sexta-feira, 7 de janeiro de 2022



A  TRAGÉDIA 

que  arrancou  raízes

Após   anos  da  tragédia  ambiental em  Mariana - MG a vida dos moradores 

afetados  pode nunca mais ser a mesma

OS  MORADORES do antigo  Bento  Rodrigues , que ficava a dois quilômetros da  barragem  de  Fundão , foram espalhados por  Mariana - MG e dividem a mesma realidade de outras cento e  três famílias de Paracatu  de  Baixo , outro subdistrito  da cidade. 

Os quarenta e hum anos vividos em  Bento  Rodrigues deram a  Aílton Barbosa e aos oito filhos hábitos de vida  bem distantes da  nova realidade em Mariana . A dificul-dade de adaptação é visível ao notar entre as grades  do prédio  folhas de couve.

A algumas esquinas dali , o também aposentado  Osvaldo  Apolinário de Almeida, setenta e três,se depara com um horizonte bem diferente do que estava acostumado. Da sacada do prédio, onde foi instalado pela  Samarco , empresa responsável pela barragem , ele não mais visualiza os três pés de manga . E meio à  saudade ,resta  o violão , que foi resgatado intacto . O mesmo utilizado para dedilhar músicas junto aos amigos de Bento  Rodrigues, onde viveu por quarenta e seis anos , tendo quatro  filhos  e nove netos . Apesar das perdas , ele mantém a  esperança e  já sonha com o novo subdistrito , que será construído pela mineradora ,  juntamente com as controladoras  Vale  e  BHP  Billiton.  " A primeira coisa que eu fazer é agradecer  a  Deus , dentro de minha casa . Depois vou pegar a foice , roçar o quintal e comparar mudas de manga . Vou comparar  mudas porque crescem mais rápido . Como já estou de idade , se eu plantar  sementes , pode ser que eu não veja as  plantas crescerem " , conta .

É na rua Pernambuco ,no bairro  Colina, que Marinalva  dos Santos Salgado , qua -renta e quatro anos , manuseia as pimentas biquinho . O estoque foi herdado  do solo  fértil  do  antigo  lugarejo , submergido  pela lama . Integrante da Associação de Horti Frutigranjeiros de Bento Rodrigues , ela e mais duas sócias continuam a produzir a famosa geleia de limão,laranja e pimenta .

Dona Marinalva  também não consegue se desligar  das lembranças  da casa que ela havia acabado de construir , seis meses antes da tragédia , e que  hoje resume-se apenas a um pedaço de parede .  " Sempre vou lá .  Mas volto arrasada " , diz , demonstrando  questionamento do olhar . " Eu vivo naquela  incerteza : será que vou ter o lugar com os filhos de novo? Do  jeito que eu lutei ? Então eu tenho  desânimo . Não  penso  mais  no  futuro " , completa.

Paula Geralda Alves , trinta e sete anos , é mãe do menino   brincalhão João Pedro Alves de Souza ,que precisou de  acompanhamento  psicológico para superar o trauma da tragédia . Mesmo grata com a assistência recebida por parte dos responsáveis  pela tragédia . 

Fonte  -  O  MÍLITE    -  pág l6 

Reportagem 


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