No lugar "bonjour", "buenos dias"
O hotel , que ficava no prédio mais alto da orla da Zona Sul , deixou para trás a grife e o nome francês e , em 1º de fevereiro, foi rebatizado de Iberostar Copacabana. Mais do que uma marca que se vai do Rio é a marca que o hotel deixa na lembrança dos cariocas.
- Ponto de referência na praia , na festa de Réveillon , da sua cascata , pelo festival de chocolate ou pela boate Regines dos tempos do Dancin’ Days, o hotel terá uma cara completamente nova, garantem seus novos controladores.
- Em vez de cozido, quem sabe serviremos uma paella .Vamos mudar o sotaque – garantiu, o diretor da Iberostar no Brasil, Orlando Giglio .
O atual empresário Silveira Pinto, que por 15 anos trabalhou No Méridien, confessa que sentirá saudades .
- Parte da mina vida está ali. No hotel trabalhei, dei o sangue e suor – conta o antigo chefe de recepção do hotel. No Méridien , ele conheceu a atual mulher, e lembra, divertindo-se, de pelo menos uma das inúmeras celebridades que aportavam no hotel em seus áureos tempos.
- O caso mais inusitado que me lembro é o Tim Maia. Ele ia muito ao hotel, na feijoada do Le Saint Honoré, e uma vez pagou a conta com uma letra de música. Depois , foram lá pagar a fatura e pegá-la de volta.
Quando o Le Méridien aportou no Rio, em 1975 , era o único hotel de bandeira francesa no País.
Da companhia aérea Air France , recebia em grande parte executivos , artistas e autoridades francesas. Entre os quais o ator e cantor Charles Aznavour ( de “ Atirem no pianista “, de François Truffaut), o presidente François Miterrand e até pop Backstreet Boys, que reuniu mais de 20 mil fãs na porta do hotel, que só voltaram para casa depois de assistir a um show improvisado da piscina do hotel.
Mas, para Getúlio Batista Saraiva, o maitre executivo do Le Saint Honoré , com perto de 31 anos de Méridien , são o peixe e a sobremesa de Caterine Zeta Jones que não saem da memória .
- Não me lembro da entrada , mas ela comeu robalo , e , de sobremesa , crepe gratinado de marujá – recorda. - Fiz dois cursos de somelier e ganhei muito muito conhecimento em gastronomia aqui. Aprendi a falar francês, inglês, espanhol e italiano.
O hotel também foi escola para minha esposa, gerente-geral do Ipanema -Plaza . Ela lembra do primeiro emprego , aos 20 anos, na recepção do Méridien , em que o idioma francês era pré-requisito fundamental para o pessoal da lina de frente .
- O Méridien tinha um diferencial , por ser o único hotel francês no Rio. Por isso , tinha um acolhimento especial – conta. - Trabalhei ali nos anos 1980 , os anos de ouro da França no Brasil, quando os vips vinham ao País de Concorde (avião supersônico da Air France).
Ela fez treinamentos na França, Portugal e Caribe à medida que galgava posições até a gerência de recepção. - O Méridien era uma escola. Busquei ali muitos profissionais para trabalharem comigo no novo hotel – lembra ela, que trabalhou ali 14 anos e passou muitos réveillons no prédio, cujo show era o mais esperado do antigo Ano Novo do Rio .
Talvez seja a cascata de fogos a lembrança mais marcante que o Méridien deixará para maioria dos cariocas . Encerrada em 2004 por motivos de segurança , era um dos momentos mais esperados da noite da virada desde 1976 , quando começou . A cascata era detonada logo depois dos fogos da areia e cobria o edifício mais alto da orla da Zona Sul do Rio de luzes incandescentes.
Do aprendizado dentro do hotel lembra-se o famoso chef Laurent Suadeau, que deu ali os primeiros passos até chefiar uma cozinha .
- A equipe de alimentos e bebidas do Méridien do Rio em 1982 foi eleita a melhor da rede do mundo – lembra Laurent, que veio da França especialmente para o trabalho no Le Saint Honoré . De subchefe foi a chefe usando os temperos brasileiros .
- O Le Saint Honoré é uma marca brasileira , não francesa . Introduziu ingredientes da terra hoje usados por grandes chefs franceses da nova geração no Brasil , como manjubinha, o quiabo e abóbora .
O chef Phellipe Brie , que por oito anos trabalhou no hotel , foi chefe de confeitaria e chef do Saint Honoré , trazido da rede na França e comemora o fato de ter preparado um molho especialmente para o grupo inglês de rock Queen , que ficou hospedado no hotel quando passou pelo Rio , para show em 1985.
- O restaurante sempre foi o melhor, se não um dos melhores , da culinária francesa no País – atesta .
A bandeira foi vendida à uma rede inglesa e, em 2004, os americanos da Starwood, que detém a marca Sheraton no Rio . Em fevereiro, os americanos deixam o imóvel, que é da Previ, e ficará a cargo dos espanhóis, recomeçar uma nova história .
Fonte - JORNAL DO BRASIL - pág E 2 - Negócios
Domingo , 14 de janeiro de 2007 - Mariana Carneiro
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