terça-feira, 27 de setembro de 2022

A ARTE DE PLANTAR


Depois de desaparecer do Egito – onde nasceu o para a história , em forma de papel , há uns 3 mil anos – o papiro voltou recentemente para  as margens do Nilo ,  seu habitat de origem . A operação de resgate ,com mudas encontradas na Etiópia e Sudão , levou ao todo 15 anos de observações e testes com a planta , tendo sido comandada por Hassan Hagab , diretor do Instituto do Papiro do Cairo. 

As quatro únicas plantações de  papiro do  Egito pertencem atualmente a esse órgão , que está recuperando também a milenar técnica de fabricar papel com as hastes dessa esperácea .O processo se resume a cortar as hastes em tiras que ,depois de postas de molho para desprender o amido e açúcar que o papiro contém são secadas, prensadas e finalmente coladas para formar folhas . 

O papel natural dos faraós é considerado pelos especialistas egípcios superior em mui-pontos ao papel industrial de hoje em dia , em cuja fabricação entram muitos produtos químicos . Dizem os  técnicos do  instituto de  Hagab que o papiro tem  mais resistência mecânica , dá impressões sempre legíveis , não deixa que a tinta escorra para causar manchas e é ainda um excelente suporte para a pintura ou gravura podendo ser colorido com qualquer pigmento.

Como a taboa brasileira – que também pode dar papel ,pois fornece celulose de notável pureza ,mas é usada sobretudo em cestaria e esteiras – o papiro( Cyperus papyrus ) é uma planta palustre ( ou do brejo) e  aquática , desenvolvendo -se com  mais exuberância quando está na  beira da água . Coroadas por  tufos de  filamentos verdes  que caem  graciosamente todas as  hastes do  papiro , que vão de 2 a  3 metros , saem diretamente das raízes , um sistema rizomatico  tão forte e  ramificado quanto o das bananeiras . Nos dois casos ,o rizoma pode ser cortado como se parte de um bolo , e qualquer fatia - trazendo de preferência  uma haste e alguns brotos -  constitui uma muda  . Em terrenos encharcados ou diretamente na água  , a brotação do papiro , em  nosso clima , é quase sempre infalível.

O laguinho entre  São José e a  Nilo Peçanha - ali onde atualmente os pivetes se banham do calor da cidade - foi um dos que serviram no Rio para plantar papiro .Desse jeito ,a planta se desenvolve numa touceira ilhada , mas sua evolução quase não  conhece limites quando uma muda é colocada na margem de uma represa ou riacho . A nutrição fica então mais fácil e a  planta ainda ao mesmo tempo nos dois sentidos,com uma parte avançando pela água e outra a recuar para a terra .

Se bem não seja  típico de interiores ,o papiro é  resitente,e seu  cultivo pode ser plantado , por exemplo , em garrafões de grande diâmetro , cortados ao meio (em  vidraçaria ) e enchidos com um  fundo de areia , para assentar a muda , e o  resto de água . Em síntese , tenta-se reproduzir em casa o  laguinho de  São José , e aplicações espaçadas de fertilizante ou esterco, que talvez de chero mas é melhor , na certa ativarão o crescimemnto .

Como não tem propriamente folhas , e sim os tufos de filamentos do ápice , é  planta ideal , por outro lado , para entradas de edifícios e halls . E s tufos do papiro , depois que secam , duram anos e são  ornatos perfeitos , além de darem de darem  sugestões para fazer mil coisas . 

Mil e uma utilidades tinha o papiro no Egito . O corpo das hastes servia para fazer pe -quenas jangadas , e o miolo do pé das hastes , onde estão o amido e o açúcar ,servia de legume na mesa .Cordoalha , catres , enchimentos , assentos e até lamparinas , de tudo deu ao velho Egito a recuperada espécie faraônica ,multivalente , e no entanto simplíssima em seu desenho . Canelas verdes coroadas , o papiro , de fato , é a  imagem  do despojamento .

Planta  de  água  e  brejo , comum  nos  lagos urbanos  ,o  histórico  papiro volta para as  margens  do  Nilo  , sua  terra  de  origem . É uma  espécie  resistente  e  dá  muitas  mudas  . 

Fonte  -  Jornal   DO  BRASIL     pág 10   -  CASA 

Caderno  B   -  SOLANO  DE  CASTRO  


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