terça-feira, 19 de setembro de 2017

Confiança nos políticos?





Editorial 

Os escândalos de corrupção e a decepção com homens públicos antes considerados exemplares têm feito muita gente perder a esperança na política e a confiança nos políticos. Bom sinal, se estamos mais realistas e alertas diante dos demagogos. Péssimo sinal, se a desesperança está nos levando à indiferença, à apatia e até ao cinismo diante do compromisso político a que somos chamados.

Se a menina ouve das mulheres adultas que “todos os homens são iguais“, não terá motivos para exigir dos jovens um comportamento exemplar, que a respeitem e amem tal como ela deseja e merece. A jovem tem que saber que os homens não todos iguais e que vale a pena procurar e escolher o homem certo. Do mesmo modo, os eleitores têm que saber que os políticos não são todos iguais, e devem procurar o honestos  e bem-intencionados e acompanhá-los em sua caminhada  - pois eles não são diferentes de nós e quanto mais ficam sozinhos, mais chances têm de errar.

A Bíblia está repleta de admoestações para que não confiemos nas forças dos homens, nos poderes do mundo ou até em nós mesmos. Mas nos esquecemos dessa sabedoria e acabamos depositando confiança e esperança imerecidas na política. Depois nos decepcionamos quando deparamos com os pecados e os erros dos políticos.

Nossa esperança e nossa confiança estão no Senhor, não nos homens. Mas confiar  naquele que nos ama e nos dá a liberdade, significa fazer com nossos irmãos um caminho rumo ao bem comum. Jornada incerta e contraditória como nosso coração, com avanços e retrocessos, como nossa ascensão espiritual rumo a Deus.

Os bons confessores sabem que a conversão é um bom caminho que a conversão é um caminho progressivo pelo qual vamos tomando consciência de nossos pecados e nos tornando melhores. Também o Brasil está num caminho progressivo, em que as estruturas políticas e a ética dos personagens públicos vão melhorando pouco a pouco

Isso não quer dizer conivência ou aceitação da corrupção, mas a paciência e a dedicação de ir construindo aos poucos um País melhor. Quer dizer: exigir que os desvios sejam apurados; os erros, corrigidos; os culpados, penalizados. Mas também quer dizer formar os jovens, acompanhar os políticos para que não percam de vista aqueles que os elegeram, valorizar as comunidades e associações onde esses políticos podem ser ajudados a manter ou até mesmo recuperar os ideais e a ética com que começaram suas trajetórias na vida pública.

Na política, a alegria do Evangelho não é experimentada ao se encontrar políticos angelicais ou utopias perfeitas. Essas coisas nunca acontecerão nesta vida.  Na política, experimentamos essa alegria ao no descobrirmos irmãos que trabalham juntos pelo bem comum amparados por um Pai que nos amam.

Opinião

As pessoas  entre  o  sentido  comunitário  e  a  autonomia  individual

Na democracia fundada no Estado de direito, a proteção da liberdade de consciência e a tolerância das diferenças são princípios centrais para o ordenamento das relações entre indivíduos e grupos. A luta contra os vários tipos de discriminação, que se traduzem numa negação do acesso de determinados indivíduos a certos direitos e condições que, em princípio, deveriam ser universalmente disponíveis, é uma expressão da defesa desses valores.

O desenvolvimento do indivíduo na liberdade e na auto afirmação, no entanto, não se dá no vácucomo ser essencialmente social, a pessoa existe e se realiza no contexto das relações, normas e tradições compartilhadas. O sociólogo norte-americano Robert Nisbet ( 1913-1996 ) alertou sobre a progressiva ênfase posta sobre a relação entre o indivíduo portador de direitos e o Estado garantidor dos mesmos, que destitui os agrupamentos intermediários de suas funções e de sua autoridade social.

A vida concreta  não acontece, porém, num espaço abstrato de disputa por direitos individuais, mas em famílias, comunidades de crença, associações. A verdade que eu busco, encontro e vivo nunca é totalmente minha propriedade – eu a devo a uma cadeia de relações históricas e sociais. Nessas relações e comunidades, muitas vezes, os participantes não ocupam todos a mesma posição, e se submetem a normas que se limitam a gama de escolhas individuais possíveis, possibilitam a concretização de um sentido da vida que transcende a individualidade isolada. As relações familiares, ou as baseadas no compartilhamento da fé, são exemplos dessa realidade.

No Brasil, os jornais recentemente noticiaram polêmicas em torno da introdução de conteúdos relativos à chamada ideologia de gênero nos currículos escolares dos ensinos fundamental e médio. A visão complementar entre homem e mulher e o direito da criança ao conhecimento e à criação por seus progenitores biológicos  na família vai assumindo, nesse contexto, ares de limitação dos direitos individuais  - não o das crianças é claro, que não são consideradas nesses raciocínios tipicamente individualistas.

Por detrás dessas e outras incursões no Estado na vida social e comunitária das pessoas, pode-se encontrar uma concepção que vê cada pessoa radicalmente livre para definir a própria realidade – e as práticas correspondentes  - nas mais variadas dimensões. Essa autonomia radical não teria limite, a não ser interferências na vida e no bem–estar alheios ( o famoso “ princípio da injúria , definido por John Stuart Mill ).

No entanto  ,como lembrou São João Paulo II, a democracia não pode abrir mão da referência a uma  reta concepção da pessoa humana . Isso significa, entre outras coisas, respeitar o espaço e a autoridade das diversas comunidades éticas, sejam elas laicas ou religiosas, em que o ser humano se constrói.

Entre a defesa dos direitos e da liberdade individual e o respeito à autoridade e autonomia das comunidades éticas nas quais todo indivíduo se desenvolve, um caminho de equilíbrio e razoabilidade precisa ser encontrado, sob pena de ferir os próprios indivíduos cujo direitos o Estado moderno tem como função garantir.
 
Fonte   -   Jornal       O  SÃO  PAULO     pág  2     PONTO  DE  VISTA
30  de  junho  a  5  de  julho  de  2016 Gustavo Adolfo P. Dos Santos  , PhD em Teoria Política  ( Catholic University of America  ) , Gerente de Programas  - Oficina Municipal
As  opiniões  expressivas  seção  “ Opinião “  são  de  responsabilidade  do autor  e  não refletem  , necessariamente  os  posicionamentos  nos  editoriais do  jornal O  SÃO  PAULO

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