"O museu é um ser vivo. Ele respira"
Antônio Carlos dos Santos Oliveira,
meteorologista e museólogo
- Conte algo que não sei.
Os museus precisam de meteorologistas para monitorar os climas interno e externo. Por enquanto, sou o único profissional dedicado a isso no Rio. Uma pequena elevação da umidade faz a tinta escorrer de quadros, estraga papéis antigos do acervo e aumenta a proliferação de fungos.
- Da Infraero para o museu , qual foi o seu percurso ?
Fiz concurso em 1992 e entrei como técnico. Lá, foi desenvolvido um software que aplicava informações meteorológicos em 67 aeroportos. Mas eu já fazia consultorias para o MNBA, e surgiu a chance de vir de vez. Tem mais a ver comigo do que ver aviões.
- Como surgiu a ideia do software museológico ?
Há 20 anos , na escola técnica , eu lidava com um equipamento que media temperatura e umidade. Resolvi me especializar e fiz Mestrado de Arquitetura – para entender como funciona um prédio e seu entorno -, e Climatologia, que explica sua interação com calor, chuvas etc.
- Explique o funcionamento .
A base são boletins meteorológicos. Há sensores no museu que mostram como ele pode ser afetado pelo clima da rua. Por exemplo, uma janela aberta traz radiação solar, que descola a camada de tinta. Nesses casos, acionamos a brigada de segurança. A meta é levar o software a uma rede de mais de dois mil museus.
- Qual é a temperatura ideal para um museu ?
Teoricamente , 20 graus Celsius , mas só vou ter certeza no fim do ano. Buscamos um grau de eficiência energética que não comprometa as obras, não custe muito e não cause desconforto. Por exemplo, para manter um ar condicionado durante o dia e uma galeria, são gastos R$ 60 mil por mês. Dá para fazer por menos ? O lugar tem que ser agradável, as pessoas devem circular com tranquilidade. Não adianta baixar demais a temperatura. Museu não é lanchonete , onde você compra hambúrguer e sai correndo para não esfriar.
- Já atuou em que exposições ?
Enquanto desenvolvia o software, fui chamado para fazer o monitoramento uma exposição do Comitê Olímpico Brasileiro. A partir daí, ajudei aqui nas exposições de Monet e Salvador Dali e de obras do Museu do Prado e do Vaticano .
- O MNBA fica na Avenida Rio Branco, numa ilha de calor, com pouca arborização e muitos prédios . Isso prejudica as obras de arte ?
Sim. E os quadros podem ser comprometidos pelas obras da rua. Agora , temos a obra do VLT do outro lado da calçada. Não sei como o museu vai reagir à diminuição de carros trepidando, a uma mudança no fluxo de pessoas . O museu é um ser vivo. Ele respira , absorve a umidade durante as chuvas. E essa respiração deve ser mantida da forma mais constante possível ou ele sofrerá de asfixia. É um dos sobreviventes entre os prédios construídos há mais de 100 anos na Avenida Rio Branco .
- Os preparativos para as Olimpíadas colocaram em evidência o Museu de Arte do Rio e a construção do Museu do Amanhã . E as outras instalações da cidade ?
Há vários prédios no Rio aos quais falta a devida atenção. O museu ainda não é visto como um local que , além de servir à cultura , também tem um papel didático , contribui para a educação da população. O holofote para esses museus está apagado. Sou meteorologista, climatologista e arquiteto . Não precisa ser também educador para saber disso .
Fonte - ornal - O GLOBO - pág 2 - Conte algo que não sei
Quinta-feira, 18/06/2015 - Antonio Carlos dos Santos de Oliveira
Carioca , que trocou Infraero pelo Museu Nacional de Belas Artes (MNBA ) ,está desenvolvendo software para medir clima ideal e garantir a preservação de obras
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