A bela
adormecida que se divorciou
de seu príncipe
POR QUE TANTOS
REVERENCIARAM A MORTE
de Diana em 1997? Qual é o segredo da princesa de Gales?
Seria o seu encanto a fonte de atração para os britânicos e também para
o mundo inteiro?
Diana tinha uma beleza inocente. Usava e abusava de seus grandes olhos
azuis: com uma expressão de completa vulnerabilidade, era capaz de derreter corações de ambos os
sexos. Ela parecia estar sempre a ponto
de chorar, como se fosse uma Virgem
Maria. Ainda assim, era uma das mulheres mais ricas, glamourosas e socialmente influentes do
planeta. Talvez o seu maior trunfo
residisse nessa combinação exótica de vulnerabilidade e poder.
Apesar de haver muitas outras princesas na Europa, nenhuma delas conseguiu chegar perto da
imaginação popular como fez Lady Di. A
princesa Grace de Mônaco foi quem mais se aproximou, mas havia sido de uma atriz de cinema. E,
para os que dão valor a esse tipo de coisa, a realeza britânica é a mais nobre de todas as realezas. É o símbolo derradeiro de uma sociedade
aristocrática que desapareceu em muitos lugares, mas que ainda persiste no Reino Unido, com muito de sua pompa vitoriana intacta.
Como a princesa Grace, Lady Di era uma celebridade dentro da família real. Ela era uma estrela de cinema que nunca apareceu nas telas. De certa forma, sua vida foi uma novela encenada em público. Ela era perspicaz o bastante para perceber o poder da televisão e dos vorazes tabloides britânicos.
A princesa Diana utilizou constantemente a mídia como um
trampolim para projetar a sua imagem. Ela era a bela adormecida que beijou o príncipe encantado, a mulher enganada, a beldade radiante da alta sociedade, a líder humanitária abraçando vítimas da
Aids e dos campos minados e a princesa de luto, chorando em funerais de celebridades.
A mística quase religiosa da nobreza se completou com
Diana.
Até então, a monarquia era baseada no direito divino. Mas, da mesma forma que os reis utilizam subterfúgios da religião para
justificar o seu poder, o mundo moderno
do entretenimento encontrou uma maneira de canalizar a adoração popular. Um dos papéis mais tradicionais dos ídolos
religiosos é o sacrifício: projetamos
nossos pecados sobre eles, e assim eles
carregam as nossas cruzes em público.
Diana era esse símbolo.
Ela se tornou a santa padroeira das vítimas , dos
doentes , dos discriminados e dos mendigos. Projetava também uma imagem
irresistível da própria vítima.
Mulheres infelizes no casamento se identificaram com ela, assim como tantos outros marginalizados. Como muitos símbolos religiosos, Diana era
maltratada e ridicularizada em público pela mesma mídia que clamava por sua
veneração. Por fim, ela se tornou uma vítima da própria
fama: perseguida pelo paparazzi, virou um corpo alquebrado e castigado
dentro de uma limusine.
Diana, a
celebridade, a
princesa de tabloide
e a Pietá do
mundo pop e da
moda, era
o ídolo perfeito
para os nossos
tempos.
PRINCESA DA MÍDIA
: Com uma
vítima de um
campo minado .
Fonte - TIME
MAGAZINE 100 pág 12
IAN BURUMA
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