TUDO passa. Um dia vem, outro vai e nunca é o mesmo. Traz-nos alegria ou tristeza, num dia chove e no outro faz sol. As estações mudam e percebemos as várias formas da natureza, em sua beleza, apresentar-se para nós. Em mudança contínua, os dias nos mostram, também, a impermanência da vida e que, como parte dela, passaremos, e que a morte é certa. Porém, isso é algo que evitamos pensar; a morte é para os outros, não para nós. Detestamos concluir que não somos donos de nossa vida e que ela pode ir-se a qualquer momento tomar um rumo desconhecido, e essa possibilidade é, no mínimo, apavorante.
Vivemos numa realidade dualística, num mundo de opostos: alegria / tristeza, vida / morte, matéria / espírito e enquanto nos apegamos a um dos opostos e negarmos o outro, sofreremos. Entretanto, se negarmos a morte porque temos medo dela, também negamos a vida, assim como o espírito quando nos vemos somente como um corpo que se acabará um dia. Sendo assim, nos apegamos ao que possuímos, nos tornamos aquilo que temos ou acreditamos ser e lutamos por esse status com todas as nossas armas, pois precisamos nos sentir importantes. Nós nos tornamos ansiosos e prepotentes porque queremos mostrar para os outros a nossa superioridade. Como necessitamos nos sentir alguém importante, nós nos tornamos ambiciosos , invejosos e inimigos uns dos outros, numa luta acirrada de muita competição ansiando segurança. E para vencer, não hesitamos em mentir, manipular, controlar, como se tivéssemos o poder sobre a vida. Que ilusão! É claro que existe o poder para o bem e para o mal. Mas verdadeiramente para o bem , numa forma desprendida e totalmente desapegada , são poucos . Na maioria das vezes, estão por trás a ambição desenfreada, o orgulho, a vaidade, a falta de ética que caracterizam bem o poder do mal. Ele se reveste de muitas caras. Em nome do bem, muita barbaridade á foi praticada e ainda o é neste mundo.
O poder é sedutor e deslumbra porque nos coloca numa posição de superioridade. Todo aquele que o busca, precisa dele para disfarçar sua própria inferioridade. Então, impõe, controla, manipula, mente e precisa se manter seu sucesso a qualquer preço. Porém, aquele que é realmente seguro de seu poder, por tê-lo construído em bases sólidas que só o autoconhecimento profundo proporciona, é humilde e generoso, sabe internamente de sua força, e isso basta. Conforme disse Buda: “A causa do sofrimento é a cobiça". O arquétipo do poder está em todos nós e tentaremos exercê-lo sobre aqueles que, de alguma forma, estão numa posição supostamente inferior a nossa. Se é mãe ou pai, tentará exercê-los sobre os filhos; se é uma dona de casa , tentará exercê-lo sobre sua empregada; se é um chefe de repartição , tentará exercê-los sobre seus subordinados. Mas como exercer esse poder de forma que não nos tornemos repressores , controladores , cruéis e irresponsáveis com os direitos e os valores dos outros , por conta de um ego negativo ? Queremos sempre controlar tudo: objetos, pessoas, o status alcançado, porque nos apegamos a tudo isso, e assim , caímos na angústia e no sofrimento por medo de perdê-los. O medo da perda nos torna controladores e, muitas vezes, até cruéis. A nossa verdade, que está sedimentada em premissas falsas, é o que queremos impor a qualquer custo. Ela é que nos livrará do medo da perda, do fracasso e da incompetência dos quais fugimos, e assim nos tornamos surdos, mudos e cegos. Só ouvimos, falamos e enxergamos, o que nos interessa. O egoísmo, a vaidade e o orgulho são partes integrantes do arquétipo do poder. Os outros, com seus valores e necessidades, não têm importância. Nossos interesses mesquinhos, que jamais reconhecemos como tais, têm de prevalecer. Mas por que é assim? O que impede que respeitemos e amemos uns aos outros? Eu diria que é a falta de consciência. Nós não somos conscientes apenas porque temos um cérebro que funciona saudavelmente. A base do nosso ser é uma consciência transcendente que só amor, todavia, precisaremos conquistá-la para que saíamos de uma consciência ilusória e dualista, que nos faz criar um mundo mau e repressor.
Estamos sempre encobrindo nossos reais sentimentos e atos mesquinhos por trás de uma máscara, que pode apresentar-se de várias formas. Passamos a vida lutando para que a máscara não caia e sejamos descobertos, vistos como um fracasso que acreditamos ser. Mas esse eu fracassado também é ilusório. Na realidade somos nosso Ser Superior mas para vivê-lo em sua plenitude, deveremos transformar todas as crenças falsas que nos levam a ter uma visão equivocada da realidade. Quanto mais apego a um poder egoísta e controlador alguém tenha, mais medo do fracasso terá e fatalmente caíra nele. O poder é ilusório e, como tudo na vida passará uma vez que não temos controle sobre nada, tudo que existe é passível de mudança ou perda: dinheiro, status, saúde, amizades. Uma hora os temos, outra, não mais. Porém, mesmo sabendo disso, queremos manter, sustentar o prazer, o sucesso, a felicidade para sempre, esquecendo que seus opostos também fazem parte de nós e da vida. Assim, tendemos a controlar para não perder porque vivemos a ilusão de que temos poder. Todos nós exercemos o poder de alguma forma na hierarquia social e devemos refletir como o fazemos, e mais que nunca quem o exerce sobre as massas. Não podemos permitir que níveis de consciência primitivos e inconscientes nos dominem e nos levem a ações egoístas, controladoras, injustas, sem ética, trazendo mais sofrimento para nós e para os que nos rodeiam. Precisamos aprender a ser mais altruístas, buscando a coragem e a responsabilidade para transformarmos primeiro nossa destrutividade interior, em vez de impô-la aos outros. Muitos preferem ignorar seus defeitos porque não querem carregar o fardo desse conhecimento. O poder para ser justo só exige consciência.
Somente o autoconhecimento, de uma forma profunda e sistemática, poderá nos levar à paz, a felicidade e a exercer nosso poder de uma forma justa, desapegada e ética. É uma opção de vida, sobre a qual cada um de nós deve refletir com seriedade. Novos valores surgirão, assim como um código ético e moral, baseado nas premissas, verdadeiras de nosso Ser Superior.
Fonte - JORNAL PRANA - PSICOLOGIA - pág 18
FEVEREIRO / 2013 - UNIVERSO HOLÍSTICO
POR CRISTINA AZEREDO - Psicoterapeuta holística
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