A mulher desde a antiguidade foi despojada de seus
direitos. Tanto a legislação como as
religiões e também os costumes sempre buscaram torná-la submissa. Muitas aceitaram essas restrições enquanto
outras, mesmo a custa de muito
sacrifício, às vezes, pagando com a vida, se rebelaram.
O Brasil, colonizado
por europeus , herdou essa visão. A História do Brasil estudada nas escolas
só registra os feitos dos homens. O que
fizeram nossas mulheres nos quinhentos anos de nossa História ?
Uma análise mais acurada nos mostra que a atuação delas foi
muito mais significativas do que se pensa
. Precisaram lutar para ter direito à educação, escolher seu companheiro de vida , desfrutar e participar , com igualdade , das decisões domésticas , para poder exercer , livremente
, uma profissão , opinar sobre
questões políticas , votar e ser votada.
Galhardamente conseguiram navegar contra a correnteza. Com inteligência, coragem, perseverança, capacidade de
aceitar desafios hoje demonstram o quanto podem fazer .
Estudos feitos pela Fundação Seade e pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Sociais
(DIEESE ) mostram que na região
metropolitana de São Paulo cresceu, na
última década, a participação das
mulheres, com grau de instrução
superior ao dos homens. Dos
profissionais com ensino superior
completo 17,1 % são mulheres
enquanto, entre os homens, apenas 13 %. O estudo diz ainda: “Se em
2000 a maior parte da População Economicamente Ativa (IPEA), com nível superior, era composta por homens ( 51,3 % ) , hoje
essa posição é ocupada pelas mulheres
(53,6 % ) “ .
Que as
mulheres conseguiram muito, não resta a menor dúvida
Entretanto, ainda não
podem festejar
Isto significa que a escolaridade superior cresceu num ritmo
maior do que entre os homens. Se essa
situação continuar , para DIEESE /
SEADE , “ é de se esperar que , em poucos anos , as mulheres passem a ser a maioria no
conjunto dos ocupados". Que as
mulheres conseguiram muito não resta a
menor dúvida. Entretanto, ainda não podem festejar . Os mesmos estudos
revelam também que elas ganham apenas 76 % do salário pago aos homens ! Também há bastante resistência para
que elas ocupem altos postos. Parece uma espécie de “ teto de vidro “ que as impede de galgar
altos postos.
Há outro fator que tem dificultado que as mulheres exerçam
todos os direitos. Esse, talvez, seja o pior de todos ! É a violência existente nos lares. A titular Vanessa R. Mateus, do Primeiro Juizado dedicado à violência
contra a mulher, em São Paulo, declarou
: “ Uma mulher apanha dentro de casa
, no Brasil , a cada 15 segundos “. É estarrecedor!
Pululam leis sobre o tema, são criados órgãos visando proteger as vítimas mas, nada acontece!
Como erradicar essa constrangedora situação
?
Afinal , é dentro de
casa que a criança tem o primeiro contato com esse abuso. Como não banalizá-lo. Não é estranho que o tenha como normal !
Assim, novos agressores vão surgindo
para desespero dos mais fracos. E a
impunidade persiste!
Creio que a melhor arama seria a educação . E mais
: que as leis vigentes sejam realmente cumpridas e aprimoradas ! Só
assim dias melhores virão !
Portanto , a luta
continua e , certamente , novas mudanças
correrão !
Fonte - Folha
do SERVIDOR pág 22 Março
- 2015
ACADEMIA DE LETRAS
, CIÊNCIAS E ARTES
- A mulher
brasileira hoje
Hebe Canuto da Boa
–Viagem Andrade Costa
, Cadeira 9 de Letras
A revolução das
mulheres
Reunião de ensaios
analisa a evolução da Condição
feminina no Brasil
Muito pouco se sabe sobre as mulheres. As
sociedades patriarcais, como a
nossa, tornaram as mulheres
invisíveis, e o tempo passou como se
elas não tivessem existido. Durante
séculos, tentou-se dar a impressão de
que aquilo que as mulheres diziam,
escrevia, sofriam era irrelevante,
não tinha influência na ordem das cosas . O resultado foi uma história sempre parcial e incompleta dos fatos.
É claro que o mundo mudou e caminhamos para a igualdade de
gênero, mas o resgate histórico das
mulheres é tarefa demorada, que exige
muita pesquisa e pioneirismo .
Em um trabalho sem precedentes no país , as editoras
Contexto e UNESP acabam de lançar um livro denso e profundo e , ao mesmo tempo , gostoso de ler , sobre a “ História das
Mulheres no Brasil “ , organizado por
Mary Del Priore , professora de História
da USP e coordenado por Carla Bassanezi mestre em História Social, também pela USP. São 20 textos , assinados por historiadores ,
sociólogos e educadores do mais alto
gabarito, cada um deles abordando aspecto da vida das mulheres em diferente
períodos da História do Brasil.
Trata-se de um livro de extremo interesse, pois não se limita a uma coletânea de
artigos. É uma obra de referência, resultante de muita pesquisa e capaz de
suprir lacunas nas informações que nos chegaram da sociedade brasileira ao
longo do livro.
Para que serve a história das mulheres? Como diz Priore, na apresentação do livro , “ para fazê-las
existir , viver e ser “. Mas há, ainda, muitas razões para
conhecer a história das mulheres ,
dentre as quais a necessidade de entender melhor a humanidade , a sociedade, a família; as estruturas de
poder e suas conseqüências, os rumos
que iremos seguir daqui para frente.
A partir do relato de viajantes e missionários, Ronald Raminelli traçou o cotidiano feminino
entre as comunidades indígenas litorâneas nos séculos 16 e 17, principalmente com relação aos
Tupinambás. Para os europeus , os “ costumes heterodoxos “ das terras do além-mar eram vistos como
indícios do barbarismo e da presença do diabo. A cultura indígena foi descrita com base no paradigma teológico, carregado de misoginia. As mulheres eram seres pecaminosos por
definição.
A nudez mal compreendida das índias brasileiras era um
símbolo da perversão do Novo Mundo , já
que não se concebia a hipótese dos costumes indígenas serem diferentes do
universo cristão. Para os
missionários, esta hipótese feria a
idéia da monogenia dos seres humanos e de que todas as pessoas são descendentes
de Adão e Eva.
As índias velhas ,
designadas como “ as selvagens dos seios caídos “ foram usadas para simbolizar
a degeneração, a decrepitude e o
canibalismo das sociedades tribais. Os
homens foram poupados pelos missionários e viajantes de tão nefasta
representação, mas as mulheres receberam uma dupla carga estigmatizante: primeiro por serem mulheres e segundo por
serem velhas. Assim serviram aos
interesses dos colonizadores , que pretendiam evitar a integração das comunidades
indígenas da nova sociedade que se criava no Brasil. As índias, principalmente as idosas,
representavam a resistência selvagem contra os empreendimentos coloniais
europeus.
As mulheres brancas no Brasil Colônia, cuja condição é descrita por Emanuel
Araújo, não lograram maior tolerância
social, pois os costumes misóginos, trazidos pela Igreja Católica e
consolidados nas leis do Estado,
visavam a exercer controle absoluto sobre a existência feminina e sua
sexualidade. Com a Inquisição, estabeleceu-se uma relação direta entre a
mulher, a bruxaria e o sexo.
No “ Malleus Maleficarum “ , célebre tratado de demonologia
escrito por dois dominicanos alemães,
Heinrich Kramer e Jakob Sprenger,
publicado em 1486, afirmava –se que “houve uma falha na formação da primeira mulher
, por ter sido ela criada a partir de uma costela recurva , ou seja
, uma costela do peito , cuja
curvatura é , por assim dizer , contrária à retidão do homem . Em virtude
dessa falha , a mulher é animal
imperfeito , sempre decepciona a mente “
.
Em outro trecho do tratado, conclui-se: Toda a bruxaria tem origem na cobiça
carnal , insaciável nas mulheres".
Com relação ao adultério, há no texto de Emanuel Araújo a notícia de um homem preso em 1809 por
ter matado a mulher que surpreendera deitada em uma rede com um estranho. Pedia ele
ao “ Desembarque do Paço “ sua liberdade
, pois “ levado de honra e brio cometeu aquela morte em desafronta sua, julgando–se ofendido “ . O parecer dos desembargadores foi que o
assassinato era “ desculpável pela paixão e arrebatamento com que foi cometido
“ . Desde aquela época, portanto , construía-se a tese da legítima defesa da
honra, até há pouco tempo usada no
Brasil, perante os tribunais do
júri , para absolver assassinos de
mulheres .
Percebe-se , ao longo
da história que a condição feminina no Brasil evoluiu lentamente nos últimos
cinco séculos . Muitos dos costumes de
outrora remanescem nos dias de hoje com
algumas variações, apesar do advento da
Constituição Federal de 1988 , que assegura a igualdade de gênero.
Um exemplo claro são os trajes femininos. As roupas adequadas à mulheres “ de família “ foram e são motivo de muita
preocupação da moral patriarcal.
Atualmente críticas podem ser consideradas veladas, às vezes travestida de escárnio, como no caso de chamar a mulher de “ perua
“ mas o fundo moralista está ainda presente.
O que as mulheres podem ou não usar, desde as vestimentas até os adornos, é ditado pelos homens: antigamente, porque eles detinham o poder absoluto , hoje
, porque ( ainda) comandam o mundo da moda . O moralista Nuno Marques Pereira , no século 17 , exortava as mulheres para que fossem “
muito honestas no vestir , porque as galas desonestas estão indicando corpo
lascivo “ .
Evidencia-se, em
todos os textos constantes de “ Histórias das Mulheres “ , de forma cabal e
documentada, que o gênero feminino
jamais foi considerado digno de respeito e sujeito de direitos humanos. A necessidade de reafirmar a inferioridade da mulher é recorrente, a fim de justificar sua absoluta submissão.
Norma Telles, ao
falar sobre as escritoras no Brasil ,
cita o número 425 da “ Revista Ilustrada “
, de 1886 , destacando artigo
intitulado “ O Eterno Feminino “ , sobre
as reivindicações das mulheres.
Dizia-se que “ é dos rostos imberbes ,
como os do sexo gentil , que até hoje
têm vindo , as maiores desgraças ao
mundo e os mais atrozes sofrimentos à humanidade “.
Os documentos comprovam que as mulheres nunca se submeteram
ao jugo patriarcal sem reagir de alguma forma, mas, por razões que não nos
cabe analisar neste espaço, foram sempre vencidas. A história das mulheres é, infelizmente , uma história de derrotas, de sofrimento e de opressão . Mas é
, também , uma história de perseverança
, coragem e amor . O futuro , que começa agora , será compensador.
O texto de Paola Cappelin Giulani , sobre a sociedade de hoje , demonstra que a “modernização “ tem
atingido de maneira diferente os diversos grupos sociais e produtos várias formas
de conflito. No processo de conquista
da cidadania, as mulheres enfrentam
situações peculiares, pois, além das questões públicas e econômicas , têm que combater as discriminações de
gênero. A luta por melhores condições
de vida por parte das mulheres trouxe uma nova força aos movimentos sindicais
, ao mesmo tempo em que abriu uma crise na divisão sexual do
trabalho , na própria representação
sindical e na família.
Giulani afirma que a partir
do fim dos anos 70, os
movimentos das trabalhadoras estão interpelando a sociedade, colaborando decisivamente para o processo
de amadurecimento das relações raciais e o aperfeiçoamento da democracia.
O livro termina com um narração da escritora Lygia Fagundes
Telles na qual ela começa citando Norberto Bobbio para dizer que a revolução da
mulher foi a mais importante revolução do século 20. Com muita sensibilidade, Lygia encerra as 672 páginas com chave de
ouro. Poeticamente, ela sintetiza a condição feminina: “A mulher escondida . Guardada . Principalmente invisível , a se esgueirar na sombra. Reprimida e ainda assim sob suspeita. Penso hoje que foi devido a esse clima de
reclusão que a mulher foi desenvolvendo e de forma extraordinária esse seu
sentido da percepção, da intuição, a mulher é mais perceptiva do que o homem “
.
De fato, foi a
revolução das mulheres que possibilitou este livro , uma obra clássica a enriquecer a cultura
brasileira.
Fonte - Jornal
FOLHA DE SÃO
PAULO pág 14
MAIS
Domingo , 15
/06/1997 LUIZA NAGIB
ELUB
Promotora de Justiça de São Paulo , ex-secretária nacional de Direitos da
Cidadania do Ministério da Justiça ( governo FHC ) e relatora do documento que o
Brasil apresentou na Conferência Mundial da Mulher em Pequim , 1995 .
Lugar de mulher
é no
supermercado
ECONOMIA NA SUA
LÍNGUA
Pelas palavras do presidente no Dia Internacional da
Mulher, o lugar delas seria no lar e no
supermercado, comparando preços! Nada
contra essas tarefas. Mas elas não são
específicas das mulheres. Só o machismo
justifica essa idéia.
A vantagem comparativa associada a gênero está desaparecendo. Sim, o homem tem vantagem comparativa na força física. Quando esse fator é muito relevante, a especialização por gênero faz certo
sentido. Mas no mundo moderno, em geral, importa pouco.
As mulheres estão em todos os lugares , lutando por espaço no mercado de
trabalho. Muitas, especialmente em países como o Brasil , sofrem discriminação , violência e assédio . Isso precisa mudar mais rápido , estamos falando de metade da população de
qualquer país ! Cotas bem desenhadas e leis mais firmes podem ajudar a quebrar
o círculo vicioso do preconceito.
Já reclamar que jogadora de futebol recebe menos que jogador
é um equívoco.
Enquanto o público curtir mais assistir jogos de futebol
masculino , vai ser assim mesmo. É uma questão de maior demanda de
produto. Verdade, isso pode ter raízes culturais
machistas, mas não podemos forçar as
pessoas a irem a estádios ou a assistirem ao campeonato brasileiro
feminino. Só assim as jogadoras
receberiam salários de mercado maiores.
Modelos mulheres ganham mais que homens modelos, por exemplo. Nesse caso, parece aceitável existir maior demanda por
mulheres nessa área. Por parte das
próprias mulheres, muito
provavelmente.
Enfim, precisamos
por lenha na fogueira feminista – ainda resta muito por fazer. Com ternura e convicção, mas sem perder a racionalidade.
Fonte - Jornal
DESTAK pág 11
Terça –feira , 14/03/2017
EQUIPE DO PQ ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário sobre a postagem.