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DUBLIN - Uma das maiores personalidades da segunda
metade do século XX, e também uma das
mais ensimesmadas e arredias em entrevistas, Jacqueline Kennedy Onassis tem agora um dos períodos mais importantes
de sua vida revelado em cartas que escreveu entre 1950 e 1964 a um padre irlandês. Trechos da correspondência, publicados pelo jornal “The Irish
Times “, revelam muito da vida privada
de Jackie, como o namoro com um
corretor de imóveis na juventude, suas impressões sobre a vida junto ao
poder, a angústia após o assassinato do
marido John Kennedy , o mais popular
presidente da História americana, e até
o temor à traição conjugal: “De certa
forma, ele é como meu pai - ama caçar e fica entediado com a
conquista - e uma vez casado, precisa provar que ainda continua
atraente, flertando com outra mulher e
ressentindo-se com você. Eu vi como
isso quase matou mamãe.
Jackie
Kennedy conheceu o padre Joseph Leonard em 1950, durante uma viagem à Irlanda,
após um ano estudando na Universidade de Sorbonne em Paris, e pouco antes de retornar aos EUA. Logo cresceu uma forte amizade, e Jacqueline atribuiu ao padre, que tinha 73 anos na época a retomada de seu interesse pela fé católica quando lhe escreveu, já nos EUA: “Eu quero muito ser uma boa católica agora, e sei que isto é por sua causa que me deu um rosário quando parti da
Irlanda“.
REAPROXIMAÇÃO DA
IGREJA
Em
contraste com a experiência obtida com padres americanos, com os quais se confessara e que a
aconselharam com “um monte de frases banais, que deixam você com raiva,
irritada e mais distante do que nunca da Igreja“, ela revela nas cartas a intimidade criada
com o padre. “Alguém que ama tudo o
que eu amo – com quem você pode se DIVERTIR, que leva você ao teatro tão
naturalmente quanto à missa – aquele com quem se pode falar sobre qualquer
coisa do mundo sem chocar e que tem toda a vida construída e baseada no amor, e não do medo“.
Desde o
início as 33 cartas, em um total de 130
páginas, a maioria escrita à mão - e que vão ser leiloadas no próximo dia 10 de
junho - têm um tom confessional, quase como um diário. Numa delas, no auge do romantismo dos seus 22 anos, a jovem Jacqueline Le Bouvier -
nascida em Nova York, filha de uma rica
família, com mãe de raízes irlandesas e
pai com linhagem francesa - escreve ao
padre Leonard sobre seu primeiro, e
rápido, namoro sério. Em janeiro de 1952, começa um romance com o corretor de imóveis
nova-iorquino John Husted: "Estou
perdidamente apaixonada - pela primeira
vez - e eu quero casar. E EU SEI que vou casar com esse garoto. “O noivado chegou a ser anunciado no New York Times. Mas Jackie rompeu a relação em março, e em outra carta prometeu ao padre: “Da próxima vez , vai dar TUDO
CERTO e terá um final feliz".
A previsão
não tardou a se concretizar. Em julho
de 1952, Jacqueline envia nova carta à
Irlanda: "Acho que estou amando - eu acho que vai interessar a você -
John Kennedy - ele é o filho do
embaixador na Inglaterra - o segundo filho - o primeiro foi morto. Ele tem 35 anos e é congressista . " Nas correspondências seguintes , ela comenta as primeiras impressões que
teve de JFK, que foi "uma visão
surpreendente sobre os políticos - eles
são realmente uma raça à parte. Eu fico
pensando sobre o que Byron disse: "o amor
do homem é uma coisa a parte na vida dele
-é toda a existência da mulher" . Após se casar, com o
futuro presidente dos EUA, em 1953, Jackie manifesta uma certa preocupação com
o marido, e conta ao padre, como John Kennedy, uma estrela em ascensão da política
americana, estava consumido pela
ambição, "como Macbeth".
Entretanto, um ano depois, escreveu: Estou amando estar casada muito
mais agora do que no começo".
FRUSTRAÇÃO COM
DEUS POR ASSASSINATO
Em
1961, Jacqueline Bouvier Kennedy
tornou-se primeira-dama dos Estados Unidos. Mas em 1963, ela entrava para
a História como a mais famosa viúva de um presidente americano, após o assassinato de John Kennedy, baleado na cabeça num desfile em carro
aberto em Dallas, no Texas. na última carta ao padre irlandês em
1964, ela desabafava: "Eu sinto todos os dias, cruelmente, o que eu perdi - preferia ter
perdido minha vida a perder Jack ( apelido de JFK )". E continua: "Estou tentando fazer minha paz com
Deus". Como escreveria mais adiante, Jackie dizia que "Deus vai ter algumas explicações a dar quando
eu encontrar com Ele". Ainda assim, ela se apoiava na fé, quando
dizia que "tinha que pensar que existia um Deus - ou não terei chance de encontrar Jack de
novo".
Profundamente
zelosa com sua privacidade, e
superprotetora com família Jacqueline Kennedy nunca permitiu a publicação de
uma biografia, ou escreveu as memórias. De acordo com a avaliação dos
leiloeiros, as cerca de 30 cartas devem
ser arrematadas por mais de 1 milhão de euros ( mais de R$ 3 milhões ). Um ano depois de perder o marido, Jackie Kennedy perderia também seu
confessor: aos 87 anos, o padre Joseph Leonard viria a morrer no
outono de 1964.
Joseph Leonard
Além de
confidente de Jacqueline
Kennedy, o padre Joseph Leonard também
foi capelão do
Exército Britânico na
Primeira Guerra Mundial
- experiência que
o levou a
ser condecorado,
mas que também
o deixou parcialmente
surdo. Com bom
trânsito na alta sociedade
irlandesa, conheceu.
Jacqueline ainda solteira, em 1950. Só
voltou a conversar
com ela pessoalmente em 1955,
quando John Kennedy visitava a
Irlanda ainda como senador. O sacerdote morreu em
1964, aos
87 anos.
Fonte - Jornal -
O GLOBO pág
26
2ª Edição
- Quarta-feira, 14/05/2014 MUNDO
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