terça-feira, 27 de setembro de 2022

A ARTE DE PLANTAR


Depois de desaparecer do Egito – onde nasceu o para a história , em forma de papel , há uns 3 mil anos – o papiro voltou recentemente para  as margens do Nilo ,  seu habitat de origem . A operação de resgate ,com mudas encontradas na Etiópia e Sudão , levou ao todo 15 anos de observações e testes com a planta , tendo sido comandada por Hassan Hagab , diretor do Instituto do Papiro do Cairo. 

As quatro únicas plantações de  papiro do  Egito pertencem atualmente a esse órgão , que está recuperando também a milenar técnica de fabricar papel com as hastes dessa esperácea .O processo se resume a cortar as hastes em tiras que ,depois de postas de molho para desprender o amido e açúcar que o papiro contém são secadas, prensadas e finalmente coladas para formar folhas . 

O papel natural dos faraós é considerado pelos especialistas egípcios superior em mui-pontos ao papel industrial de hoje em dia , em cuja fabricação entram muitos produtos químicos . Dizem os  técnicos do  instituto de  Hagab que o papiro tem  mais resistência mecânica , dá impressões sempre legíveis , não deixa que a tinta escorra para causar manchas e é ainda um excelente suporte para a pintura ou gravura podendo ser colorido com qualquer pigmento.

Como a taboa brasileira – que também pode dar papel ,pois fornece celulose de notável pureza ,mas é usada sobretudo em cestaria e esteiras – o papiro( Cyperus papyrus ) é uma planta palustre ( ou do brejo) e  aquática , desenvolvendo -se com  mais exuberância quando está na  beira da água . Coroadas por  tufos de  filamentos verdes  que caem  graciosamente todas as  hastes do  papiro , que vão de 2 a  3 metros , saem diretamente das raízes , um sistema rizomatico  tão forte e  ramificado quanto o das bananeiras . Nos dois casos ,o rizoma pode ser cortado como se parte de um bolo , e qualquer fatia - trazendo de preferência  uma haste e alguns brotos -  constitui uma muda  . Em terrenos encharcados ou diretamente na água  , a brotação do papiro , em  nosso clima , é quase sempre infalível.

O laguinho entre  São José e a  Nilo Peçanha - ali onde atualmente os pivetes se banham do calor da cidade - foi um dos que serviram no Rio para plantar papiro .Desse jeito ,a planta se desenvolve numa touceira ilhada , mas sua evolução quase não  conhece limites quando uma muda é colocada na margem de uma represa ou riacho . A nutrição fica então mais fácil e a  planta ainda ao mesmo tempo nos dois sentidos,com uma parte avançando pela água e outra a recuar para a terra .

Se bem não seja  típico de interiores ,o papiro é  resitente,e seu  cultivo pode ser plantado , por exemplo , em garrafões de grande diâmetro , cortados ao meio (em  vidraçaria ) e enchidos com um  fundo de areia , para assentar a muda , e o  resto de água . Em síntese , tenta-se reproduzir em casa o  laguinho de  São José , e aplicações espaçadas de fertilizante ou esterco, que talvez de chero mas é melhor , na certa ativarão o crescimemnto .

Como não tem propriamente folhas , e sim os tufos de filamentos do ápice , é  planta ideal , por outro lado , para entradas de edifícios e halls . E s tufos do papiro , depois que secam , duram anos e são  ornatos perfeitos , além de darem de darem  sugestões para fazer mil coisas . 

Mil e uma utilidades tinha o papiro no Egito . O corpo das hastes servia para fazer pe -quenas jangadas , e o miolo do pé das hastes , onde estão o amido e o açúcar ,servia de legume na mesa .Cordoalha , catres , enchimentos , assentos e até lamparinas , de tudo deu ao velho Egito a recuperada espécie faraônica ,multivalente , e no entanto simplíssima em seu desenho . Canelas verdes coroadas , o papiro , de fato , é a  imagem  do despojamento .

Planta  de  água  e  brejo , comum  nos  lagos urbanos  ,o  histórico  papiro volta para as  margens  do  Nilo  , sua  terra  de  origem . É uma  espécie  resistente  e  dá  muitas  mudas  . 

Fonte  -  Jornal   DO  BRASIL     pág 10   -  CASA 

Caderno  B   -  SOLANO  DE  CASTRO  


Quando o indicador aponta alguém

 



O homem ,por natureza não  gosta de ser acusado nem de se considerar  culpado.É raríssimo ouvirmos alguém dizer : “ eu não tive razão , a  culpa foi minha “  . E , mais raro ainda , o complemento necessário dessa  confissão :  “ desculpe-me !“ 

O fato , porém ,é que há um culpado ,no mínimo . Ambos os que se  arrogam razões poderão ser culpados , mas , de modo mais comum , dos dois , um foi  causador do  desentendimento.

Não adianta procurar  o culpado . Não há , geralmente , porque ninguém se quer confessar errado . E , principalmente , diante de Deus , não importa a situação ou a   atitude do " outro" , mesmo se ele não tem razão e , sim , eu . Importa a minha ,  ainda que eu esteja certo . 

Acontece ,a toda a hora ,aqui e ali , na escola, no lar , na oficina, na rua . Atritos contínuos ,desgastante constante ,acúmulo diário de ressentimentos ,mágoas e decepções , esse complexo de carga, de peso inútil , que vamos carregando .

Notemos que , quando o  filho pródigo voltou , suas primeiras palavras foram a confissão da  grande falta que cometera  contra Deus  , primeiramente e contra o pai , a seguir . Não houve justificativas porque , tivessem sido outros também culpadois de seu estado , não importava , diante de  Deus.  

Já o  fariseu, em sua oração ostensória , fez  exatamente o contrário : ele ,o justo ! Os  outros , os pecadores.

É interessante notar que , quando nosso  dedo indicador aponta alguém , nesse gesto comum de  incriminação , também o  polegar se estende , porém , os três outros dedos se dobram , voltados para  nós próprios …

É uma  lição  preciosa que podemos tirar daí ,  porque exatamente assim é nossa situação diante de  Deus : acusamos outrem ,mas o principal culpado , naquele momento , em Sua presença , somos nós .

Que o " outro " esteja errado : minha reação a  seu erro determinará o grau de relação que mantenho com  Deus . Se houver  humilde submissão , se houver em mim a  mansidão de  Cordeiro , é porque não eu , mas a graça habita em mim e opera em minha vida . Ao contrário - e como é comum ! -  se o erro do próximo me irrita , me leva  à murmuração ,me ofende ,me desperta  reação negativa ,é evidente que sou eu mesmo , é meu  orgulho , é o velho e  obstinado "ego" que está agindo - contra   Deus , em primeiro lugar , contra o  próoximo e  contra mim mesmo .

" Quebranta -me , Senhor " " é minha oração.

Seja  a  tua , também , se  precisas  dela . 

Revista  Primavera  em  flor   - pág 4   Ano IX  -  n° 9   

Novembro - 1962  -  Redator chefe  GUILHERME MOURA 

O homem ,por natureza não  gosta de ser acusado nem de se considerar  culpado.É raríssimo ouvirmos alguém dizer : “ eu não tive razão , a  culpa foi minha “  . E , mais raro ainda , o complemento necessário dessa  confissão :  “ desculpe-me !“ 

O fato , porém ,é que há um culpado ,no mínimo . Ambos os que se  arrogam razões poderão ser culpados , mas , de modo mais comum , dos dois , um foi  causador do  desentendimento.

Não adianta procurar  o culpado . Não há , geralmente , porque ninguém se quer con-fessar errado . E , principalmente , diante de Deus , não importa a situação ou a   ati-

tude do " outro" , mesmo se ele não tem razão e , sim , eu . Importa a minha ,  ainda que eu esteja certo . 

Acontece ,a toda a hora ,aqui e ali , na escola, no lar , na oficina, na rua . Atritos contínuos ,desgastante constante ,acúmulo diário de ressentimentos ,mágoas e decepções , esse complexo de carga, de peso inútil , que vamos carregando .

Notemos que , quando o  filho pródigo voltou , suas primeiras palavras foram a confissão da  grande falta que cometera  contra Deus  , primeiramente e contra o pai , a seguir . Não houve justificativas porque , tivessem sido outros também culpadois de seu estado , não importava , diante de  Deus.  

Já o  fariseu, em sua oração ostensória , fez  exatamente o contrário : ele ,o justo ! Os  outros , os pecadores.

É interessante notar que , quando nosso  dedo indicador aponta alguém , nesse gesto comum de  incriminação , também o  polegar se estende , porém , os três outros dedos se dobram , voltados para  nós próprios …

É uma  lição  preciosa que podemos tirar daí ,  porque exatamente assim é nossa situ -ação diante de  Deus : acusamos outrem ,mas o principal culpado , naquele momento , em Sua presença , somos nós .

Que o " outro " esteja errado : minha reação a  seu erro determinará o grau de relação que mantenho com  Deus . Se houver  humilde submissão , se houver em mim a  mansidão de  Cordeiro , é porque não eu , mas a graça habita em mim e opera em minha vida . Ao contrário - e como é comum ! -  se o erro do próximo me irrita , me leva  à murmuração ,me ofende ,me desperta  reação negativa ,é evidente que sou eu mesmo , é meu  orgulho , é o velho e  obstinado "ego" que está agindo - contra   Deus , em primeiro lugar , contra o  próoximo e  contra mim mesmo .

" Quebranta -me , Senhor " " é minha oração.

Seja  a  tua , também , se  precisas  dela . 

Revista  Primavera  em  flor   - pág 4   Ano IX  -  n° 9   

Novembro - 1962  -  Redator chefe  GUILHERME MOURA 

SERVIÇO DE DITADURA



Morando em  Paris , cerca de 500 universitários brasileiros que recebiam  bolsas do governo federal foram vigiados durante a ditadura .Se fossem identificados como subversivos perderiam a ajuda . À frente desse  processo , de acordo com o  historiador Paulo César Gomes,estava uma  instituição que ,ao longo dos atos ,cultivou a imagem de ter passado incólome  às mudanças de governo e suas flutuações políticas : o Incólome Itamaraty .Havia , segundo ele , um acordo de cooperação com a  política  francesa ,que apesar da  democracia vigente no país ,era comandada por  Maurice Papon , um colaborador do  regime nazista , condenado por crimes contra a  humanidade em 1998 .Gomes , que pesquisou  documentos  sigilosos do arquivo de  Itamaraty para sua tese de  doutorado na  UFRJ , trocou dois dedos de prosa com Thiago Rogero , da turma da coluna.

Como começou o monitoramento ? 

Em maio de 1964 , um manifesto contra o  golpe foi  encontrado na  Casa do  Brasil  , onde moravam os estudantes brasileiros .Era assinado pelo Grupo Brasileiro de Resistência Antifascista , mas não trazia nomes .O governo , então pediu que a  embaixada instaurasse  inquérito para descobrir quem eram os autores , inclusive com a  ajuda de autoridades francesas. Mas não conseguiram descobrir .

E  o  Itamaraty ?

Os  estudantes brasileiros eram monitorados pela  embaixada e , caso fossem  identitificados como subversivos , havia a ordem para cortar as bolsas que recebiam do governo brasileiro . Há correspondências do chefe de polícia de  Paris , Maurice Papon , com o Itamaraty .Fato é que o serviço diplomático brasileiro esteve, de maneira geral , tanto em países democráticos quanto nos comunistas ,preocupado em monitorar brasileiros que saíram do país .

Diplomatas brasileiros escreviam  cartas ao jornal  "  Le Monde  " reclamando e  pedindo moderação no  tom das críticas que denunciavam  prisões e torturas no  Brasil . Apesar da  imagem que constituiu para  si próprio de ter  passado incólome aos  governos , podemos ver que , na  ditadura , o  Itamaraty atuou de acordo com a  ideologia dos militares e se alinhou à perspectiva regressiva daquele momento . 

Fonte - Jornal  O  GLOBO  - pág 19  - Rio 

Domingo , 17.5. 2015  - Coluna  Ancelmo 

O Medo Emperrou o Desenvolvimento da Sociedade


- Parece que a  humanidade está  paralisada através do  medo , afirmou o cliente em sua sessão de análise.

- Como assim ? Perguntei .

- Noto que cada pessoa poderia realizar pelo menos o dobro do que faz , e tem medo.

Acredito que a humanidade está  paralisada por causa do pavor que sente – e esse medo aos males fecha a  mente para todo e qualquer  desenvolvimento . 

- Dr. Keppe , o que significa o  inconsciente ?

- Qual é a sua ideia ?

- Pelo que eu sei , é tudo aquilo que o  ser humano esconde.

Posso afirmar que a  vida consciente é a ligada a  Deus , eu inconsciente , a negação a Ele  – como se a primeira fosse a voz de  Deus , e o segundo a do  diabo –  e é justamente nesta questão teórica , que  Freud trouxe enorme prejuízo para a  humanidade.

- Se  Freud desejava que a pessoa manifestasse tudo o que acontecia no  inconsciente , estava con-dendo ao  demônio o  domínio sobre o  ser humano .

- E não foi isso o que aconteceu atualmente ?

Atualmente , vemos o sexo como se fosse mais um  artigo de  consumo , sendo esse o motivo de tantas  perversões e desencontros a respeito .

- Assisti a um  filme francês . A Religiosa , e agora compreendo por que eles foram atacados na Revolução Francesa .

- Por que pensa assim ?

- Os  religiosos eram tão intransigentes , projetando todos os seus  problemas no povo.

- O que por exemplo ? -  Colocando no sexo a causa de todos os problemas da humanidade .

Note o leitor ,que o desconhecimento da  ciência do psicopatológico é sempre a  causa de todas as  desavenças .

- Lúcifer ensinou o  ser humano a colocar no sexo a causa de todos os problemas  .

- Por que acha que ele fez isso ?

- Por que ele não tendo sexo , pôde agir à vontade em sua  soberba e ódio .

Existe um  famoso ditado que fala o início da  sabedoria está no  temor  ao  Senhor (Initium Sapientiae Timor Domini ) -agora , existe essa questão: quem é esse Senhor ?

- Dr . Kepper , os  apóstolos só tiveram  coragem de pregar o  cristianismo ,  quando receberam o Espíirito Santo.

- O sr. quer dizer que antes era um grupo de covardes  ,apavorados pelos  poderes da época.

Note o leitor,que ainda  agora acontece o mesmo , eu  povo permanece  paralisado diante de alguns  indivíduos que galgam o poder ,às vezes até  indevidamente,sendo respeitados só por causa de sua posição .

" - Sem  Deus , é impossível   realizar  alguma  coisa  de  valor .

- O que acontece então com os ateus ?

- Tenho a  impressão que eles são totalmente medíocres .

Lembrando  Freud , de um lado foi  genial , em sua metodologia , mas de outro foi estranhamente sem valor , em suas teorias .

A  consciência do  temor aos demônios constitui a a bertura para a toda a  sabedoria - bem ao contrário da famosa  frase  O Início da Sabedoria é o Temor ao Senhor   ( Initium Sapientiae Timor Domini ) , a não ser que esse senhor seja o demônio . Agora  ,podemos dizer que o início , meioe fim da  sabedoria é  amor  a  Deus .

Fonte  -  Jornal  STOP  - A  DESTRUIÇÃO  DO  MUNDO  -  capa 

São Paulo , Agosto -  Setembro de 2010 -  Ano III ,  nº 45  -  200 mil exemplares

Norberto  R.  Keppe , psicanalista  Informativo Trilógico  ( Ciência , Filosofia e Teologia)

‘ Ensina-me a viver ‘



PRONTA  PARA  EMOCIONAR 

Agora na idade da  personagem ,Glória Menezes retoma o papel de Maude em 

espetáculo que ficou por  cinco anos em cartaz .

Quando estreou no  papel da octogenária  Maude em  Ensina  a  viver  “ ,  Glória

Menezes  tinha  73 anos e costumava dizer que sua empatia pela  mulher cheia de  vida e  disposição era tamanha  que gostaria de  interpretá-la até que chegasse à  idade da personagem . A peça , que  estreou em  2007 , saiu de cartaz em 2012, após uma  vitoriosa jornada de cinco anos .Glória completou 80 anos em outubroe retorna a  Maude e aos palcos  tendo novamente Arlindo Lopes ao seu lado como o complicado Harold .A nova temporada estreiou numa  sexta-feira no Teatro Net Rio .

- Passei cinco anos como alguém de  80 anos .Agora finalmente , tenho  80 anos – brinca a atriz .Glória celebra também 55 anos de carteira ,que teve ascensão meteórica .Em 1959 , ela ganhou o prêmio de  atriz revelação num  festival de  teatro  amador e estreou na TV . Logo depois , atuou em  “ Feiticeiras de Salém “ , dirigida por  Antunes  Filho . Ganhou mais um  prêmio . Veio então o  convite de  Anselmo  Duarte para  rodar  “ O  pagador  de  promessas  “ ,  filme que em  1962  levou a  Palma  de  Ouro  em  Cannes e Glória , à  condição de  estrela.

- Eu sou privilegiada , sempre fui . Porque , claro , eu tinha  talento . Mas  nem  sem-pre  isso  é  suficiente . É preciso  ter  sorte  também  - acredita ela .

Foi  preciso ainda , ao longo da jornada , alguma coragem  . Em  “  O pagador de pro- messas  “  ,  ela foi chamada para o  papel da prostituta . Já no set ,teve que assumir o de Rosa porque a  atriz escalada , Maria Helena Rosa , teve pneumonia .Glória duvida que hoje , com sua experiência , assumisse tal  risco . Mas encarou outros como , aos 64 anos , raspar os cabelos e ficar nua para  viver uma mulher com câncer terminal  na peça  “ Jornada  de  um  poema “ ( 2001 ) .

- Eu nunca me preocupei com o que vão pensar de mim . Vivo a  minha vida . A ima-gem que o público faz é problema dele . Confesso que , quando  raspei a cabeça e fi -quei nua em pelo , pensei : agora ou vai ou racha – conta  a  atriz , que ganhou o  prê-mio Shell pela atuação.

SALVA  DAS  ÁGUAS  POR  TARCÍSIO

 Os  55 anos passaram amenos , Glória diz que não conheceu fracassos . "  Mesmo o que não foi tão bem , não foi mal " . Colecionou  diversas histórias . Teve de trocar de  roupa enquanto fazia uma  cena em close , nos tempos da  TV ao vivo , na Tupi . Atuava com a câmera fechada no rosto enquanto a  camareira ajudava ,abaixada ,a trocar de  saia para próxima cena . Também quase se afogou durante uma gravação da no -vela  " Cavalo de aço " ( 1973 ) .-Tinha uma cena no  Guandu , comigo , Tarcísio ( Meira )  e Milton Moraes . O barco passava ,fazia marola ,e a gente passava por cima das  ondas , para ter um movimento.

Uma hora , a água entrou  , o barco fez  " tum "  e eu  " poft" na água , de bota , casaco de couro, dois revólveres no coldre , afundei .Consegui subir , vi o  céu cinzento e não aguentei . Fui de novo . Pensei ... morri . Aí senti uma coisa me puxando pelo cabelo . Era o Tarcísio .Um  bombeiro jogou uma corda Tarcísio veio me puxando .E  o Avan-cini o (diretor Walter Avancini , morto em 2001 )  gravando , achando  ótimo - conta . Casada  com  Tarcísio Meira  desde 1963. Conheceu -o no teatro  Maria Della Costa . Ele ensaiva uma peça e ela tinha ido falar com o diretor  Antunes Filho.

- A coisa veio aos poucos .Acho que foi por isso que ele se apaixonou por mim -conta ela aos risos . - As  mulheres davam muito em cima dele . Elas o  cutucavam com o pé e  por baixo da mesa . Depois , ele me contava e ríamos juntos . Nunca fui ciumenta .A ideia de retomar a peça , dirigida por  João Falcão , foi movida não só pelo  carinho pela  personagem , de quem diz ter os mesmos  bom humor e  otimismo , mas também pela ótima resposta do público. Maude morre na história . Já Glória não pensa na mor-te. Só pede que ela venha de uma vez .

-  Eu converso com ( o beato )  Frei Galvão , que me salvou aos  dez meses de idade , quando tive bronquite capilar. Eu digo : Frei Galvão , o senhor me salvou . Agora  seu compromisso comigo é me levar de uma vez . Acho uma  grande sacanagem com  o  ser humano essa coisa de ficar em cima de uma cama .

Aos  80 , Glória celebra o tem po da forma que mais gosta :

-  Sou apaixonada pelo teatro , tenho  essa gana de representar ,  prazer de entrar no palco . Entro  e  penso : quem  manda  aqui  sou  eu , vou  emocionar . *

"  Eu  nunca  me  preocupei  com o  que  vão  pensar  de  mim . Vivo  a  minha  vida  A  imagem  que  o  público  faz  de  mim  é  problema  dele "   Glória Menezes - Atriz 

Fonte  - Jornal  O  GLOBO  -  pág 7  -  Segundo Caderno 

Terça-feira , 12.5.2005  -   DEBORA  GHIVELDER 

Homenagem  à grande atriz  Glória  Menezes por ter vivenciado a carreira doa casal e os outros  ícones . ( de Ana Regina )




TARCÍSIO  MEIRA

TARCÍSIO  É  MARGINAL

Ele  decidiu  deixar de ser galã e  já  vive  no cinema um  bandido  que pode  ser  também  seu  próximo  trabalho  na  TV


Em  O  MARGINALK  , Tarcíso  trabalhou ao  lado  de  Darlene Glória e  Rutinéia de Morais , que viverão duas artistas de teatro- rebolado

Tarcísio Meira saiu da televisão para ser um marginal : depois de interpretar o  milionário Hugo em o Semideus : ele vai ser Valdo no cinema , " um indivíduo que por razões alheias , por  problemas sociais pela maneira como foi criado , pelo  ambiente onde cresceu e ins -trução que recebeu , tornou-se , ou tornaram-no , um marginal " . Disposto a abandonar as telenovelas para fazer apenas seriados . Tarcísio trocou os cachos do  Semideus pelo cabelo bem penteado e alisado com fixador do seu novo personagem em  O  Marginal , numa história de  Dias Gomes que marca também o retorno ao cinema do diretor  Carlos Manga . O filme que já está sendo rodado em vários pontos de São Paulo- penintenciária do Carandiru, tribunal, Avenida São João e num teatro de rebolado - narra  a trajetória de Valdo , " personagem que é um estigma de estrutura social " .Vivendo num ambiente do submundo . Valdo tenta  insistentemente safar-se da  miséria e traçar um caminho mais definido na  vida e nesse momento começa a sofrer a  pressão de todas as barreiras e todas as dificuldades . Se gundo  Tarcísio , seu personagem  "  é  um  marginal  até  do  próprio  submundo " . Valdo é um  sujeito que não se  encaixa bem em nenhum lugar . É  um sujeito  sem origem , como muitos gue a  gente conhece e  que  estão  por  aí .Sem origem , sem possibilidades na vida, sem nada . A  vida  fez de Valdo o que ele é  um  marginal : Talvez ele não tenha  bem consciência das  suas vontades , mas é um insatisfeito  com  tudo e  não encontra  seu  lugar  em  canto  algum. Na tentativa de se afirmar diante da vida . Valdo passa  por  todos   os  perigos e  por  todas as  provas, conduzido pelo  amor que dedica a uma  artista de  teatro rebolado, uma  vedete chamada Leila Cúri interpretada por  Darlene Glória . Esta tem também no  tea-tro uma  grande  amiga e  rival , vivida pela  atriz  Rutinéia de  Morais . A  história de   " O Marginal foi escrita pelo  novelista  Dias  Gomes e o filme está sendo  dirigido  por  Carlos Manga, reunindoi ainda no seu elenco nomes conhecidos como os de  francisco di franco , Anselmo Duarte e Vera Gimenez . 

EXPERIÊNCIA  ITALIANA  NA  VOLTA  DE  MANGA 

Doze  anos  dedicados  à televisão e um ano e meio a acompanhar o trabalho de  monstros sagrados como  Fellini e  Visconti na  Itália , é um das coisas que  Carlos Manga pode contar a respeito de sua carreira , agora resolveu deixar na  TV para dedicar-se apenas ao cinema . Sem afastar a possibilidade de um dia voltar  à  televisão , sua decisão é uma só  : No momento , estou  com  muita  saudade do  cinema , do qual me  afastei  12 anos . Então , pelo menos nesta fase ,tenho o  firme propósito de me  deter no cinema por  algum tempo , sem me ausentar . Mesmo porque tenho de fazer  dois filmes praticamente seguidos  . " O  primeiro deles já começou a ser rodado : O  Marginal ,uma  produção do próprio Carlos Manga junto com  Osvaldo Massaini .  Os  dois  também produziram o segundo filme , A  Pequena  Notável ,sobre a vida de  Carmem  Miranda .Com  O  Marginal , Carlos  Manga pretende realizar um filme um filme de  " fácil  comunicação , que as pessoas entendam, que as pessoas sintam e que possa transmitir o que eu quero dizer , e nele não vou  complicar e tampouco  encucar " .

Homenagem  ao  grade  ator Tarcísio  Meira, que marcou uma fase do auge da TV, e aos demais ícones citados , que engrandeceram nossa cultura . (de  Ana Regina )

Fonte  -  Revista  AMIGA

Reportagem  de  Oswaldo  Mendes  -  tv tudo 


Conclamação ao Povo BRASILEIRO

 


Diante  do  atual  cenário  social  e  político, a Igreja  católica e  entidades civis convidam o  povo brasileiro para  combater a  intolerância  política e  promover  a  intolerância  política e  promover  um  debate  autêntico 

REUNIDOS, por iniciativa da  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ministério da Justiça , Ministérioi Público Federal ,  Instituto dos Advogados Brasileiros . 

Considerando as graves dificuldades institucionais e  sociais da  atual conjuntura nacional , que geram  inquietação e incertezas quanto ao futuro ; 

Considerando que nenhuma crise , por mais séria que seja ,pode ter adequada  solução  fora dos cânones constitucionais e legais em decorrência do primado do Direito ;

Considerando que as   divergências  naturais , numa  sociedade plural , não devem ser  resolvidas , senão preservando-se o   respeito  mútuo , em  virtude da  dignidade da  pessoa humana ;

Considerando que , em  disputas  políticas , necessariamente haverá aqueles que obtêm sucesso e  aqueles que não alcançam seus objetivos ;

Considerando que , nestes casos , o êxito não pode significar o aniquilamento do  opositor  , nem o  insucesso pode autorizar a   desqualificação do procedimento ;

Considerando que , sejam mais forem os  grupos políticos , suas  convicções e valores não devem ser colocados acima dos  interesses  gerais do  bem comum do Estado , que tem o dever de priorizar os grupós mais  vulneráveis da população ; 

Considerando , por fim , que às  entidades subscritas cabe de desenvolver o  seu mais  ingente esforço para assegurar a prevalência das  garantias constitucionais , norteadas , por nossa  Carta Cidadã de 1988 no artigo 3°  : 

Constituem objetivos fundamentais da  República Federativa :  

I.   construir uma  sociedade livre , justa e  solidária ;

II.  garantir o  desenvolvimento nacional ; III. erradicar a  pobreza e a  marginalização e  reduzir as  desigualdades sociais e regionais ;


IV. promover o  bem de todos , sem  preconceitos de origem , raça ,sexo ,cor , idade e quais- quer outras  formas de discriminação .

Conclamam todos  os cidadãos e cidadãs , comunidades , partidos políticos e entidades da sociedade civil organizada , a fazer sua  parte e  cooperar para este mesmo fim , adotando em suas manifestações , em busca permanente de soluções pacíficas e o repúdio a qualquer forma de violência , convictos de que a  força das ideias , na história da humanidade , sem-pre foi mais bem sucedida do que as  ideias de  força.

Se assim o fizermos , a  História celebrará a maturidade , o equilíbrio e a racionalidade de nossa geração que terá  sabido evitar a  conflagração , que somente divide e não constrói,fazendo  emergir  dos  presentes  desafios , ainda mais fortalecidas , as Instituições , a  República e a  Democracia .

Fonte -  Revista  O  MÍLITE  - pág 21  - fé  e  política 

Brasília , 31 de agosto de 2016 - CNBB


Oferecimento  diário

Um jovem alemão foi obrigado a  servir o exército , nos anos da Segunda Guerra Mundial , efoi enviado como parte da tropa que tomava conta de um  castelo francês , prisão e centro de  torturas da polícia política do  nazismo , a  Gestapo. testemunha dos  horrores aos quais eram submetidos os  prisioneiros ,ele, religioso franciscano ,teve uma  inspiração . Alegando que gostava de trabalhar à noite , substituía companheiros que preferiam dormir e, assim  , prestava   socorro aos  prisioneiros  , no que podia , correndo  grandes  riscos .Talvez  esse  exemplo , em uma situação de  conflito e guerra , nos ajude a compreender o que podemos e  devemos fazer em nossos  dias  confusos e  , tantas vezes  aflitos . Nossos  dias não  são muito diferentes dos de  Jesus, que nasceu no  tempo dos temíveis  Césares e dos seus servidores , os  herodes Antipas e Filipe , e  Pôncio Pilates . A  Igreja conserva a  memória de Tarcísio , rapazinho mártir , que levava o consolo da  Eucaristia aos  cristãos e  cristãs encarceradaos , enquanto esperavam ser torturados e mortos , quem sabe atirados às feras nos  circo romanos . Este é o outro  grande exemplo de um  " artíficie corajoso e apaixonado  do diálogo e da  amizade  " .   Recordemos  Santa  Edith  Stein , fazendo  bonequinhos de molambos ,entreter as  crianças no  campo de  morte dos nazistas .Ou  São Maximiliano Kolbe , dando a  vida por  um coolega de cativeiro e , depois animando e confortando os   companheiros da cela da morte de  fome e sede  , outras  vítimas do nazismo  . Sem oração  nada disso seria possível .Como  o  povo diz  :  " Só  por  Deus ! " .  Sim , " so por  Deus " , pois , " sem Ele , nada podemos  fazer "  ( cf. Jo  15,5 ) . Creiamos !  Nessas horas .  Nossa  Senhora das  Angústias não nos faltará ! 

Fonte -  Bilhete  Mensais   do Apostolado da Oração do Brasil 

Julho de 2021 -  ano 147  -  1874  - 2021  -  nº 1740 - Texto de Pe.  Paiva , SJ




A  Intolerância  com  segredo

Inconsciente 

O que faz com que nossa sociedade seja tão  intolerante e pouco inclusiva ?

Nos dias atuais ,encontramos regularmente em  nosso cotidiano algumas palavras que certamente nos provocar  reações psiquicamente das mais inquietantes .Tais palavras são comumente citadas nas  universidades , nas escolas , na mídia impressa e na televisão  : “  intolerância “ , “ realidade “ , “ inclusão “ .Interessa-nos investigar aqui não o que está manifesto nas significações  jurídicas , filosóficas , sociológicas desses termos , mas , sobretudo , o que está escamoteado ou denegado por eles . Neste textopartiremos do princípio , de que é  necessário falar desses  conteúdos do  ponto  de vista  psíquico, ressaltando nossa  condição humana de sujeitos do  inconsciente .

Nos últimos anos especificamente desde os anos de 1970 , temos visto o desenvolvivimento de  importantes projetos para o  combate à  intolerância  : o  surgimento de instituições em defesa dos direitos humanos , a implementação de cotas para negros e deficientes; a ocupação de espaços políticos por  mulheres,entre outras “ inclusivas “ ? Alguns dados , porém , são  inquietantes :  no Brasil , apesar de aparentemente ,  ter havido uma democratização do  discurso da “tolerância”, os dados da “ exclusão social “ ( sobretudo negros ) continuam praticamente inalterados , desde a abolição da escravatura ( década de 1890 ) ,se comparadas ao  crescimento proporcional da po -pulação , conforme dados  do  INEP /  MEC , citados na  publicação  Políticas   de promoção  de  igualdade  / racial na educação ,  realizada pelo  centro de estudos  da  relação de trabalho e das desigualdades (  CEERT ), uma ong que luta pela igualdade de  raça e de gênero.

Diante desses , fatos ,podemos pensar em  textos de  Freud , O  mal-estar na civilização o  futuro de  uma  ilusão , que nos falam do  pacto social necessário para a contenção de  impulsos destrutivos ligados à pulsão de morte . Estaríamos diante dos " restos do pacto " , ou seja , diante de algo aue não pôde ser  simbolizado e que ganha a  expressão peloa ato ? O que impediria esse  " resto " de ser simbolozível ? o que faz e com que nossa sociedade seja   tão intolerante e tão pouco  inclusiva ? 

CONCEITO DE  REALIDADE 

É de supor que   as classes abandonadas invejarão os privilégiois das classes favorecidas e farão todo o  possível para  libertar-se do  aumento  especial de  privação que pesa sobre elas . Caso não o consiga surgirá na  civilização  correspondente  um  descontentamento duradouro que poderá conduzir a  rebeliões perigosas .

Mas quando uma civil não consegue evitar que  a satisfação de certo número de seus participantes tenha como premissa a  opressão de outros , talvez da maioria - e assim sucede em todas as  civilizações atuais - é compreensível que os   oprimidos desenvolvam uma intensa hostilidade contra a  civilização que eles mesmos  sustentam como o seu trabalho , mas  de cujos bens participam muito pouco ... Não é demais dizer que uma  cultura que deixa  insatisfeita e um núcleo tão considerável de seus partcipantes e os incita a  rebelião não pode durar muito tempo e nem tampouco o merece "  (Freud   O  futuro  de  uma  ilusão , p 325 ) .

Para pensarmos os  fenômenos atuais de intolerância , pode ser de grande valia nos debruçarmos um  pouco sobre  o conceito  da  "  realidade  "  desenvolvido por  Nicholas Abraham e  Maria Torok no livro   A casca e o núcleo , publicado na  França em  1977 e  traduzido em 1995 . O acordo com esses autores , a realidade é sempre  " a realidade a escamotear " (pág 237 ) :  " Realidade se define , portanto , e o que é recusado , mascarado , denegrido ,   enquanto - precisamente ,  " realidade  " , como o que é , já que ele não deve ser conhecido  ; numa palavra  , ela se define como um  segredo  . O conceito  metapsicológico , de  Realidade remete no  aparelho psíquico ao lugar em que o  segredo está escondido .

Revista  -   Conhecimento Prático  pág 50 e 51  SOCIEDADE 

Março / Abril  - 2015  -  Myriam  Chinalli é  psicanalista  , escritora  e  editora  de  livros  para  crianças e jovens .É co-autora a Coleção  Saber Viver , publicada em São Paulo ,pela Editora FTD

 






A cidade de Deus pelo olhar do seu criador e Nilópolis



O  começo  de  tudo

Quando  criança , o arquiteto Giuseppe Badolato viveu a experiência de habitar uma moradia pequena e improvisada . O pai, um mecânico italiano , veio para o  Brasil na década de 1940 , em busca de uma  vida melhor, e, sem dinheiro , alugou a garagem de uma  casa no  Grajaú . Numa  área de aproximadamente  18 metros  quadrados  , instalou a  residência onde a  família morou por uma década . A ideia que é  possível viver com dignidade num espaço pequeno acabou servindo de inspiração para futuros projetos de Giuseppe . O conceito foi usado nas  casas que ele e  sua equipe  desenharam quando foram convidados para planejar um  novo bairro no Rio a  Cidade de Deus .  

- Era a ideia da  casa evolutiva , chamada de embrião . Nada mais é do que você dar uma cédula mínima ,que,de acordo com as condições da família,tivesse condições de crescer com facilidade . Todos os  terrenos tinham o mesmo tamanho , 120 metros quadrados , para a construção de casas de 18 a 40 metros quadrados . Os imóveis eram agrupados em unidades quadra ,que tinham no meio duas quadras e ruas de pedestres , que as famílias tivessem acesso a  saneamento básico, vias pavimentadas e luz . O tamanho da cada um , eles poderiam ir aumentando aos poucos – conta Giuseppe.

A  Cidade de Deus era para ele e sua equipe a primeira grande oportunidade de fazer nascer de suas pranchetas um  bairro popular de qualidade . A descrição do  projeto caberia  perfeitamente num  empreendimento mobiliário de  classe média dos  dias de hoje  :  eram unidades de um ,dois a três quar tos , instaladas em quadras com  área de lazer , praças arborizadas , escolas , posto médico , farto comércio e um cinema . Nas esquinas ,casas de dois andares permitam instalação de pequenos bares e mercados no primeiro pavimento . Até hoje , Giuseppe fica  ressentido quando chamam o  lugar  de favela.

- A Cidade de Deus nasceu com a  filosofia de um bairro completo , o escoamento de água era  su-perficial , não alagava , todas as ruas eram pavimentadas . Em um projeto inovador , que deveria ser modelo , para um  grande programa habitacional .E não era só  urbanismo e arquitetura .Previa a  criação de  comunidades de autogestão e de um progressivo  crescimento social . A ideia era encami- nhar as pessoas que iam morar ali para  cursos profissionalizantes , preparar para o trabalho – diz que ele , que conta ter recebido a  missão de criar o  bairro de  Sandra Cavalcanti , secretária de Serviços Sociais da  Guanabara no Governo Carlos Lacerda .

COMUNIDADE  SUFOCADA 

Criado sobre um  terreno de aproximadamente 70 mil metros quadrados ,onde havia uma antiga fazenda , o desenho original previa a  construção de 3.053 habitações , além de equipamentos urbanos,divididos inicialmente,duas  “glebas “ . A primeira , delimitada pela Rua Edgard Werneck e pelo Rio Grande com 2.492 unidades ,e, a segunda ,na outra margem do mesmo Rio , com 561
casas . Construída pela  Companhia de  Habitação  Popular do  Estado da  Guanabara e  finan -
ciada pelo Banco Nacional de Habitação ,a Cidade de Deus terminou de ser implantada após o governo Negrão de Lima . Todo o projeto totalizava  990 mil metros quadrados com 5451 moradias , beneficiando cerca de 30 mil pessoas . 

- A terceira e quarta glebas surgiram depois.Na terceira, já na fase do Negrão de Lima, o conceito tinha mudado e queriam construir mais unidades em menos tempo. A solução foi fazer apartamentos.No quarto terreno,eu já não participei tanto.Ao longo dos anos foram ocupando as áreas em volta ,e, o que não ocuparam , foram deixando favelizar . A Cidade de Deus , que era um  bairro , foi sufocada , com uma porção de favelinhas em volta .Virou o que todos nós sabemos - lamenta o arquiteto,que antes esteve à  frente da construção dos  núcleos de  Vila Aliança , em Bangu ;  Vila Kennedy , em 

Senador Camará e Vila Esperança , em Vigário Geral. 

As obras da  Cidade de  Deus foram iniciadas em 1965 , com a construção de 1.500 casas no primeiro terreno , que deveriam ser concluídas no segundo semestre de 1966. Os moradores que receberiam as chaves , removidos de  favelas da Zona Sul pelo governo Carlos Lacerda , conta  Giuseppe , já haviam sido  entrevistados e  cadastrados por assistentes sociais. 

- Mas , em janeiro de 1966 , uma grande enchente mudou tudo . Milhares de desabrigados foram alojados em escolas , no estádio do  Maracanã e na Vila kennedy  -  recorda .

Nesta ocasião , 1.200 das 1.500 casas da primeira fase da  Cidade de Deus estavam em pé , mas ainda falatavam as obras de infraestrutura . Alguém deu a ideia de colocar os  desabrigados provisoriamente lá .

- E assim foi deito .O que era para ser provisório dura até hoje .A segunda gleba ainda nem tinha começado a ser feita , porque na época ainda estávamos vendo a construção de uma ponte que daria acesso ao local - critica o arquiteto.

Começava naquele momento dar  abrigo a todos , conta  Giuseppe , foram construídos banheiros coletivos e vagas de ocupação transitória,chamadas de unidades de triagem, que , em março de 1966 , permitiam a transferência das  famílias em condições muito precárias . As ligações de  água e esgoto e todas as obras de infraestrutura da primeirafase foram feitas com moradores já nas casas .

MAPAS  PRESERVADOS 

Aos 82 anos, Giuseppe olha os  mapas e plantas do passado e  tenta identificar o que foi invadido . Pelas suas contas , pelo menos  dez praças  foram tomadas por  barracos sem contar os  puxadinhos nos  prédios e as mais  muitas construções irrregulares que hoje mapeiam o rio e fizeram a  comunidade ultrapassa sua  área oriuginal .  Hoje , ao ver mais uma vez o  lugar no  noticiário policial , ele se recorda do  conceito do  programa . E não consegue conter a emoção.

Comecei a querer dar uma solução dar um alerta , quando vi o  filme Cidade de Deus . Eu chorei no cinema porque  o sonho era propor  às comunidades um grandioso plano para acabar com a questão do favelado e da  ocupação irregular . Dar  bairros dignos ,onde as pessoas pudessem  viver como em condomínios. Muito triste o que houve, por causa do abandono . Durante muitos , estado e prefeitura não assumiram a  Cidade de Deus de vez em quando .

Apesar da  desfiguração de seu projeto original ,Giuseppe ainda acredita na  recuperação ou urbanística do local.

- É preciso fazer uma avaliação arquitetônica, urbanística e social , para que seja possível , mesmo depois de 50 anos , reintegrar o lugar à cidade , restituindo as características originais de bairro -  idealiza ele , que guarda fotos e muitas  boas histórias do lugar .*

Fonte  - Jornal  O GLOBO  -  pág 31  - Design Rio

Domingo , 4.12.2006   - Simone Candida , Ludmila de Lima e Natália  Boere




Histórias  que  devem  ser  contadas 

DOCUMENTÁRIO

' Judeus  em  Nilópolis '  descortina  o  processo  de  colonização  polonesa  na  cidade  da  Baixada , após 1920

Autora  do livro Vivência judaica em  Nilópolis ( Imago ) , a polonesa Esther London, morta em 2007 aos  92 anos , é um dos  fios condutores do documentário  Judeus  em  Nilópolis ,do jornalista  tadamés Vieira , ainda sem data de lançamento . O vídeo conta a  história de 300  famílias  judias que se  estabeleceram no  município da  Baixada Fluminense a partir de  1920  . As famílias , incluindo  Esther  ( que foi  para lá  assim que se casou , com um polonês , no Brasil ) , mesmo passando por  sérias dificuldades financeiras , praticamente des bravaram o município , montando uma numerosa comunidade e até construindo uma  sinagoga , a Tiferet Israel , fechada desde 1970 . 

Um dos objetivos do documentário é chamar a atenção do poder público para a  necessidade da  preservação dessa  sinagoga . É um  prédio  histórico , completamente abandonado -  diz Vieira , orgulohoso de ter conseguido Esther a tempo .  -  Ela me  inspirou muito , tinha uma  memória fantástico . Falou a respeito da  chegada dos  judeus ao Brasil , das coisas que não existiam na  Polônia . E eles foram  responsáveis pelo  começo da urbanização do município .Filho de Esther , o engenheiro  Pedro London lembra , saudoso , da comunidade. 

- Lá se falavam  quatro  línguas : português ,  polonês , hebraico e iídiche . E havia detalhes singulares - recorda . - Hoje não há  judeus sapateiros ou mecânicos . Havia vários , até porque a  profissão de  sapateiro era  valorizada na  Polônia . E havia convivência entre  imigrantes judeus e árabes , que também viviam na região .

A  colonização em  Nilópolis ocorreu quando já havia vários judeus em locias centrais do  Rio a  Praça !  Também havia  judeus em bairros como  Madureira e Méier . Mas o município da  Baixada Fluminense tornou-se o epicentro dos  imigrantes . Boa parte deles vinha da  Polônia ,numa época em que a  Rússia czarista  perseguia a  população judaica . Eles se estabeleceram nos  arredores da  Avenida General Mena Barreto , no centro de  Nilópolis . 

- A Praça 11 já estava super lotada . E os  terrenos em Nilópolis eram baratos .Além disso ,pela linha férrea ,era o primeiro município - diz o diretor,que promoveu um encontro de ex- moradores  judeus da cidade ( alguns já morando em  Israel há de  décadas ) que começava com uma  viagem de trem . - Também lançamos em  português o livro  Novos Lares ,editado em  iídiche em 1932 por  Adolfo Kischinevisky,que mo-rava em  Nilópolis .O livro foi traduzido pela  Sara Morelenbaum ,mãe do (violoncelista ) Jaques Vieira, que não é  judeu , mas morava em  Nilópolis na época em que  a  cidade era  habitada  por muitos  judeus ,pôs-se a correr atrás de personagens .Entre telefonemas e  viagens  internacionais , reencontrou  amigos de infância , como  Chaim  Litewski , hoje jornalista em  Nova York , e descobriu que  pessoas conhecidas , como a  atriz Teresa Rachel e o secretário municipal de Saúde ; Jacob Kligernnan , são  judeus de Nilópolis .

- Com exceção de poucos  os judeus não têm relação com a cidade desde os anos 70      -  lembra Vieira .  -  Hoje ficaram só  a sinagoga e o cemitério comunal  Israelita  de  Nilópolis , construído em  1935 . Vieira , que teve apoio financeiro do Centro da  Cultura Judaica ( da Casa da Cultura de Israel ) , aguarda a  finalização do  documentário . Já foram gastos  R$ 100 mil na realização e falta R$ 50 mil terminá-lo . Ele crê que o filme pode servir para dirimir  lugares-comuns .

- Os judeus progrdiram , sim . Mas , no Brasil , tiveram toda uma  história de luta , que as pessoas não conhecem - conta. 

Fonte  -  Jornal  do  Brasil -  pág  B7  - Caderno  B 

Domingo , 7 de  setembro de 2008   - Ricardo Schott