É preocupante: os maus hábitos alimentaras fazem com que a taxa de obesidade no Brasil suba 60% em uma década – e o problema já atinge 25 milhões de adultos
NOS ESTADOS UNIDOS, onde uma em cada três pessoas está muito acima do peso, a obesidade é um seríssimo problema de saúde pública. Todos os anos gastam se 147 bilhões de dólares no tratamento de doenças derivadas da má alimentação e do sedentarismo. O Brasil, infelizmente, vai pelo mesmo caminho. Na semana passada, o Ministério da Saúde revelou os dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico ( Vigitel ) o mais amplo levantamento já realizado no país sobre os hábitos de vida e sua relação com o sobrepeso e as enfermidades. O resultado é preocupante: a taxa de obesidade subiu 60% em apenas dez anos – há hoje 25 milhões de adultos obesos. É muito, e não deve parar por aí. “O número tende a crescer “, diz o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do departamento de obesidade do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologista e Metabologia ( SBEM ): “Trata-se de uma doença progressiva que se expande na ausência de políticas públicas de prevenção“.
A obesidade é uma condição extrema de sobrepeso e nada tem a ver com aquelas gordurinhas a mais – que, aliás, também não são sadias. Define-se como obesa a pessoa de massa corporal ( IMC ) acima de 30. Um IMC entre 25 e 30 indica excesso de peso, acima do saudável mas ainda tolerável. A obesidade é complexa, resultado da combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais, alimentados e multiplicados por um modo de vida desregrado com que a alimentação ruim é a tônica.
Come-se muito mal no Brasil. O estudo divulgado revelou que apenas 35% dos adultos consomem frutas e hortaliças ao menos cinco vezes por semana e 17% exageram na ingestão de refrigerantes ou sucos artificiais. Ambas as taxas estão longe das metas estipuladas pelas autoridades para os próximos anos. Até 2019 a ideia é aumentar o consumo de frutas e hortaliças em 18% e reduzir o de refrigerantes e sucos articiais em 30 % . Há hoje, no país , a prevalência de diabetes ( 9% da população) e hipertensão arterial (26%), frutos indesejados do prato malfeito. Num mundo ideal em que não existissem pessoas obesas, o índice de diabetes seria 70% menor, e o de hipertensão , 30%. E, no entanto , como o brasileiro está longe de respeitar o bom senso à mesa, os males explodem. A ingestão de um cachorro-quente ou de seis pedaços de bacon por dia, dois alimentos muito apreciados corresponde a aumentar 18% o risco de tumores no intestino.
O drama da obesidade é inflado pela ausência de precaução - e, quanto maior o número de células de gordura , mais difícil é o tratamento. Os medicamentos reduzem, em média, apenas 10% do peso corporal. Ou seja, o impacto sobre os muitos quilos a mais é pequeno. Há a opção de cirurgia bariátrica, capaz de cortar até 50% do peso logo nos primeiros meses, mas é um método altamente invasivo. Além disso, ela fracassa em 10% dos casos, culminando na recuperação do peso eliminado. O melhor remédio, portanto, é a prevenção, que deve começar ainda na infância. Isso porque a quantidade de células de gordura ao organismo já não diminui depois dos 20 anos. Quando uma pessoa emagrece , as células de gordura apenas perdem volume, mas continuam lá. Pior: anualmente, 10% das células adiposas são renovadas. E as novas têm uma incrível propensão para aumentar de tamanho. Eis aí a explicação do fenômeno da sanfona corporal, o da recuperação dos quilos eliminados depois de um período de privações. Com tudo isso, o Brasil precisa , com urgência dedicar mais atenção à obesidade.
Fonte - Revista Veja págs 84 e 85
28 de Abril , 2017 NATALIA CULMINALE
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário sobre a postagem.