AMIGOS, eu vi . Com os olhos que enxergam e ouvidos que ouvem fui a uma casa em Santo Amaro, de onde se via ao longe Interlagos. Uma atmosfera mágica, uma névoa musical envolvia os presentes, como que os transportando para outra dimensão.
Vi quando o pianista Dudah se dirigiu ao piano, como uma daquelas pianeiras históricas, das dos tempos de Chiquinha Gonzaga, e despejou uma mistura de choro e ragtime capaz de levantar paciente da UTI. E vi quando o conjunto Flor Amorosa entoou um vocal tão bonito como eu não ouvia desde o início do Quarteto em Cy. Em seguida, ouvi uma jovem cantora de nome Adriana Godoy tirando da garganta sons de que apenas Elis Regina seria capaz.
Noite avançando, as visitas dirigiram-se ao salão principal como uma procissão de iluminados aguardando a celebração final. Abriu-se o piano e vi quando Marinho Boffa passou a dedilhar escalas, arpejos e acordes de uma riqueza que teria humilhado os músicos do Blue Note. E vi quando Laércio de Freitas, a quem Radamés chamava de gênio, levantou-se lentamente, qual um príncipe etíope, empurrou Boffa para o lado agudo do teclado e passou a martelar os graves como jamais ouvi em nenhum CD pretérito, presente ou futuro. A batida vinha num sincopado complexo, uma harmonia com nuances a quatro mãos, com tais desdobramentos que se diria que a música estava sendo reinventada.
Saí daquela casa e fui a um restaurante de Santo Amaro onde Miltinho Tachinha tirava de sua guitarrinha sons e improvisos que não envergonhariam. Garoto, João Torto bordava no cavaquinho harmonias à altura de Canhoto, e o violão sete cordas de João Macacão soltava bordões da melhor escola brasileira.
Dormi em êxtase , acordei no domingo , almocei e voltei ao caminho de Santiago dos guetos musicais de São Paulo. Fui parar num sobrado modesto da Pompeia. Lá vi os consagrados trompete de Silvério e trombone de Zé da Velha acompanhados pelo sete cordas imbatível de Zé Barbeiro e de Israel . Vi quando rapazes entraram na roda, abriram partituras e saíram lendo e improvisando de um modo que as velhas gerações não tinham por hábito fazer. Ouvi a gaita de Vitor , a flauta de Rodrigo, o cavaquinho de Pingo, como tinha ouvido antes o bandolim de Danilo e, antes dele, os múltiplos instrumentos de Arnaldinho, todos quase rapazes , quase meninos.
À noite , em casa , recebi Cabelo , um músico curitibano de 50 anos , filho de boiadeiro . E Cabelo tirou sons de viola caipira e de violão , dedilhou Barrios e Beatles , pontos de viola e de choro , com um virtuosismo de gênio rústico .
Aí trabalhei intensamente durante cinco dias para me preparar para o final de semana seguinte . No sábado retomei a trilha de São Pinxinguinha e fui dar em uma casa na remota Vila São José, que tinha um fundo um salão enorme, com 40 pessoas reunidas silenciosamente, como membros de confraria celebrando a música de Isaías, de um Madrigal montado com pessoas do bairro . E ouvi uma menina linda , noiva do maestro , com uma voz que lembrava Bidu Sayão.
Depois , segui para Brasília e fui parar no Clube do Choro e na Escola de Música Raphael Rabello , onde o bandolinista Reco constrói sua obra monumental. E vi violinistas exímios, bandolinistas virtuosos ensinando a sua arte para uma molecada inebriada pelos sons e pela magia do choro.
Nos próximos fins de semana estarei garimpando novos guetos, para encontrar o bandolim de João Macambira , os pianos de Benjamin Taubkin e Silvinha Góes, os violões de Swami Jr . e Chico Pinheiro, os sopros de Proveta , Pitoco e Mané Silveira, os baixos de Pixinga , Arismar do Espírito Santo e de seu filho . E tantos outros, mas tantos outros que eu , que peguei o final da bossa-nova e a fase dos festivais, aderi ao tropicalismo e fui devoto do Clube da Esquina, que acompanhei os sons do sertão e dos salões, segui o rastro dos violeiros e dos violonistas , vi ano após ano as transformações musicais do país , ousaria dizer: jamais houve geração musicalmente mais rica , em quantidade e qualidade , do que a atual , formada ou se formando nos guetos musicais , longe das gravadoras , das emissoras de rádio e televisão.
E ai de quem me disser que a música popular brasileira está decadente.
Fonte - Jornal FOLHA DE SÃO PAULO - DINHEIRO
LUÍS NASSIF
As linhas onduladas do Copan em vídeo
A história do Copan
O edifício foi idealizado no auge do crescimento da cidade , que queria se mostrar ao mundo como a mais nova metrópole industrial. O Copan não só é o símbolo dessa nova fase de São Paulo, como acompanhou as profundas modificações da cidade e hoje faz parte da história arquitetônica da capital paulistana . "O Copan foi construído quando São paulo mudou sua fisionomia de uma cidade que vivia do café para o símbolo do crescimento industrial do País , seguindo a verticalização norte-americana", explica Galvão.
Seu projeto arquitetônico é assinado por Oscar Niemeyer, responsável pelo desenho de alguns pontos turísticos mais famosos de São Paulo , com o Parque do Ibirapuera.
Seu nome trouxe ainda mais prestígio ao prédio de arquitetura moderna, uma onda que destoa em meio aos prédios de traços retos de São Paulo. "Ele é arrojado. Ainda na década de 50, já previa o uso tanto comercial quanto residencial, que é a essência de qualidade de vida para grandes centos urbanos", teoriza Sheila . Mas quem coordenou todo o projeto foi Carlos Lemos, arquiteto contratado por Niemeyer para coordenar seu escritório em São Paulo. Niemeyer partiu para Brasília, para construir o Distrito Federal.
A construção do Copan não foi fácil . Iniciada em 1957 , o edifício foi inaugurado somente em 1966 . Foi encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo para se tornar um grande complexo hoteleiro, com apartamentos de luxo, teatro, cinemas e lojas. "Houve um problema entre os sócios da companhia e o projeto acabou caindo nas mãos da construtora CNI e do Bradesco. Eles mudaram a direção do projeto", detalha Galvão .
O edifício Copan acabou sendo lançado num momento de decadência do centro de São Paulo, quando os grandes prédios comerciais se deslocavam para bairros mais distantes, empobrecendo a região. Muito próximo de virar um grande cortiço, título que carrega erroneamente até hoje, o Copan se recuperou com a volta do glamour ao centro da cidade e o trabalho de um grupo de moradores que resolveu investir na melhoria do prédio e no resgate de sua história. Hoje, o Copan volta a atrair olhares de todo o mundo como um ícone da arquitetura moderna. "Ele é um microcosmo do que é a cidade de São Paulo hoje e de renovação do centro da cidade ", avalia Galvão .
Um projeto de Oscar Niemeyer em seis blocos de 115 metros de altura, 1.160 apartamentos e cerca de 5 mil moradores. O Copan é cercado de dados impressionante e de histórias de vida mais incríveis. Essas histórias estão retratadas no documentário Edifício Copan, lançado no final de agosto de 2006, pelo Vídeo FAU , Laboratório de Vídeo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
O projeto começou em 2004 , quando Walter José Ferreira Galvão , arquiteto e mestrando da FAU , e sua orientadora , a professora Sheila Walbe Ornstein, trouxeram sua pesquisa sobre o Copan para o Vídeo FAU. A ideia era transformar a história do Copan e de seus moradores em um filme didático, para todos os públicos. "A proposta era não ter uma abordagem muito especializada, muito técnica. Procuramos fazer um recorte que possibilitasse várias leituras do material , que tanto poderia interessar o aluno de arquitetura quanto o público em geral que tem interesse em saber quem mora no Copan e como é morar lá", explica Luiz Bargmann, diretor do filme.
Fonte - JORNAL DA USP - pág 7 - Pesquisa
De 1 a 17/09/2006 - ARQUITETURA - MÁRCIA SOMAN MORAES
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