O GÊNIO DO CARNAVAL BRASILEIRO
“ Não quero me promover . Só divulgar meu trabalho “
De artista plástico a filósofo popular , ele é hoje uma das figuras mais queridas de toda uma comunidade . Motivo suficiente para que virasse um personagem de TV . Joãozinho Trinta e O Mutirão da Alegria , epi -sódio do Caso Verdade , está sendo por isso mesmo , considerado pela equipe que o produziu “ uma justa homenagem “ ao carnavalesco da escola de Samba Beija -Flor .
Agora ele é um Caso Verdade na TV
Para viver Joãozinho Trinta , no texto da autora Wloy Callage , o ator Paschoal Villaboim fez , dos sete dias em que gravou na quadra da escola em Nilópolis , “ um trabalho de muita sensi-bilidade , um laboratório muito epidérmico , em que a equipe se impregnou de todo o clima desta iniciativa social “ . Ele conta ainda que , antes de começarem as gravações , “ não via a hora de conhecer pessoalmente o carnavalesco que sempre admirei “ e com quem acabou travando uma grande amizade . A única diferença entre os dois , segundo o car-navalesco , “ é que o João Paschoal , na hora H , até se esqueceu do trabalho e caiu no samba “ .
As gravações sob a direção de Walter Campos , feitas na segunda semana de maio , movimentaram o pe-queno bairro do Rio , quando os próprios integrantes da escola formaram a figuração , ao lado do elenco , também formado por Jacira Silva , Jorge Coutinho , a frenética Edyr de Castro , Maria Teresa Barroso e Robson ( que interpretou , antes , o Adílio ) . Para Joãozinho Trinta , a importância do Caso Verdade é prin-cipalmente a divulgação desse trabalho comunitário , desenvol vido pela escola de samba também do mutirão , já que a TV Globo mandou pintar a escola . Espero que o programa atue também como um mutirão culural , propagando essa necessidade que nos levou a isso .
UM HOMEM POLÊMICO
Joãozinho Trinta já se assume como uma espécie de relações – públicas de Nilópolis . Recentemente con-seguiu ,do ministro dos Transportes , uma verba de 30 milhões de cruzeiros para ser empregada nas obras de saneamento da cidade . Solicitado , inclusive , para participar , frequen-temente , de palestras que abordaram os problemas sociais , ele já causou muita polêmica . Diriam alguns : um sonhador ? Um oportunista ? Um político ? Ou apenas um sambista ? Ele afirma que “ nunca temi nenhuma crítica , e o fato de virar personagem tampouco me envaidece . Continue me vendo como um operário , um instrumento de trabalho social . E , se com a minha imagem consigo atingir esses objetivos , melhor ainda .Muitos também já me perguntaram se o que pretendo na verdade , é vira a me candidatar .Não .Sou muyito mais influente na posição que ocupo . O Congresso não me atrai apesar de ter a certeza de que hoje sou muito mais famoso do que o próprio cacique Juruna “ !
Mas Joãozinho prefere mesmo é explicar um pouco do trabalho que realiza , pois sente que o homem está se afastando da terra , das origens : “ Não há nada fantástico nisso . As pessoas estão disponíveis , eu apenas procuro ser lógico . O homem está deixando de ser lógico . Nin-guém percebe , mas as pessoas vêm agindo assim : desde o afortunado que tem a cobertura na Vieira Souto àquele que , com muito suor , conseguiu seu apartamento do BNH , passam o resto de suas vidas tentando conseguir comprar um sítio . E o que se pre-tende com este trabalho na Baixada , é , justamente , mostrar que as pessoas já têm isso , precisam apenas que se melhore o seu espaço Os críticos dizem que é elitismo planejarmos construir jardins de Burle Max ou, transformarmos lixeiras em hortas ( com a ajuda da FEEMA e do IBDF ) . Por quê ? Não é nenhum privilégio de classe , é uma necessidade econômica , de espaço . Tentar incutir essa , necessidade de se viver decente-mente , numa população que sofre , nem que seja por osmose , pois é a geografia humana que está muito mais carente .Como é que se exige , por exemplo , que as pessoas não sejam violentas ? Se elas utilizam uma estra-da de ferro que é um curral : ou se têm que desistir de assistir ao Projeto Aquarius em sua cidade ,pois não há lugar conveniente.Beethoven poderia resistir às lixeiras ? Seria insólito , surrealista , van ghoghiano ! Por isto estou assumindo esta função mesmo . Mas acho que tudo é uma questão de implantação .Um impulso na roda para que ela comece a girar .De nada adianta só reclamar ,as pessoas precisam chamar a atenção para os seus problemas . Porque no Brasil , o berço continua esplêndido , mas o gigante é que ainda está adormecido “ .
Fonte - Revista Amiga - pág 18 - Reportagem de Mônica Soares
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