quinta-feira, 23 de março de 2017

Rei Momo





Inspirado  nos deuses do Olimpo, momo deus da orgia e da pilhéria transformou-se para
os brasileiros  , desde 1935  , em rei do carnaval. No início era representado por um boneco gigante de papelão, que acompanhou o desfile na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, sendo depois colocado em um trono na Beira-Mar Cassino, de onde presidiu o carnaval  .
No ano seguinte  , o boneco foi substituído por um homem gordo, dando-se continuidade à brincadeira de Momo. Em 67, estabeleceu-se alguns requisitos para o rei Momo, que deveria pesar mais de cem quilos, ter espírito carnavalesco e deveria participar dos eventos relativos ao carnaval.
Em São Paulo, o concurso para rei Momo foi oficializado em 69, sendo eleito Irineu Pugliese, que permaneceu no trono até renunciar em 83. Com isso o presidente da Paulistur, João Doria Junior, resolveu promover um concurso mais democrático eliminando a idade limite, de 40 anos para a participação e transformando em anual, o reinado de Momo. Foi desta forma que Henricão, concorreu e elegeu-se, tendo afirmado que já havia feito de tudo para o carnaval paulistano  , só faltava então  , ser coroado rei Momo.

 
Henricão - O rei Momo paulista

Henricão sempre foi uma pessoa de vida simples  , nasceu na cidade de Itapira  , em 11 de janeiro de 1908 , numa família de cinco irmãos. Trabalhou na lavoura, até que aos 16 anos mudou-se para São Paulo, para ser motorista particular e treinar futebol no Corinthians. No entanto, o apelo do samba falou mais alto e logo Henricão trocou o gramado pelos palcos e avenidas.
Aos 20 anos, estreou na extinta Rádio Educadora de São Paulo e mais tarde na Rádio Record. Em 1930, juntamente com outros sambistas paulistas, fundou a Escola de Samba Vai-Vai, uma das mais antigas de São Paulo. Seu primeiro disco saiu em 1932, mas não fez sucesso, sendo que Henricão atribuía isto ao fato de ter sido lançado exatamente no dia que estourou a Revolução Constitucionalista  - 9 de julho.

OS  MAIORES   SUCESSOS

Mas isto não desanimou este rei, que nunca esquentava a cabeça. Foi para o Rio de Janeiro, continuou compondo e cantando somente após nove carnavais, conseguiu grande sucesso com a marcha  “ESTÁ  CHEGANDO  A  HORA", versão da canção mexicana  “CIELITO  LINDO“ .
“Não  faças hora  comigo “ , “ ANDORINHA “  e  “ CASINHA  NA  MARAMBAIA", esta última grava por Elis Regina, são outras de suas composições que fizeram sucesso e trarão saudades de Henricão, embora tenha composto cerca de 300 músicas, muitas delas ainda inéditas.
Suas atividades artísticas não se restringiam apenas à música. Henricão desempenhou papéis no cinema, em aproximadamente 40 filmes, dentre eles “SINHÁ  MOÇA “ , de Tom Payne e na  TV trabalhou em várias novelas, sendo uma delas  “O  DIREITO  DE  NASCER". Por todo seu trabalho, recebeu inúmeros prêmios na década de 50.
Freqüentador do velho Café Nice, do Rio de Janeiro, foi lá que Henrique Felipe descobriu o talento de Carmem Costa, que orgulhosamente sempre fez questão de mencionar, dizendo modestamente que “ela já nasceu ótima sambista  , só faltava um empurrãozinho".

NOVO  IMPULSO
De volta para São Paulo em 1962, além de compor e cantar, passou a desfilar no Bloco Carnavalesco Mocidade da Zona Leste, dedicando-se ao samba e ao carnaval paulista. Mas foi em 1980, que sua carreira recebeu novo impulso, após um reencontro nos palcos do Ópera Cabaret, com Carmem Costa, que desde 1952 não cantavam juntos. Este reencontro resultou no lançamento do LP RECOMEÇO", sendo considerado o mais digno reconhecimento de seu talento.

SONHOS  DE  REI 
Figura alegre  , de sorriso aberto  , tranqüilo , há muito Henricão acalentava o sonho de ser rei Momo do carnaval paulista, até que em janeiro de 84, eleição direta, foi escolhido, sendo o primeiro rei Momo negro da história do carnaval paulistano.
No entanto, seus sonhos não terminaram aí. Sua majestade carnavalesca preocupava-se também com a cultura de seus súditos e sonhava com a instalação do Mobral, nas quadras das Escolas de Samba, uma vez que no seu entender, carnaval não era só folia, mas também a divulgação de uma cultura, associada à educação dos foliões. Este sonho não pode ser realizado,  segundo seus amigos, tudo está sendo feito para sua concretização. Henricão foi um rei democrático.

A  VIDA  SIMPLES DE  HENRICÃO
A vida do rei momo não foi só de glórias  . Mesmo sendo cantor e compositor  , trabalhou como lavador  , motorista e entregador de automóveis em Porto Alegre  , Belo Horizonte  , Cuiabá e São Paulo  . Até ser coroado  , trabalhava como entregador de carros da loja Ponto Chic, nos Campos Elíseos. Somente em março deste ano, deixou aquele trabalho passando a assessorar a área de produção de eventos da Paulistur, além de coordenar a Rua do Samba, da capital Paulista.
Henrique Felipe foi casado com dona Luiza Costa  - dona Lola  - , durante 18 anos, até 1966 e tiveram apenas um filho, Carlos. Em vida cultivou muitos amigos como Pixinguinha  , Dalva de Oliveira  , Ataulfo Alves  , Francisco Alves  , Nelson Gonçalves  , Elizeth Cardoso  , Ângela Maria  , Carmem Costa e outros, além de inúmeros admiradores anônimos que choraram sua morte.
Henricão estava com 76 anos, pesava 135 quilos, era diabético e hipertenso , após ser velado na Câmara Municipal, foi sepultado no Cemitério da Lapa, com honras  de rei  . O cortejo  , em carro aberto do Corpo de Bombeiros  , foi seguido por sambistas  , autoridades  , amigos e admiradores , ao som do surdo do mestre Lagrila – também sambista.

Um   tipo  bonachão , alegre , sorriso  de  criança , descontraído e sobretudo amante  do  samba . Era  assim  Henrique  Felipe  da  Costa , o  Henricão , que ao ser consagrado rei Momo do Carnaval Paulista de 84  , realizou um de seus maiores sonhos.
( Seu talento demorou a ser reconhecido  )

Fonte    -   Revista  ÉBANO   págs 12  e  13
Ano  IV  - nº 24    JULHO / AGOSTO  / 84




O reinado  de  João 
Nas   terras  do  Salgueiro

João Clemente Jorge Trinta. Tinha nome de rei. Mas não havia um reino. Então resolveu construir um só para ele. Esse reino se chamava carnaval. Um domínio que surgiu não pela força, nem por herança, mas pela beleza e pelo encantamento. Como todo bom conto de fadas. Eis que o monarca surgiu coroado na passarela vermelha e branca desse Brasil de tantas cores.
Foi uma história linda  que, começou no Theatro Municipal, onde Joãozinho conheceu Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. A agilidade e a criatividade no trabalho como os mais inusitados materiais  que davam vida ao sonho do teatro e carnaval chamaram a atenção da dupla de mestres, que viram ali seu discípulo mais promissor. E assim começou o reinado de João em terras salgueirenses. Ajudou a fazer do pavilhão vermelho e branco uma potência carioca naqueles inesquecíveis anos 60.
Mas foi em 1974 que Joãosinho resolveu botar fogo nas estruturas dos desfiles. Aumentou o tamanho das alegorias, colocou pessoas vivas sobre elas, trouxe um mar de prata para dar vida e forma ao imaginário reino do menino Luís XIII de França. Há quem diga até hoje que os delírios de João pairavam também “na imaginação do rei mimado“ . E as “Preta Véia “ não mentiram  , não senhor  : Salgueiro campeão.
Depois evocou outro Rei : Salomão. Fez brotar do isopor, dos tecidos, de bacias de lavar roupa todo esplendor dos grandes reinos do oriente em busca das “ minas sagradas em terras de Ophir “. O Salgueiro entrou deslumbrante e arrebatador  , cantando  : O Sol nascendo vel clarear  , o tesouro encantado que o rei mandou buscar “A miragem de uma época distante que o mundo do samba nunca mais esqueceu. Estava desvendado o segredo das minas do rei Salomão. E o Salgueiro conquistava o bicampeonato com todos os ingredientes de uma revolução, audácia, inovação , imponência... Mais uma vez João foi como a luz do Sol que ofuscou o brilho de todas as estrelas.
Depois  , foi reinar em outras terras. Voou nas asas de um  Beija-Flor rumo a palácio azul e branco. Bordou novamente a fantasia alvirruba, desta vez na Viradouro. E com o preto do Big-Bang, do nada  , das trevas , novamente se coroou. Foi à Caxias e se encantou – e encantou–se com o profeta do fogo.

Fonte    -   REVISTA  DO  SALGUEIRO     pág 27      Janeiro de 2012
Gustavo  Melo  é diretor  cultural do  G.R.E.S   Acadêmicos  do  Salgueiro

Frase  de Joãosinho Trinta  : “Carnaval é fantasia . É a única oportunidade  , que o crioulo – que é escravo o ano todo  - tem de ser rei , rainha , príncipe  , princesa  . Ele “ saca “ isso e quer brilhar em sua fantasia “  .

Fonte    -    Livro        SAMBA  NEGRO    pág 50 
Editora      -     HUCITEC    1984     Ana  Maria  Rodrigues 

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