sexta-feira, 7 de janeiro de 2022



 Dê  ao  mundo  ao  mundo  o  seu  melhor

Dê  ao  mundo  o  que  o  mundo  te  deu

Era assim que eu pensava quando estive no Brasil pela primeira vez, em 2002.Tinha só 19 anos,mas estava tão  agradecida por tudo o que a vida tinha me dado até então,e isso não contava em  dinheiro . Era o  amor de  minha  família , meus  amigos , a casa onde me sentia segura, memórias da uma  infância feliz, era simplesmente por ter tido o que é direito de cada  criança e  adolescente.Agora queria dar  às crianças o que tinha recebido.

Fui trabalhar no  Rio de  Janeiro , numa creche com  crianças  creches e não só me  apaixonei pelo trabalho mas acabei  mando o país .Depois de  sete  meses tinha que voltar pra minha terra, a Suécia , mas,pouco  tempo passou antes de a  saudade me colocar de volta no país dos meussonhos ,o  Brasil. Dessa vez, fui pela  escola onde estudava na época, como  estagiária numa associação que cuida do  ambiente. Mas no meu tempo livre achei o que tinha buscado desde os 16 anos  : um projeto de meninos de rua. Trabalhando lá,brincando, dançando,tocando com  crianças e adolescentes conheci um dos  professores de  percussão . Viramos  amigos e foi durante uma conversa nossa que minha  vida  mudou.

Eu, sempre pensei como todo  mundo , que as  coisas acontecem mas nunca comigo, fui baleada na rua . Levei um tiro que me atingiu a coluna e me deixou quase sem movimento nas pernas. Mas o pior foi que meu amigo levou 4 tiros e morreu no local. Passaram-se 5 meses desde então , e eu sou só uma das pessoas que ainda choram de  saudade dele.O processo de cura das minhas pernas é bem lento. Hoje estou em pé andando com muletas , ninguém sabe se vou andar de novo ou não ,mas com  força e  fé acredito que vou vencer essa luta. 

O motivo de estar escrevendo esse texto é que na hora em que acordei no hospital , depois de operação , começou mais uma batalha para mim . A diferença entre as duas é que nessa eu  preciso de sua  ajuda.

O que  gosto mais no Brasil são vocês ,o povo,porque são  muito  carinhosos, abertos e  prestativos- nunca precisei tanto  disso  como agora .Vamos  lutar juntos  contra a violência !Você sabe que a toda  hora mais alguém vai virar vítima dela. Mas  você não  sabe quem vai ser o  próximo. Não fique com medo , eu não estou. Pare e  pense. Por  que  será  que  ela  existe ? 

Não posso explicar tdos os crimes e não tenho uma solução  fenomenal, mas será que seria diferente se não houvesse primeiro e nem terceiro  mundos , se não houvessem  ricois e pobres,se todo  mundo tivesse barriga cheia,saúde, água limpa,amor,emprego,um lugar onde morar e estivesse feliz por isso ?

Você é criado pela sociedade , e agora e você quem cria. Se você fosse deixado sem nada e ninguém quando  criança , o que faria? A mesma coisa que o  menino sem nada e ninguém faz agora ! A última coisa que peço é para pensar no valor da sua  viuda. A minha vida é a coisa mais valorosa que tenho , e com certeza o  menino e o  homem de  rua dão o mesmo valor às suas , pois isso é o que nos leva para a  frente : querer  viver. Muito  obrigada pela  sua  atenção.

Fonte  -  Revista  OCAS  -Cranianas - Texto  Lina  Börjesson , mora na  Suécia , onde conheceu o projeto  OCAS "  e os  vendedores da  revista , que participaram da  Copa de  Futebol de  Rua , na cidade de  Gothenburg , entre 25 de agosto e 1º de setembro deste ano.

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