terça-feira, 17 de julho de 2018

JAVALIS SELVAGENS deixam a caverna



Ekkapol o técnico e ex-monge que manteve a 'galera' calma. 

Ekkapol Chantaong, 25 anos, treinador do time de futebol Moo Pa ( Javalis  Selvagens), foi o último do grupo a deixar a caverna ontem . Exausto e debilitado porque deu aos garotos sua parte de comida e água enquanto eles não eram encontrados, estava feliz pelos pupilos. Lá dentro, ele os ensinou a meditar e a conservar o máximo de energia possível até serem resgatados ontem. 

Segundo o jornal “The Washington Post“, Ekkapol ficou órfão aos dez anos e decidiu estudar para ser monge. Mas deixou o mosteiro para cuidar de sua avó doente no norte da Tailândia, onde dividiu seu tempo trabalhando como ajudante no templo de um mosteiro e treinando o então recém-criado time Moo Pa.

Ekkapol mantinha os meninos em um rígido cronograma de treinos, segundo os professores de Educação Física da escola onde treinavam. Isso incluía pedalar pelos morros ao redor de Mae Sai. No último dia 23 de junho, Ekkapol e os meninos desceram das bicicletas e entraram na caverna Tham Luang. Veio a chuva e ficaram todos presos. 

Fonte    -  Jornal  METRO      pág 08   MUNDO 
Rio de Janeiro , quarta-feira , 11 de julho de 2018 



COMO  O  FUTEBOL UNE  OU  SEPARA

Enquanto estamos vivendo dias da Copa Da Rússia, onde os olhos estão voltados para a competição de que seleção se sagrará a vencedora do torneio mais esperado no universo do futebol, vamos vendo acontecimentos que são respingos do esporte na nossa sociedade. No último domingo, pouco antes da partida entre Santa Cruza e Remo, pela série C do Campeonato Brasileiro, no estádio do Arruda, no centro do Recife, torcedores entraram em confronto a cerca de dois quilômetros de onde aconteceria o jogo, levando terror aos moradores da região. Três pessoas ficaram feridas – um deles com traumatismo craniano. 

A questão mais grave é que segundo investigação policial, tratava-se de um confronto esperado. Seria uma represália de um grupo de torcedores em função a outro ataque ocorrido anteriormente à torcida rival, em Belém (PA). Ainda que tivessem proibido a entrada da torcida paraense ao estádio, não conseguiram impedir o embate nas ruas. Ainda de acordo com a polícia, o problema é a coligação das torcidas organizadas, que tem provocado atos de violência e vandalismo em várias praças no país.

Pois bem , nesta terça-feira comemoramos o desfecho de um drama que durava 18 dias. Em uma caverna da Tailândia, 12 crianças e seu técnico unidos pelo futebol  - ficaram presos após o local ter sido inundado . Após três dias de uma delicada operação que envolveu profissionais e orações de todo mundo são cerca mil pessoas, entre tailandeses e estrangeiros, boa parte voluntariamente, os jovens corajosos dos Javalis Selvagens se saíram bem da operação. As comemorações pelo resgate serão marcadas no entanto, pela tristeza pela perda de um ex-mergulhador da Marinha tailandesa que morreu na sexta-feira durante uma missão de reabastecimento dentro da caverna. Sei que a proposta da coligação das torcidas organizadas, em teoria, é positiva. Mas se na prática isso não está ocorrendo , tem que coibir mais crimes desa natureza. Esportes devem ser exemplo para coisas boas. Tenho certeza que o caso da Tailândia foi bem sucedido, sobretudo, porque os Javalis Selvagens eram um time. E toda “torcida “ que estava unida por eles vestiu a camisa só. Se esse resgate foi feito na Tailândia, com tantas dificuldades e em meio a tantas adversidades, há muitos outros a serem feitos por aqui. E um deles é o da segurança. Há muito a ser feito. 

Fonte  - Jornal   -    DESTAK       pág     MEU  DESTAK 
11. 7 .2018                 RENATA  BATISTA   ( Editora do  DESTAK  Recife ) 

ZÓZIMO BULBUL



Ele  ganhou  projeção  com o sucesso   no  filme  Orfeu  do  Carnaval. A  preocupação  com  as  origens  e  a  cultura  negra  vieram  na  década  de  70. De  lá  para  cá, Zózimo  Bulbul  dedicou  a  carreira  ao  resgate  do  que  chama  de  africanidade  através  do  cinema  com  os  filmes  em  que  atuou  e  dirigiu, como  em  Ala  no  Olho, Terra  em  Transe  ( de Glauber  Rocha  ) e  as  Filhas  do  Vento  ( de  Joel  Zito  Araújo). Foi  o  primeiro  protagonista  negro  de  uma  novela  brasileira  e  manequim  de  uma  grife  de  renome.

Há  cinco  anos  criou  o  Centro  Afro  Carioca  de  Cinema,  local  destinado  a  exibir  filmes  de  diretores  africanos  e  afro-brasileiros,  além  de  ser   um  espaço   de encontro  e  reflexões  sobre  arte  do  cinema.  Para  2012  foram abertas  oficinas.

Aos  74  anos, Zózimo  Bulbul  fala  sobre  a  sua  carreira,  política, negros, os  desafios  e  trabalhos  para  o  próximo  ano.

Jornal  Copacabana: Esse ano você realizou o 5° Encontro de Cinema Negro Brasil África & Caribe, sendo o curador do evento. Obteve os resultados pretendidos com a ideia que teve desse encontro  ?

Zózimo Bulbul: O encontro foi criado para alavancar o cinema negro. Vem sendo uma expectativa  proveitosa.  Sinto que tenho essa resposta a cada ano.  Cada vez há mais interesse com o assunto.

Cada ano é uma surpresa, um desafio que peguei para a minha vida porque 70% dos brasileiros são afrodescendentes, miscigenados e afins, como digo! ( risos ). Mesmo assim, ainda se nega a cultura africana nesse país.

O cinema hoje é moderno, rápido, ele acontece ! 

Cheguei da África há pouco tempo e percebi que lá, o continente está se comunicando, se encontrando através do cinema. Com o projeto tento resgatar a “ africanidade “ dos brasileiros.

J.C.: Pretende  unir  os  negros  americanos  com a  participação  do  Caribe   ? 

Z.B.: Trouxe o  Caribe, também para o festival, porque nós, brasileiros, ficamos isolados da América Espanhola por causa da língua, eles interagem entre eles, precisamos estar nesse circuito também. Não podemos mais ficar isolados. Foi muito importante agregar o Caribe ao Festival.

J.C . : Quais serão as atividades do Centro Afro Carioca de Cinema no próximo ano  ? 

Z.B . : A casa existe há cinco anos e agora temos o certificado de Ponto de Cultura  por isso, no próximo ano estaremos para dar cursos de tudo ligado à cinema  não temos a definição  , mas estamos esperando como será.

J.C.  :  Você  marcou  época   como  ator  na  novela  Vidas  em  Conflito  ( 1969 ), quando  foi  par  romântico  de  Leila  Diniz.

Z.B. :  Nessa época  a TV Excelsior me chamou para o papel  e foi mesmo uma revolução ! (riso). Eu fazia um professor de vestibular e ela uma moça de família italiana tradicionalista. A novela saiu do ar porque, além dela começar a namorar um negro, um absurdo naquela época, ela ficava grávida, mesmo sem nenhum beijo.  Coisas  da  ditadura.

J.C . : Além de protagonista, você foi o primeiro manequim negro de uma grande grife brasileira?

Z.B. : Nessa época da novela, aproveitando o gancho de protagonista  fui chamado pelo Dener para desfilar a marca dele. Fui capa de revista, foi um sucesso!  Só que eu queria mais do que ser apenas um rostinho bonito, minha base foi no Centro Popular  de Cultura da UNE  , nos anos 60. Não me conformaria em ser um ator vazio.

J.C. : Você  sempre  foi  engajado  nas  causas  políticas  e  negras, né  ?

Z.B. : Desde 1970  , ano que o Brasil estava em ebulição  , tinha acabado de acontecer o AI5 (Ato Institucional n° 5, em 1968 ) nós brigávamos contra os militares.

J.C . : Politicamente, hoje, o  que  falta  ao  negro  ?

Z.B . : Está muito difícil escolher um partido. Discuto sempre sobre a negritude. Acho necessário que haja respeito ao contingente africano que veio construir e dignificar o país. Precisamos ser respeitados  como os brancos são. É importante que haja incentivos para que o negro possa conhecer a África de alguma forma, nem que seja através do cinema, para que haja esse resgate cultural, para que conheça a sua cultura.

J. C . : Como  a  juventude  de  hoje  pode  ajudar  nesse  resgate  da  “ africanidade “  através  do  cinema  ? 

Z. B . : Jovens  , negros e  brancos que quiserem podem estimular as pessoas a assistirem os filmes negros, que representa a cultura negra na telona. Seria fantástico ver novamente os Cineclubes ( que estimulavam os participantes a verem, discutirem e refletirem sobre o cinema  ). Hoje, com essas TVs de Led... “ Aquilo “é quase uma tela  ! ( risos ) . Coloca a tv na esquina, chama as pessoas e faz acontecer o encontro de cultura. Já para fazer cinema, realmente é mais difícil, faltam incentivos e é muito importante buscar conhecimento. Uma dica: mais importante do que a imagem que via passar na telona é o a história escrita. Leia bastante e aí escreva antes de fazer cinema. Escreva a história, o cinema vem depois  !

J . C . : Vamos  falar  de  Copacabana. Qual  a sua relação com  o  bairro  ? 

Z. B . : Sou morador de Botafogo e tive uma ligação quando servi no Forte  de  Copacabana. 
Sei que vou cair no lugar comum , mas Copacabana é a Princesinha do Mar... É charmosa... Todo estrangeiro que vem aqui, levo para conhecer a orla de Copacabana.

J . C . : E  com  relação  aos  cinemas  do  bairro  ?

Z . B . : Primeiro vou registrar que amo o filme Copacabana Me Engana, Antônio Carlos da Fontoura  , é  uma linda obra ! Sobre os cinemas, O Metro Copacabana era uma charme. Era um bairro com muitos cinemas, lamento que o número tenha sido tão  reduzido, mas comemoro o retorno do Joia ! Se eu pudesse resgataria os cinemas do bairro! Não só de Copacabana, mas de todos que vem perdendo as salas ao longo dos anos.

J . C . : Deixe  seu  recado  para  os  leitores do  Jornal  de  Copacabana  ? 

Z. B . : Adoro a população residente de Copacabana e respeito muito, até pela persistência em continuar morando no bairro, já que a moda agora é ir para a Barra. Sigam   assim,  orgulhosos  de  Copacabana   ! 

Fonte  -    Jornal  COPACABANA     pág  19 
FALA  VIZINHO    -    Por  Renata  Moreira  Lima  

A  abolição  do  gueto 

“Morro  de  fome,  mas  não  faço  motorista  de  madame“ ,  sustentava o ator Zózimo Bulbul, em meados dos anos 70. Negro  , não conseguia ganhar papel de protagonista no cinema. Ouviu até que era “bonito demais “ para interpretar bandido. Assim teve início a carreira do cineasta, que acabou fazendo os próprios filmes. Aos 70 anos  , orgulha-se de poder apresentar  - apesar do atraso de duas décadas – Abolição, que fez em 1988, um documentário em que entrevista personalidades que atuam em favor da questão racial. Premiado em Havana e Nova York, só hoje estreia oficialmente  no país. As condições não mudariam muito: para conseguir exibi-lo no Brasil teve de montar o próprio festival. - Festival não, encontro  - corrige, numa fala mansa entremeada por longas pausas, na sala de cinema recém – inaugurada para o I Encontro de Cinema Negro Brasil-África, em cartaz até quarta-feira  , em diversos espaços do Centro. – É impressionante que, 120 anos depois da dita Lei Áurea, só agora aconteça o primeiro encontro de cinema negro no Brasil.

A ideia surgiu depois que Zózimo participou de evento semelhante em Toulouse  , na França  , em março  . 

- A cidade só falava em cinema africano, no bar, nos debates, nas tendas. Eu pensei: tenho que levar isso para o Brasil  - conta.

Zózimo é mais conhecido no exterior do que no Brasil – conta, apesar de ter participado de ícones da cinematografia nacional, como Terra em transe ( 1967 ), de Glauber Rocha, do episódio de Leon Hirszman em Cinco vezes favelas ( 1962 ) , Ganga  Zumba ( 1964 ), de Carlos Diegues  , e , mais recentemente  ,  Filhas do vento  , de Joel Zito Araújo

Uma história do inícios dos anos 70 pode explicar o porquê: um dia saía de seu apartamento, uma cobertura na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, para ir à praia, quando “tomou uma dura “ de dois policiais militares. “Mora aonde  , crioulo ? Tá fazendo o que aqui ? “ perguntaram. Quando apontou a cobertura em que morava com a cineasta e artista plástica Vera Figueiredo, foi preso por desacato.

- Já melhorou  , mas ainda há muito preconceito no Brasil.- atesta .

Para tentar abrir à força o mercado e a plateia para africanos e afro-descendentesZózimo convidou para o encontro cineastas do porte de Antônio Pitanga  , Antonio Pompeo, Joel Zito Araújo, entre os brasileiros; Abderrahme Sisako, da Mauritânia; Olá Balogun, da Nigéria  ; Zezé Gamboa, de Angola; e Newton Aduaka, da Nigéria

Jorge da Silva – Zózimo é um apelido de infância e Bulbul significa rouxinol em javanês, explica  - cospe fogo quando perguntado se a iniciativa não pode ser interpretada como uma segmentação ainda mais evidente da questão racial.

- Não é possível que 90% dos cineastas da Bahia sejam brancos! Onde estão os cineastas negros ? – indigna-se ele  , que se tornou um estudioso da causa  , depois de tratá-la com paixão nos filmes Almas no olho ( 1974 ) e Dia de alforria ( 1980 ) , que serão exibidos na mostra.

E não economiza críticas na luta por um cinema que liberte o negro das amarras da “periferia“.

- De Cidade de Deus não gostei nem um pouco, este Tropa de elite ainda não vi, mas gosto do diretor, José Padilha. Se eu tiver de escolher um filme que traga esperança em relação ao cinema brasileiro, escolho Ônibus 174.

Serão exibidos títulos em diversos horários no Centro Afro Carioca de Cinema, na Rua Joaquim Silva , 40 , na Lapa; no Odeon BR e no Centro Cultural de Justiça Federal, na Cinelândia ; no Centro Cultural da Caixa  , no Largo da Carioca  , e numa imensa tenda com uma tela nos Arcos da Lapa  . O evento homenageia Osmane Sambene, pioneiro do cinema africano, morto no ano passado, com a exibição do seu último longa, Mooladé.

Fonte   -      JORNAL  DO  BRASIL   pág  B 1 
Sábado  , 24/11/2007    - Mariana  Figueiras  

IVONE LARA MÚSICA



Dona  de  uma  rica  trajetória  que se confunde  com a  história  do  samba,  a cantora  e  compositora  tornou-se,  por  mérito, estrela  das   celebrações   do  gênero.

Garantido em qualquer lista séria dos melhores sambas enredo de todos os tempos.  Os Cinco Bailes da História do Rio embalou o desfile do Império Serrano no Carnaval de 1965Silas de Oliveira ( 1916-1972 ) dividiu a autoria do clássico com o amigo Bacalhau e uma pioneira: ao entrar na parceria, Dona Ivone Lara notabilizou-se como a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola da elite do Carnaval – e a primeira a emplacar um samba na avenida. Essa é uma das muitas proezas acumuladas pela cantora e compositora. Filha de João, violeiro amador, e de Emerentina, cantora do rancho flor de Abacate. Yvonne ( o Y e o N dobrado posteriormente sumiram do nome artístico ) perdeu o pai aos 2 anos e a mãe aos 16.  Não teve vida fácil, portanto.

Em seus tempos de internato, na escola Orsina da Fonseca, a jovem órfã passava os fins de semana  na casa do tio Dionísio. A música então atacava em duas frentes. No coro das alunas  , o registro de contrato da menina chamou a atenção da professora Lucília Guimarães, mulher do maestro Heitor Villa-Lobos. Em Inhaúma, no quintal do tio, a diversão vinha de rodas animadas por bambas como Pixinguinha e Jacob do Bandolim . Entre o orfeão do mestre Villa e os festejos do fim de semana, venceu o samba. À vontade no ambiente masculino dos compositores de quadras e terreiros, Dona Ivone Lara saiu-se melhor do que muito marmanjo, mesmo desdobrando-se em tripla jornada. Por décadas, ela dividiu a música com as tarefas de  dona de casa – mulher do ciumento Oscar, mãe de Odir e Alfredo - e o trabalho de carteira assinada. 

A enfermeira e assistente social Ivone atendeu pacientes ao lado do psiquiatra Nise da Silveira na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. “Ela era uma pessoa boa . Seus ensinamentos me orientaram até hoje“, contou. Em 1977 , após 37 anos , aposentou-se . Na segunda metade dos anos 70, já havia gravado em coletâneas e conquistado prestígio como compositora. Músicas com seu maior parceiro, Delcio Carvalho ( 1939-2013) , estouraram em discos de nomes como Beth Carvalho, Clara Nunes e Roberto Ribeiro, Sonho Meu, famosa criação da dupla, entrou no repertório  Álibi (1978 ), o primeiro LP de Maria Bethânia a ultrapassar a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Em 1978, aos 56 anos, aposentada e viúva, Ivone Lara gravou seu primeiro disco solo, Samba , Minha Verdade , Samba , Minha Raiz. O resto é história, uma bela história, muito apropriadamente comemorada junto ao centenário do samba. Na cadeira de rodas, companhia constante, a artista esteve em Brasília em 7 de novembro para receber a Ordem do Mérito Cultural em rara cerimônia descontraída realizada neste ano no Palácio do Planalto. Na última terça, 6 , foi aplaudida de pé no anúncio dos Cariocas do Ano celebrados por VEJA RIO. “Gosto de festa desde criança" ela diz. Sobre seu pioneirismo e seu talento , desconversa . “Não penso nisso , não . Eu tive vontade , quis fazer , fui lá e fiz“. Não tem meu pé me dói: o samba é mulher e se chama Ivone Lara.

Revista   -    VEJA  RIO       pág  46
14  de  dezembro , 2016        - Pedro  Tinoco 

AFASTA DE MIM ESSE BACON




É preocupante: os maus hábitos alimentaras fazem com que a taxa de obesidade no Brasil suba 60% em uma década – e o problema já atinge 25 milhões de adultos 

NOS  ESTADOS  UNIDOS, onde uma em cada três pessoas está muito acima do peso, a obesidade é um seríssimo problema de saúde pública. Todos os anos gastam se 147 bilhões de dólares no tratamento de doenças derivadas da má alimentação e do sedentarismo. O Brasil, infelizmente, vai pelo mesmo caminho. Na semana passada, o Ministério da Saúde revelou os dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico  ( Vigitel ) o mais amplo levantamento já realizado no país sobre os hábitos de vida e sua relação com o sobrepeso e as enfermidades. O resultado é preocupante: a taxa de obesidade subiu 60% em apenas dez anos há hoje 25 milhões de adultos obesos. É muito, e não deve parar por aí. “O número tende a crescer “, diz o endocrinologista  Márcio Mancini, chefe do departamento de obesidade do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologista e Metabologia  ( SBEM ): “Trata-se de uma doença progressiva que se expande na ausência de políticas públicas de prevenção“.

A obesidade é uma condição extrema de sobrepeso e nada tem a ver com aquelas gordurinhas a mais – que, aliás, também não são sadias. Define-se como  obesa a pessoa de massa corporal  ( IMC ) acima de 30. Um IMC entre 25 e 30 indica excesso de peso, acima do saudável mas ainda tolerável. A obesidade é complexa, resultado da combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais, alimentados e multiplicados por um modo de vida desregrado com que a alimentação ruim é a tônica.

Come-se muito mal no Brasil. O estudo divulgado revelou que apenas 35% dos adultos consomem frutas e hortaliças ao menos cinco vezes por semana e 17% exageram na ingestão de refrigerantes ou sucos artificiais. Ambas as taxas estão longe das metas estipuladas pelas autoridades para os próximos anos. Até 2019 a ideia é aumentar o consumo de frutas e hortaliças em 18% e reduzir o de refrigerantes e sucos articiais em 30 % . Há hoje, no país , a prevalência de diabetes ( 9% da população) e hipertensão arterial (26%), frutos indesejados do prato malfeito. Num mundo ideal em que não existissem pessoas obesas, o índice de diabetes seria 70% menor, e o de hipertensão  , 30%. E, no entanto , como o brasileiro está longe de respeitar o bom senso à mesa, os males explodem. A ingestão de um cachorro-quente ou de seis pedaços de  bacon por dia, dois alimentos muito apreciados corresponde a aumentar 18% o risco de tumores no intestino.

O drama da obesidade é inflado pela ausência de precaução - e, quanto maior o número de células de gordura , mais difícil é o tratamento. Os medicamentos reduzem, em média, apenas 10% do peso corporal. Ou seja, o impacto sobre os muitos quilos a mais é pequeno. Há a opção de cirurgia bariátrica, capaz de cortar até 50% do peso logo nos primeiros meses, mas é um método altamente invasivo. Além disso, ela fracassa em 10% dos casos, culminando na recuperação do peso eliminado. O melhor remédio, portanto, é a prevenção, que deve começar ainda na infância. Isso porque a quantidade de células de gordura ao organismo já não diminui depois dos 20 anos. Quando uma pessoa emagrece , as células de gordura apenas perdem volume, mas continuam lá. Pior: anualmente, 10% das células adiposas são renovadas. E as novas têm uma incrível propensão para aumentar de tamanho. Eis aí a explicação do fenômeno da sanfona corporal, o da recuperação dos quilos eliminados depois de um período de privações. Com tudo isso, o Brasil precisa , com urgência dedicar mais atenção à obesidade. 

Fonte   -  Revista Veja págs 84 e 85 
28 de Abril , 2017  NATALIA  CULMINALE 

A obesidade infantil vem crescendo






No entanto, a boa notícia é que a obesidade pode ser evitada dentro de casa se pais e mães evitarem erros comuns na alimentação do dia a dia e que favorecem o desenvolvimento da doença nas crianças. 

A falta de atividade física , bem como as brincadeiras – atualmente mais sedentárias  - e a preferência por tablets e vídeo games são alguns dos motivos. Além disso, há uma preocupação maior com a violência na rua e a exposição da criança às quantidades excessivas de alimentos hipercalóricos. Tudo isso isso colabora e muito com a epidemia da obesidade infantil“, afirma Lenycia. 

Erros alimentares  que  estimulam  a  obesidade 

Comer na frente da TV, sem uma boa mastigação, engolir compulsivamente ou compensar sentimentos com alimentos hipercalóricos ( com a típica frase dos pais e mães ) “se comer tudo ganha sobremesa“ são alguns comportamentos inadequados que impedem o cérebro de trabalhar com a sensação de estar ou não saciado.

Fonte   - Jornal  DA  MULHER    -   pág  12  -  Que  o  homem também  lê
São Paulo , maio  de 2015   -   Curiosidades
Lenycia  Neri   - Nutricionista  do  Instituto das Crianças do Hosp. Das Clínicas 



Os  riscos  do  sobrepeso

OBESIDADE  É  O  ACÚMULO  DE  GORDURA  DO  CORPO  CAUSADO  QUASE  SEMPRE  POR  UM  CONSUMO  DE  ENERGIA  NA  ALIMENTAÇÃO SUPERIOR  AO  GASTO  CORRESPONDENTE. EM ADULTOS  OU  CRIANÇAS, ELA  TRAZ  PROBLEMAS   À  SAÚDE.  CONHEÇA  ALGUMAS  PECULIARIDADES  SOBRE  O  ASSUNTO.

QUAL  GORDURA  É  MAIS  PREJUDICIAL  À  SAÚDE  ?

A gordura corporal é acumulada em duas regiões: no tecido adiposo ( logo abaixo da pele ) e nas camadas mais profundas. Nessa última fica a chamada gordura visceral – considerada a pior, pois produz uma série de substâncias que impedem a ação da insulina afetando o funcionamento de órgãos importantes como fígado, pâncreas e rins.

Esse bloqueio propicia a síndrome de resistência insulínica, ou síndrome metabólica, que pode vir a desenvolver o diabetes  2, diminuir o colesterol bom e causar hipertensão arterial. “Os quatro fatores, juntos ou isolados, favorecem o aparecimento de doenças cardiovasculares“, resume o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Ao perder os quilinhos que estavam sobrando, a primeira gordura que vai embora é a visceral, reduzindo assim da circunferência do corpo. Ingerir menos calorias e aumentar o gasto calórico em atividades físicas é a fórmula nada secreta e muito eficiente. E não adianta só eliminar, é preciso manter depois. “Para cada quilo que você perde, reduz um centímetro no abdômen“, calcula Salles .


QUAIS  OS  RISCOS  DO  SOBREPESO  EM  UMA  CRIANÇA  ?

A obesidade infantil vem crescendo muito no Brasil. Dados divulgados pelo IBGE  apontam que hoje 30% dos baixinhos têm sobrepeso e metade é obesa. "O parâmetro da circunferência abdominal não é usado para crianças, porque ainda não está estabelecido o valor de normalidade", destaca Salles. 

Os pais precisam ficar atentos aos sinais de alerta. "Se a criança é gordinha e tem pressão alta ou apresenta aumento de triglicérides, é hora de procurar o médico", avisa o profissional. O excesso de peso pode causar transtornos alimentares, depressão, hipertensão, colesterol e enfermidades cardiovasculares e diabetes .

Os pequenos precisam aprender desde cedo a cultivar hábitos saudáveis, com refeições equilibradas, priorizando o colorido no prato: verduras, legumes, grãos e frutas. Movimentar todos os músculos - e não só os braços na frente da televisão ou do videogame - , além de ser fundamental para perder peso e, posteriormente, manter a boa forma, pode ser muito divertido. A dica é encontrar um esporte ou atividade que eles sintam prazer em praticar ! 

Fonte   -  Revista   VIDA  SAUDÁVEL &  DIABETES    pág  25 
Ano  2017   -  Saúde  em  foco 

Para quais cargos IREMOS VOTAR?



Fé  e  Política 

O  REGIME  democrático do Brasil se organiza com a separação de três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, que atuam em campos complementares para o bem da nação toda.

Nesse sistema político, todos os membros do Executivo e Legislativo são escolhidos por voto direto dos cidadãos, enquanto o Judiciário tem seus membros escolhidos por concurso ou por nomeação.

Em outubro, dia 07, iremos escolher os membros do Legislativo e do Executivo nos níveis estadual (deputados estaduais e governador) e federal (deputados federais, senadores e presidente da República). Para nível municipal só em 2020 iremos às urnas, ocasião em que escolheremos prefeitos e vereadores para as nossas cidades. 

Quem são  os  membros  do  Poder  Legislativo  ? 

O Poder Legislativo Federal é bicameral, ou seja, representado por duas Casas Legislativas: Senado Federal ( formado pelos 81 senadores eleitos ) e a Câmara dos Deputados (  formada por 513 deputados ). Juntas elas constituem o Congresso Nacional. Nos Estados, o Poder Legislativo é representado pelas Assembleias Legislativas formadas pelos deputados estaduais eleitos. No Distrito Federal, chama-se Câmara Legislativa. 

Por  quanto  tempo  senadores  e  deputados ficam  no  cargo  ? 

Os senadores têm mandato de oito anos. O Senado se renova em duas fases. Numa eleição é eleito 1/3 dos senadores e dali a quatro anos os outros 2/3 da Casa são renovados. Os deputados, por sua vez, têm mandato de quatro anos. Porém, ambos os cargos, bem como governadores e presidente, podem reeleger-se por mais um ou dois mandatos sem deixar o cargo.

Qual  o  papel  do  Poder  Legislativo  ? 

A função principal é elaborar leis por meio da apresentação de projetos de lei, moções, emendas, rejeição de projetos do Executivo; o Poder Legislativo tem ainda funções administrativas e fiscalizadoras.

A função fiscalizadora controla os atos do Poder Executivo e de toda a administração pública por meio da apresentação de requerimentos de informação sobre a administração, criação de Comissões Parlamentares e Inquérito para apuração de fato determinado, realização de vistorias nos órgãos públicos, convocação de autoridades para depor e prestar esclarecimentos.

A função administrativa destina-se à organização dos seus serviços internos, tais como composição da Mesa Diretora, constituição das comissões, bancadas partidárias etc. 

O Poder Legislativo também exerce algumas funções parecidas com o Poder Judiciário, quando processa e julga o chefe do Poder Executivo ou seus representantes em crime de responsabilidade. A pena a esses agentes políticos pode ser até mesmo de impeachment, que é a perda do mandato com o afastamento do cargo. 

E  o  Executivo  ? 

O Poder Executivo tem a função de executar as leis já existentes e implementar novas. O presidente também é responsável por exercer a direção da administração federal, manter relações e negócios com países estrangeiros, decretar estado de defesa e estado de sítio, enviar ao Congresso os planos de governo e planos de investimento, prestar contas do exercício do seu cargo, comandar as forças armadas, bem como nomear seus comandantes, entre as atribuições. O presidente é assessorado pelo Conselho da República e pelo Conselho da Defesa Nacional. 

No plano estadual, o Poder Executivo é exercido pelo governador, em seus impedimentos e pelo vice-governador, e auxiliado pelos secretários de Estado. 

Já no plano municipal, é exercido pelo prefeito, substituído em seus impedimentos pelo vice-prefeito e auxiliado pelos secretários municipais.

Importante é lembrar que o Poder do Legislativo e do Executivo emana do povo que exerce este poder através do voto. Anular o voto, ou vendê-lo, é jogar o próprio poder no lixo. Lembremo-nos que voto não tem preço: tem  consequência

Revista  -  O  MÍLITE      pág 41  Ano  2014
 DOM  FLÁVIO  GIOVENALE  , SDB 
Bispio  da  Diocese  de  Santarém  - PA 

  

Você  Sabia   ?

Votos   nulos  e  brancos   não anulam  o  pleito 

Há um mito em que se acredita que o voto nulo e o branco podem anular uma eleição , bem como podem beneficiar, de alguma forma, um ou outro candidato, interferindo no Quociente Eleitoral e Partidário. Isso não acontece. Voto válido é aquele dado diretamente a um determinado candidato ou a um partido ( voto da legenda ). Apenas os votos válidos contam para a aferição do resultado de uma eleição. 

Se mais da metade do resultado for de votos brancos ou nulos, o pleito não será cancelado e a apuração será feita com base no restante dos votos. 

O secretário judiciário Fábio Moreira Lima explica: “Se mais de cinquenta por cento dos eleitores, abrirem mão do seu voto, na verdade o eleitor estará abrindo mão de participar do processo eleitoral, mas o processo eleitoral irá acontecer quanto mais abstenções nesse sentido tivermos, teremos uma quantidade menor de pessoas decidindo o destino de todos“.

A aferição do resultado de uma eleição está prevista na Constituição Federal de 1988 que diz, em seu art. 77 , parágrafo 2º, que é eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos válidos ( somente ), excluídos os brancos e os nulos.

VOTO  EM  BRANCO : O voto em branco é aquele em que o eleitor não manifesta preferência por nenhum dos candidatos e é contabilizado ao apertar a tecla “Branco” e confirmar. O ato é considerado uma manifestação consciente do eleitor que não tem interesse em participar do processo eleitoral, que não deseja dar apoio político a nenhum candidato que está disputando a eleição. 

Depois da Lei das Eleições ( Lei n° 9.504/97 ) , os votos brancos deixaram de ser parte dos cálculos eleitorais para definição das eleições proporcionais, consequentemente passando a ter a mesma destinação do voto nulo. São contados, somente, para fins estatísticos.

VOTO  NULO: Já o voto nulo acontece quando o eleitor digita na urna eletrônica um número que não é correspondente a nenhum candidato ou partido político. O voto nulo é considerado fruto de um erro na digitação. Os votos nulos não são considerados válidos desde o Código Eleitoral ( Lei n ° 4.737 /65 ) QUE PRESCREVE : "Art .224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 ( vinte ) a (quarenta ) dias."

A nulidade prevista no artigo citado é aquela decorrente das causas elencadas nos artigos 220 e 221 do Código Eleitoral em que ocorre fraude, coação, utilização de falsa identidade, entre outros. Assim, supondo que mais da metade dos votos de uma determinada eleição foram realizadas com identidade falsa, nesse caso, os votos seriam anuláveis e o Tribunal Regional Eleitoral deveria marcar outra eleição.

Fonte  Tribunal  Regional  Eleitoral  

Revista  - Bairro do  Peixoto -Rio de Janeiro pág 15 

“Ouviram do Ipiranga“… Quem ouviu?

Autores do hino:
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva


Quando começa a cantar o Hino Nacional, você já parou para pensar nas nas três primeiras palavras dessa canção patriótica? Afinal, a quem se refere a frase “ouviram do Ipiranga“

Durante muito tempo, houve quem defendesse a tese de que a flexão verbal “ouviram“ indicava uma indeterminação, ou seja, não se nomeava o agente da ação verbal. 

Como se fosse: “Disseram que ela não vem hoje.“ Repare que não se explica a que pessoa ou pessoas o disseram refere. Igualmente: “Tocaram a campainha.“ Depois é que se vai ver quem fez a campainha soar. 

Esse conceito, aplicado ao Hino, resultava nesta estrutura vocabular: “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas …" Isto é , não se explicava quem, ouviu alguma coisa “às margens plácidas do Ipiranga “, à beira do riacho. 

As interpretações mais recentes, porém, transformam “as margens plácidas do Ipiranga“ no sujeito da oração, no termo a que o verbo se refere. Colocando-se as palavras iniciais do hino na ordem direta, fica: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico…“ 

Esse uso da ordem indireta era comum no começo do século passado, quando Joaquim Osório Duque Estrada criou os versos depois oficializados como a letra do Hino. Não se pode negar , no entanto, que esse deslocamento das palavras da sua posição real em muitos casos dificulta o entendimento do sentido das frases. 

Veja um exemplo: “Do que a Terra mais garrida teus risonhos , lindos campos têm mais flores . " Na ordem direta, a frase torna-se bem mais clara: Teus risonhos , lindos campos têm mais flores do que a terra mais garrida". 

É conveniente também compreender o que se canta. Por isso, você sabe o que é uma terra garrida? É uma terra que tem graça, que atrai a atenção.  E o impávido colossoÉ um colosso destemido. Mas o que ressalta no Hino é o grande número de palavras ligadas à noção de brilho de magnificência, como fúlgidos, resplandece, vívido, florão, fulguras, etc. Bem de acordo com a ideia de esplendor comum na época. 

Fonte  - Jornal  O  ESTADO  DE  SÃO PAULO   -    pág P7 
Sábado, 4 de setembro de 2004    -  em palavra  - Estadinho 
Eduardo   Martins  é  jornalista , autor  Manual  de  Redação  e  Estilo de  Resumo
de uma  série  de  seis  Resumos  língua  portuguesa 

OS HOMENS PÚBLICOS E O CARÁTER NACIONAL



O caráter faz com quem o homem o verdadeiro sentido da vida, compreendendo que o luxo, a riqueza material, a vaidade, a inveja, o ódio , a corrupção e o vício , guardam estreita relação entre si . A covardia moral se manifesta através do homem fraco, debilitando-lhe o trabalho. Os desonestos  , os bajuladores , ao falsos , os mentirosos , procuram o poder – seja ele qual for - para alcançar satisfação própria. Não contentes em bajular os ricos, agora se voltaram para adular os pobres, procurando alcançar, por todos os meios, fins estritamente pessoais, desconsiderando a verdadeira construção social e a dignidade humana. O povo, transformado em massa de manobra, crê que exerce poder político – porém, não faz juízo crítico de que simplesmente segue condutores sem escrúpulos. Os políticos, completamente sem prontidão, descaracterizados pelos desvios de comportamento, governados pelo medo de perder o poder, passaram a acariciar a incompetência e a promover-lhe elogios. Mesmo sabendo que corrompem o caráter nacional, fingem ouvir as aspirações do povo, fazendo-lhe discursos para agradar. O fim é sempre obter favores. Preferem mostrar-se injustos, sem princípios, a serem impopulares. São heróis medíocres. O homem de caráter mantém o domínio de sua vontade em tudo o que faz, procurando educar por exemplo. Tentando se justo, é resoluto e magnânimo. Sabe que liberdade é a conquista de todos. Exerce a autoridade sem autoritarismo, tendo consciência de que somente se constrói a Nação pelo trabalho digno e diário de cada cidadão. Conclamo os homens decentes, cônscios de suas responsabilidades, a vencer o desânimo. E que moralizem toda a sua força , seu valor , seu conhecimento  , sua certeza de que o bem vence o mal, para nadarem contra a corrente – pois quem flutua sem reagir à peixe morto. A consciência da dignidade humana não permite condescendência servil em troca de popularidade. É lastimável que nos últimos tempos tenha crescido na Nação a tendência ao rebaixamento moral, à falta de ética , ao aviltamento de caráter dos chamados homens públicos. As consciências ficaram mais elásticas e todos se julgam salvadores da Pátria, prontos a ocupar os altos cargos do Estado. São homens vaidosos que não sabem o quanto se endividam espiritualmente pela má administração da coisa pública. Têm uma opinião para os comícios e outra para o desempenho do cargo. Os interesses individuais e dos partidos públicos promovem casuísmos, tornando-se maiores do que a pessoa humana. Já não se atacam as ideias e os atos, mas os homens. A mentira, a falta de ética, a incompetência e a hipocrisia  , desgraçadamente  , não aprecem mais como elementos vergonhosos  , indignos de se arrogar o homem público. A popularidade, como é obtida nestes dias, não é , de maneira nenhuma , presunção positiva em favor daquele que a consegue, tamanho é o descaso e a ausência de prontidão para o exercício do serviço à Pátria. A procura perseverante da verdade torna verdadeiro o homem. Portanto, o homem de caráter é aquele que tem a coragem moral de afirmar a verdade , mesmo que isso o deixe impopular. A coragem, unida à energia, à fé em Deus e à permanência do bem, triunfa sobre os obstáculos, aparentemente invencíveis. Caros irmãos, esta mensagem não deve representar desesperança, mas estímulo para uma vida absolutamente voltada ao serviço ao próximo e à dignidade humana. Democracia não é uma obstrução nem tampouco simples definição apresentada pela ciência política. Democracia é ação consciente de cidadãos que constroem o cotidiano e o futuro, com responsabilidade. 

Folheto do Centro  Espírita  Dr. Leocádio  José  Correia 
Ano  2017 


Quem  somos  mesmo ? 

UMA CONHECIDA ANEDOTA CONTA QUE, ao criar o Brasil, Deus caprichou: praias belíssimas, terra fértil, água abundante, paisagens de tirar o fôlego, vegetação esplendorosa, clima ameno... Sentindo-se injustiçados, os outros países logo protestaram e se queixaram a Deus, que lhes respondeu :
- Calma , esperem só para ver o povinho que eu vou colocar lá ! 

A anedota desnuda uma das mais significativas representações da nação brasileira, presente tanto nas ideias, nos sentimentos e na imaginação populares quanto nas produções e nos círculos de intelectuais, artistas e profissionais da mídia. O núcleo dessa representação reside na separação de uma lado, "a terra boa", o belo país "abençoado por Deus e bonito por natureza" cantado por por Jorge Benjor, de que nós brasileiros, tanto nos orgulhamos, e, de outro lado , "o povo ruim" , a gente brasileira que não está à altura da beleza e da fertilidade do país. A "ruindade" do povo ( ou seja , a "ruindade" de cada um de nós ), dependendo de quem fala, de quando fala e para quem fala, é explicada pela mistura ou degeneração das raças, pela preguiça, corrupção, presença de degredados, falta de patriotismo, séculos de colonialismo, escravidão, superexploração econômica, herança católica ibérica, malandragem, preconceitos, atraso, etc.

Essa postura inferiorizada costuma vir alternada com efusivas, e igualmente obsessivas, afirmações acerca das maravilhas do país Brasil, não só da sua terra, mas do seu povo, apresentado como cordial, guerreiro, alegre, honesto, amigo, sem preconceito racial, inteligente, musical, obediente, capaz, heroico, patriota, atleta e trabalhador, um povo mito melhor do que qualquer outro existente no planeta. Esse conjunto de ideias afirmativas e orgulhosas,  que, com freqüência descamba para o nacionalismo exaltado, representa a outra face da mesma moeda.

Os dois tipos de representação, tanto a que nos deprime quanto a que nos exalta, remontam ao início do período colonial e vêm, de muitas formas, se adensando entre nós. Elas envolvem todos nós em suas teias invisíveis, a ponto de existir hoje no país uma obsessão nacional acerca da própria identidade, num grau e numa intensidade que não se manifestam nos Estados Unidos nem nos países europeus

Como um pêndulo, nós nos movimentamos entre a sensação de que, no fundo, há algo de extremamente errado conosco, de que nunca "damos certo" - incapazes que somos de construir a nação que desejamos; e, no polo oposto, a também persistente sensação de que somos fantásticos , maravilhosos , capazes de estourar a boca de qualquer balão, e por isso exibimos esse imenso e desmedido orgulho de ser brasileiros. 

Nos limites desse pêndulo - que é uma armadilha - nós vivemos nos perguntando obsessiva, agitada, angustiadamente que país é este e qual será o nosso destino: um mítico abismo infalivelmente nos ronda, mas um pote de ouro e felicidade também espera logo ali, na esquina do futuro. Deslocados, ainda vivemos em busca da nossa própria identidade. 

Revista    -  História do Historiador    - BIBLIOTECA  NACIORANL - RIO DE JANEIRO
 pág   98   -   Ano 4 / n° 45    
Junho de 2007 - JANAÍNA  AMADO