Recusando-se a ceder seu assento, ela iniciou uma revolução nos direitos civis.
NUM FIM DE TARDE DE DEZEMBRO , ROSA PARKS tomou o ônibus para voltar para casa depois de um dia de trabalho exaustivo. Seus pés doíam. Era 1955, na cidade de Montgomery , Alabama . Quando o ônibus lotou, mandaram que ela , uma mulher negra , cedesse seu lugar a um passageiro branco. Mas ela permaneceu sentada . Essa simples decisão culminou com o fim da segregação institucionalizada no sul dos Estados Unidos , antecipando uma nova era do movimento pelos direitos civis.
As leis segregacionistas de Montgomery eram complexas : os negros precisavam pagar a passagem ao motorista , descer do ônibus e retornar pela porta traseira . Algumas vezes, o ônibus partia, sem esperar que eles embarcassem. Caso os assentos destinados aos brancos estivessem tomados e mais um passageiro branco subisse, os negros deveriam ceder um lugar e deslocar-se para a traseira do ônibus. Esse tipo de humilhação era ainda pior porque dois terços dos passageiros de ônibus de Montgomery eram negros.
Rosa Parks foi presa numa quinta-feira sua fiança foi paga por Clifford Durt , promotor público branco cuja mulher a havia empregado como costureira . Naquela mesma noite , depois de conversar exaustivamente com a mãe e o marido, Parks concordou em desafiar a constitucionalidade às leis segregacionistas de Montgomery . Na reunião do Conselho Político de Mulheres , naquela mesma madrugada , 35 mil impressos foram mimeografados para ser distribuídos na manhã de sexta-feira em todas as escolas frequentadas por negros . A mensagem era simples e direta : “ Estamos pedindo que a população negra boicote os ônibus na segunda-feira ,como protesto contra a prisão e o julgamento de Rosa Parks “ .
Mas ela não foi a primeira mulher a desobedecer as leis segregacionistas . Oito meses antes , Claudete Colvin , 15 , negou-se a ceder o lugar e foi detida. O mesmo ocorreu com Mary Louise Smith em outubro. Multas foram pagas e as infratoras , liberadas . Os líderes do movimento pelos direitos civis buscavam uma pessoa que fosse mais afável com a mídia . Parks , uma senhora casada e com emprego fixo , era secretária da organização e sabia da necessidade de mudança .
Apesar da ameaça de chuva , a população negra boicotou os ônibus na segunda-feira , preferindo ir a pé ou tomar um dos táxis para negros , que paravam em cada ponto de ônibus e cobravam uma tarifa de 10 centavos de dólar – o mesmo preço das passagens em Montgomery .
Ao passar pela multidão que se amontoava à porta do tribunal , o que chamava atenção era a figura séria de Rosa Parks , trajando um vestido de mangas compridas de colarinho e punhos brancos ,com um chapéu de veludo , casaco cinza e luvas brancas .Ao vê-la , uma menina gritou : “ Ela é tão meiga . Desta vez , vocês se meteram com a pessoa errada “ !
Depois de 30 minutos , o julgamento chegou a conclusão esperada : Rosa Parks foi condenada e recebeu uma multa . Naquela mesma noite ,um jovem pastor , o reverendo Martinh Luther King Jr .,dirigiu-se à sua congregação na igreja batista da rua Holt. Com sua voz potente , ele afirmou : “ Chega uma hora as pessoas se cansam “ . Quando King terminou o sermão , Parks simplesmente se levantou para que todos pudessem vê-la . Ela permaneceu calada , mas palavras eram dispensáveis naquele momento . “ Aqui estou “ , dizia o silêncio.
No fim do milênio , e deste século especialmente conturbado , é a humildade do exemplo de Rosa Parks que nos sustenta . Ela nos inspira a crer em nosso poder - individual – a essência do sonho americano - e renova nossas esperanças de que podemos ser corajosos e serenamente humanos em momentos cruciais de nossa vida .
Fonte - Revista TIME MAGAZINE - 100 pág 14
RITA DOVE
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