Editorial
Os escândalos de corrupção e a decepção com homens públicos
antes considerados exemplares têm feito muita gente perder a esperança na
política e a confiança nos políticos.
Bom sinal, se estamos mais realistas e
alertas diante dos demagogos. Péssimo
sinal, se a desesperança está nos levando à indiferença, à apatia e até ao cinismo diante do
compromisso político a que somos chamados.
Se a menina ouve das mulheres adultas que “todos os homens
são iguais“, não terá motivos para exigir dos jovens um comportamento
exemplar, que a respeitem e amem tal
como ela deseja e merece. A jovem tem
que saber que os homens não todos iguais e que vale a pena procurar e escolher
o homem certo. Do mesmo modo, os eleitores têm que saber que os políticos
não são todos iguais, e devem procurar
o honestos e bem-intencionados e
acompanhá-los em sua caminhada - pois
eles não são diferentes de nós e quanto mais ficam sozinhos, mais chances têm de errar.
A Bíblia está repleta de admoestações para que não confiemos
nas forças dos homens, nos poderes do
mundo ou até em nós mesmos. Mas nos esquecemos dessa sabedoria e acabamos
depositando confiança e esperança imerecidas na política. Depois nos decepcionamos quando deparamos
com os pecados e os erros dos políticos.
Nossa esperança e nossa confiança estão no Senhor, não nos homens. Mas confiar naquele que nos ama e nos dá a liberdade, significa fazer com nossos irmãos um caminho rumo ao bem comum. Jornada incerta e contraditória como nosso
coração, com avanços e retrocessos, como nossa ascensão espiritual rumo a
Deus.
Os bons confessores sabem que a conversão é um bom caminho
que a conversão é um caminho progressivo pelo qual vamos tomando consciência de
nossos pecados e nos tornando melhores.
Também o Brasil está num caminho progressivo, em que as estruturas políticas e a ética dos personagens públicos vão
melhorando pouco a pouco.
Isso não quer
dizer conivência ou aceitação da corrupção, mas a paciência e a dedicação de ir construindo aos poucos um País
melhor. Quer dizer: exigir que os desvios sejam apurados; os erros, corrigidos; os culpados, penalizados. Mas também quer dizer formar os jovens, acompanhar os políticos para que não percam
de vista aqueles que os elegeram, valorizar as comunidades e associações onde
esses políticos podem ser ajudados a manter ou até mesmo recuperar os ideais e
a ética com que começaram suas trajetórias na vida pública.
Na política, a
alegria do Evangelho não é experimentada ao se encontrar políticos angelicais
ou utopias perfeitas. Essas coisas
nunca acontecerão nesta vida. Na política, experimentamos essa alegria ao no descobrirmos irmãos que trabalham
juntos pelo bem comum amparados por um Pai que nos amam.
Opinião
As pessoas entre o
sentido comunitário e
a autonomia individual
Na democracia fundada no Estado de direito, a proteção da liberdade de consciência e a
tolerância das diferenças são princípios centrais para o ordenamento das
relações entre indivíduos e grupos. A
luta contra os vários tipos de discriminação, que se traduzem numa negação do acesso de determinados indivíduos a
certos direitos e condições que, em princípio, deveriam ser universalmente disponíveis, é uma expressão da defesa desses
valores.
O desenvolvimento do indivíduo na liberdade e na auto
afirmação, no entanto, não se dá no vácuo como ser essencialmente social, a pessoa existe e se realiza no contexto
das relações, normas e tradições compartilhadas. O sociólogo norte-americano Robert Nisbet ( 1913-1996 ) alertou sobre
a progressiva ênfase posta sobre a relação entre o indivíduo portador de
direitos e o Estado garantidor dos mesmos, que destitui os agrupamentos intermediários de suas funções e de sua
autoridade social.
A vida concreta não
acontece, porém, num espaço abstrato de disputa por direitos
individuais, mas em famílias,
comunidades de crença, associações. A verdade que eu busco, encontro e vivo nunca é totalmente minha
propriedade – eu a devo a uma cadeia de relações históricas e sociais. Nessas relações e comunidades, muitas vezes, os participantes não ocupam todos a mesma
posição, e se submetem a normas que se
limitam a gama de escolhas individuais possíveis, possibilitam a concretização de um sentido
da vida que transcende a individualidade isolada. As relações familiares, ou as baseadas no compartilhamento da
fé, são exemplos dessa realidade.
No Brasil, os
jornais recentemente noticiaram polêmicas em torno da introdução de conteúdos
relativos à chamada ideologia de gênero nos currículos escolares dos ensinos
fundamental e médio. A visão
complementar entre homem e mulher e o direito da criança ao conhecimento e à criação
por seus progenitores biológicos na
família vai assumindo, nesse
contexto, ares de limitação dos
direitos individuais - não o das
crianças é claro, que não são
consideradas nesses raciocínios tipicamente individualistas.
Por detrás dessas e outras incursões no Estado na vida
social e comunitária das pessoas,
pode-se encontrar uma concepção que vê cada pessoa radicalmente livre para
definir a própria realidade – e as práticas correspondentes - nas mais variadas dimensões. Essa autonomia radical não teria
limite, a não ser interferências na
vida e no bem–estar alheios ( o famoso “ princípio da injúria “, definido por John Stuart Mill ).
No entanto ,como
lembrou São João Paulo II, a democracia não pode abrir mão da referência a uma “reta concepção da pessoa humana “. Isso significa, entre outras coisas, respeitar o espaço e a autoridade das
diversas comunidades éticas, sejam elas laicas ou religiosas, em que o ser
humano se constrói.
Entre a defesa dos direitos e da liberdade individual e o
respeito à autoridade e autonomia das comunidades éticas nas quais todo
indivíduo se desenvolve, um caminho de
equilíbrio e razoabilidade precisa ser encontrado, sob pena de ferir os próprios indivíduos
cujo direitos o Estado moderno tem como função garantir.
Fonte - Jornal
O SÃO PAULO
pág 2 PONTO
DE VISTA
30 de junho
a 5 de julho de
2016 Gustavo Adolfo P. Dos Santos
, PhD em Teoria Política (
Catholic University of America ) ,
Gerente de Programas - Oficina Municipal
As opiniões expressivas
seção “ Opinião “ são
de responsabilidade do autor
e não refletem , necessariamente os
posicionamentos nos editoriais do
jornal O SÃO PAULO
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