Com o repertório que mistura óperas a Janis Joplin, ele foi a sensação de 90. Apesar de ter-se apresentado para plateias mais restritas, sua voz deslumbrou. Quem não o ouviu, ouvirá: para este ano ele promete mais e maiores shows Que venham.
SOPRANO, tenor, barítono e soprano ligeiro. Quatro oitavas na voz , o que significa percorrer ,e sustentar, a escala musical das notas mais graves às mais agudas. Essas são qualificações técnicas para explicar o fenômeno Edson Cordeiro , mais que revelação , a sensação musical do Brasil de 90 . Quem já ouviu sabe : quando ele abre a boca e solta a voz , sem brincadeiras de linguagem , quem fica boquiaberta é a plateia.
Paulista de Santo André, filho de um mecânico e de uma bordadeira, franzino ( hum metro e sessenta e cinco , cinquenta e dois Kg) . Edson cresce no palco, cantando , e interpretando, desde árias de óperas de Mozart ou Blue e Babalu no timbre de Ângela Maria . Passando por spirituais , rocks , funks , Duke Ellington , Prince , Lionel Ritchie e Nina Hagen , Janes Joplin e quem mais você quiser. Além de tomar inteiramente novas músicas como Down em Mim , de Cazuza, ou Um Gosto de Sol , de Milton Nascimento , aliás , um de seus muitos deslumbrados , fãs. Com tudo isso, só agora Edson vai-se tornando conhecido do público , principalmente depois de seu último show no Rio , em dezembro , quando o teatro em que se apresentou a cada dia " botava mais gente pelo ladrão " para usar uma expressão popular . Antes disso era mais íntimo dos paulistas, que além de já o terem ouvido em shows meios esporádicos e relâmpagos , conheciam-no de ópera-rock Amapola , do musical Hair e do espetáculo de Cacá Rossetti , Doente Imaginário . Quer dizer que , além de cantor , é também ator e dançarino ? Pode ser , mas não quer, disposto a investir no que tem de realmente precioso , sua voz . Por sabê-la rara , e não só no Brasil , cultiva-a como a uma planta de estufa . Em temporadas de shows , por exemplo , ele , que se diz da noite , confina-se " quietinho , num celibato total " , numa sobriedade que só permite " um conhaquinho para aquecer a voz " antes de entrar em cena e, então extravasar tudo o que refreou . " No palco, eu enlouqueço , solto tudo , solto Deus e o diabo". Foi com deus, aliás que Edson começou a cantar . Pelas mãos da mãe , crente aos seis anos passou a integrar o coral infantil de uma igreja evangélica. Os Cordeirinhos do Senhor,ainda Santo André ". Até dezesseis anos cantei para Jesus " , diz ele. Edson conta que foi deixando de acreditar nos preceitos da igreja que frequentava quando começou a ouvir dizer " que Mozart foi para o inferno ". E ao descobrir a vida , lendo Sartre e Simone de Beauvoir , entre outros . Mas talvez o grande momento que o decidiu mesmo a ser cantor tenha sido o dia em que , sem dinheiro nenhum , saiu pelas ruas de São Paulo com uma caixinha , para cantar inclusive Mozart . Para seu próprio espanto , conseguiu parar os apressados paulistas, mesmo os mais humildes , encantados com sua interpretação , por exemplo , da ária A Rainha da Noite , da ópera A Flauta Mágica . Sua caixinha ficou cheia de moedas e ele se convenceu de que poderia se apresentar em qualquer palco. Para alegria de quem o ouve e espanto de músicos e críticos que há tempos vêm emitindo opiniões sempre entusiastas a seu respeito. Mas talvez a opinião que mais que mais defina o deslumbramento de sua voz é o do violonista . André Jerasaiti. " Edinho está para os outros cantores assim como o uirapuru está para os outros pássaros " . E para quem nunca ouviu o uirapuru , vai aqui a definição de Aurélio Buarque de Holanda :
" ... seu canto, que só se ouve uns l5 dias por ano ( quando constrói o ninho )... ao amanhecer, é tido como particularmente melodioso, musical e diverso do canto de outra ave qualquer. A ponto de, segundo a lenda, os outros pássaros se calarem para escutá-lo."
Fonte - Revista MANCHETE - ATUALIDADES - GENTE pág l56
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