Ela deu voz à luta pela dignidade.
ANNA FRANK SIMBOLIZOU, ENTRE OUTRAS coisas, o poder de um livro: seu diário, escrito entre 1942 e 1944, no sótão secreto de um depósito em Amsterdã (onde sua família se escondeu até ser descoberta pelos nazistas). Graças a ele, Frank se transformou na personagem mais memorável da Segunda Guerra Mundial – ao lado do próprio Hitler, que também deixou suas convicções publicadas em sua biografia. De certe forma, o Holocausto começou com um livro um livro e terminou com outro. Mas foi o de Frank que prevaleceu, com um trabalho completo e valioso, sobressaindo em relação ao outro, simples e malévolo. Assim, ela passou a ser segunda criança mais famosa na história.
Quando os nazistas invadiram a Holanda, a família Frank, como todos os judeus residentes, tornou-se vítima de um universo onde as limitações eram sistemáticas. Primeiro, vieram as leis que os proibiam de realizar transações comerciais. Depois, os livros escritos por eles foram queimados. Os judeus eram mantidos fora de parques, praias, cinemas e bibliotecas. A partir de 1942, foram obrigados a usar uma estrela costurada em suas roupas. Em seguida, não podiam mais ter telefone nem bicicletas. Presos em suas casas, eles “desapareceram“. Foi quando Otto e Edith Frank, suas filhas Margot e Anne e a família Van Pels decidiram se esconder e levar, durante dois anos, uma vida confinada em esconderijos, até que alguém os denunciou. Mas Frank transformou um caderno de autógrafos que ganhou em seu 13° aniversário em um instrumento de liberdade.
Era uma escritora de talento extraordinário – independentemente de sua idade. A qualidade de seu trabalho é o resultado direto de seu espírito honesto e sem concessões. O profundo efeito que sua obra causou nos leitores vem do fato de Frank ter sido uma adolescente inteligente, mas normal. Tinha curiosidade sobre sexo, dúvidas sobre religião, era sarcástica quando falava de seus pais e especialmente irritável consigo mesma.
Os leitores costumam lembrar uma das frases mais ternas do diário: “Eu ainda acredito que, apesar de tudo, as pessoas têm bondade no coração“. O trecho que se segue é ainda mais revelador: “Vejo o mundo ficando cada vez mais selvagem, escuto ao longe o trovão que vai nos destruir. Posso sentir o sofrimento de milhões de pessoas e, mesmo assim, quando olho para o céu, acredito que tudo vai melhorar, a crueldade vai acabar e a paz e a tranquilidade vão retornar. Preciso manter meus ideais porque o dia em que os colocarei em prática pode chegar”.
É uma declaração de princípios, não um otimismo puramente infantil. É uma maneira de lidar de forma prática com um mundo que parece querer destruí-la. É o clamor dos judeus em um sótão e o reflexo da mentalidade do século 20, do refugiado, do homem invisível que quer se fazer notado. No diário, Frank mostrou, a todos não apenas a essência de sua bondade, mas também como é necessário ter princípios morais, até mesmo – ou principalmente – quando o contexto é de horror.
Legado: Frank simboliza a crença na bondade.
Fonte - Revista - pág 5 - TIME MAGAZINE
TIME 100 - ROGER ROSENBLATT
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário sobre a postagem.