Carnaval é a maior festa popular, no Brasil, a mais celebrada e, ao longo do tempo, tornou-se elemento da cultura nacional. Reúne milhares de pessoas nas ruas, nas passarelas do samba e nos clubes, em todo país. Porém, o Carnaval não é invenção do brasileiro, nem tampouco realizado neste país. Antes de tratarmos o tema, no Brasil, vamos dar um passeio pela Antiguidade e conhecer a sua verdadeira origem. Segundo, o historiador Voltaire Schilling, “A origem do carnaval é milenar. É a festa profana com registro há mais de três mil anos a.C. As suas origens mais remotas encontram-se na Grécia, no antigo culto ao deus Dionísio que, mais tarde, foi levado à Roma com o Nome de Baco. Depois foram espalhados em todos os países de cultura neolatina. Consta que as primeiras seguidoras do deus foram as mulheres, que viram nos dias que lhe eram dedicados, um momento para escaparem da vigilância dos maridos para poderem cair na folia. Nos dias permitidos, elas saíam aos bandos, com os rostos cobertos de pó, máscaras, e vestes rasgadas, cantando e gritando“.
A palavra carnaval , é originária do latim, carnis levali, cujo significado é retirar a carne. Relaciona-se com o jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também com o controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da igreja católica de enquadrar a festa pagã da antiguidade que ninguém conseguiu destruir.
Os primeiros registros dessas festas populares, constam na era pré céltica, no Hemisfério Norte , Egito , depois Grécia e Roma onde ocorriam para celebrar o fim de inverno e a chegada do plantio de lavouras. Elas deram origem ao carnaval sem fundo religioso , usavam máscaras e brincadeiras. A historiadora Rita de Cássia Araupe afirma que “Essa celebração agrária teve um cunho religioso quando o Cristianismo passou a vinculá-la à Páscoa : era terça-feira “Gorda “ de 47 dias antes do domingo da Páscoa . Havia diversão e exagero de comida e bebida que antecede ao período de reflexão e jejum dos cristãos , antes da Páscoa , quando os fiéis têm que se recolherem e reverem sua vida “ .
No entanto, o Carnaval, mais próximo do que conhecemos , está estreitamente ligado à mitologia grega e romana . A personagem chave é Dionísio , grego , também chamado Baco , em Roma . Na época clássica , era o deus do vinho e do delírio místico. Ele é o filho dos amores adúlteros entre Zeus (Júpiter) e Sêmele . Esta por influência de Juno , esposa de Zeus . ( Hera ou Jano era protetora dos casais unidos oficialmente e protetora dos partos ) pediu ao amante que se mostrasse no seu esplendor. O deus atendeu ao seu pedido. Ela foi fulminada pelos seus raios. No tempo certo, tirou-o vivo. Pediu para Orcómeno e Ino criarem a criança e para disfarçarem vestindo-o com roupas de mulher para sua esposa não descobrir. Hera descobriu e enlouqueceu Ino, a ama. Então Zeus o levou para a Ásia. Nisa , África , Etiópia para as ninfas criarem . Hera descobriu e o transformou em cabrito. Adulto, Dionísio descobriu a videira e seu uso. Mas Hera o enlouqueceu . Na sua loucura, o deus vagueou pelo Egito e pela Síria. Curado da loucura, Dionísio foi a Trácia. O rei Licurgo tentou prendê-lo , mas não conseguiu . Da Trácia foi para a Índia . Regressa a Grécia . Foi para Atenas , onde introduziu as bacanais , festas em sua honra , durante as quais , toda população , sobretudo as mulheres eram tomadas por um delírio místico. Percorriam campos emitindo gritos rituais. Depois foi para Naxos. Dionísio, deus do vinho e da inspiração , era festejado com procissões tumultuosas. Esses cortejos deram origem às representações teatrais: Tragédia e Comédia . Na Itália , os mistérios Dionisíacos com sua licenciosidade e seu caráter orgiástico e proliferaram se entre as populações menos civilizadas . Em Roma, os mistério dionisíacos tiveram início séc. II a.C. Na Mesopotâmia , tinha um caráter de subversão de papéis sociais : prisioneiro transformava em rei , e o rei em prisioneiro . Este era humilhado diate do deus; os homens vestiam-se de mulheres e vice-versa.
A origem do Carnaval Greco - romano relaciona-se às orgias , as festas bacais romanas ou dionísiacas gregas, que eram dedicadas ao deus do vinho e marcadas pela embriaguez e pela entrega de prazeres da carne .
Em Roma , as Lupercálias ocorriam em fevereiro , mês das dividades infernais . tais festas duravam dias com comidas , bebidas e danças . Os papéis também eram invertidos : os escravos colocavam no local dos seus senhores e estes no papel de escravos . O cortejo de Baco era muito numeroso : faunos , silenos , ninfas , pastores e Pã . Todos levavam o tirso, coroas de hera , taças de vinho e cachos de uva . Baco , jovem risonho e festivo lidera o cortejo que segue dando gritos e ressoando ruidosos instrumentos musicais. Baco segura com uma das mãos um cacho de uvas ou chifres ( símbolo das forças do inconsciente) e com outra , o tirso cercado de folhagens e fitas. Está sentado em um tonel ou puxado por tigres com faunos tocado as flautas.
O Cristianismo criticava a inversão de oposições sociais, pois , ao inverter os papéis de cada um , na sociedade , invertia-se também a relação entre Deus e o Diabo . A Igreja Católica enquadrou tais festejos a partir do século VIII , com a criação da Quaresma . No final da Idade Média , século XI , período fértil para a agricultura , os jovens se fantasiavam de mulheres e saíam às ruas e campos , durante algumas noites . No Renascimento, as cidades italianas , surgiu a " Comédia Dell Arte " , teatros improvisados , cuja popularidade ocorreu até século XVII . Em Florença , canções foram criadas para acompanharem os desfiles com carros decorados " Os Trionfi". Em Veneza , usavam a bata com capuz negro e chapéus de três pontas , além das famosas máscaras , até hoje , as mais belas do mundo .
Na Bolívia , acontece o Carnabalito , onde as mulheres vão aos salões , com máscaras e escolhem o companheiro com quem querem dançar.
O Carnaval no Brasil, chegou na época da Colonização , no século VII , com o nome de Intrudo . Eram brincadeiras em que as pessoas sujavam umas as outras . As famílias brancas brincavam nas casas e os escravos nas ruas , segundo a historiadora Rita de Cássia Araupe . De origem portuguesa que , na colônia , era praticada , na maioria , pelos escravos . Posteriormente surgiram os cordões, ranchos , os corsos , os bailes em clubes e as escolas de samba . Com a Revolução de 1930 , começou-se a sufocar a espontaneidade popular com regulamentos rígidos. No entanto, as coibições, desde a.C., de nada adiantaram porque os costumes mostraram-se mais fortes que as leis. Aí ganharam destaque as escolas de samba , que , hoje , têm fama internacional pela beleza das alegorias , fantasias , principalmente no Rio de Janeiro. Os afoxés , frevos , maracatus , marchinhas , sambas passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca .
Finalmente , não podemos ignorar o Tusca , que ocorre em São Carlos , uma vez ao ano , entre alunos das Universidades. Eles fazem cortejos pelas ruas com estudantes de todo o Brasil. Chegaram até vinte mil estudantes . São seguidos por um caminhão de cerveja . Cantam , dançam , gritam , ficam nus, fazem xixi e cocô nas calças, embriagam-se, alguns ficam em coma alcoólico, e acabam parando nos hospitais , sem contar com casos de morte de estudantes, no decorrer dos festejos. Divertem-se, liberando-se de todas as pressões sociais. Com a proibição dos cortejos, nas ruas, pela Prefeitura, os estudantes fazem sua festa em chácaras ao redor da cidade. Entendemos que o Tusca também seja uma reminiscência do culto a Dionísio ou Baco .
"As religiões da Grécia e da Roma Antiga desapareceram . Mas o legado de seus mitos e heróis continua presente até nossos dias . " ( BULFINCH ) .
Fonte - Folha do SERVIDOR PÚBLICO pág 22 - Edição 301- Fev /2018
Bibliografia utilizada para as pesquisas :
PUGLIESI . Márcio . Mitologia Greco - Romana . São Paulo . Madras , 2000
BULFINCH . Thomas . O livro de Ouro da MITOLOGIA .
Rio de Janeiro : Ediouro , 2000
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