Para os Jovens é uma aula ao vivo . Para os mais velhos , uma recordação . É a saudade que nos faz retro-ceder no tempo e no espaço , para as conversas de nossas avós , de seus vizinhos , o tempo em que as ca-deiras ficavam nas calçadas para as infindáveis conversas de final de tarde . Bons tempos da São Paulo an-tiga , quando o sotaque misturado de várias raças ,era ainda mais acentuado . Sotaques que se confundiam entre o italiano e seus dialetos , o alemão , o português fácil de entender e o outro de menor entendimento falado pelos lusitanos da Ilha da Madeira ,do espanhol , do japonês ,dos árabes ,dos poloneses , e também dos austríacos , suíços , russos , húngaros , holandeses e tantos mais .
Época em que os bondes atravessavam céleres as ruas e avenidas ,cruzando a cidade e misturando povos e línguas de todos os lados do mundo . Pegava – se um bonde bonito , o Camarão , no Largo São José do Belém e vinha -se até o centro da cidade , no Largo do Paiçandu , trajeto que poderia ser feito também pelo ônibus amarelinho , o “ 60 – Água Rasa - Paiçandu “ , para se fazer compras no Mappin – Stores e na Clipper , tomar chá na Leiteria Campo Belo , tudo influenciado por cada um dos países que nos enviavam seus filhos , inclusive os ingleses , com sua sofisticação e sua fleuma .
Eram tempos de se passar pela Conselheiro Crispiniano só para ouvir e ver o soldado do Exército fazer a continência e bater fortemente os pés na madeira ,que ele deixava propositadamente incli- nada , para que o som fosse ainda mais alto . Comprar doces e salgados na Godinho ,da Líbero Badaró e comer esfiha engor-durada na Florêncio de Abreu , feitas por um árabe engraçado e falante.
Era a época em que cada uma das pátrias irmãs emprestavam seus filhos para tarefas específicas.O tintureiro era japonês . O padeiro era português . O italiano era peixeiro ( Olha o beecexe … - passava ele gritando ) , o judeu acudia às necessidades dos outros com alguns empréstimos de última hora . Mas tinha também a Valentina , russa loira e alta , que era parteira , como a mãe .O sr. Albert , alemão e dentista prático .Tinha o sr. Vicenzo ,gordo italiano do sul ,que passava boa parte do tempo em São Vicente , já que era rico dono do restaurante soltava um cheiro de comida boa , que abria a fome a qualquer hora . E eram tantos … o sr. Floriano , português distinto , de terno escuro , colete e chapéu , que esquecia com um negócio de secos e molhados ,em frente a Igreja do Brás ,mas morava no bairro do Belém , com a mulher e os onze filho. Tudo isso acontecia por São Paulo inteira e se pelo interior ,mas era na zona leste leste que se firmava mais a pre-sença de tantas raças que nos traziam ensinamentos ,amor e progresso , pois era ali no Brás , no Belém ,no Pari , na Moóca que se instalaram esses corajosos aventureiros , pela proximidade da Hospedaria dos Imi-grantes , por onde chegaram e que hoje temos a oportunidade de rever , visitar e recordar .
Ao visitá -lo ,o calendário volta os anos passados e vemos objetos ,vestes fotos e até velhos filmes picotados com seus velhos projetores .Para a memória olfativa vem até o cheiro gostoso do passado , da casa da avó materna , da avó paterna , dos bolinhos de chuva e das fartas mesas , sem-pre prontas a receber os netos gu-losos . Não sei se meus avós vieram por esse caminho , não sei se passaram pela Hospedaria , mas poderei consultar pelo nome no computador , onde você digita o sobrenome da família e descobre até o dia que che-garam . É a tecnologia moderna a serviço da saudade . Doce saudade … ( a.s.)
Fonte - Revista Cultural - pág 5 - ANO 1 – N º 4 - Agosto / 99 – Publicação Mensal da Secretaria do Governo do Estado de São Paulo - Registro de Nossas Origens
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