Inspirado nos deuses
do Olimpo, momo deus da orgia e da
pilhéria transformou-se para
os brasileiros ,
desde 1935 , em rei do carnaval. No início era representado por um boneco
gigante de papelão, que acompanhou o
desfile na Avenida Rio Branco, no Rio
de Janeiro, sendo depois colocado em um
trono na Beira-Mar Cassino, de onde presidiu o carnaval .
No ano seguinte , o
boneco foi substituído por um homem gordo, dando-se continuidade à brincadeira de Momo. Em 67, estabeleceu-se alguns requisitos para o rei Momo, que deveria pesar mais de cem quilos, ter
espírito carnavalesco e deveria participar dos eventos relativos ao
carnaval.
Em São Paulo, o
concurso para rei Momo foi oficializado em 69, sendo eleito Irineu Pugliese, que permaneceu no trono até renunciar
em 83. Com isso o presidente da
Paulistur, João Doria Junior, resolveu promover um concurso mais
democrático eliminando a idade limite,
de 40 anos para a participação e transformando em anual, o reinado de Momo. Foi desta forma que Henricão, concorreu e elegeu-se, tendo afirmado que já havia feito de tudo
para o carnaval paulistano , só faltava
então , ser coroado rei Momo.
Henricão - O rei Momo
paulista
Henricão sempre foi uma pessoa de vida simples , nasceu na cidade de Itapira , em 11 de janeiro de 1908 , numa família de
cinco irmãos. Trabalhou na lavoura, até que aos 16 anos mudou-se para São Paulo, para ser motorista particular e treinar futebol no Corinthians. No entanto, o apelo do samba falou mais alto e logo Henricão trocou o gramado
pelos palcos e avenidas.
Aos 20 anos, estreou
na extinta Rádio Educadora de São Paulo e mais tarde na Rádio Record. Em 1930, juntamente com outros sambistas
paulistas, fundou a Escola de Samba
Vai-Vai, uma das mais antigas de São
Paulo. Seu primeiro disco saiu em
1932, mas não fez sucesso, sendo que Henricão atribuía isto ao fato de
ter sido lançado exatamente no dia que estourou a Revolução
Constitucionalista - 9 de julho.
OS MAIORES
SUCESSOS
Mas isto não desanimou este rei, que nunca esquentava a cabeça. Foi para o Rio de Janeiro, continuou compondo e cantando somente após nove
carnavais, conseguiu grande sucesso com
a marcha “ESTÁ CHEGANDO
A HORA", versão da canção
mexicana “CIELITO LINDO“ .
“Não faças hora comigo “ , “ ANDORINHA “ e “
CASINHA NA
MARAMBAIA", esta última grava
por Elis Regina, são outras de suas
composições que fizeram sucesso e trarão saudades de Henricão, embora tenha composto cerca de 300
músicas, muitas delas ainda
inéditas.
Suas atividades artísticas não se restringiam apenas à
música. Henricão desempenhou papéis no
cinema, em aproximadamente 40
filmes, dentre eles “SINHÁ MOÇA “ , de Tom Payne e na TV trabalhou em várias novelas, sendo uma delas “O
DIREITO DE NASCER". Por todo seu trabalho, recebeu inúmeros prêmios na década de
50.
Freqüentador do velho Café Nice, do Rio de Janeiro, foi lá que Henrique Felipe descobriu o talento
de Carmem Costa, que orgulhosamente
sempre fez questão de mencionar,
dizendo modestamente que “ela já nasceu ótima sambista , só faltava um empurrãozinho".
NOVO IMPULSO
De volta para São Paulo em 1962, além de compor e cantar, passou a desfilar no Bloco Carnavalesco
Mocidade da Zona Leste, dedicando-se ao
samba e ao carnaval paulista. Mas foi
em 1980, que sua carreira recebeu novo impulso, após um reencontro nos palcos do Ópera Cabaret, com Carmem Costa, que desde 1952 não
cantavam juntos. Este reencontro
resultou no lançamento do LP “RECOMEÇO", sendo considerado o
mais digno reconhecimento de seu talento.
SONHOS DE
REI
Figura alegre , de
sorriso aberto , tranqüilo , há muito
Henricão acalentava o sonho de ser rei Momo do carnaval paulista, até que em janeiro de 84, eleição direta, foi escolhido, sendo o primeiro rei Momo negro da história
do carnaval paulistano.
No entanto, seus
sonhos não terminaram aí. Sua majestade
carnavalesca preocupava-se também com a cultura de seus súditos e sonhava com a
instalação do Mobral, nas quadras das
Escolas de Samba, uma vez que no seu
entender, carnaval não era só
folia, mas também a divulgação de uma
cultura, associada à educação dos
foliões. Este sonho não pode ser
realizado, segundo seus amigos, tudo está sendo feito para sua concretização. Henricão foi um rei democrático.
A VIDA
SIMPLES DE HENRICÃO
A vida do rei momo não foi só de glórias . Mesmo sendo cantor e compositor , trabalhou como lavador , motorista e entregador de automóveis em
Porto Alegre , Belo Horizonte , Cuiabá e São Paulo . Até ser coroado , trabalhava como entregador de carros da
loja Ponto Chic, nos Campos Elíseos.
Somente em março deste ano, deixou
aquele trabalho passando a assessorar a área de produção de eventos da
Paulistur, além de coordenar a Rua do
Samba, da capital Paulista.
Henrique Felipe foi casado com dona Luiza Costa - dona Lola
- , durante 18 anos, até 1966 e
tiveram apenas um filho, Carlos. Em vida cultivou muitos amigos como
Pixinguinha , Dalva de Oliveira , Ataulfo Alves , Francisco Alves , Nelson Gonçalves , Elizeth Cardoso , Ângela Maria , Carmem Costa e outros, além de inúmeros admiradores anônimos que
choraram sua morte.
Henricão estava com 76 anos, pesava 135 quilos, era
diabético e hipertenso , após ser velado na Câmara Municipal, foi sepultado no Cemitério da Lapa, com honras
de rei . O cortejo , em carro aberto do Corpo de Bombeiros , foi seguido por sambistas , autoridades
, amigos e admiradores , ao som do surdo do mestre Lagrila – também
sambista.
Um tipo bonachão , alegre , sorriso de
criança , descontraído e sobretudo amante do
samba . Era assim Henrique
Felipe da Costa , o
Henricão , que ao ser consagrado rei Momo do Carnaval Paulista de
84 , realizou um de seus maiores sonhos.
( Seu talento demorou a ser reconhecido )
Fonte - Revista
ÉBANO págs 12 e 13
Ano IV - nº 24
JULHO / AGOSTO / 84
O reinado de João
Nas terras
do Salgueiro
João Clemente Jorge Trinta. Tinha nome de rei. Mas não
havia um reino. Então resolveu
construir um só para ele. Esse reino se
chamava carnaval. Um domínio que surgiu
não pela força, nem por herança, mas pela beleza e pelo encantamento. Como todo bom conto de fadas. Eis que o monarca surgiu coroado na
passarela vermelha e branca desse Brasil de tantas cores.
Foi uma história linda
que, começou no Theatro
Municipal, onde Joãozinho conheceu
Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues.
A agilidade e a criatividade no trabalho como os mais inusitados materiais que davam vida ao sonho do teatro e carnaval
chamaram a atenção da dupla de mestres,
que viram ali seu discípulo mais promissor. E assim começou o reinado de João em terras salgueirenses. Ajudou a fazer do pavilhão vermelho e
branco uma potência carioca naqueles inesquecíveis anos 60.
Mas foi em 1974 que Joãosinho resolveu botar fogo nas
estruturas dos desfiles. Aumentou o
tamanho das alegorias, colocou pessoas
vivas sobre elas, trouxe um mar de
prata para dar vida e forma ao imaginário reino do menino Luís XIII de França. Há quem diga até hoje que os delírios de
João pairavam também “na imaginação do rei mimado“ . E as “Preta Véia “ não
mentiram , não senhor : Salgueiro campeão.
Depois evocou outro Rei : Salomão. Fez brotar do isopor, dos tecidos, de bacias de lavar roupa todo esplendor dos grandes reinos do oriente
em busca das “ minas sagradas em terras de Ophir “. O Salgueiro entrou
deslumbrante e arrebatador ,
cantando : O Sol nascendo vel
clarear , o tesouro encantado que o rei
mandou buscar “. A miragem de uma época
distante que o mundo do samba nunca mais esqueceu. Estava desvendado o segredo das minas do
rei Salomão. E o Salgueiro conquistava
o bicampeonato com todos os ingredientes de uma revolução, audácia, inovação , imponência... Mais
uma vez João foi como a luz do Sol que ofuscou o brilho de todas as
estrelas.
Depois , foi reinar
em outras terras. Voou nas asas de
um Beija-Flor rumo a palácio azul e
branco. Bordou novamente a fantasia
alvirruba, desta vez na Viradouro. E com o preto do Big-Bang, do nada
, das trevas , novamente se coroou. Foi à Caxias e se encantou – e encantou–se com o profeta do fogo.
Fonte - REVISTA
DO SALGUEIRO pág 27
Janeiro de 2012
Gustavo Melo é diretor
cultural do G.R.E.S Acadêmicos
do Salgueiro
Frase de Joãosinho
Trinta : “Carnaval é fantasia . É a
única oportunidade , que o crioulo – que
é escravo o ano todo - tem de ser rei ,
rainha , príncipe , princesa . Ele “ saca “ isso e quer brilhar em sua
fantasia “ .
Fonte - Livro
SAMBA NEGRO pág 50
Editora - HUCITEC
1984 Ana Maria
Rodrigues
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