terça-feira, 28 de julho de 2020

EDSON CORDEIRO - O UIRAPURU



Com  o  repertório  que mistura  óperas a  Janis  Joplin, ele foi a sensação  de 90.  Apesar de  ter-se apresentado  para plateias  mais restritas, sua  voz  deslumbrou. Quem  não  o  ouviu, ouvirá: para  este  ano  ele  promete  mais  e  maiores  shows  Que  venham.

SOPRANO, tenor,  barítono e soprano  ligeiro. Quatro oitavas  na  voz , o que significa percorrer ,e sustentar, a  escala  musical das notas mais graves às mais agudas. Essas são qualificações  técnicas  para explicar o fenômeno  Edson Cordeiro , mais que revelação , a sensação musical do Brasil de 90 .  Quem já ouviu sabe : quando ele abre a boca e solta a voz , sem brincadeiras  de linguagem , quem fica boquiaberta  é a plateia.

Paulista  de Santo André, filho de um mecânico e de uma  bordadeira, franzino  ( hum metro e sessenta e cinco , cinquenta e dois Kg) . Edson cresce no palco, cantando , e interpretando, desde árias de óperas  de Mozart ou Blue  e Babalu no timbre de Ângela  Maria . Passando por spirituais , rocks , funks , Duke  Ellington  , Prince , Lionel  Ritchie  Nina  Hagen , Janes  Joplin e quem mais você quiser. Além de tomar inteiramente novas  músicas como  Down em Mim , de Cazuzaou  Um  Gosto  de  Sol , de  Milton  Nascimento , aliás , um de seus muitos  deslumbrados ,  fãs. Com tudo isso, só agora  Edson vai-se tornando conhecido do público , principalmente depois de seu último show no Rio , em dezembro , quando o teatro em que se apresentou a cada dia " botava  mais gente  pelo  ladrão " para usar uma expressão popular . Antes disso era mais íntimo dos paulistas, que além de já o terem ouvido em shows meios esporádicos e relâmpagos , conheciam-no de  ópera-rock  Amapola , do  musical  Hair  e do espetáculo de  Cacá  Rossetti , Doente Imaginário . Quer dizer que , além de cantor , é também ator e dançarino ? Pode ser , mas não quer, disposto a investir no que tem de realmente precioso ,  sua voz . Por sabê-la  rara , e não só no Brasil , cultiva-a como a uma planta de estufa .  Em temporadas  de shows , por exemplo , ele , que se diz da noite , confina-se  " quietinho , num celibato total " , numa sobriedade que só permite  " um conhaquinho para aquecer a voz " antes de entrar em cena e, então extravasar tudo o que refreou . " No palco, eu enlouqueço , solto tudo , solto  Deus  e o diabo". Foi com  deus, aliás que Edson começou a cantar . Pelas mãos da  mãe , crente aos seis anos passou a integrar o coral infantil de uma igreja evangélica.  Os Cordeirinhos do Senhor,ainda Santo André ". Até dezesseis  anos cantei para Jesus " , diz ele. Edson conta que foi deixando de acreditar nos preceitos da igreja que frequentava quando começou a ouvir dizer  " que  Mozart foi para o inferno ". E ao descobrir a vida , lendo Sartre e Simone  de  Beauvoir , entre outros . Mas talvez o grande momento que o decidiu mesmo a ser cantor  tenha sido o dia em que , sem dinheiro nenhum , saiu pelas ruas de São Paulo com uma caixinha , para cantar inclusive  Mozart . Para seu próprio espanto , conseguiu parar os  apressados  paulistas, mesmo os mais humildes , encantados com sua interpretação , por exemplo , da ária  A Rainha  da Noite , da ópera  A  Flauta  Mágica  . Sua caixinha ficou cheia de moedas e ele se convenceu de que poderia se apresentar em qualquer palco. Para alegria de quem o ouve e espanto de músicos e críticos que há tempos vêm emitindo opiniões sempre  entusiastas a seu respeito. Mas talvez a opinião que mais que mais defina o deslumbramento de sua voz é o do violonista . André  Jerasaiti. " Edinho  está  para  os outros  cantores  assim como  o  uirapuru  está para  os  outros pássaros " . E para quem nunca ouviu o uirapuru , vai aqui a definição  de  Aurélio  Buarque  de  Holanda :

" ... seu canto, que só se ouve uns l5 dias  por ano ( quando constrói o ninho )... ao amanhecer, é tido como particularmente  melodioso, musical e diverso do canto de outra ave qualquer. A ponto de, segundo a lenda, os outros pássaros se calarem para escutá-lo." 

Fonte  - Revista  MANCHETE  -  ATUALIDADES - GENTE  pág  l56

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