A TRAGÉDIA
que arrancou raízes
Após anos da tragédia ambiental em Mariana - MG a vida dos moradores
afetados pode nunca mais ser a mesma
OS MORADORES do antigo Bento Rodrigues , que ficava a dois quilômetros da barragem de Fundão , foram espalhados por Mariana - MG e dividem a mesma realidade de outras cento e três famílias de Paracatu de Baixo , outro subdistrito da cidade.
Os quarenta e hum anos vividos em Bento Rodrigues deram a Aílton Barbosa e aos oito filhos hábitos de vida bem distantes da nova realidade em Mariana . A dificul-dade de adaptação é visível ao notar entre as grades do prédio folhas de couve.
A algumas esquinas dali , o também aposentado Osvaldo Apolinário de Almeida, setenta e três,se depara com um horizonte bem diferente do que estava acostumado. Da sacada do prédio, onde foi instalado pela Samarco , empresa responsável pela barragem , ele não mais visualiza os três pés de manga . E meio à saudade ,resta o violão , que foi resgatado intacto . O mesmo utilizado para dedilhar músicas junto aos amigos de Bento Rodrigues, onde viveu por quarenta e seis anos , tendo quatro filhos e nove netos . Apesar das perdas , ele mantém a esperança e já sonha com o novo subdistrito , que será construído pela mineradora , juntamente com as controladoras Vale e BHP Billiton. " A primeira coisa que eu fazer é agradecer a Deus , dentro de minha casa . Depois vou pegar a foice , roçar o quintal e comparar mudas de manga . Vou comparar mudas porque crescem mais rápido . Como já estou de idade , se eu plantar sementes , pode ser que eu não veja as plantas crescerem " , conta .
É na rua Pernambuco ,no bairro Colina, que Marinalva dos Santos Salgado , qua -renta e quatro anos , manuseia as pimentas biquinho . O estoque foi herdado do solo fértil do antigo lugarejo , submergido pela lama . Integrante da Associação de Horti Frutigranjeiros de Bento Rodrigues , ela e mais duas sócias continuam a produzir a famosa geleia de limão,laranja e pimenta .
Dona Marinalva também não consegue se desligar das lembranças da casa que ela havia acabado de construir , seis meses antes da tragédia , e que hoje resume-se apenas a um pedaço de parede . " Sempre vou lá . Mas volto arrasada " , diz , demonstrando questionamento do olhar . " Eu vivo naquela incerteza : será que vou ter o lugar com os filhos de novo? Do jeito que eu lutei ? Então eu tenho desânimo . Não penso mais no futuro " , completa.
Paula Geralda Alves , trinta e sete anos , é mãe do menino brincalhão João Pedro Alves de Souza ,que precisou de acompanhamento psicológico para superar o trauma da tragédia . Mesmo grata com a assistência recebida por parte dos responsáveis pela tragédia .
Fonte - O MÍLITE - pág l6
Reportagem
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