terça-feira, 25 de setembro de 2018

ANCESTRALIDADE DO BRASIL



Você conhece a técnica de autoconhecimento chamada Constelação Familiar? Foi crida por Bert Hellinger e valoriza as relações em família e o lugar que cada membro ocupa nela.

Em um "Seminário Internacional de Constelações Familiares", ocorrido em Brasília, Bert Hellinger e sua esposa Sophie falaram sobre a ingovernabilidade de nosso país

Mostraram que enquanto o povo brasileiro excluir e/ou não der um lugar em seu coração aos povos de origem , o nosso país continuará ingovernável. 

Quem são os povos de origem da maioria da população brasileira ? São os índios, os negros e os portugueses.

E o que fazemos em relação a eles ? Aos negros, o racismo. Aos índios, a expulsão de suas próprias terras. Aos portugueses, piadas de mal gosto.

A ordem nos relacionamentos é honrar as raízes, é reconhecer quem veio antes. Pois graças a eles e ao que passaram, hoje estamos aqui. 

Já viram árvores sem raiz ? O destino é a queda.

A responsabilidade é de todos, de cada um. Só há força para seguir adiante de forma saudável com reconhecimento das próprias raízes.

Que possamos fazer as pazes com nossa história enquanto povo brasileiro! Lembrando que foi a partir dela, da forma como ocorreu, que estamos aqui hoje

Que possamos deixar o passado no passado, mas igualmente dar um lugar em nossos corações a quem nos antecedeu.

Que saibamos honrar os antepassados históricos do nosso País.

Nessa hora tão importante da vida brasileira, recebi este texto e, por considerá-lo de suma importância, trouxe-o para nossa reflexão hoje. Vamos ! 

Jornal     -    VIA   -     POSTO  SEIS    -    pág   15   - Coluna  da  ALEGRIA 

Por  Fernando  Mansur  - Radialista  e  membro  da  Sociedade  Teosófica  no  Brasil 



O  mundo  é  um  só

Mundo globalizado em tudo. Estamos nesse processo eleitoral com o nosso país dividido, com muitos candidatos, muitas propostas, uns mais fortes do que outros em alguns estados, numa incerteza que se reflete na crise econômica e social. Os políticos parecem fora da realidade, distantes do drama do desempregado, do colapso na infraestrutura, dos gastos acima do programado. O eleitor nem sabe que os deputados que trabalham nas relatorias não aparecem no noticiário. E há muitos que atuam na forma correta.

No entanto, esse fenômeno é mundial. Na Europa, por exemplo, são governos mais à direita, nacionalistas e duros no combate ao crime e à imigração ilegal - na Áustria, Croácia, Hungria , Polônia , Itália, no centro da França , Alemanha , Inglaterra , na esquerda por coalizão Espanha e Portugal e a esquerda da Grécia . Fica difícil um consenso na União Européia. E as leis eleitoreiras acabam levando a um menor crescimento e maior desemprego. Um grande economista ficou famoso ao  dizer  "não  existe  almoço  de graça" .

Enquanto as democracias vão se degastando e os países perdendo a competitividade, a Ásia se aproveita com a China , Vietnam , Coreia do Sul , Taiwan , Malásia e Tailândia, entre outros, e gana espaços no mercado mundial. Os EUA é que tentam ser menos atingido com as medidas adotadas pelo atual presidente, que se beneficia no plano interno, mas desgasta aos americanos no resto do mundo .

As entidades internacionais como o Fundo Monetário , banco Central Europeu e OCDE , entre outros , estão em crise de credibilidade. Cada um faz o que quer e o endividamento de muitos países e grandes empresas pode vir a provocar uma grande crise mundial. Isso sem falar nos problemas globais que afetam a todos, como o aquecimento , o terrorismo , a fome e as doenças. Países teoricamente ricos estão com parte da população na absoluta miséria, como são os casos da Venezuela e Angola, embora produzam petróleo, cujo preço tem subido

Apesar de vivermos uma era de progresso na Medicina, na agricultura, na energia e nas comunicações , a qualidade do setor público nunca foi tão baixa, sob o ponto de vista ético, moral e de resultados . É preciso que todos parem para pensar . Sem emoção : apenas com a razão , o bom senso e a percepção da realidade . E buscando a verdade , sem aceitar as promessas dos exploradores das dificuldades de tantos. Vale  o  que  sempre  valeu: trabalho   responsabilidade  e  honestidade  .

Jornal  - DESTAK  -  SEU  DESTAK  -   pág  6
Segunda-feira , 30/07/2018   -  ARISTÓTELES  DRUMMOND  
                                                     Colunista  do  DESTAK



O místico pavilhão



O  místico  pavilhão 
O  firmamento  como símbolo  nacional 

O firmamento sempre exerceu fascínio e tem sido permanente fonte de inspiração para a humanidade. Muito além de uma simples questão de civismo, conhecer bem a bandeira do Brasil e o seu simbolismo é um mergulho na história. Ela é considerada um símbolo também na medida em que evoca o sentimento nacional apenas pelo olhar.

Uma bandeira tem o papel de representar um país e nela estarão todos os ícones de uma nação. Como um símbolo místico plasmado no Astral, a bandeira do Brasil irradia a força dos 72 Anjos Cabalísticos e de Emmanuel, o Anjo da Paz Universal. E ainda recebe a influência de astros e constelações – especialmente do Cruzeiro do Sul, Escorpião e das estrelas Prócion, Sírius, Canopus e Espiga .  

Sua função, sob a ótica mística, é vibrar toda a nação, a natureza, os governantes e o povo, no sentido de despertá-los para as grandes missões reservadas à pátria brasileira no terceiro milênio, idealizada logo após a Proclamação da República em 1889, a bandeira do Brasil, reflete as cores das matas , do ouro , do céu e estrelas representando estados. Porém, os significados não são apenas esses. Para os esotéricos estudiosos do ocultismo, o símbolo do Brasil revela muito mais

As cores verde e amarelo, representando popularmente as riquezas vegetais e minerais do Brasil, ligam-se também às forças telúricas. O círculo central em azul representa a esfera celeste e as grandes viagens de explorações marítimas. O azul e o branco refletem o desejo de paz e concórdia, tão característico do povo brasileiro e também o anseio de espiritualidade.

As estrelas também ganham espaço na bandeira. São três as constelações facilmente reconhecíveis: o Cruzeiro do Sul , o Triângulo Austral e o Escorpião , Sírius, a mais brilhante estrela do céu , representa o estado de Mato-Grosso , onde está localizada a região do Roncador. No centro da bandeira está representada, em destaque, a constelação do Cruzeiro do Sul, que no momento histórico da Proclamação da República passava sobre o meridiano da cidade do Rio de Janeiro, antiga da capital do Brasil. 

Junto a Ursa Maior , no hemisfério do Norte , o Cruzeiro do Sul gira gira em torno dos pólos magnéticos da Terra. Estas constelações são verdadeiros circuitos de energia que podem direcionar a caminhada do homem para a realização espiritual. Na prática, segundo os espiritualistas, há uma conexão delas com os ossos do cérebro humano.

Além de cores e símbolos, na bandeira vem escrito " ordem e progresso " , uma referência ao mote positivista de Augusto Comte: o amor por princípio , a ordem por base e o progresso por fim. Na " CEU" , a bandeira é exaltada em sessão solene e conta com uma guarda especial, formada por sete sacerdotes e um porta-bandeira. Durante a celebração, o oficiante presta uma singela e profunda homenagem ao pavilhão: "Eu te saúdo , símbolo místico da pátria brasileira , pedindo a Deus e aos Divinos Mestres da Falange Branca Universal toda a vibração , proteção e orientação para seus governantes e todos os homens que aqui vivem como espíritos encarnados e desencarnados . Que todos possam irradiar a tua força de paz , amor , ordem e progresso."

Extraído do Informativo Mensageiro Celeste nº 18 - nov/04 , do Centro Cultural Akenathon da Ordem Fraternal Cruzeiro do Sul - " CEU " -Centro - Rio de Janeiro 

A " CEU " é uma instituição místico espiritualista , sem fins lucrativos , voltada para a ajuda ao próximo e fundamentação em religiões orientais . 

Fonte   -  OXIGÊNIO  -   pág  7 
Janeiro de 2005 

A visão política de Santo Agostinho: utopia ou realidade ?




A partir da obra “Cidade de Deus“, uma das principais de Santo Agostinho, o padre Paulo Hamurábi Ferreira Moura realizou pesquisa no Brasil, na França e na Itália, a fim de desenvolver trabalho com base na visão política do santo, um dos maiores filósofos cristãos do mundo

Assim, surgiu o livro “A visão política de Santo Agostinho“: utopia ou realidade?, que foi lançado em 22 de setembro, às 9h 30, na Livraria Lumen Christi, no Mosteiro de São Bento, no Centro do Rio

De acordo com o autor, a obra do santo, mesmo com os passar dos séculos, ainda mostra a realidade dos dias atuais. “Ele faz uma definição do que é o Estado, o povo e o que pensa ser a atividade política. Temos de fazer uma atualização, porque ele viveu no século IV e nós estamos no século XXI. Mas, apesar da distância cronológica, encontramos vários elementos que podem contribuir com princípios e valores que continuam sempre atuais", enfatizou. 

Segundo padre Paulo Hamurábi, á nos tempos de Santo Agostinho, a sociedade vivia uma crise de falta de representatividade, de liderança , o que contribuiu para a queda do maior império da História: o Império Romano. “Ele viveu nua época que se parece com nosso tempo , com uma grande carência de valores , falta de referências políticas e lideranças. A obra foi escrita com o intuito de analisar as causas da derrocada do Império Romano, sendo uma delas a falta de cultivo de valores humanos, sociais, culturais e cristãos. Dentro desses valores, está sempre a pessoa humana como agente de transformação social“ explicou . 

Ainda segundo o padre, “Santo Agostinho afirma que não adianta mudarmos as estruturas , se as pessoas não se envolverem com as mudanças, se elas não se comprometerem com a História e com o bem comum. Sem essa dimensão , não é possível haver constituição de um povo e do bem social. Para ele, a verdadeira justiça, a raiz de todas, é dar a Deus o lugar que é d’Ele, é muito mais difícil falar de justiça. Ele ainda vai afirmar que não adianta falar de justiça entre os homens , se a primeira não é exercitada “, finalizou. 

Fonte  -  Jornal   TESTEMUNHO  DA  FÉ   -   ARQUIDIOCESE    - pág 6
16 a 22 de setembro de 2018  - 

Uma nação a ser descoberta



Como  era  o  Brasil  antes  de  Cabral  aportar  aqui?  Os   registros  não  são escritos, mas  vestígios  arqueológicos  mostram  quem  foram  os  primeiros  habitantes  das  terras  brasileiras. 

O Brasil tem muito mais do que 500 e  poucos anos  . Bem antes da chegada de Pedro Álvares Cabral que em 1500, o que viria a ser nosso país era já ocupado. Quando os portugueses aqui aportaram, encontraram uma terra habitada por dezenas de grupos étnicos. Pesquisas genéticas comprovam que uma alta porcentagem de brasileiros possui antepassados indígenas, talvez até mesmo metade da população total. Além disso, nossos costumes mantêm tradições indígenas, como a assiduidade nos banhos, o uso de redes para dormir, as comidas feitas de mandioca e milho , além de uma infinidade de termos de uso corriqueiro , como pipoca , caipira ou capoeira . Nem sempre notamos , mas somos mesmo a nação tupiniquim .

Como tudo isso começou ?  Quando chegaram os primeiros seres  humanos  ao  continente  americano ? E como podemos saber sobre esse passado, sem os documentos escritos, que foram introduzidos pelos portugueses ? Para estudar a História antes do uso de escrita , recorremos à Arqueologia, que analisa os vestígios humanos : objetos feitos pelos homens, ossos humanos e animais, e tudo o que de material restou dos tempos antigos. Além disso, contamos com outras disciplinas. A Linguística estuda os idiomas indígenas e nos ajuda a entender as relações entre as línguas dos povos de nosso país. A Biologia também é importante, ao estudar os esqueletos humanos e de animais e ao analisar os genes das populações e dos restos humanos antigos. Se usarmos todos esses recursos, podemos chegar mais perto de descobrir quando chegaram os primeiros habitantes. 

ESTUDOS  E  PROPOSTAS 

Os vestígios humanos mais antigos datam de pouco mais de 10 mil anos. São esqueletos raros, encontrados em cavernas, como em Lagoa Santa (MG). O mais famoso e controverso é um crânio, descoberto em 1975, naquela localidade mineira e conservado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. O biólogo e estudioso da pré-história Walter Alves Neves , da Universidade de São Paulo, batizou esse crânio com o charmoso nome de Luzia.  

O grande estudioso dos crânios humanos propôs que Luzia fazia parte de uma população muito antiga de africanos ou aborígenes australianos que não deixou descendentes. Neves mediu outros crânios dessa época encontrados no continente americano e chegou à conclusão de que eram todos parte de uma primeira leva de colonizadores. Para que estivessem no Brasil já havia 10 mil anos, teriam de ter chegado muito antes, uma vez que a rota mais provável seria pelo Estreito de Bering, que separa a Ásia da América, entre os atuais Estados Unidos e a Rússia. Neves não sabe como teriam sido extintos, mas supõe que esses antigos colonizadores tenham sido mortos pelos indígenas, de tipo asiático, não africano, que chegaram depois. 

Nem todos aceitam a proposta do biólogo da USP. De todo modo, outros também propuseram que o Brasil tenha sido habitado há muitos milênios. Duas arqueólogas destacam-se nesse sentido. Maria Conceição Beltrão , do Museu Nacional do Rio de Janeiro, interpreta vestígios que seriam associados a seres humanos na Bahia, com datações entre 500 mil e 2 milhões de anos

Neste caso, teriam vivido aqui hominídeos, espécies que nos antecederam, já que nossa espécie, o Homo sapiens, tem apenas pouco mais de 100 mil anos. Niède Guidon encontrou no Piauí vestígios , como pedras e fogueiras , com datações de 50 mil anos. Como teriam chegado esses antepassados ao Brasil ? Segundo Beltrão , diretamente da África , por meio de um aponte de gelo entre o que hoje são a África do Sul e a Argentina

Guidon avança outra hipótese: os homens teriam partido da Ásia há cerca de 70 mil anos , por navegação, de ilha em ilha, no Pacífico, até atingir a América do Sul. Não há comprovações mais firmes para a presença humana antes dos 12 mil anos, mas as pesquisas arqueológicas continuam e podem trazer descobertas a qualquer momento. 

NAÇÃO  TUPINIQUIM 

O certo é que o Brasil foi ocupado há mais de 10 mil anos . Todo o planeta passou por uma mudança climática. A Terra passa , em intervalos de milhares de anos, por períodos de frio ( glaciação ) e aquecimento. A última glaciação do planeta foi há 20.000 anos e o aquecimento seguiu-se, período no qual vivemos. Na era do frio, os polos acumulavam gelo e a área tropical do planeta era bem menor. A umidade, a vegetação, a fauna e flora mudam. No caso do Brasil, a zona temperada ia muito mais ao norte do que hoje, atingindo o estado de Minas Gerais . O aquecimento gradativo trouxe mudanças diversas, dentre as quais uma que afetou os antigos habitantes foi a progressiva extinção de espécies de animais gigantes. Viviam aqui grandes mamíferos como o megatério e o gliptodonte. Esses animais eram caçados pelos humanos, mas sua extinção deveu-se provavelmente às mudanças climáticas.

Isso pode ter contribuído para que a caça, a pesca e a coleta tenham sido complementadas pela agricultura. Na América do Sul , o cultivo das plantas parece ter começado na Amazônia já de clima pós-glacial, há cerca de 6 mil anos . Os linguistas sugerem que nessa mesma época tenha se intensificado a diversificação dos idiomas , concomitante a um grande aumento de populações ameríndias. Os principais grupos linguísticos do Brasil surgiram: jê, tupi, aruaque e caribe.

A agricultura gerou outros desenvolvimentos ligados ao processamento de alimentos, como vasilhas de cerâmica , pilões , prensas de mandioca , raladores, assim como técnicas de cozimento e torrefação. Tudo isso favoreceu a maior divisão social, e também incentivou a competição por recursos. As guerras intensificaram-se, como se pode notar pela difusão de pontas de flecha, embora elas fossem usadas também para a caça.

Na costa surgiram povos que se aproveitavam dos ricos recursos marítimos e formaram imensas colinas artificiais, os concheiros ou sambaquis. Tendo surgido há 8 mil anos, difundiram-se entre 5 mil e 3 mil anos atrás, tendo deixado de existir antes da chegada dos portugueses , quando , antes disso , os tupis e os jês chegaram à costa do Brasil , vindos do interior do continente . No Sul do Brasil, onde persistia o clima mais frio no inverno, difundiram-se abrigos subterrâneos, usados para a proteção contra as baixas temperaturas.  

Na  Amazônia surgiram grandes assentamentos. A arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, grande estudiosa da pré-história amazônica, propõe que ali tinha surgido uma civilização com cidades, população crescente, agricultura intensiva, artesanato especializado e uma estrutura social hierarquizada, de base matrilinear, na qual as mulheres tinham grande destaque social.

A partir do estudo da cerâmica da Ilha de Marajó, Anna considera que as mulheres eram chefes dos clãs e que os atributos femininos, como os seios e o útero, figuravam com destaque nas representações artísticas desse povo. Por esse motivo, quando da chegada dos europeus, eles encontraram as mulheres no comando e lembraram-se do mito grego das guerreiras Ama zonas, o que derivou, portanto, o nome do rio e, depois , de toda a região

Os povos indígenas não foram extintos com a chegada dos portugueses. Embora tenham sofrido como epidemias, escravismo e tenham se refugiado no interior do continente, formaram a base do País. Eram eles que conheciam o terreno e as plantas , foram índias as mulheres dos colonizadores e dos brasileiros , pelos séculos seguintes . A diversidade cultural brasileira tem, portanto, nos indígenas uma de suas grandes riquezas.

Fonte -  PRÉ- HISTÓRIA  NO  BRASIL 
FUNARI , Pedro Paulo , Os Antigos Habitantes do Brasil , Editora Unesp . São Paulo :2000 FUNARI , Pedro \ e Noelli , Francisco Silva . Preé-História do Brasil . Contexto . São Paulo : 2002  GUARINELLO , Norberto Luiz . Os Primeiros Habitantes do Brasil . Atual Editoa , São Paulo , 1994  - Parque Nacional Serra da Capivara , Fundação Muaseu do Homem Americano , Piaui, 1998.

"O museu é um ser vivo. Ele respira"



"O  museu  é  um  ser  vivo.  Ele  respira"

Antônio Carlos  dos  Santos  Oliveira, 
meteorologista e  museólogo

- Conte  algo  que  não  sei.


Os museus precisam de meteorologistas para monitorar os climas interno e externo. Por enquanto, sou o único profissional dedicado a isso no Rio. Uma pequena elevação da umidade faz a tinta escorrer de quadros, estraga papéis antigos do acervo e aumenta a proliferação de fungos. 

- Da Infraero para o museu  , qual foi o seu percurso ?
Fiz concurso em 1992 e entrei como técnico. Lá, foi desenvolvido um software que aplicava informações meteorológicos em 67 aeroportos. Mas eu já fazia consultorias para o MNBA, e surgiu a chance de vir de vez. Tem mais a ver comigo do que ver aviões.

- Como surgiu  a  ideia  do  software  museológico ?

20 anos , na escola técnica , eu lidava com um equipamento que media temperatura e umidade. Resolvi me especializar e fiz Mestrado de Arquitetura – para entender como funciona um prédio e seu entorno -, e Climatologia, que explica sua interação com calor, chuvas etc.

- Explique  o  funcionamento .

A base são boletins meteorológicos. Há sensores no museu que mostram como ele pode ser afetado pelo clima da rua. Por exemplo, uma janela aberta traz radiação solar, que descola a camada de tinta. Nesses casos, acionamos a brigada de segurança. A meta é levar o software a uma rede de mais de dois mil museus. 

- Qual  é  a  temperatura  ideal  para  um  museu  ?

Teoricamente , 20 graus Celsius , mas só vou ter certeza no fim do ano. Buscamos um grau de eficiência energética que não comprometa as obras, não custe muito e não cause desconforto. Por exemplo, para manter um ar condicionado durante o dia e uma galeria, são gastos R$ 60 mil por mês. Dá para fazer por menos ? O lugar tem que ser agradável, as pessoas devem circular com tranquilidade. Não adianta baixar demais a temperatura.  Museu não é lanchonete , onde você compra hambúrguer e sai correndo para não esfriar. 

- Já atuou em que exposições ?
Enquanto desenvolvia o software, fui chamado para fazer o monitoramento uma exposição do Comitê Olímpico Brasileiro. A partir daí, ajudei aqui nas exposições de Monet e Salvador Dali e de obras do Museu do Prado e do Vaticano

- O MNBA fica na Avenida Rio Branco, numa ilha de calor, com pouca arborização e muitos prédios . Isso prejudica as obras de arte ? 

Sim. E os quadros podem ser comprometidos pelas obras da rua. Agora , temos a obra do VLT do outro lado da calçada. Não sei como o museu vai reagir à diminuição de carros trepidando, a uma mudança no fluxo de pessoas . O museu é um ser vivo. Ele respira , absorve a umidade durante as chuvas. E essa respiração deve ser mantida da forma mais constante possível ou ele sofrerá de asfixia. É um dos sobreviventes entre os prédios construídos há mais de 100 anos na Avenida Rio Branco . 

- Os preparativos para as Olimpíadas colocaram em evidência o Museu de Arte do Rio e a construção do Museu do  Amanhã . E as outras instalações da cidade ? 

Há vários prédios no Rio aos quais falta a devida atenção. O museu ainda não é visto como um local que , além de servir à cultura , também tem um papel didático , contribui para a educação da população. O holofote para esses museus está apagado. Sou meteorologista, climatologista e arquiteto . Não precisa ser também educador para saber disso .

Fonte  -  ornal   -  O  GLOBO   - pág  2  -  Conte  algo  que  não  sei 

Quinta-feira, 18/06/2015  -   Antonio  Carlos  dos  Santos  de  Oliveira 
Carioca , que trocou Infraero pelo Museu Nacional de Belas Artes (MNBA ) ,está desenvolvendo software para medir clima ideal e garantir a preservação de obras

A travessia de Maria



Livro  conta  as  aventuras  da  espanhola  que  cruzou o  Atlântico  no  século  XVI

Uma das mais espetaculares expedições a cruzar o Atlântico rumo à América no século XVI no rastro de Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, entre tantos outros, é também uma das menos documentadas historicamente. Ancorado em escassos textos disponíveis, um historiador decidiu recriar a lendária travessia – não por acaso a única de que se tem notícia liderada por uma mulher. Para ser mais precisa , uma adolescente. 

A nobre sevilhana Maria de Sanabria tinha apenas 17 anos quando reuniu um grupo de 50 mulheres dispostas a acompanhá-la na improvável aventura de fazer uma travessia oceânica em 1550. Partiram rumo a um mundo completamente desconhecido  e, talvez por isso mesmo , repleto de promessas de vida nova e recomeço. A expedição, que passou por todo tipo de percalço, com doenças graves, naufrágios e ataques de piratas, contava com aproximadamente 100 homens, entre eles Hans Staden, o soldado alemão que quase virou comida de tupinambá quando o grupo chegou ao Brasil.

Misto  de  ficção  e  realidade 

A partir dos poucos textos existentes a documentar a façanha, o historiador Diego Bracco da Universidade de Sevilha, escreveu “Maria  de  Sanabria – A lendária expedição das mulheres que atravessaram o Atlântico no século XVI“. O livro, lançado no Brasil pela Record, é um romance histórico, como define o próprio Bracco, que busca resgatar a história de Sanabria e suas companheiras mesclando-a com doses de ficção.

- O romance histórico procura narrar o passado em toda a sua riqueza e, para isso, propõe fronteiras sutis entre ficção e realidade – explica Bracco, em entrevista concedida por e-mail ao GLOBO. Cabe ao leitor transitar nesse cenário. Também cabe a ele decidir ( e como historiador  eu me faço frequentemente essa pergunta) se é possível recriar vida como a de Maria de Sanabria , prescindindo do amor, do medo e do riso.

O pai de Maria chamava-se Juan de Sanabria, primo do conquistador Hernán Cortés. Ao ser inteirado da destituição de Alvar Núñes Cabeza de Vaca do governo da colônia espanhola no Rio da Prata , em junho de 1547, Sanabria rapidamente se candidatou ao posto que , na época , era garantia de enriquecimento fácil

- A região do Rio da Prata era um território pouco conhecido na época. Havia entre 300 e 400 espanhóis isolados em Assunção do Paraguai. E essa era toda a presença espanhola em 1550 no Rio da Prata, que incluía os atuais territórios de Argentina, Uruguai, Paraguai, parte do Brasil e, provavelmente Bolívia – afirmou Bracco, em entrevista ao “El País “ .

Nomeado em 1549 , Sanabria começou a preparar a expedição, contando com pelo menos três naus, que o levaria ( junto com a família ) às distantes paragens coloniais no Novo Mundo. Quis o destino, entretanto que ele morresse três meses depois de nomeado. 

Não se sabe bem ao certo por que motivos, mas o fato é que Mencía, a viúva de Sanabria, e a filha Maria, decidiram levar a cabo a travessia. Os três navios partiram em 10 de abril de 1550, sob o comando oficial de Alonso de Salazar. No grupo, iam cerca de 50 mulheres, arregimentadas por Maria de Sanabria

- Assunção ( o único centro povoado ) era um lugar onde cada conquistador espanhol tinha dezenas de mulheres indígenas em seu poder – conta Bracco. - Essa carência de mulheres europeias foi decisiva para empreender a expedição. A presença delas era relevante para os planos da Coroa manter uma classe dominante de origem europeia na América.

Mas seriam essas mulheres frágeis submissas que, segundo alguns historiadores embarcaram tremendo de medo? Bracco acha que não, que não há indícios de que fosse assim, e, a partir dessas ideias, começou a construir seu romance

- Imagino que a busca por um bom casamento possa ter condicionado a ida de parte dessas mulheres da expedição Sanabria – especula o historiador. - Mas algumas, talvez, almejassem uma nova vida. Houve quem fez a travessia em busca de riquezas sem limites, fosse na forma de ouro ou ao escravizar indígenas. Houve os que sentiam que renasciam levando o evangelho, mesmo que isso custasse a própria vida. Não faltaram os que se moveram atraídos pelo mistério, pelo desconhecido.

Hans Staden, de fato, integrava a expedição. Foi um dos navios de Sanabria que ele chegou ao Brasil pela segunda vez. Ele já tinha estado no país anteriormente por um curto período.

- Hans Staden embarcou como arcabuzeiro na expedição Sanabria e chegou ao Brasil na caravela que precedeu a naucapitânia confirma Bracco. - Após suportar penúrias nas regiões da atual Santa Catarina , foi buscar auxílio próximo a São Vicente. Ali foi capturado por índios antropófagos e, durante meses, assistiu aos preparativos que deveriam convertê-lo em comida. Conseguiu escapar e regressou para dar graças a Deus , escrever e supervisionar a ilustração de seu relato.

Envolvimento   com  Hans  Staden 

O resto é ficção. E começa num suposto envolvimento amoroso entre a destemida Maria e o arcabuzeiro alemão , em plena travessia marítima. 

- Raras vezes o amor está presente nos documentos oficiais. Por mais que tenhamos as listas de passageiros à Índias, pouco se pode reconstruir sobre as relações afetivas - explica Diego Bracco

-Havia uma grande distância social entre o soldado Hans Staden e a nobre Maria de Sanabria e , claro , não há registro de um romance entre eles.

A expedição das mulheres de fato enfrentou tempestades, doenças, ataques de corsários e naufrágios - intempéries que, nas páginas de Bracco , ganham cores bem mais vividas do que as exibidas em antigos e pouco adjetivados documentos . E Maria de Sanabria acabou se estabelecendo, realmente na colônia, tornando-se mãe, em casamentos distintos, de dois dos mais importantes homens da história da região . 

- O filho que ela teve na costa do Brasil se tornou franciscano. Hernando de Trejo y Sanabria foi um dos grandes protagonistas da vida religiosa e intelectual do Prata. Entre outras circunstâncias , é interessante assinalar que foi o primeiro provincial criollo (filho de europeu nascido nas Américas) de sua ordem, terceiro bispo de Tucumán e fundador da Universidade de Córdoba - enumera Bracco, referindo-se aos fatos mais abordados nas escassa historiografia de Maria. - Hernando Arias ou, como é mais conhecido. Hernandarías, foi filho do segundo casamento de Maria. Entre o fim do século XVI e o começo do século seguinte , ele foi várias vezes governador e o grande protagonista civil e militar do Rio da Prata. Hernandarías é hoje uma figura chave na reconstrução do passado que fazem as Repúblicas de Paraguai, Argentina e Uruguai

A historiografia não registra quase nada sobre a própria María e menos ainda sobre seus atos durante a travessia. Para Bracco, isso, em parte, reflete, uma herança machista . 

- Somos herdeiros de historiografia que privilegiou os que se apossaram de tesouros imensos , conquistaram impérios ou morreram em batalhas - avaliou o historiador. Além disso, as fontes refletem o que determinadas pessoas  num contexto específico, consideram relevante. Salvo exceções, a documentação do século XVI descreve o que interessava à sociedade masculina. Em relação às mulheres em geral e a Mará de Sanabria em particular , há grandes lapsos. Por isso, um personagem difícil de abordar com recursos do historiador e sedutor para a recriação própria do romance histórico. 

Se não houve muito espaço para relatos femininos nos documentos históricos , Bracco trata de escancará-o em seu livro . 

- Em " María  de  Sanabria " se reconstrói o sucedido a partir de uma perspectiva que pretende recuperar a voz das mulheres de meados do século XVI . 

O  mais  irônico é   que  foi  preciso  um  homem  para  fazer  isso.

Fonte    - Jornal      -      O  GLOBO    -  HISTÓRIA 
Sábado, 30 de agosto de 2008      -  Roberta  Jansen 

Tela de Rafael Monleon Y Torres mostra as caravelas Pinta, Nina e Santa Maria.


Arqueólogo  diz  ter  encontrado  caravela  Santa  Maria 

Destroços  que  seriam  da  nau  capitânia  da  expedição  de  Colombo estão  no  litoral  do  Haiti  

LONDRES  E  RIO  - Mais de 500 anos depois de Cristóvão Colombo pisar nas Américas, pesquisadores acharam no mar Caribe destroços que podem ser da caravela Santa Maria, uma das mais integrantes da expedição responsável pela conquista do Novo Mundo. Se confirmada, a descoberta se tornará uma das mais importantes da arqueologia submarina. 

Santa Maria era a nau capitânia, a principal da expedição, onde viajava o próprio Colombo. Partes do que seria a famosa embarcação foram encontradas submersas a cerca de dez metros de profundidade , no litoral Norte do Haiti. Até o momento , a pesquisa concentrou-se em explorar os destroços no fundo do mar, sem muita intervenção , limitando-se a fotografar e medir o tamanho dos objetos

Líder dos estudos , o arqueólogo submarino americano Barry Clifford informou ao jornal inglês " The Independent " que as evidências indicam fortemente "que a caravela seja mesmo do explorador genovês . Para encontrar Santa Maria , o pesquisador se baseou no diário do navegador, além de se orientar por uma fortaleza construída por Colombo, perto do local do naufrágio. Clifford conta que, na verdade, sua equipe já tinha encontrado os destroços há uma década , mas , na ocasião, ninguém se deu conta da sua real identidade. Depois de voltar ao sítio no início deste mês e cruzar as fotografias com dados históricos foi possível afirmar que ali jazia uma das mais embarcações colombianas . 

ACHADO  PODERIA  VIRAR  ATRAÇÃO  TURÍSTICA 

O pesquisador já alertou às autoridades haitianas sobre seu achado. Num primeiro momento, ele e sua equipe vão estudar os destroços no leito do oceano , mas não descartam içar partes do material

- Se escavações tiverem sucesso, e dependendo do estado de conservação da madeira que está enterrada, pode ser possível levantar os restos da embarcação e conservá-los para exposição pública permanente em um museu no Haiti - disse Clifford

De acordo com Gilson Rambelli, professor de arqueologia submarina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), mesmo que os destroços estejam contextualizados com dados históricos sobre Colombo, seria preciso ainda coletar pedaços de madeira do casco da embarcação e comparar com o material que era utilizado nas caravelas dos séculos XV e XVI, antes de qualquer confirmação: 

- É preciso verificar os tipos de encaixe , a pregadura , a unção das peças. É como achar um esqueleto humano . Os restos mortais do barco também nos falam muito. 

Caso seja confirmada a identidade dos fragmentos, Rambelli afirma que se trataria de um fato de peso incomensurável. Até hoje , ele lembra, apenas três caravelas foram encontradas submersas em todo o mundo. Por isso , ainda não se sabe muito bem como eram construídas.

- Grande parte de nossa memória sobre elas é de filme de Hollywood, que se basearam em desenhos manuscritos do século XVI . Quando o Brasil quis comemorar os 500 anos do descobrimento, fizeram uma réplica do barco sem ouvir arqueólogos. O resultado foi um fracasso - disse Rambelli, referindo-se à nau capitânia que faria a mesma viagem de Pedro Álvares de Cabral, mas mas quebrou no meio do Oceano Atlântico e teve de chegar ao Brasil rebocada . 

Santa Maria não teve o mesmo destino. Ela chegou a cruzar o oceano, até aportar no Caribe, em outubro de 1492, no evento que é considerado como "a descoberta das Américas". A chegada da expedição se deu ilha de Hispaniola, no atual Haiti. Lá, a caravela se chocou contra pedras e teve de ser abandonada na noite de Natal de 1492. Colombo, que acreditava ter chegado à Índia, seguiu viagem nos outros barcos da expedição e voltou à Espanha para anunciar a nova rota aos Reis Católicos, Isabel I e Fernando II. ( Leonardo  Viveira, com  agências  ) .

Fonte -  Jornal   -  O  GLOBO    - pág 25       -  SOCIEDADE 

Qua.14.5.2014   - 2ª  Edição   -  FLÁVIA  MILHORANCE  , RENATO  GRANDELLE  E  ROBERTA   SCRIVANO 

O Homem das cavernas e Cozinha



Na  pré-história, o  homem das cavernas  acendeu  o  fogo, escavou  a  pedra    e  garantiu refeições  quentinhas. Desde  então, as  vasilhas  assumiram  papel  de  destaque  na  cozinha  que,  durante  séculos,  se  resumia  a  uma  lareira  com  um  caldeirão  cheio  de  água.

Descoberto o fogo, o homem pode aquecer-se nos dias frios. O mesmo fogo  levou-o a descobrir e provar comidas quentes, assadas. Pondo a cabeça para funcionar, “esculpiu“ um buraco na pedra – nosso primeiro caldeirão – e passou a cozinhar alimentos. Essa história data de muitos e muitos mil anos. 

Sobre as pedras, também, asaram os primeiros pães. Arqueólogos acreditam que as técnicas de cocção estagnaram-se por muito tempo, até surgir a ideia de “envelopar“ a comida com folhas, protegendo-a das chamas; de ferver e de manter os alimentos quentes.

Ainda na Idade da Pedra Lascada – de 250.000 a.C . até 10.000 a.C. -, o homem aprendeu a moldar panelas de barro e incluiu as sopas em sua alimentação. E segundo o antropólogo americano Carleton Coon, cozinhar foi o fator determinante para “humanizar“  a existência animal do homem, de acordo com nosso conceito atual.

Porém, para nós, mortais do século XXI, o que vale mesmo é saber que, a partir da mente do homem primitivo, descobriu-se a magia, a alquimia possível quando se tem à frente fogo e um simples caldeirão de bruxa.

É. Em uma edição especial sobre Panelas há que lembrar das bruxas, dessas que conversam com aranhas e fazem poções para acabar com príncipes, fadas e ingênuos, sem jamais abrir mão de seu caldeirão borbulhante, com cobras, lagartos e outros bichos  - não é à-toa que no Dicionário Aurélio, no verbete “panela“, se encontra “feitiço, mandinga“, para explicar a palavra.

Certo que essas feiticeiras ( e magos ) não existem, mas as que mantém um tête-à-tête com alimentos, ah! existem sim. São as amantes do forno e fogão. Quem domina a magia da cozinha tem um quê de bruxaria no espírito. Ou de onde você pensa que vem essa história? 

“Por séculos, o caldeirão foi sinônimo de cozinha na Europa. Instalado na lareira, tudo era feito nele. Água quente e ingredientes que houvesse. E a magia se realizava, garantindo o alimento à mesa, numa época em que não existiam receitas e havia fome“, conta Heloisa Bacelar, chefe de cozinha e proprietária da Escola Atelier Gourmand.




DESCOBERTAS  MAGNÍFICAS  - Para resgatar a história desse recipiente, fundamental em nossa vida, consultamos o livro Tachos e Panelas, Historiografia da Alimentação Brasileira, de Claudia Lima. Nele há registros  de que as panelas com tampas vieram para o Brasil na segunda metade do século XVI e, com elas, novos modos de se preparar pescados, carnes, crustáceos  e moluscos.

Chamamos tudo de panela. Mas panelas, frigideiras e caçarolas têm personalidades distintas. Certos alimentos só podem ser feitos em determinadas vasilhas. As mulheres portuguesas, em contato com as indígenas, por exemplo, foram tirando suas lições, aperfeiçoando os utensílios e adequando-os às suas necessidades. Assim, substituíram as de barro, utilizadas pelos índios apenas para ferver mandioca, pelo alguidares de ferro e cobre.

A panela de barro não saiu de cena. Ao contrário. Encontrou fervorosas defensoras na Associação das Paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo, que guardaram segredos desse artesanato, passados de geração em geração, há mais de 400 anos.

O processo básico começa com a coleta de barro semi-arenoso e de boa liga e com a sua limpeza. Depois, o barro é moldado e as panelas, alisadas  à mão. Secas, vão para a queima nas fogueiras. Por último, são coloridas  com uma tinta especial, o tanino de mangue vermelho, extraído da casca de troncos de mangue.

E, assim, chegamos às primeiras décadas do século XX, com a cozinha higienizada, vista nas revistas, com ladrilhos e paneleiros repletos de alumínio reluzente.

É do século 20, também, uma descoberta revolucionária para bruxos e bruxas da cozinha: o politetrafluoretileno  ( PTFE ). Tudo começou em abril de 1938, nos EUA, quando um usuário do gás Freon, usado em refrigeração, reclamou ao fabricante que o cilindro que comprara estava vazio.

Técnicos que checaram o fato, surpreenderam-se ao ver que o gás fora substituído por um pó branco de características excepcionais. Entre elas, resistência a altas e baixas temperaturas e anti aderência. Estava descoberto o material básico do que seria o sonho das donas de casa, as panelas que não grudam no fundo e dispensam gordura. Mas seu uso em utensílios de cozinha só se deu a partir de 1960.

A anti aderência, entretanto, perde em genialidade para a jurássica panela de pressão, que acelera as cozimentos desde o século XVII, embora tenha sido concebida para outros fins. Denis Papin, especialista em pressão e hidráulica, criou em 1679, um  "digestor a vapor“ um vaso de metal com uma tampa hermética, que já incorporava uma válvula de sua invenção. Sua ideia do digestor era para uso industrial e científico, mas os bruxos da culinária só têm a agradecer. 

Fonte     -  SUPLEMENTO  FEMININO     -     pág   14    -   História 
Sábado  / Domingo  , 23 /24  d  Junho   de  2001    -  TANIA  REGINA  

VIAGEM PELA ERA DOS DINOSSAUROS




A  FAAP  MOSTROU  A  EXPOSIÇÃO  'Ciências  da  Terra, Ciências  da  Vida  - Chapada  do  Araripe', uma  viagem   ao  passado, com  fósseis  de  animais  e  réplicas  de  répteis  de  mais  de  100  milhões  de  anos 

Você sabia que as primeiras flores surgiram no Brasil? Esse é um dos segredos que a região da Chapada do Araripe, no Estado do Ceará, guarda há milhões de anos... Mas tem muito mais, pois o Araripe é um tesouro paleontológico. Paleon, o quê? Paleontologia é a ciência que estuda fósseis de animais e vegetais. E lá no Ceará fósseis de peixes, de plantas e até de dinossauros que viveram no período cretáceo, a chamada era dos dinossauros que viveram no período cretáceo, a chamada era dos dinossauros  .

Para conhecer melhor esse universo de enormes répteis, uma boa dica é visitar a exposição Ciências da Terra  , Ciências da Vida - Chapada do Araripe, que está a Fundação Armando Álvaeres Penteado ( FAAP ) . No começo da visita, atração - uma espécie de minifloresta com as espécies mais primitivas de plantas como as samambaias  - uma das primeiras a cobrir o Planeta - e também plantas com flores. "Essas surgiram há cerca de 115 milhões de anos, 40 milhões de anos antes da extinção dos dinossauros", explica o curador científico da exposição Diógens de Almeida Campos, diretor do Museu de Ciências da Terra. Ele fala que as primeiras flores surgiram no Brasil . " As da China têm a mesma idade ."

Depois de passar pela vegetação, o visitante encontra fósseis  - vestígios de animais  - de insetos, aranhas  e plantas que viveram na Chapada do Araripe. A intenção é criar um elo entre os espaços da exposição. O fósseis em interação com a vegetação mostram a relação entre insetos e plantas. "As flores são essenciais para os insetos e vice-versa" , fala Diógenes. Logo em seguida, é hora de entrar no reino das águas. "O visitante vai se sentir no meio aquático",  fala o curador científico. Fósseis de peixes diversos  , rãs e tartarugas são a atração desse espaço  .

Depois de viajar milhões de anos  , o visitante se depara com outra minifloresta  , mas, desta vez  , com as espécies de plantas que cobrem a Capada do Araripe atualmente  . A sessão serve como uma espécie de passagem entre o primitivo e o atual e mostra ainda os primeiros habitantes da região: os índios. Há pinturas rupestres e também esqueletos de animais como elefantes e bichos -preguiça  . 

Tecnologia e arte  - Há uma sala equipada com computadores para a galera que quiser saber mais sobre a paleontologia e sobre a região do Araripe. Uma linha do tempo também ajuda o visitante a se situar no período abordado na exposição. Para apresentar o imaginário popular dos moradores da região, a exposição traz algumas obras de artistas locais. "Queremos aproximar o objeto científico do artístico" , fala Diógenes.

Para não perder nenhum detalhe dessa aventura, a FAAP possui educadores que acompanham os visitantes na viagem pela era dos dinossauros.

Fonte  -  Jornal   -  O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO      -   pág  P 4 e 5 
Sábado  , 04/09/2004    ETIENNE  JACINTHO     -   ESTADINHO 
Ciências  da  Terra  , Ciências  da  Vida  - Capada  do  Araripe  





Brasileiros  mostram  novo  dino 

Espécie  encontrada  no  RS tem 220  milhões  de  ano  e pode  ser  a  mais antiga do  mundo

Um novo dinossauro, descoberto em 2001 no interior do Rio Grande do Sul, foi apresentado em Ribeirão Preto. O Sacisaurus agudoensis viveu há cerca de 220 milhões de anos e é um dos mais antigos do mundo, segundo os pesquisadores Max Langer e Jorge Ferigolo. Uma réplica do esqueleto do dinossauro , que media cerca de 1,5 metro de comprimento ( do focinho à cauda ) e 0, 4 metro de altura está em Ribeirão Preto . Cerca de 50 peças de fósseis do animal , que era herbívoro e quadrúpede , estão no Museu de Ciências Naturais de Porto Alegre, mas fora de exposição.

O fóssil do Sacisaurus agudoensis foi encontrado por pesquisadores da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul na periferia de Agurdo, a 200 km de Porto Alegre , uma área coberta por construções. Mas o achado não foi por acaso - a área é bastante investigada por paleontólogos por ser a única região do País com fósseis de dinossauros dessa idade. O Sacisaurus é do período triássico ( quando surgiram os dinossauros ) e veio da formação rochosa Caturrita. O Rio Grande do Sul tem, agora, seis espécies de dinossauros catalogadas , das 16 existentes do Brasil.

Da formação Caturrita , no entanto , são apenas dois , além de outros três argentinos de San Juan. "Não dá para precisar qual dinossauro é o mais antigo, se os brasileiros ou os argentinos, mas acreditamos que esses sejamos mais antigos do mundo", afirma Langer, professor de Paleontologia da Universidade de São Paulo ( USP ) , de Ribeirão Preto .

ORIGEM  SUL-AMERICANA 

O achado reforça as suspeitas de que os dinossauros como um grupo tenham origem na América do Sul, em rochas com idades semelhantes encontradas no Brasil e Argentina. Langer ajudou a classificar o novo dinossauro em 2005, após os fósseis terem sido descobertos pela equipe de Jorge Ferigolo , da Fundação Zoobotânica.

Langer foi aluno de Ferigolo. A dupla já atuou na descoberta de outros dinossauros brasileiros em 1998, o Saturnalia tupiniquim, encontrado por Langer, e do Guaibasaurus condelariensis, achado por Ferigolo.

O primeiro dino achado no Sul teve fósseis coletados em 1929, mas descrito apenas em 1945. O segundo foi coletado em 1934 e descrito em 1970. Com o Sacisaurus, portanto, tudo foi mais rápido. A revista inglesa Historical Biology, especializada em paleontologia, publicou a descoberta em 17 de outubro, com 11 páginas descrevendo o nome, o animal e os ossos. Segundo Langer, forma encontrados entre 30% e 40% do esqueleto de um Sacisaurus. O restante foi construído a partir de informações que os pesquisadores têm sobre o grupo ao qual o animal pertencia, os ornitísquios.

Das cerca de 50 peças de fósseis, foram encontrados 12 fêmures direitos, mas por incrível que pareça, nenhum osso da perna esquerda. "Isso é raro e significa que foram encontrados fósseis de 12 indivíduos da mesma espécie", conta Langer.

Daí surgiu a piada de que o animal tinha só uma perna. Como o símbolo do time do Internacional, de Porto Alegre, é um saci, os pesquisadores criaram o nome brincalhão Sacisaurus para batizar a espécie.

O novo dino é o primeiro brasileiro classificado no grupo ornitíquia ( como o osso do púbis projetando-se para trás , não para a frente , como os do grupo dos saurísquios ) . Ele tinha um bico à frente da mandíbula , o que facilitava a trituração da matéria vegetal. No Brasil até então só havia registro de pegadas de fósseis de animais desse grupo em Souzas (PB) e em Araraquara (SP) .

O Sacisaurus agudoensis tem como parente próximo o Silesaurus opolensis , da Polônia , também do período triássico. Langer explica que isso é possível , pois , naquele período a Terra tinha todos os continentes unidos , a chamada Pangéia. As primeiras peças encontradas foram dentes e a mandíbula. Como a Fundação Zoobotânica é especializada em mamíferos , Langer , ao ficar sabendo da descoberta , ofereceu-se para ajudar na classificação do dinossauro , pois essa é a sua especialidade . "Agora vamos fazer a reconstituição da árvore genealógica do Sacisaurus", explica Langer .

A réplica do dinossauro foi feita pela Ophicina Naval, de Itapecirica da Serra, e a intenção da dupla é fazer, em breve, uma exposição itinerante de fósseis pelo Brasil. A réplica é maior que o tamanho natural do animal. Porém, Langer avisa que não dá para afirmar se os fósseis encontrados, pois os répteis crescem ininterruptamente . 

Fonte   -  Jornal PALEONTOLOGIA 
Brás  Henrique     - Ribeirão  Preto