terça-feira, 28 de novembro de 2017

AS CONFISSÕES DE JACQUELINE KENNEDY





Mundo

DUBLIN  - Uma das maiores personalidades da segunda metade do século XX, e também uma das mais ensimesmadas e arredias em entrevistas, Jacqueline Kennedy Onassis tem agora um dos períodos mais importantes de sua vida revelado em cartas que escreveu entre 1950 e 1964  a um padre irlandês.  Trechos da correspondência, publicados pelo jornal “The Irish Times , revelam muito da vida privada de Jackie, como o namoro com um corretor de imóveis  na juventude, suas impressões sobre a vida junto ao poder, a angústia após o assassinato do marido John Kennedy , o mais popular presidente da História americana, e até o temor à traição conjugal: “De certa forma, ele é como meu pai  - ama caçar e fica entediado com a conquista - e uma vez casado, precisa provar que ainda continua atraente, flertando com outra mulher e ressentindo-se com você. Eu vi como isso quase matou mamãe.

Jackie Kennedy conheceu o padre Joseph Leonard em 1950, durante uma viagem à Irlanda, após um ano estudando na Universidade de Sorbonne em Paris, e pouco antes de retornar aos EUA. Logo cresceu uma forte amizade, e Jacqueline atribuiu ao padre, que tinha 73 anos na época a retomada de seu interesse pela fé católica quando lhe escreveu, já nos EUA: “Eu quero muito ser uma boa católica agora, e sei que isto é por sua causa que me deu um rosário quando parti da Irlanda.


REAPROXIMAÇÃO  DA  IGREJA


Em contraste com a experiência obtida com padres americanos, com os quais se confessara e que a aconselharam com “um monte de frases banais, que deixam você com raiva, irritada e mais distante do que nunca da Igreja“, ela revela nas cartas a intimidade criada com o padre. “Alguém que ama tudo o que eu amo – com quem você pode se DIVERTIR, que leva você ao teatro tão naturalmente quanto à missa – aquele com quem se pode falar sobre qualquer coisa do mundo sem chocar e que tem toda a vida construída e baseada no amor, e não do medo“.

Desde o início as 33 cartas, em um total de 130 páginas, a maioria escrita à mão  - e que vão ser leiloadas no próximo dia 10 de junho  - têm um tom confessional, quase como um diário. Numa delas, no auge do romantismo dos seus 22 anos, a jovem Jacqueline Le Bouvier  - nascida em Nova York, filha de uma rica família, com mãe de raízes irlandesas e pai com linhagem francesa  - escreve ao padre Leonard sobre seu primeiro, e rápido, namoro sério. Em janeiro de 1952, começa um romance com o corretor de imóveis nova-iorquino John Husted: "Estou perdidamente apaixonada  - pela primeira vez  - e eu quero casar. E EU SEI que vou casar com esse garoto. “O noivado chegou a ser anunciado no New York Times. Mas Jackie rompeu a relação em março, e em outra carta prometeu  ao padre: “Da próxima vez  , vai dar TUDO CERTO e terá um final feliz".

A previsão não tardou a se concretizar. Em julho de 1952, Jacqueline envia nova carta à Irlanda: "Acho que estou amando - eu acho que vai interessar a você - John Kennedy  - ele é o filho do embaixador na Inglaterra - o segundo filho - o primeiro foi morto. Ele tem 35 anos e é congressista  . " Nas correspondências seguintes  , ela comenta as primeiras impressões que teve de JFK, que foi "uma visão surpreendente sobre os políticos  - eles são realmente uma raça à parte. Eu fico pensando sobre o que Byron disse"o amor do homem é uma coisa a parte na vida dele  -é toda a existência da mulher" . Após se casar, com o futuro presidente dos EUA, em 1953, Jackie manifesta uma certa preocupação com o marido, e conta ao padre, como John Kennedy, uma estrela em ascensão da política americana, estava consumido pela ambição, "como Macbeth". Entretanto, um ano depois, escreveu: Estou amando estar casada muito mais agora do que no começo".


FRUSTRAÇÃO  COM  DEUS  POR  ASSASSINATO


Em 1961, Jacqueline Bouvier Kennedy tornou-se primeira-dama dos Estados Unidos. Mas em 1963, ela entrava para a História como a mais famosa viúva de um presidente americano, após o assassinato de John Kennedy, baleado na cabeça num desfile em carro aberto em Dallas, no Texas. na última carta ao padre irlandês em 1964, ela desabafava: "Eu sinto todos os dias, cruelmente, o que eu perdi - preferia ter perdido minha vida a perder Jack ( apelido de JFK  )". E continua: "Estou tentando fazer minha paz com Deus". Como escreveria mais adiante, Jackie dizia que "Deus vai ter algumas explicações a dar quando eu encontrar com Ele". Ainda assim, ela se apoiava na fé, quando dizia que "tinha que pensar que existia um Deus  - ou não terei chance de encontrar Jack de novo".

Profundamente zelosa com sua privacidade, e superprotetora com família Jacqueline Kennedy nunca permitiu a publicação de uma biografia, ou escreveu as memórias. De acordo com a avaliação dos leiloeiros, as cerca de 30 cartas devem ser arrematadas por mais de 1 milhão de euros ( mais de R$ 3 milhões ). Um ano depois de perder o marido, Jackie Kennedy perderia também seu confessor: aos 87 anos, o padre Joseph Leonard viria a morrer no outono de 1964.


Joseph  Leonard 

Além  de  confidente  de  Jacqueline  Kennedy, o padre  Joseph Leonard  também  foi  capelão  do  Exército  Britânico  na  Primeira  Guerra  Mundial  -  experiência  que  o  levou  a  ser  condecorado,  mas  que  também  o  deixou  parcialmente  surdo. Com  bom  trânsito na  alta  sociedade  irlandesa, conheceu.  Jacqueline  ainda  solteira, em  1950. Só  voltou  a  conversar  com ela pessoalmente  em  1955, quando John Kennedy  visitava  a  Irlanda  ainda  como senador. O sacerdote  morreu  em  1964,  aos  87  anos.


Fonte   -  Jornal     -    O  GLOBO          pág  26

  Edição  - Quarta-feira, 14/05/2014     MUNDO

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