável existir maior demanda por mulheres nessa área. Por parte das próprias mulheres, muito provavelmente.
Enfim, precisamos por lenha na fogueira feminista – ainda resta muito por fazer. Com ternura e convicção, mas sem perder a racionalidade.

Fonte    -      Jornal   DESTAK           pág  11
Terça –feira , 14/03/2017    EQUIPE  DO  PQ ?

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